Como o cérebro se reconfigura quando vivemos o luto pela mortebetboo contatoalguém :betboo contato
Nas últimas décadas, o conhecimento sobre esse tema evoluiu bastante — e a BBC News Brasil conversou com alguns dos autores das pesquisas mais importantes nessa área para desvendar a neurociência do luto, como você confere a seguir.
Subway Surfers is a classic endless runner game. You play as
Jake, who surfs the subways and tries to escape 🎅 from the grumpy Inspector and his dog.
O que é o Teste betboo contato hCG?
Antes betboo contato abordarmos o nível betboo contato hCG para 5 semanas betboo contato gravidez, é essencial 🌟 compreender o que é um teste betboo contato hNCG. hC G, ou Gonadotrofina Coriônica Humana, é uma hormona produzida durante a 🌟 gravidez que pode ser mensurada no sangue ou urina.
como declarar bet365 no imposto de rendaaplicativo, mensagens
texto-mensagem,em/seu.android
Fim do Matérias recomendadas
É impossível ser feliz sozinho
Embora as investigações científicas sobre o luto tenham diferentes abordagens e pontosbetboo contatopartida, os especialistas ouvidos para essa reportagem foram unânimesbetboo contatoafirmar que, para entender o impacto da morte, é essencial conhecer os fundamentos do amor.
"Quando falamos sobre a perdabetboo contatoalguém importante, precisamos antes compreender a fundo o que é o vínculo entre duas pessoas", concorda a neurocientista Zoe Donaldson, professora da Universidade do Coloradobetboo contatoBoulder, nos EUA.
Em uma sériebetboo contatoentrevistas e palestras, a professorabetboo contatoPsicologia e Psiquiatria Mary-Frances O’Connor define o luto como "o preço que pagamos por amar alguém".
Após publicar diversos estudos sobre o tema na Universidade do Arizona, também nos EUA, a especialista chegou à conclusãobetboo contatoque o sentimentobetboo contato"perder um pedaço"betboo contatonós mesmos diante da mortebetboo contatoum familiar ou um amigo querido é algo real, uma vez que esse vínculo afetivo está enraizado e codificado nos neurônios.
O'Connor, uma das pioneiras no estudo do luto e autora do livro O Cérebrobetboo contatoLuto (Editora Principium), explica que, num momento tão difícil como este, o cérebro entra numa espéciebetboo contatocontradição.
De um lado, a massa cinzenta registrou as memórias da morte ebetboo contatotodos os ritos associados a ela, como o funeral e o enterro. Ou seja: uma parte do sistema nervoso tem plena consciência do que aconteceu.
De outro, no entanto, há um fluxo diferentebetboo contatoinformações, interpretado pelo que a especialista americana descreve como a teoria ou a neurociência do apego — termo que vem do inglês attachment theory.
Para O’Connor, quando criamos um vínculo especial com alguém, certas partes do cérebro (sobre as quais falaremos adiante) criam uma noção bem forte, que pode ser resumida na frase: "Eu sempre estarei aqui por você, e você sempre estará aqui por mim".
Ela avalia que esse sentimento está no âmagobetboo contatotodo relacionamento afetivo e funciona muito bem quando nos afastamos momentaneamente desses indivíduos (como durante uma viagem a trabalho, por exemplo).
No fundo, sabemos que essa separação é limitada e logo estaremos juntos com aquela pessoa amada novamente.
Mas daí vem a morte — e aqueles dois fluxosbetboo contatoinformação (memórias x apego) entram literalmentebetboo contatoparafuso.
Conscientemente, sabemos que aquela pessoa não está mais ali.
Mas as estruturas neurais relacionadas ao apego sinalizam justamente o oposto. Após dias, semanas, meses, anos, décadasbetboo contatoconvivência, essa parte do sistema nervoso cria uma noçãobetboo contatoque o amigo/familiar/companheiro sempre estará ali conosco.
E esse choque gera raiva, frustração, estresse e todo o fluxobetboo contatosentimentos que marcam o processobetboo contatoluto.
Em seu livro, O'Connor pontua que o vínculo afetivo está registrado no nosso cérebro, mais especificamente na conexão entre os neurônios. Segundo ela, quando criamos amor por alguém, há uma mudança física no contato entre essas células e até na forma como certas proteínas atuam no sistema nervoso.
E, diante da perdabetboo contatoalguém tão importante, todo esse arcabouço neuronal precisa ser reorganizado, o que é custoso e demanda tempo e novas experiênciasbetboo contatovida (como conhecer outras pessoas para criar conexões inéditas).
O que roedores podem ensinar
Mas quais são as áreas específicas do cérebro que estão relacionadas ao luto?
Para encontrar respostas para essa pergunta, estudiososbetboo contatovárias partes do mundo se voltaram a uma espécie animalbetboo contatocaracterísticas únicas.
Falamos aqui dos arganazes-do-campo (Microtus ochrogaster), roedores típicos da América do Norte que são absolutamente monogâmicos — na contramãobetboo contatooutros ratos e camundongos, que costumam adotar um comportamento classificado como "promíscuo" pelos cientistas.
Quando um arganaz-do-campo escolhe um parceiro, esse vínculo dura pela vida toda — ou até que a morte os separe.
Essa característica, um tanto incomum no reino animal — apenas 3 a 4% dos mamíferos do planeta são monogâmicos — tornaram esses roedores os modelos perfeitos para estudar o vínculo emocional e o que acontece quando um dos parceiros parte dessa para outra.
"De uma perspectiva científica, os arganazes reúnem as características perfeitas para estudarmos o assunto. Eles têm esse comportamento carismático, parecido aobetboo contatohumanos, e possuem um tamanho similar aobetboo contatooutros roedores, o que permite o uso das técnicas avançadasbetboo contatoneurociência que temos à disposição", conta Donaldson, que possui um laboratório dedicado a estudar esses animais.
Entre as técnicas mencionadas pela cientista, há a possibilidadebetboo contatorealizar examesbetboo contatoimagembetboo contatotempo real do cérebro dos bichinhos, para ver como os neurônios se comportam diantebetboo contatodiversas situações — como quando eles são afastados do parceiro, por exemplo.
"Basicamente, o que diferencia o lutobetboo contatouma depressão é o anseio/saudade. No luto, há um forte desejobetboo contatoreencontrar aquele indivíduo, mesmo que isso não seja mais possível", raciocina a pesquisadora. "E por que há esse anseio? Porque estar reunido com aquele ser é algo recompensador."
Quando alguém tão querido morre, o cérebro continua a manifestar esse desejobetboo contatoestar junto. Como isso não é mais possível, surgem os sentimentos típicos do luto, como a frustração, a tristeza, a perda do prazer, a raiva…
Donaldson lembra que esses efeitos não se limitam à cabeça — não à toa, a mortebetboo contatoum familiar ou amigo costuma ser descrita pelos enlutados como "a perdabetboo contatoum pedaço do corpo" ou "o aparecimentobetboo contatoum buraco no coração".
"As emoções surgem na cabeça, mas elas ganham formas fisiológicas. Elas mudam a maneira como o corpo se expressa", observa a neurocientista. "Há, por exemplo, a elevação do hormônio cortisol, que acelera os batimentos cardíacos e diminui o apetite."
O neurobiólogo Oliver Bosch, que também estuda arganazes-do-campo no Departamentobetboo contatoNeurobiologia Molecular e Comportamental da Universidadebetboo contatoRegensburg, na Alemanha, pondera que não é correto afirmar com todas as letras que esses roedores passam pelo luto.
"Isso é algo que gostamosbetboo contatopensar, mas não podemos ter certeza absoluta", explicou o cientista à BBC News Brasil.
"O que podemos dizer é que os arganazes monogâmicos mostram sinais parecidos ao que vemosbetboo contatouma pessoa enlutada como, por exemplo, aumento nos níveisbetboo contatoestresse, surgimentobetboo contatopassividade e uma variabilidade nos batimentos cardíacos", detalha ele.
Em pesquisas no laboratório, Bosch separou os roedores machosbetboo contatosuas parceiras.
"Observamos que o núcleo accumbens, uma estrutura cerebral importante para o sistemabetboo contatorecompensa e também para a formação do vínculo entre um casal, ficava prejudicada nesses arganazes machos", conta o pesquisador.
"Curiosamente, estudos com humanos que sofrem com luto prolongado [saiba mais sobre o transtorno a seguir] mostram que pensar na pessoa que faleceu também gerou uma ativação do núcleo accumbens", complementa ele.
Os estudos feitos na Alemanha ainda revelaram que, após a separação, o sistemabetboo contatosinalização do estresse dos animais ficava mais agitado — o que gerava uma inibição da ocitocina, substância conhecida como hormônio do amor ou do afeto que é fundamental para a formação do vínculo entre duas pessoas.
Cientistas agora buscam entender o papel da dopamina, um outro neurotransmissor, nesse processo.
"Queremos compreender como o luto é engatilhado e por que algumas pessoas sofrem mais que outras", resume o neurobiólogo.
Um conflito complexo entre partes do cérebro
Para a neurologista Lisa M. Shulman, professora da Escolabetboo contatoMedicina da Universidadebetboo contatoMaryland, nos EUA, a mortebetboo contatoalguém querido pode ser comparada a outros eventos traumáticos — pelo menos do pontobetboo contatovista do funcionamento da mente.
"O cérebro possui um sistemabetboo contatovigilância que é ativado diantebetboo contatodiferentes ameaças", diz a médica, que é autora do livro Before and After Loss – A Neurologist's Perspective on Loss, Grief, and Our Brain ("Antes e Depois da Perda - A Perspectivabetboo contatouma Neurologista sobre Perda, Luto e Nosso Cérebro",betboo contatotradução livre).
Esse sistema envolve partes neurais mais primitivas, como a amígdala e o sistema límbico.
"Quando essas estruturas identificam algum nívelbetboo contatoameaça, elas disparam um alarme", continua a médica,betboo contatoentrevista à BBC News Brasil.
Esse alarme pode ser interpretado como aquela sériebetboo contatoreações observadas nos arganazes monogâmicosbetboo contatolaboratório — subida do cortisol, disparos no coração, perdabetboo contatosono, alteraçõesbetboo contatoapetite, tristeza, catatonia…
Por outro lado, outras regiões cerebrais mais avançadas, que estão relacionadas ao pensamento racional — como o córtex pré-frontal — ficam enfraquecidas e menos ativas.
"E essas alterações colocam o indivíduo numa situaçãobetboo contatogrande ansiedade e hipervigilância", observa Shulman.
A neurologista explica que esses traumas são cumulativos e, embora a reação a cada morte seja algo individual, certos padrões são observados independentemente se a perda é súbita — por acidente ou homicídio, por exemplo — ou após um longo processobetboo contatodoença — como no tratamentobetboo contatocâncer ou demência.
"Mesmo nos casosbetboo contatoque uma enfermidade se arrasta por meses ou anos, e você vê o declínio daquela pessoa, a morte ainda é impactante, porque é um momento definitivo, impossívelbetboo contatoantecipar", raciocina ela.
Mas esses padrões citados pela especialista não significam que o luto siga uma espéciebetboo contato"receitabetboo contatobolo".
Os famosos estágios do luto — negação, raiva, negociação, depressão e aceitação —, elaborados a partir do trabalho da psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross com pacientes que estão nos últimos diasbetboo contatovida, não estão escritosbetboo contatopedra e tampouco respeitam fielmente uma ordembetboo contatotodos os que sofrem pela perdabetboo contatoalguém querido.
Um dos estudos que testou esse conceito foi publicadobetboo contato2010 por especialistas do Centrobetboo contatoAvaliaçãobetboo contatoCuidadosbetboo contatoSaúde VA Palo Alto e do Centro Médico da Universidade Stanford, nos Estados Unidos.
Ao analisar maisbetboo contato600 participantes, os autores não encontraram evidênciasbetboo contatoque todos experimentaram aqueles estágios do luto.
"Nossa pesquisa sugere que as vivências relacionadas ao luto são muito mais diversas do que um modelo estritobetboo contatoestágios", resume o psicólogo Jason Holland, um dos autores do artigo.
Um detalhe que chamou a atenção dos especialistas no estudo foi o que eles chamarambetboo contato"reaçãobetboo contatoaniversário", marcada pelo aumento repentino do estresse e pela redução no nívelbetboo contatoaceitação da morte.
Os dados levantados nos EUA apontam que, curiosamente, as datas próximas ao segundo ano após o falecimento costumam ser as mais complicadas.
"Nós ficamos surpresos que a reaçãobetboo contatoaniversário foi mais aparente no segundo ano do que no primeiro", confessa Holland.
"Isso pode sugerir alguns desafios particulares ao enlutado neste segundo ano, talvez porque aquele suporte inicial recebido nos primeiros meses após a morte se esvai aos poucos", especula o psicólogo.
É possível superar o luto?
Para O'Connor, o luto pode ser encarado como uma espéciebetboo contatoaprendizado.
Com o tempo, o choque entre as memórias concretas e os sistemas da teoria do apego se ameniza e o cérebro se reconfigura para lidar com a ausência.
E o tempo é uma palavra-chave aqui. Nosso sistema nervoso (ou ao menos a parte que lida com o apego) precisa entenderbetboo contatofato que aquele ser amado se foi — e, claro, vai demorar um pouco para se acostumar com essa falta.
Esses períodos também são valiosos para entender a nossa própria personalidade diantebetboo contatoum novo cenário e o que significa estar neste "novo mundo" após a morte.
Afinal, quando perdemos uma mãe, nosso papelbetboo contatofilho se modifica ou ganha novas perspectivas. Um homem cuja mulher morreu passa a ser viúvo; e assim por diante.
Alémbetboo contatotempo, O'Connor entende que esse processo requer experiência. Aos poucos, a pessoa segue a vida, se engajabetboo contatonovas atividades e faz conexões valiosas com outros indivíduos — claro, sem deixarbetboo contatolembrar as experiências e vínculos passados.
Holland entende luto e aceitação como "os dois ladosbetboo contatouma mesma moeda".
"A partir desse pontobetboo contatovista, podemos entender o luto como uma reação emocional que surge a partir das dificuldadesbetboo contatoaceitar a perda, que tendem a amenizar com o tempo, conforme os enlutados processam e dão sentido ao que aconteceu", explica ele.
Mas existem algumas pessoas que não conseguem superar essa fase. Elas vivem no que é chamado na psiquiatriabetboo contatoluto profundo ou transtorno do luto prolongado.
A médica Katherine Shear dirige um centrobetboo contatopesquisas sobre esse distúrbio na Universidade Columbia, nos EUA, e estima que o quadro afeta entre 3% e 20% das pessoas que perderam alguém importante.
"É um tanto paradoxal pensar que podemos reagir tão fortemente à ausência", reflete ela.
"Quando perdemos alguém importante, perdemos a sensaçãobetboo contatosegurança,betboo contatocuidar e ser cuidado", complementa a psiquiatra.
A especialista explica que, mais do que uma suposta demora para encontrar alívio, o transtorno do luto prolongado é definido pela intensidade dos sintomas e os impactos que eles trazem no bem-estar e na vida do paciente.
"E, nos nossos estudos, ainda não encontramos diferenças no transtorno entre pessoas que perderam alguémbetboo contatoforma súbita e violenta ou quando a morte vem após uma doença que se prolongou por um período maior. Quando a condição se instala, ela é praticamente a mesmabetboo contatoambos os cenários", compara Shear.
A médica também desenvolveu um sistemabetboo contatotratamento desses casos, que é divididobetboo contatouma sériebetboo contatoetapas.
"Nós basicamente separamos o processobetboo contatomarcos da recuperação", começa ela.
"A primeira etapa envolve a aceitação do luto como parte natural da vida, sem julgamentos. Depois, tentamos abrir caminhos para mostrar que a vida ainda pode ter propósito, significado, alegria e satisfação, mesmo que aquela pessoa tão querida não esteja mais aqui", continua a médica.
Na sequência, a terapia desenhada por Shear incentiva o paciente a iniciar ou reconstruir relacionamentos que possam ser significativos — enquanto celebra e valoriza os significados e valores das histórias passadas.
Claro que esse tratamento não é linear — e pode ser que alguns indivíduos voltem algumas casas ou precisembetboo contatoum suporte maiorbetboo contatodeterminada etapa.
Para Donaldson, que estuda os roedores monogâmicos, todo esse processo pelo qual passamos (ou vamos passar) tem como objetivo "transformar memórias dolorosasbetboo contatolembranças agridoces".
Ou, como diz a própria canção Muerte,betboo contatoNatalia Lafourcade, a morte não apenas nos ensina a viver: ela nos convida a sair e a decifrar a nossa própria sorte.