'Eles viraram múmias por causa do calor': os relatos comoventes dos voluntários que recolhem corposcasas de aposta com saque via pixmigrantescasas de aposta com saque via pixdeserto no Arizona:casas de aposta com saque via pix

Octavio Soria "Chaparrito"

Crédito, José María Rodero / BBC News Mundo

Legenda da foto,

Os voluntários do Águias do Deserto, ou Águias do Deserto, colocam cruzes no desertocasas de aposta com saque via pixSonora quando encontram os restos mortaiscasas de aposta com saque via pixum migrante

Disse-lhe que se andasse um pouco mais teria sinalcasas de aposta com saque via pixalguma colina do Cerro Picudo, uma montanha inóspita que se destaca como uma cabeça nas planícies do deserto, no percursocasas de aposta com saque via pix190 quilômetroscasas de aposta com saque via pixAltar Sonora, no México, para a cidadecasas de aposta com saque via pixTres Puntos, no Arizona.

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Usando uma camiseta vermelha e tênis preto, o mexicanocasas de aposta com saque via pix36 anos se apoiou na rocha que marcava o cruzamento entre duas estradas,casas de aposta com saque via pixformacasas de aposta com saque via pixY,casas de aposta com saque via pixum morro do Cerro Picudo. Ele carregava seus pertencescasas de aposta com saque via pixuma mochila.

O desertocasas de aposta com saque via pixSonora ocupa 86.100 quilômetros quadrados, um território três vezes maior que o Estado brasileirocasas de aposta com saque via pixAlagoas. Do lado mexicano, estende-se pelas provínciascasas de aposta com saque via pixBaja California e Sonora. Do lado dos EUA, através dos Estados do Arizona e da Califórnia.

mapa do Desertocasas de aposta com saque via pixSonora

Raúl disse ao coiote que respirava com dificuldade e que não conseguia se mover. E preferia retomar o percurso quando se sentisse melhor. Ele ainda tinha água e comida. Se encontrasse outros migrantes, se juntaria a eles no deserto.

O coiote e os migrantes viram Raúl pela última vez entre 16h00 e 16h30 da tardecasas de aposta com saque via pixterça-feira, 22casas de aposta com saque via pixagostocasas de aposta com saque via pix2023.

Durante uma semana,casas de aposta com saque via pixirmã Inmaculada ligou para os númerocasas de aposta com saque via pixtelefone mexicano e americano, mas ninguém atendeu. Agoniada com o silêncio, ela relatou o desaparecimentocasas de aposta com saque via pixRaúl aos Águias do Deserto, um grupocasas de aposta com saque via pixvoluntários que procura migrantes no desertocasas de aposta com saque via pixSonora, entre o Arizona e a Califórnia.

Depoiscasas de aposta com saque via pixavaliar o caso, os voluntários decidiram realizar uma operação para procurá-lo no sábado, 7casas de aposta com saque via pixoutubro, quase sete semanas após seu desaparecimento.

Cerro Picudo

Crédito, Valentina Oropeza / BBC News Mundo

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Cerro Picudo está localizado entre Altar Sonora, no México, e Tres Puntos, no Arizona

Uma cruz para a sepultura

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BBC Lê

Podcast traz áudios com reportagens selecionadas.

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Fim do Podcast

Octavio Soria, conhecido entre os voluntários como Chaparrito, carrega na mochila uma cruz que fincará no chão caso encontre os restos mortaiscasas de aposta com saque via pixRaúl no deserto.

A cruzcasas de aposta com saque via pixmadeira pintadacasas de aposta com saque via pixbranco foi doada pela congregação das Irmãs Felicianas da América do Norte, para homenagear a memória dos migrantes que morrem na tentativacasas de aposta com saque via pixchegar aos Estados Unidos.

A fronteira entre os dois países é a passagem migratória terrestre mais perigosa do mundo, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Quase metade das 1.457 mortes e desaparecimentoscasas de aposta com saque via pixmigrantes documentadas no continente americanocasas de aposta com saque via pix2022 ocorreram nessa fronteira, embora a OIM alerte que o número é subestimado devido à faltacasas de aposta com saque via pixdados oficiais dos governos do México e dos Estados Unidos.

Na noite anterior à busca, Chaparrito dirigiu sete horas até o acampamento dos Águias do Desertocasas de aposta com saque via pixAjo, uma cidade no sul do Arizona localizada a menoscasas de aposta com saque via pix90 quilômetros da fronteira com o México.

Como o acampamento ainda não possui instalações formais, após borrifar repelente para espantar cobras, ratos, escorpiões e formigas, Chaparrito passou aquela noitecasas de aposta com saque via pixuma barraca.

Às 4h da manhã, os 15 voluntários que participam da busca usavam lanternas enquanto carregavam as vans com rádiotransmissores, frutas, garrafascasas de aposta com saque via pixágua e suplementos eletrolíticos para repor os minerais que perderão com o suor.

A desidratação é a principal causacasas de aposta com saque via pixmorte entre os migrantes que atravessam o desertocasas de aposta com saque via pixSonora, o mais quente da América do Norte, com temperaturas que beiram os 50ºC.

Embora o calor e a faltacasas de aposta com saque via pixacesso aos rios e riachos ameacem a vida dos migrantes, muitos optam por atravessar o desertocasas de aposta com saque via pixSonora porque há menos vigilância ali do quecasas de aposta com saque via pixoutros pontos fronteiriços como Califórnia, Novo México ou Texas, lugares onde onde a passagem é bloqueada por muros e arame farpado.

Depoiscasas de aposta com saque via pixrealizarem dezenascasas de aposta com saque via pixbuscas, os voluntários aprenderam que devem levar pelo menos 13 garrafascasas de aposta com saque via pixágua cada um deles: dez para consumo próprio e outras três para dar a algum migrante vivo que encontrem na viagem.

O segredo é beber água aos poucos e durante a caminhada para evitar sintomas como cansaço, dorescasas de aposta com saque via pixcabeça ou tonturas.

Octavio Soria

Crédito, Valentina Oropeza / BBC News Mundo

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Octavio Soria, conhecido como Chaparrito, carrega consigo uma cruz para fincar no chão caso encontre algum corpo

Tal como outros voluntários, Chaparrito veste uma camiseta amarela fluorescente para se distinguir do castanho e do verde que dominam a paisagem, botas para pisar nos espinhos dos arbustos e proteção até aos joelhos para evitar picadascasas de aposta com saque via pixcobra.

Ele também usa óculos e chapéu para se proteger do sol que ainda nem nasceu.

Na mochila, pende um amuleto: um sapatocasas de aposta com saque via pixcriança encontrado durante uma operação no deserto da Califórnia, entre San Diego e Tijuana. Ele gostacasas de aposta com saque via pixpensar que aquele “sapatinho” foi deixado para trás quando os pais do menino partiramcasas de aposta com saque via pixmadrugada, após terem descansado debaixo da árvore onde o encontrou.

“Este sapatinho me acompanhou durante os três anoscasas de aposta com saque via pixque sou voluntário no Águias do Deserto”, diz ele enquanto verifica se tem água suficiente para o dia.

Há 34 anos, quando Chaparrito tinha 14, a mãe o enviou para os Estados Unidos com um tio, saindocasas de aposta com saque via pixQuerétaro e passando pelo deserto da Califórnia. Cada vez que ela participacasas de aposta com saque via pixuma missão, ela pensa no sacrifício que foi para ela se separar dele.

Octavio Soria

Crédito, Valentina Oropeza / BBC News Mundo

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Como amuleto, Chaparrito carrega na mochila um sapatocasas de aposta com saque via pixcriança encontrado no deserto da Califórnia

Quem é Raúl?

Quando Inmaculada relatou o desaparecimentocasas de aposta com saque via pixseu irmão aos Águias do Deserto, ela disse que ele tinha uma tatuagem da Virgemcasas de aposta com saque via pixGuadalupe no braço direito e usava um implante para substituir dois dentes superiores.

Raúl é o mais novocasas de aposta com saque via pixseis irmãos. A família Sánchez é naturalcasas de aposta com saque via pixSan Antonio Acatepec, uma pequena cidade nas montanhas do municípiocasas de aposta com saque via pixZoquitlán, no estadocasas de aposta com saque via pixPuebla, no centro do México.

A família Sánchez pertence ao povo nativo nhua ecasas de aposta com saque via pixlíngua é o anahuac.

Inmaculada não sabe ler nem escrevercasas de aposta com saque via pixespanhol. Quando os voluntários do Águias do Deserto recomendaram que ligasse para o consulado mexicano no Arizona para relatar o desaparecimentocasas de aposta com saque via pixRaúl, ela sentiu que não seria capazcasas de aposta com saque via pixtomar as medidas necessárias para procurá-lo.

“Essa foi a pior coisa que poderia acontecer comigo, ser forçada a pedir ajudacasas de aposta com saque via pixum idioma que não falo bem”, disse elacasas de aposta com saque via pixentrevista, por telefone, casas de aposta com saque via pixSan Antonio Acatepec.

Ela conta que o consulado disse que ela deveria recolher provas que mostrassem onde Raúl havia desaparecido ecasas de aposta com saque via pixcomo estava vestido.

“Como vão encontrá-lo se ele já está desaparecido há um mês e meio?”, questionou Inmaculada. “Quem irá resgatá-lo naquele grande e perigoso deserto?”

Envoltacasas de aposta com saque via pixincertezas, ela contatou o amigocasas de aposta com saque via pixRaúl para ajudá-la a localizar o coiote.

Raúl perdeu o emprego num lava-jato durante o períodocasas de aposta com saque via pixconfinamento da pandemia do coronavírus. Como não conseguiu um emprego estável, decidiu ir para os Estados Unidos. Seus dois filhos adolescentes ecasas de aposta com saque via pixcompanheira permaneceram nas montanhas enquanto ele iniciava a rota.

“Ele nunca me disse que planejava atravessar o desertocasas de aposta com saque via pixSonora. Se ele tivesse me contado, eu jamais teria permitido”, diz Inmaculada.

Raúl Sánchez Sánchez

Crédito, Cortesíacasas de aposta com saque via pixInmaculada Sánchez

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Raúl Sánchez foi visto com vida pela última vezcasas de aposta com saque via pix22casas de aposta com saque via pixagostocasas de aposta com saque via pix2023, no desertocasas de aposta com saque via pixSonora

O planocasas de aposta com saque via pixbuscas

Os Águias do Deserto recebem cercacasas de aposta com saque via pix450 solicitaçõescasas de aposta com saque via pixbusca mensalmente por meiocasas de aposta com saque via pixseus númeroscasas de aposta com saque via pixtelefone e contascasas de aposta com saque via pixredes sociais.

Com cem voluntários que se revezamcasas de aposta com saque via pixcada operação, eles realizam duas ou três buscas por mês. A maioria dos casos é descartada por faltacasas de aposta com saque via pixinformações que permitam identificar onde realizar as buscas no deserto.

O compadrecasas de aposta com saque via pixRaúl forneceu coordenadas precisas, no entanto, depoiscasas de aposta com saque via pixfalar com o coiote que o guiou para os Estados Unidos.

Segundo o coiote, Raúl e os demais migrantes passaramcasas de aposta com saque via pixfrente a uma fazenda e caminharam por maiscasas de aposta com saque via pixuma hora ao longocasas de aposta com saque via pixum riacho seco localizado na face leste do Cerro Picudo. Subiram a montanha e deixaram Raúl junto à rocha. Então eles pegaram o caminho à direita no Y.

“Ele não se conectou pelo WhatsApp. O estranho é isso”, diz o compadre numa reunião por Zoom com os socorristas, não compreendendo o significado daquela ausência.

O compadre mora nos Estados Unidos, mas sem documentos, por isso pede para manter o anonimato.

Diantecasas de aposta com saque via pixum mapa do deserto marcado por coordenadas, Ely Ortiz, diretor do Águias do Deserto, questiona se os companheiroscasas de aposta com saque via pixRaúl teriam deixado-o com água e comida, os recursos mais valiosos para quem atravessa o deserto.

“Que caminho estranho essas pessoas tomam!”, diz Ely. Parece mais lógico seguir as encostas do morrocasas de aposta com saque via pixvezcasas de aposta com saque via pixsubi-lo.

Os voluntários questionam-se sobre qual caminho Raúl poderia ter seguido se estivesse com dificuldadecasas de aposta com saque via pixcaminhar e concluem que há duas possibilidades: encontrá-lo perto da rocha onde foi visto pela última vez ou no percurso da ribeiracasas de aposta com saque via pixdireção à base da montanha.

“Ele não aguentou subir isso”, supõe Ely enquanto traça as encostas do Cerro Picudo com o cursor sobre o mapa,casas de aposta com saque via pixuma tela compartilhada com os voluntários.

“Este lugar é feio.”

Voluntário das Águias do Deserto

Crédito, Valentina Oropeza / BBC News Mundo

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Voluntários do Águias do Deserto vasculham o desertocasas de aposta com saque via pixSonora, no Arizona,casas de aposta com saque via pixbuscacasas de aposta com saque via pixmigrantes desaparecidos

Ele acredita que, se dividirem os voluntárioscasas de aposta com saque via pixdois grupos, será possível percorrer seis quilômetros: um subirá o Cerro Picudo até a rocha que marca o Y e o outro seguirá o curso do riacho na base da montanha.

“Agradecemoscasas de aposta com saque via pixtodo o coração”, diz o amigocasas de aposta com saque via pixRaúl antescasas de aposta com saque via pixse despedir. "Deus abençoe todos vocês".

No sábado, 7casas de aposta com saque via pixoutubro, às 8h30 da manhã, o cinegrafista José María Rodero e eu chegamos com os voluntários à entrada do desertocasas de aposta com saque via pixSonora, mais próxima do lado leste do Cerro Picudo.

Decidimos acompanhar Chaparrito e o grupo que caminhará ao longo do riacho.

Os voluntários do outro grupo reportarão nas rádios, sintonizadas na frequência 2, caso encontrem Raúl na montanha.

Saguaro, um  cacto que só cresce no desertocasas de aposta com saque via pixSonora

Crédito, José María Rodero / BBC News Mundo

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O saguaro é uma espéciecasas de aposta com saque via pixcacto que só cresce no desertocasas de aposta com saque via pixSonora

A memóriacasas de aposta com saque via pixum irmão

Ely Ortiz procurou pelo irmão e o primo no desertocasas de aposta com saque via pixSonora durante quatro mesescasas de aposta com saque via pix2009. Ele pediu ajuda à Patrulha da Fronteira do Arizona e aos Desert Angels, na época a única organização que procurava migrantes desaparecidos.

Ele não conseguiu ajuda, porém, porque os migrantes tinham sido deixados pelo coiote dentrocasas de aposta com saque via pixuma base militar abandonada. Quando ele finalmente conseguiu permissãocasas de aposta com saque via pixacesso, não podia imaginar o quanto o resgate dos restos mortais a afetaria.

“Eles viraram múmias por causa do calor e ainda exalavam um cheiro horrível. Meu irmão tirou os sapatos e os colocou ao lado dele, acho que os pés dele já estavam muito machucados por causa das bolhas.”

Ely garante que aquela experiência causou “um trauma muito grande”.

“Na primeira noite eu não consegui dormir. Fui tomado por um medo que não me deixava fazer nada, via issocasas de aposta com saque via pixtodos os lugares”, conta o socorrista. “É por isso que decidi me dedicar à buscacasas de aposta com saque via pixmigrantes no desertocasas de aposta com saque via pixSonora.”

Ely Ortiz

Crédito, José María Rodero / BBC News Mundo

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Ely Ortiz perdeu o irmão e o primo no desertocasas de aposta com saque via pixSonora.

Junto com a esposa Marisela, Ely passou a organizar buscas nos finaiscasas de aposta com saque via pixsemana, enquanto a filha mais velha,casas de aposta com saque via pix12 anos, ficavacasas de aposta com saque via pixcasa aos cuidados das irmãs mais novas.

“Foi uma decisão familiar muito importante. Minha filha ficou ressentida com a gente porque sentiu que a havíamos abandonado”, explica Marisela. “E eu sentia culpa por delegar a ela a responsabilidadecasas de aposta com saque via pixcuidarcasas de aposta com saque via pixsuas irmãs.”

Durante as primeiras operações, Ely saiu do deserto com bolhas sangrando. Em uma ocasião, sentiu que ia desmaiar devido à insolação e pediu a outros voluntários que ligassem para o 911 e solicitassem uma evacuaçãocasas de aposta com saque via pixemergência.

“Naquele momento entendi porque muitos morremcasas de aposta com saque via pixsede ecasas de aposta com saque via pixcalor”, diz ele. “Os migrantes vão para debaixocasas de aposta com saque via pixum arbusto para dormir e não acordam novamente.”

Ao saber a última localizaçãocasas de aposta com saque via pixum migrante desaparecido, Ely denuncia o caso à patrulhacasas de aposta com saque via pixfronteira e ao consulado competente. Pelo menos 500 migrantes foram encontrados vivos durante os 14 anoscasas de aposta com saque via pixfuncionamento da organização.

O desaparecimentocasas de aposta com saque via pixRaúl também foi denunciado à Patrulhacasas de aposta com saque via pixFronteira do Arizona.

Quando os voluntários encontram o corpo do migrante que procuram, Ely liga para os parentes para dar a notícia. “Os familiares costumam pedir fotos dos restos mortais. “Sempre pergunto a eles se estão prontos para ver isso.”

Depoiscasas de aposta com saque via pixtantos anos, as operações ainda o afetam. “Cada vez que encontramos um corpo, lembro-me do meu irmão novamente.”

Pelo menos 3.600 migrantes sem documentos morreram no desertocasas de aposta com saque via pixSonora desde 1990, segundo as autoridades dos EUA.

Naquele sábado, Ely e Marisela ficam nas vans para coordenar os voluntários pelo rádio e auxiliá-los nos veículos, caso seja necessário. Eles distribuem laranjas e águacasas de aposta com saque via pixcoco antes que a equipecasas de aposta com saque via pixresgate vá ao desertocasas de aposta com saque via pixbuscacasas de aposta com saque via pixRaúl.

Marisela Ortiz

Crédito, Valentina Oropeza / BBC News Mundo

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Marisela Ortiz ajuda o marido Ely a coordenar as atividades dos Águias do Deserto

“Trazemos água e comida!”

Comocasas de aposta com saque via pixoutras operações, os voluntários se reúnemcasas de aposta com saque via pixum círculo e fazem uma oração para pedir que Deus os proteja das ameaças do deserto e os ajude a encontrar o migrante que procuram.

Antescasas de aposta com saque via pixentrar no desertocasas de aposta com saque via pixSonora, os voluntários fazem uma oração

Crédito, Valentina Oropeza / BBC News Mundo

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Antescasas de aposta com saque via pixentrar no desertocasas de aposta com saque via pixSonora, os voluntários fazem uma oração

Damos início ao trajeto junto a Chaparrito e nos deparamos com “evidências”, como os voluntários chamam os rastros deixados pelos migrantes: mochilas camufladas para camuflá-los na passagem pelo deserto e “sapatoscasas de aposta com saque via pixtapete”,casas de aposta com saque via pixsola felpuda para não deixar rastros no caminho e assim evitar que a patrulhacasas de aposta com saque via pixfronteira os encontre.

Em alguns locais acumulam-se garrafas plásticas, isqueiros, cobertores, roupas e brinquedos. Antescasas de aposta com saque via pixtocar nas mochilas com as mãos, os voluntários as viram com paus para verificar se não há escorpiões ou cobras dentro.

Pertencescasas de aposta com saque via pixmigrantes abandonados são encontrados no desertocasas de aposta com saque via pixSonora.

Crédito, Valentina Oropeza / BBC News Mundo

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Na caminhada pelo desertocasas de aposta com saque via pixSonora, é comum os voluntários encontrarem pertences abandonados por migrantes

O voluntário Alberto Ortega descobre a pegadacasas de aposta com saque via pixum puma da montanha no chão. Ao olhar para cima, avista um urubu preto, uma avecasas de aposta com saque via pixrapina que sobrevoa e come carnecasas de aposta com saque via pixdecomposição que encontra no chão.

A presençacasas de aposta com saque via pixabutres ajuda os voluntários a localizar corpos à distância. “Se o corpo estiver fresco, o cheiro é insuportável. É simplesmentecasas de aposta com saque via pixtirar o fôlego”, diz Alberto enquanto caminha por um arbusto denso.

De repente, encontramos ossos espalhados entre os arbustos.

Alberto abaixa-se, coloca uma fita métrica ao lado do osso maior e tira uma foto com o celular. Repete o procedimento com cada osso visível. Quando recuperar o sinal, enviará as imagens aos médicos legistas do condadocasas de aposta com saque via pixPima para confirmar se são ossos humanos oucasas de aposta com saque via pixanimais.

Em seguida, ele pega as coordenadas e prende fitas amarelas fluorescentescasas de aposta com saque via pixpedras que coloca ao lado dos ossos, para facilitar a localização das autoridades.

Alberto Ortega

Crédito, Valentina Oropeza / BBC News Mundo

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Alberto Ortega deixa fitas fluorescentes nos locais onde encontra ossos para facilitar a localização das autoridades.

Descemos pelo caminhocasas de aposta com saque via pixpedra que outrora foi o fundo do riacho. À medida que avançamos, Chaparrito grita: “Somos Águias do Deserto! Trazemos água e comida!”

Esse alerta não visa apenas ajudar os migrantes que podem estar perdidos e com sede na área. Ele também alerta os integrantes do crime organizado que circulam pela fronteira sobre a presença dos voluntários.

Recebemos um aviso nas rádios: um migrante vivo que ouviu Chaparrito se aproximou para pedir ajuda e se entregar à patrulhacasas de aposta com saque via pixfronteira.

“Precisocasas de aposta com saque via pixágua, precisocasas de aposta com saque via pixcomida!”, gritou para Marisela, que esperava no carro com Ely.

Quando voltamos aos veículos, encontramos o homem sentado, olhando para o nada. Aproximo-me dele para perguntar como ele se sente e ele demora alguns segundos para responder, como se não entendesse o que estou dizendo.

Ele concordacasas de aposta com saque via pixdeixar Ely chamar a patrulha da fronteira para ajudá-lo e mandá-locasas de aposta com saque via pixvolta ao México.

Ele diz que tem 42 anos. A esposa e duas filhas o esperam no México. "É horrível. Se eu soubesse que corria riscocasas de aposta com saque via pixmorrer, nunca teria entrado no deserto.”

Ele está perdido há três dias, sem comida e água. Quando ouviu o gritocasas de aposta com saque via pixChaparrito, escondeu-se e nos observou. “Tive muito medo, foi difícil para mim entender que poderiam me ajudar.”

“Agora tudo que quero é voltar para minha família.”

Desertocasas de aposta com saque via pixSonora

Crédito, Valentina Oropeza / BBC News Mundo

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Desde 1990, cercacasas de aposta com saque via pix3.600 migrantes ilegais morreram no desertocasas de aposta com saque via pixSonora

'Encontramos um corpo'

Enquanto seguimos o curso do riacho, o outro grupo sobe o Cerro Picudo por maiscasas de aposta com saque via pixquatro horas e chega ao local onde Raúl foi visto com vida pela última vez.

Mas os voluntários não encontram vestígios do migrante.

Há tantas pedras grandes e arbustos crescidos que é difícil para eles terem certezacasas de aposta com saque via pixque chegaram ao penhasco onde o caminho se dividecasas de aposta com saque via pixY. Dois dos voluntários vãocasas de aposta com saque via pixfrente e avistam ossos.

“Esperem, companheiros, encontramos um corpo”, ouvimos no rádio.

São costelas e ossos do pé. No lugar onde deveria estar a cabeça, havia um anelcasas de aposta com saque via pixmetal, como um piercing.

A vários metroscasas de aposta com saque via pixdistância, encontram uma caveira e uma carteira com a identificaçãocasas de aposta com saque via pixuma mulher chamada Soledad Elizabeth Alvarado Castillo. O cartão mostra um endereço residencial no estadocasas de aposta com saque via pixSan Luis Potosí, no centro do México.

Todos ficam surpresos por terem tropeçadocasas de aposta com saque via pixum corpo que não procuravamcasas de aposta com saque via pixuma área tão remota do deserto.

Dias depois, os voluntários encontraram a fichacasas de aposta com saque via pixSoledad no portal da Comissão Estatalcasas de aposta com saque via pixBuscacasas de aposta com saque via pixPessoascasas de aposta com saque via pixSan Luis Potosí.

Ela tinha 1,55casas de aposta com saque via pixaltura, 28 anos, olhos castanhos claros e cabelos longos e lisos. Foi vista pela última vez havia um ano e sete meses,casas de aposta com saque via pix28casas de aposta com saque via pixjaneirocasas de aposta com saque via pix2022. Tinha três tatuagens, um piercing na língua e outro no nariz.

Soledad Alvarado

Crédito, Alertacasas de aposta com saque via pixbúsquedacasas de aposta com saque via pixSoledad Alvarado

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Os restos mortaiscasas de aposta com saque via pixSoledad Alvarado foram encontrados por acaso

Pés sobre uma pedra

Enquanto seus companheiros cercam o primeiro corpo, o voluntário Roberto Martínez ganha forças para escalar as pedras e procurar mais pertences do corpo.

“Vários metros à frente vejo alguns pés numa pedra e começo a ficar nervoso”, lembra Roberto.

Ele se aproxima e descobre outro corpo que está com uma camiseta vermelha, tênis preto e um implante dentário. Como Raúl.

“Avisei aos meus companheiros que havia localizado o rapaz que procurávamos.”

Durante seu voluntariado nas Águilas del Desierto, Roberto encontrou vários corpos. “Sempre me pergunto como é possível fazermos isso uns com os outros,casas de aposta com saque via pixum ser humano para outro, como as fronteiras e a política nos levam a perder vidas.”

Nenhum dos voluntários que escalaram o Cerro Picudo carregava uma cruzcasas de aposta com saque via pixmadeira pintadacasas de aposta com saque via pixbranco para colocar ao lado dos corpos.

Apenas Chaparrito e Alberto carregavam-nas no grupo do riacho.

'Agora vem a pior parte'

Quando ouvimos sobre as descobertas no rádio, peço que Ely nos ajude a chegar ao localcasas de aposta com saque via pixque se acredita que Raúl tenha sido encontrado. Ele avisa que é perigoso e não quer nos colocarcasas de aposta com saque via pixrisco.

Chaparrito e outro voluntário oferecem nos acompanhar.

Não nos resta muita água depoiscasas de aposta com saque via pixcinco horascasas de aposta com saque via pixcaminhada.

Da base da montanha, Chaparrito aponta para a rocha onde Raúl estava para mostrar um pequeno ponto amarelo, a camisacasas de aposta com saque via pixoutro voluntário.

À medida que avançamos, as encostas tornam-se mais íngremes e os arbustos transformam-secasas de aposta com saque via pixtúneiscasas de aposta com saque via pixespinhos que se prendem nas roupas e rasgam a pele.

Depoiscasas de aposta com saque via pixsubir por algumas horas, dois voluntários aparecem e descem exaustos. “Agora vem o pior”, alerta um deles.

Esse aviso me faz entender que, se continuar subindo, posso não ter forças para voltar sozinho. Com sede e tontura, decido voltar com os voluntários que estão descendo.

Pergunto ao meu companheiro José se ele pode continuar e ele responde que sim. Chaparrito despede-se dizendo que cuidará bem dele.

Eles levam mais duas horas para chegar ao local onde está o corpocasas de aposta com saque via pixRaúl. Quando estão pertocasas de aposta com saque via pixchegar, Chaparrito sente uma cãibra nas pernas e José torce o joelho.

“Vamos continuar subindo, a gente consegue”, diz Chaparrito a José.

O cinegrafista José María Rodero subiu o Cerro Picudo acompanhadocasas de aposta com saque via pixChaparrito.

Crédito, Valentina Oropeza / BBC News Mundo

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O cinegrafista José María Rodero subiu o Cerro Picudo acompanhadocasas de aposta com saque via pixChaparrito.

'Você sabe ao que vai se expor?'

Começa a trovejar. Um dos voluntários diz para eu não me preocupar. Faz três meses que não chove no deserto, então as encostas certamente estarão secas quando Chaparrito e José descerem a montanha.

Ao ver a fita vermelha que marca o perímetro do corpocasas de aposta com saque via pixRaúl, Chaparrito vira e pergunta a José: "Você está mentalmente preparado? Você sabe a que vai se expor?"

Chaparrito avança entre as grandes pedras cinzentas com a cruz branca pendurada na mochila.

Sentem um cheirocasas de aposta com saque via pixcarne decomposta avançando sobre eles. Ao se aproximarem da fita vermelha, ouvem o zumbido das moscas.

José ousa olhar para o corpo. Ele está deitadocasas de aposta com saque via pixcostas, com a cabeça virada para o lado, próximo a uma mochila e um galão pretocasas de aposta com saque via pixágua.

Os restos mortais estão sob o sol, como se Raúl tivesse ficado sem forças para procurar sombra e proteger-se das intempéries do deserto.

Chaparrito tira a cruz branca que carrega na mochila, alémcasas de aposta com saque via pixum crucifixo e uma garrafacasas de aposta com saque via pixágua benta. Coloca a bolsacasas de aposta com saque via pixlado e tira o chapéu que o protegeu do sol o dia todo.

Ele prega a cruz no chão próximo ao corpo e coloca várias pedras ao redor da base, para garantir que ela permaneçacasas de aposta com saque via pixpé apesar do golpecasas de aposta com saque via pixvento.

Chaparrito coloca o crucifixo na cruz e ajoelha-se. Exausto, ele pede para ser lembrado do nome do rapaz que procuravam.

“Raúl!”, grita Roberto, o voluntário que encontrou o corpo.

Chaparrito faz o sinal da cruz e começa uma oração:

"A Virgem Maria…

Santo Padre, nas tuas mãos colocamos Raúl.

Infelizmente não foi como esperava.

Oramos a você, santo padre, para que o recebacasas de aposta com saque via pixseu santo reino.

Talvez, Senhor, ele fosse um pecador.

Talvez, Senhor, ele tenha vindo com a ideiacasas de aposta com saque via pixlevarcasas de aposta com saque via pixfamília adiante.

No entanto, ele não conseguiu."

“Com esta água benta eu resplandeço”, diz ele antescasas de aposta com saque via pixpegar a garrafa e borrifar gotas na cruz e no corpo. “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém.”

De joelhos, Chaparrito faz o sinal da cruz e permanececasas de aposta com saque via pixsilêncio para abafar as lágrimas, mas não consegue contê-las. Inclinando a cabeça para frente, ele cobre o rosto por um momento, depois abre os olhos e enxuga as lágrimas.

Após uma inspiração profunda, direcione o olhar para um espaço vazio, como se evitasse olhar para o corpo.

Um resgatecasas de aposta com saque via pixhelicóptero

Agentes do condadocasas de aposta com saque via pixPima resgatam os corpos com a ajudacasas de aposta com saque via pixum helicóptero

Crédito, Valentina Oropeza / BBC News Mundo

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Agentes do condadocasas de aposta com saque via pixPima resgataram os corpos com a ajudacasas de aposta com saque via pixum helicóptero

Um agentecasas de aposta com saque via pixbusca e resgate do condadocasas de aposta com saque via pixPima pousa na montanha, a bordocasas de aposta com saque via pixum helicóptero, para retirar os corpos.

“Muito obrigado, vocês fizeram um ótimo trabalho”, diz aos voluntários.

Enquanto espero Chaparrito e José descerem da montanha, depoiscasas de aposta com saque via pixnove horascasas de aposta com saque via pixcaminhada, vejo os corpos chegarem no helicóptero e para serem transportadoscasas de aposta com saque via pixuma van.

Um funcionário da equipecasas de aposta com saque via pixbusca e resgate do condadocasas de aposta com saque via pixPima me explica que aquela montanha é um lugar remoto por onde passam os migrantes que se perdem no caminho para os Estados Unidos.

Estamos diantecasas de aposta com saque via pixuma ocasião excepcional. Em média, um corpo é localizado por mês. Só naquele dia, dois foram resgatados, graças aos Águias do Deserto.

Ely diz que é incomum que eles se mobilizem tão rapidamente para recuperar os restos mortais. Ele esclarece que muitos migrantes apareceram no Cerro Picudo, mas do outro lado, no oeste da montanha.

Ao final da operação, antescasas de aposta com saque via pixse despedir, satisfeito com as descobertas, Chaparrito revela que se mudará para o Texas para dar início a um novo capítulo dos Águias do Deserto.

Nas montanhascasas de aposta com saque via pixSan Antonio Acatepec, a famíliacasas de aposta com saque via pixRaúl espera que o consulado mexicano no Arizona realize a repatriação dos restos mortais.

“Somos gratos aos voluntários por procurarem meu irmão e nos permitirem ter uma conclusão”, diz Inmaculada entre soluços.

“Agora, o mais importante é que minha mãe enterre o filho.”