'Agora que somos adultos podemos contar dos abusos sexuais que sofremos na Igreja Católica':quantum black jack
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Recentemente, a Defensoria Pública espanhola publicou um relatório elaborado por uma comissão independente sobre a pedofilia na Igreja Católica no país. É o primeiro do gênero e inclui a históriaquantum black jackMiguel.
O relatório estima que 1,13% da atual população adulta espanhola tenha sofrido abusos cometidos por monges.
Os dados contradizem a versão da Igreja, que durante anos afirmou que o país era uma exceção ao restante do mundo.
E embora a instituição tenha inicialmente reagido ao relatórioquantum black jackforma fragmentada e sem um consenso claro, recentemente a Conferência Episcopal Espanhola anunciou que os bispos trabalharam "no primeiro rascunho do plano abrangentequantum black jackreparação para as vítimasquantum black jackabusos".
A Conferência Espanholaquantum black jackReligiosos (CONFER), porquantum black jackvez, agradeceu,quantum black jackum comunicado, o trabalho realizado pela Defensoria Pública, comprometendo-se a estudar as recomendações do relatório e pedindo desculpas às vítimas.
A investigação oficial espanhola foi feita apósquantum black jack2022 vários partidos políticos solicitarem a criaçãoquantum black jackuma comissão para analisar o tema.
Entre os argumentos estava o fato de, ao contrárioquantum black jackpaíses vizinhos, como França e Portugal, equantum black jackmuitos outros, a Espanha não ter investigado formalmente os abusos cometidos pela Igreja.
A BBC conversou com Hurtado para falar sobre o relatório, mas também sobrequantum black jackhistória, seu ativismo e sobre o complexo processo que as vítimasquantum black jackpedofilia dentro da Igreja Católica devem enfrentar para denunciar e fazer justiça.
O abuso
"O que eu pensava era: se aconteceu comigo, pode ter acontecido com outros. Temos que encontrar uma maneiraquantum black jackdetê-los."
Miguel tinha 17 anos quando chegou a essa conclusão.
Seu agressor foi o monge Andreu Soler, que liderava há maisquantum black jack40 anos um grupoquantum black jackjovens escoteiros na emblemática Abadiaquantum black jackMontserrat, um ícone da cultura catalã.
Eles tinham se conhecido havia alguns anos, naquele grupo, e o monge foi aos poucos tornando-se um guia espiritualquantum black jackquem o jovem Miguel tinha bastante confiança.
Tanta que confessouquantum black jackangústia ao saber que era homossexual.
"Eu disse a ele que era gay, que estava aceitando isso, que meus pais não sabiam e que estava preocupado com como contar a eles."
A partir daquele momento, o comportamento do monge começou a deixar Miguel confuso.
Por um lado, era um homem respeitado pela comunidade, carismático, muito preocupado com o bem-estar dos jovens e que, além do mais, demonstrou interessequantum black jackouvi-lo e o orientava.
Mas, por outro lado, era um homemquantum black jack65 anos que procurava ficar sozinho com ele à noite e que lhe disse que se "trabalhassem juntos, os impulsos homossexuais poderiam ser curados".
"Para mim ele era uma figura paterna e seu discurso era: assim como me interesso pelo seu bem-estar e procuro te dar conselhos sobre família, sobre amigos, também dou conselhos sobre educação sexual."
Mas esses conselhos passaram a incluir toques que foram subindoquantum black jacknível.
"Quando ele me beijouquantum black jacklíngua fiquei petrificado. Cerrei os dentes com muita força porque não queria que ele fizesse isso comigo. Não estava gostando do que estava acontecendo e fiqueiquantum black jackchoque. Não consegui reagir."
Logo ficou claro.
"A barreira da negação que tive durante tantos meses ruiu. Entendi que o que o monge estava fazendo não era partequantum black jackuma tentativaquantum black jackfornecer educação sexual, mas sim um abuso."
"O que aconteceu foi que ele tirou proveito dessa informação confidencial para começar a abusar sexualmentequantum black jackmim."
A denúncia
A primeira pessoa para quem Miguel contou sobre o abuso foi outro monge, que notou que ele estava estranho e resolveu perguntar o que estava acontecendo.
O monge foi empático e compreensivo no início, mas quando Miguel quis levar adiantequantum black jackdenúncia e saber quais poderiam ser os próximos passos, deparou-se com o sigilo.
"Ele tinha uma atitude mais defensiva. Era como se tivesse sido uma brincadeiraquantum black jackcriança. Uma brincadeira sem importância, que você dá um tapinha na mão para que não volte a acontecer e pronto."
Miguel logo entendeu que a igreja não tinha vontadequantum black jacklevar o caso à polícia, nemquantum black jackavisar seus pais ou os dos outros jovens, e muito menosquantum black jackencontrar outras vítimas.
"Fiquei muito, muito chocado porque não esperava por isso. Uma pessoa falhar é difícil. Mas ter uma segunda pessoa e a instituição falhando com você é muito mais difícil."
O próximo passo foi contar a seus pais, já que eram seus representantes legais.
Ao saber, a mãequantum black jackMiguel decidiu enviar uma carta ao abade principal queixando-se do ocorrido equantum black jackque nenhuma providência tinha sido tomada.
"O abade respondeu dizendo que o agressor havia sido transferido para um mosteiro no interior da Catalunha e que não haveria mais esse tipoquantum black jackproblema."
"Ele foi caloroso, carinhoso, mostrou-se preocupado com o meu bem-estar e recomendou que a minha mãe não denunciasse, que era melhor que tratassem internamente porque senão teriam que procurar um advogado para o agressor."
Naquele momento ficou claro, para Miguel, o acobertamento institucional.
"Eles tiveram a reação habitual. A princípio, a negação, fingindo que nada está acontecendo e, quando a denúncia atinge um certo nível e não há como contê-la, resolvem o problema deslocando o agressor para outro lugar dentro da redequantum black jackinstituições da mesma Igreja Católica."
Mas para Miguel já estava claro que o que tinha acontecido era um crime e ele queria denunciar às autoridades espanholas. O problema era convencer seus pais.
"Meus pais tinham medo das consequências, tinham medo da hostilidade social, tinham medo que ninguém acreditassequantum black jackmim. Eles estavam com medoquantum black jackque a abadia contratasse uma boa equipequantum black jackadvogados, que nos destruiria judicialmente."
"Houve um choque e eles não me apoiaram na horaquantum black jackfazer a denúncia. Na época eu era dependente financeiramente e meus pais não iam me apoiar. Tentei virar a página, focar nos estudos e seguir com a vida."
A gota d'água
Miguel entregou-se por completo aos estudosquantum black jackmedicina e teve um alto desempenho acadêmico.
A intenção era esquecer o abuso até quequantum black jack2002, quando ele tinha 20 anos, surgiu o escândaloquantum black jackpedofilia na Igreja Católicaquantum black jackBoston, nos Estados Unidos.
A investigação que o jornal The Boston Globe publicouquantum black jackdiversas reportagens mostrou não só que foram muitos os menores abusados por monges, mas que a Igreja era responsável por proteger e acobertar os abusadores.
"Isso mexeu muito comigo. Os estímulos do noticiário, da TV, fizeram emergir e vir à tona o trauma reprimido. Fiquei muito mal. Não conseguia dormir."
Miguel procurou ajuda. Conhecia uma fundação que trabalhava com abuso sexual infantil e oferecia terapiaquantum black jackgrupo. Decidiu então contactar novamente a abadia para pedir uma indenização.
"Escrevi-lhes uma carta, muito nervoso, na qual os criticava pela forma como lidaram com os fatos. Eu disse a eles que estava mal, que precisavaquantum black jackterapia, que não achava que meus pais tinham que pagar por isso e que precisavaquantum black jackuma compensação financeira para pagar os custos disso."
Desta vez a instituição respondeu com uma carta do seu advogadoquantum black jackque solicitava uma reunião. Miguel compareceu na companhiaquantum black jackum advogado.
"Eles me fizeram explicar o abuso novamente. Acho que foi um confronto para comparar o que eu contava com o que escrevi e ver se o meu testemunho era crível."
"No final, a minha advogada e o advogado deles concordaram com uma compensação bem básica e baixa,quantum black jackcercaquantum black jack7.200 euros para despesas com terapia. Eles não quiseram pagar diretamente, por transferência bancária, para não deixar vestígios. Fizeram três pagamentosquantum black jackenvelopes com notasquantum black jack500 euros."
O processo serviu para quequantum black jackmãe se juntasse à causa.
"Quando a minha mãe viu que, ao pedir uma indenização, aquela mesma reação pastoral mudou e eles tomaram uma atitude tão hostil e legalista, mais típicaquantum black jackuma multinacional, ela percebeu que tinha sido enganada e usada."
Miguel finalmente sentiu-se apoiado pela família, e a terapia foi o primeiro passo para começar a superar o trauma do abuso sexual.
Nesse processo compreendeu que o seu agressor tinha sido uma figura paterna, algo que lhe faltava num momento fundamentalquantum black jacksua vida.
Com o passar do tempo, no entanto, ele quis verificar se a igreja havia cumprido a promessaquantum black jackisolar o agressor e decidiu procurá-lo online.
"Descobri que ele havia falecido. Mas também descobri que antesquantum black jackmorrer, a Abadiaquantum black jackMontserrat publicou um livroquantum black jacksuas memórias com prólogoquantum black jackJordi Pujol, ex-presidente do governo catalão."
"Para mim isso foi a gota d'água, o último insulto, e percebi que tinha que fazer alguma coisa."
Era 2011, Miguel já tinha 29 anos e conhecia melhor a instituição que enfrentava.
As provas
A primeira coisa que Miguel fez foi colocarquantum black jackação um plano para obter as provas que pudessem respaldar seu depoimento.
A essa altura ele sabia que o mais provável é que não acreditassem nele e que, pelo contrário, o desacreditassem.
Decidiu então contatar novamente os líderes da instituição católica. Enviou-lhes outra carta solicitando uma reunião, à qual decidiu comparecer com uma câmera escondida para registrar toda a conversa.
Ao longoquantum black jackvários anos, Miguel marcou diversas reuniões com autoridades católicas que sabiam do seu caso, e gravou-as.
"O monge Josep María Sanromá, a quem contei sobre meus abusos quando ocorreram, justificou-se dizendo que havia explicado ao abade da época o que havia acontecido e que foi o abade quem decidiu não fazer nada."
"Com o abade Josep María Soler, nomeado quando eu tinha 18 anos, tive duas conversas. Ele disse que meu agressor negou os fatos. Mas na décadaquantum black jack70 ouviram-se histórias, rumoresquantum black jackcomportamentos sexuais inadequados quando ele era responsável por um grupoquantum black jackjovens que se reuniam nos finsquantum black jacksemana para irem a um retiro católico."
"Ele disse que não sabia se medidas haviam sido tomadas ou não, mas que quando eu, décadas depois, expliquei o que havia acontecido comigo, ele não foi pegoquantum black jacksurpresa."
"E a justificativa que ele me deu sobre o livro foi que ele não sabia, como abade, que havia sido publicado. Que a editora atuavaquantum black jackforma independente, mas que ele se comprometeria a retirá-loquantum black jackcirculação e a destruir todos os exemplares."
Com estas gravações, Miguel conseguiu obter provasquantum black jackque os líderes católicos sabiam dos abusos que ele havia sofrido e que mesmo assim não denunciaram às autoridades.
Mas faltava um último passo: devolver o dinheiro que lhe tinham dadoquantum black jackmaneira não oficial para a terapia e assim provar que as transações haviam ocorrido.
"Aproveitei para devolver o dinheiro e dizer que era dinheiro sujo, que eu não queria e que tinham me usado. Eu gravei enquanto devolvia."
"E no final eu disse a eles que tinham me pedido insistentemente para ficar calado, mas que nessa situação já não podia garantir que o faria. Ele me pediu novamente para ficarquantum black jacksilêncio porque o abade da época, quando eu era menor e o abuso ocorreu, já era muito velho e isso o perturbaria e o afetaria muito."
Foi nessa época que Miguel começou a contar seu caso, sob anonimato, a alguns meiosquantum black jackcomunicação locais.
Contar tudo
"Agora que somos adultos empoderados podemos contar a história do abuso sexualquantum black jackmenores na Igreja Católica espanhola", diz Hurtado.
Em 2019, aos 37 anos, Miguel contouquantum black jackhistória ao jornal espanhol El País. Nomeou seu agressor e aqueles que supostamente o encobriram, apoiado pelas provas que reuniu.
No mesmo ano, colaborou com o documentário Examequantum black jackConsciência, que expõe o casoquantum black jackpedofilia na Igreja Católica espanhola e foi distribuído pela Netflix.
"O que me motivou foi que na minha escalaquantum black jackvalores, na minha escala ética e moral, não era aceitável que uma instituição, por mais poder, prestígio ou influência que tivesse, se comportasse daquela forma."
"Eles se comportaram como uma organização mafiosa, criminosa. Da porta para fora, faziam um discurso sobre os valores cristãos humanistas, cuidado dos vulneráveis, a defesa dos direitos das crianças. Da porta para dentro, cometeram mil e um crimes. Eu sabia que, eticamente, tinha que relatar o que havia acontecido e que era importante que a verdade fosse conhecida."
Depoisquantum black jack20 anos tentando,quantum black jackdiversas maneiras, Miguel só precisou fazer uma denúncia pública.
"Era a única ferramentaquantum black jackpoder que eu tinha. Quando tive a primeira crise, consultei uma advogada e ela explicou que,quantum black jackacordo com a legislação aplicável na época, o meu caso expirava três anos depois da maioridade, ou seja, aos 21 anos. Legalmente eu não poderia fazer nada. As portas da justiça estavam fechadas. E foi isso que aconteceu na maior parte dos países."
Masquantum black jackestratégia valeu a pena. Ele fez parte do grupoquantum black jackativistasquantum black jacktodo o mundo que participou do primeiro encontro anti-pedofilia organizada pelo papa Franciscoquantum black jackRoma,quantum black jackfevereiroquantum black jack2019.
Além disso, as suas denúncias encorajaram outras vítimas a contar suas histórias e, diante das evidências, a igreja decidiu convocar uma comissão independente para uma realizar uma investigação interna.
"Em setembroquantum black jack2019 os resultados foram publicados e o que a comissão independente disse foi que o meu agressor tinha sido um predador sexual. Que ele abusouquantum black jackpelo menos 12 crianças ao longoquantum black jack30 anos. E não só isso, mas não foi o único casoquantum black jackabuso sexual ocorridoquantum black jackMontserrat."
Miguel decidiu, então, passar a dedicar seu ativismo à questão da imprescritibilidade dos crimes sexuais contra menores, pois acredita que a prescrição legal tem sido a grande aliada dos abusadores e daqueles que os acobertam.
Dessa ideia surgiu a campanha "Abuso não prescreve" na plataforma Change.org.
"Consegui 560 mil assinaturas e demorou muito para que os políticos se interessassem. Masquantum black jack2021, foi finalmente aprovada uma lei que ampliou o prazoquantum black jackprescrição para 17 anos, para que as vítimas tenham mais 17 anos para denunciarquantum black jackcasos ocorridos após a entrada da leiquantum black jackvigor."
Embora o prazo tenha sido prorrogado, esses crimes continuam a prescrever na Espanha. E por isso ele buscou aconselhamentoquantum black jackoutros países que legislaram a favor da imprescritibilidade. A ideia era fornecer elementos para o relatório da Defensoria Pública que começou a ser elaboradoquantum black jack2022.
"Há outros países como Peru, Equador, Chile e Colômbia que já aprovaram a imprescritibilidade total. Os ativistas espanhóis continuam a lutar para que os prazosquantum black jackprescrição sejam completamente eliminados. É uma luta muito dura e muito longa porque os políticos não estão dando muito apoio."
O relatório
Em marçoquantum black jack2022, o Congresso espanhol solicitou à Defensoria Pública a criaçãoquantum black jackuma comissão independente, a ser presidida pelo próprio Congresso, que preparasse um relatório sobre as denúnciasquantum black jackabusos sexuais na Igreja Católica espanhola.
No dia 27quantum black jackoutubro, um ano e sete meses após essa atribuição, o defensor Ángel Gabilondo apresentou ao Congresso um materialquantum black jack779 páginas intitulado "Relatório sobre abusos sexuais no âmbito da Igreja Católica e o papel dos poderes públicos. Uma resposta necessária".
A comissão recebeu o testemunhoquantum black jack487 vítimas, que estão anônimas no texto.
Além disso, como parte da investigação, foi realizado um estudo com uma amostraquantum black jack8.000 pessoas residentesquantum black jackEspanha.
O objetivo foi tentar quantificar a magnitude do problema e, com base nos dados recolhidos, concluiu-se que 1,13% da atual população adulta sofreu abusos na Espanha por partequantum black jackreligiosos católicos.
"A mídia, ao extrapolar os dados, deu númerosquantum black jack230 mil vítimasquantum black jackpedofilia por partequantum black jackreligiosos na Espanha e aproximadamente 400 milquantum black jackabusos sexuaisquantum black jackinstituições católicas", explica Miguel.
O cardeal Juan José Omella, presidente da Conferência Episcopal Espanhola (CEE) e arcebispoquantum black jackBarcelona, rejeitou esses números,quantum black jackpostagem emquantum black jackconta no X (antigo Twitter).
Disse que "os números extrapolados por alguns meiosquantum black jackcomunicação são mentiras e têm a intençãoquantum black jackenganar" e prometeu: "Não nos cansaremosquantum black jackpedir perdão às vítimas equantum black jacktrabalhar pela cura delas".
Este item inclui conteúdo extraído do Twitter. Pedimosquantum black jackautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticaquantum black jackusoquantum black jackcookies e os termosquantum black jackprivacidade do Twitter antesquantum black jackconcordar. Para acessar o conteúdo cliquequantum black jack"aceitar e continuar".
Finalquantum black jackTwitter post
O relatório do defensor é o primeiro oficial sobre a questão no país, que também tem sido criticado pela demora na resposta a um fenómenoquantum black jackinteresse público equantum black jackescala global.
O atraso é reconhecido no texto. "O nosso país está entre os últimos da Europa Ocidental a criar uma comissão e a produzir um relatório. Entre os países mais próximos, tanto a França (2021) quanto Portugal (2023) já o fizeram."
"Mas muito antes, mudandoquantum black jackcontinente, vale lembrar que o Canadá criou uma comissão parlamentarquantum black jack1989 e apresentou um primeiro relatórioquantum black jack1992 (ampliadoquantum black jack2007), e os Estados Unidos os seguiram (2004)."
Miguel não estranha a demora.
"Durante 40 anos, a Espanha foi uma ditadura católica, onde o poder civil e o poder religioso eram irmãos siameses. Não se sabia onde começava um e terminava o outro, e havia uma enorme resistência por parte da imprensa e das autoridades civis na horaquantum black jackinvestigar esses acontecimentos."
Mas a Espanha enfim deu um primeiro passo e Miguel foi parte do processo. Na verdade, no relatório da Defensoria Pública, analisam seu caso e como seu ativismo conseguiu colocar o assunto na ordem do dia e obter a modificação do prazoquantum black jackprescrição.
"Consegui que uma equipe jurídica chilena muito poderosa, que redigiu a lei chilenaquantum black jackimprescritibilidade, escrevesse um documento técnico-jurídicoquantum black jack120 páginas recomendando uma leiquantum black jackimprescritibilidade na Espanha."
"Entreguei esse relatório à comissãoquantum black jackinvestigação da Defensoria Pública. Tive uma reunião com Ángel Gabilondo para explicar a medida."
Mas ele sente que não foi totalmente ouvido.
"Ao ler o relatório, verifica-se que as vítimasquantum black jackmúltiplas ocasiões equantum black jackmúltiplas formas pedem a imprescritibilidade, mas continuam a não nos ouvir e continuam a não incluí-la nas recomendações."
Miguel está dedicado a fazer essa mudança para contribuir,quantum black jackalguma forma, para a proteção das novas gerações.
"O principal problema é que o abuso sexual infantil é sempre um abusoquantum black jackpoder. E quanto maior a assimetria entre a criança e o adulto, mais difícil é denunciá-los e revelá-los sendo criança ou adolescente."
"Para poder contarquantum black jackhistória com segurança e não sofrer retraumatizações secundárias, é fundamental estar empoderado."
"Em muitas ocasiões, é preciso ter feito terapia. Você tem que contar a história para o círculo interno e encontrar um círculo que o proteja e ajude. Você tem que ser independente financeiramente. É preciso ter recursos pessoais e financeiros."
E essas condições que Miguel descreve são alcançadas, na maioria dos casos, somente anos depoisquantum black jackos abusos terem ocorrido.
"As evidências científicas nos mostram que são necessárias décadas para que as vítimas consigam denunciar estes acontecimentos. É por isso que existem campanhas muito ativasquantum black jackgrande parte do mundo para ampliar ou eliminar o prazoquantum black jackprescrição para crimesquantum black jackpedofilia."
A lutaquantum black jackMiguel é motivada pelo menor que ele era, que ninguém conseguiu protegerquantum black jackser abusado, e que se tornou um adulto que teve que trabalhar incansavelmente para enfrentar seu trauma.
"Quando você fica mais velho, você vê o impacto que o abuso sexual teve emquantum black jackvida e compara como foi aquantum black jackvida e como poderia ter sido se você não tivesse sido abusado sexualmente."
"Você tem que lamentar a perda das múltiplas oportunidades que outras crianças daquantum black jackidade desfrutaram, mas que você não pôde porque estava deprimido, angustiado, traumatizado, trancadoquantum black jackum quarto sem ver ninguém."