O escritor que cria versões afrofuturistas das favelas brasileiras:bot bet365 telegram

Capa do RPG "O Último Ancestral"

Crédito, Craftando Jogos

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Capa do RPG 'O Último Ancestral',bot bet365 telegramAle Santos

O livro foi sucessobot bet365 telegrampúblico (398 pessoas o avaliaram na Amazon, com nota médiabot bet365 telegram4,8 na escalabot bet365 telegramcinco estrelas do site) e Ale Santos compartilha novidades sobre o universo que está criando: "Vai virar um jogobot bet365 telegramRPG, o segundo livro da saga sairábot bet365 telegramnovembro e a adaptação audiovisual está na fasebot bet365 telegramprocurar por roteiristas".

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Em O Último Ancestral, publicadobot bet365 telegram2021 pela editora Harper Collins, narra-se a sagabot bet365 telegramgarotos e garotasbot bet365 telegramObambo, área periférica e pobre do distrito futurísticobot bet365 telegramNagast. Obambo é referência ao mitobot bet365 telegramuma figura sobrenatural, comum a tribos da África Central; e Nagast é, na vida real, um livro que conta a história lendária da dinastia salomónica dos imperadores da Etiópia, escrito há sete séculos e também referência para o movimento religioso Rastafari.

"Peguei formasbot bet365 telegramcontar históriasbot bet365 telegramfantasia, como fazia J.R.R. Tolkien (escritor britânico, da saga 'O Senhor dos Anéis'), ebot bet365 telegramficção científica, como Isaac Asimov (norte-americano, autor, dentre outros, do clássico 'Fundação'), e me perguntei 'E se eu fizer isso, mas com referências da cultura negra?'", disse Ale Santos, na entrevista.

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BBC Lê

Podcast traz áudios com reportagens selecionadas.

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Santos buscou inspiraçõesbot bet365 telegrammitologias brasileiras. Citou, por exemplo: "o congado (evento religioso com elementos católicos e que, com dança e cortejo, celebra uma cena da coroação do rei do Congo), a cavalhada (tradiçãobot bet365 telegramorigem portuguesa) e a Festabot bet365 telegramSão Benedito, que eram celebrações comuns na região onde nasci".

O escritor ébot bet365 telegramCruzeiro, cidade paulista com menosbot bet365 telegram90 mil habitantes, próxima das fronteiras do estadobot bet365 telegramSão Paulo com o Riobot bet365 telegramJaneiro e com Minas Gerais. Cresceubot bet365 telegramuma região pobre, conhecida como Morro do Itagaçaba, ou Morro da Cocada.

A geografia da fictícia Nagast,bot bet365 telegramseu livro, inspira-se nabot bet365 telegramcidades brasileiras. Obambo, povoado majoritariamente por negros, é uma enorme favela; enquanto isso, nas áreas centrais da cidade futurista mora a elite, tantobot bet365 telegrampessoas brancas quantobot bet365 telegramseres que são metade humanos, metade máquinas.

Personagens das históriasbot bet365 telegramAle Santos também são inspirados no ambiente pobre e periféricobot bet365 telegramque o autor viveu.

"Uso arquétipos da periferia", afirmou ele hoje, aos 36 anos, e morandobot bet365 telegramBelém, no Pará, para onde se mudou neste ano para morar com a namorada.

"Em O Último Ancestral, o personagem Zero, por exemplo, é chefe do crime, mas também é uma figura paternalista para o protagonista. Como aquele amigo nosso no colégio, que pode acabar se tornado bandido, sendo preso, mas que para nós não é um vilão. Minha literatura anda nessa zona cinzenta".

Afrofuturismo

Ale Santos posa para foto usando blazer marrom claro

Crédito, Divulgação

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Ale Santos disse que se inspiroubot bet365 telegramclássicos para criar super heróis com referências negras

O estilo adotado pelo escritor paulista é chamadobot bet365 telegram"afrofuturismo". O gênero tem ganhado popularidade principalmente com produções hollywoodianas.

Os filmes da série Pantera Negra, dos estúdios da Marvel, e as produções do cineasta Jordan Peele, ganhador do Oscarbot bet365 telegrammelhor roteiro pelo filme Corra!,bot bet365 telegram2017, são considerados afrofuturistas. Assim como a sériebot bet365 telegramTV Lovecraft Country, da HBO. Na literatura, um dos nomes mais conhecidos é o do norte-americano Colson Whitehead, ganhadorbot bet365 telegramdois prêmios Pulitzer,bot bet365 telegram2017 por The Underground Railroad: Os caminhos para a Liberdade (que inspirou uma série da Amazon Prime), ebot bet365 telegram2020 por O reformatório Nickel.

"O afrofuturismo é uma formabot bet365 telegramimaginar futuros possíveis pelas lentes da cultura negra", definiu a curadorabot bet365 telegramarte norte-americana Ingrid LaFleur, estudiosa do tema,bot bet365 telegrampalestra para o evento TEDxbot bet365 telegram2011,bot bet365 telegramNova York. Ela complementou: "Vejo o afrofuturismo como formabot bet365 telegramencorajar experimentações, reimaginar identidades e ativar nossa liberação".

Para Ale Santos, hoje ocorre uma "Primavera negra da ficção", porque "as pessoas estão querendo histórias com novos sabores".

"Mas me preocupa que a audiência majoritária tem olhado quase que só para a produção dos estadunidenses", critica ele. "Quero também colocar a nossa perspectiva, construir o afrofuturismo brasileiro. Enquanto nos Estados Unidos olham para as mitologias egípcias como inspiração, aqui nós temos o samba, a influência iorubá e tanto mais".

No Brasil, ainda são poucos os representantes do gênero. Alémbot bet365 telegramAle Santos, há nomes como os das escritoras Sandra Menezes (de O céu entre mundos) e Lu Ain-Zaila (Sankofia: breves histórias afrofuturistas).

Próximos passos: livro, filme e RPG

Está prevista para ser lançada até o fim do ano a continuação da saga iniciadabot bet365 telegramO Último Ancestral. Em A Malta Indomável, a história se passarábot bet365 telegramuma cidade vizinha a Nagast, a Sumé (o nome é referência a uma divindade amazônica). Alémbot bet365 telegramexplorar o rico caldo da cultura afrobrasileira, a história também tem influênciabot bet365 telegrammitologias indígenas e ribeirinhas do Brasil.

"Enquanto no primeiro livro levantei temas como segregação racial e tecnológica, a aventura na cidadebot bet365 telegramSumé irá tratarbot bet365 telegramassuntos como fanatismo religioso", antecipou o autor, que diz ter tido experiências com religiões cristãs e afrobrasileiras, mas agora se define como irreligioso.

Na história, que faz alegoria ao O Mágicobot bet365 telegramOz, três jovens que descobrem ter superpoderes desafiam as autoridades, que, apesar dos avanços científicos, pregam dogmas – com base na crença no deusbot bet365 telegramorigem tupi – como obot bet365 telegramque deficientes físicos não podem ser tratados clinicamente ou com o usobot bet365 telegramtecnologias como próteses.

Jábot bet365 telegramjulho do ano passado, a RT Features, produtora cinematográfica do brasileiro Rodrigo Teixeira, renomada por filmes hollywoodianos como Me chame Pelo Seu Nome, ganhador do Oscarbot bet365 telegrammelhor roteiro adaptadobot bet365 telegram2018, adquiriu os direitosbot bet365 telegramO Último Ancestral para uma adaptação audiovisual.

Ale Santos afirma que a produção está agora na fasebot bet365 telegramcriaçãobot bet365 telegrampropostasbot bet365 telegramroteiros e, por ora, está sendo pensada como um filme ou uma série para lançamentobot bet365 telegramuma plataformabot bet365 telegramstreaming.

Está tambémbot bet365 telegramdesenvolvimento um jogobot bet365 telegramRPG baseado nesse novo universo ficcional afrobrasileiro.

RPG é a sigla para "role-playing game" (em inglês, "jogobot bet365 telegraminterpretaçãobot bet365 telegrampapéis"). Gênero cujo exemplo mais popular é o da linha Dungeons & Dragons, o D&D, e que ganhou fama também como um estilobot bet365 telegramvideogame.

No casobot bet365 telegramO Último Ancestral, a adaptação será para o que se conhece como um RPG "de mesa", com dinâmica similar àbot bet365 telegramum jogobot bet365 telegramtabuleiro, no qual cada jogador interpreta um papel e um líder, o "mestre", narra a história.

Enquanto os exemplos mais famososbot bet365 telegramRPG costumam girarbot bet365 telegramtornobot bet365 telegramfigurasbot bet365 telegramsagasbot bet365 telegramfantasia, como magos e elfos, a versão criada pelo escritorbot bet365 telegramparceria com a empresa paranaense Craftando se inspira no universo afrofuturistabot bet365 telegramAle Santos.

No lugar dos feiticeiros e cavaleirosbot bet365 telegramarmaduras reluzentes, espere por personagens como cybercapoeristas, mestres orisis e malungos. A previsão é que será lançado um primeiro modobot bet365 telegramteste do jogo nos próximos três meses, junto com uma pré-venda,bot bet365 telegrammodelobot bet365 telegramsitebot bet365 telegramfinanciamento coletivo.

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Ale Santosbot bet365 telegramfoto sentado no chão

Crédito, Juan Ribeiro

Legenda da foto,

Os jogosbot bet365 telegramRPG são grande influênciabot bet365 telegramAle Santos

"Pelo pontobot bet365 telegramvista financeiro, hoje consigo viver como escritor, o que vejo como um privilégio no Brasil. Mas não posso pararbot bet365 telegramproduzir", afirmou Ale Santos. O Último Ancestral, inclusive, não foi o primeiro livro do autor paulista. Ele começou apostandobot bet365 telegramuma compilaçãobot bet365 telegramhistórias resgatadas do passadobot bet365 telegramgrandes reinosbot bet365 telegrampovos negros que, segundo defende, "se tornaram invisíveis ao serem apagadas no colonialismo e pós-colonialismo".

Rastrosbot bet365 telegramresistência: históriasbot bet365 telegramluta e liberdade do povo negro,bot bet365 telegramobrabot bet365 telegramestreia e que contou com prefácio assinado pelo rapper Emicida, foi lançadabot bet365 telegram2019 pela editora Panda. Em 2020, foi finalista do prêmio Jabuti na categoria Ciências Humanas. No livro, narra sagas e mitos como abot bet365 telegramum quilombo na Colômbia; abot bet365 telegramuma guerreira negra que combateu navios negreiros; e da origem da mandinga no Brasil. Escreveu ele na obra: "As histórias não são apenas um pedaçobot bet365 telegramcada povo antigo: são pedras fundamentais para reconstruir novos impérios culturais africanos pelo mundo".

Algumas das histórias serviram depoisbot bet365 telegraminspiração para a construção do mundobot bet365 telegramficção científica que já levabot bet365 telegrammarca. O personagem Bento, por exemplo, definido como um "cybercapoeirista", é inspiradobot bet365 telegramBenedito Meia-Légua, líder quilombola do Espírito Santo, cuja saga é temabot bet365 telegramum dos capítulosbot bet365 telegramRastrosbot bet365 telegramresistência.

"Ele usa elementosbot bet365 telegramnossa cultura, mesclando com o afrofuturismo,bot bet365 telegrammaneira apoteótica, sembot bet365 telegramnada dever aos autores estrangeiros do gênero. É melhor, aliás", comenta o desenhista gaúcho Rafael Albuquerque,bot bet365 telegramentrevista à BBC Brasil. Albuquerque é um dos mais renomados quadrinistas nacionais, ganhador do prêmio Eisner (considerado o "Oscar das histórias e quadrinhos")bot bet365 telegram2011, pela série American Vampire, feitabot bet365 telegramparceria com nomes como o escritor norte-americano Stephen King, renomado pelos livrosbot bet365 telegramterror, a exemplobot bet365 telegramclássicos como O Iluminado,bot bet365 telegram1977, A Zona Morta,bot bet365 telegram1979, e It: A Coisa,bot bet365 telegram1986.

Ale Santos e Albuquerque têm duas parcerias juntos. A primeira foi com a criação, ao lado do colega Douglas Lopes, das ilustrações da capabot bet365 telegramO Último Ancestral. A segunda ainda está para sair. Em março deste ano, anunciaram que farão juntos um conto,bot bet365 telegramformatobot bet365 telegramhistóriabot bet365 telegramquadrinhos, ambientado no universobot bet365 telegramAssassin's Creed, título famoso por videogames, livros e congêneres que são sucesso da cultura pop mundial. A desenvolvedora francesa Ubisoft, por meiobot bet365 telegramuma produtora canadense terceirizada, havia convidado primeiro Albuquerque para o trabalho. Foi aí que o artista gaúcho indicou Ale Santos como roteirista, enquanto ele se encarregou dos desenhos.

As aventuras da série Assassin's Creed tradicionalmente acontecembot bet365 telegramdiferentes épocas, ambientadasbot bet365 telegrammomentos históricos da humanidade, como durante o Império Romano, no Renascimento, na era dos vikings ou no auge da piratariabot bet365 telegramilhas caribenhas.

A históriabot bet365 telegramquadrinhos assinada por Ale Santos e Rafael Albuquerque – ainda sem data prevista para publicação – será a primeira a se passar no Brasil. "Em São Paulo, na décadabot bet365 telegram1970, nos porões da ditadura militar", antecipou o autor paulista.

Albuquerque diz que tomou a iniciativabot bet365 telegramconvidar o colega para ser coautor da obra por considerá-lo "o melhor escritor brasileirobot bet365 telegramficção científica, um dos mais talentosos do planeta; e ainda empenhado, como eu,bot bet365 telegramvalorizar as ricas mitologiasbot bet365 telegramnosso país,bot bet365 telegramforma apoteótica e pop, inclusive para sermos lidos pelos gringos".

Origem

Os primeiros contatosbot bet365 telegramAle Santos com a literatura se deram na escola, quando tinha por voltabot bet365 telegram12 anos, e uma professora apresentou a ele leituras como clássicos da fantasia e da ficção científica. Assim, encantou-se por histórias como as do detetive Sherlock Holmes, a do bárbaro Conan e dos Cavaleiros da Távola Redonda.

Também foi nessa épocabot bet365 telegramque conheceu os jogosbot bet365 telegramRPG. Por influênciabot bet365 telegramum amigo, tornou-se um "rpgista", ou seja, um jogadorbot bet365 telegramRPG. Foi aí que começou a ler obras como os livros da sagabot bet365 telegramO Senhor dos Anéis.

"A minha formabot bet365 telegramcontar histórias têm influência diretabot bet365 telegramcomo se narram as aventurasbot bet365 telegrammesasbot bet365 telegramRPG", observou ele, com o olharbot bet365 telegramagora, como escritorbot bet365 telegramsucesso.

Cursou faculdadebot bet365 telegrampublicidade com bolsa do governo federal e trabalhou como redator, por seis anos,bot bet365 telegramuma produtorabot bet365 telegramconteúdo. Poucos dias após ser demitido,bot bet365 telegramjunhobot bet365 telegram2018, publicou um tuíte que, segundo ele próprio, foi o marco que mudoubot bet365 telegramcarreira.

Em uma sériebot bet365 telegrampequenos textos – uma thread, ou,bot bet365 telegramportuguês, um "fio", no jargão do Twitter –, contou a sanguinolenta história do rei Leopoldo II, da Bélgica, cujas ações ditatoriais e coloniais no Congo, entre 1885 to 1908, levou à mortebot bet365 telegrammilhõesbot bet365 telegrampessoas (as estimativas vãobot bet365 telegram8 a 20 milhõesbot bet365 telegramcongoleses): "(Leopoldo II) aterrorizava vilas inteiras exigindo marfim e borracha (...) as famílias que não batiam as metas impostas tinham seus membros decepados (...) oficiais belgas construíam cercasbot bet365 telegramcrânios ao redorbot bet365 telegramsuas casas, para intimidar quem ousasse desobedecer".

O tuíte viralizou na rede social, o que o motivou a escrever mais threads sobre histórias dos povos negros. Hoje, Ale Santos conta combot bet365 telegramtornobot bet365 telegram140 mil seguidores no Twitter, alémbot bet365 telegram83 mil no Instagram.

O sucessobot bet365 telegramseus textos curtos na internet atraiu a atençãobot bet365 telegrameditoras brasileiras. Os capítulosbot bet365 telegramseu primeiro livro, o Rastrosbot bet365 telegramresistência, são inspirados no conteúdo publicado pelo autor nas redes sociais.

Escreveu o rapper Emicida, no prefácio da obra: "Ale Santos, nesse sentido, é como Oxóssi no famoso conto iorubá, onde ele enfrentou o pássaro da morte e vence! Ele tinha uma única flecha (no casobot bet365 telegramAle, suas redes sociais), mirou e atingiubot bet365 telegramcheio quem tenta (ainda hoje) roubar e esconder nossos reflexos na história do mundo".

Apósbot bet365 telegramobrabot bet365 telegramestreia concorrer ao prêmio Jabuti, as editoras voltaram a procurá-lo,bot bet365 telegrambuscabot bet365 telegramnovos trabalhos. Foi quando o escritor decidiu que se dedicaria à ficção científica e,bot bet365 telegramespecífico, ao afrofuturismo.

Concluiu ele: "Cresci estudandobot bet365 telegramescolas que ensinavam literatura racista, como abot bet365 telegramMonteiro Lobato, cujo conteúdo incentivava e normalizava que meus colegas me chamassembot bet365 telegram'saci', alémbot bet365 telegramoutras ofensas, no meio do colégio. No trabalho, quis trazer a discussão do segregacionismo – racial, tecnológico, religioso. Agora me reúno com produtoresbot bet365 telegramHollywood para falarbot bet365 telegramum filme sobre meus livros, que promovem a cultura afrobrasileira".