As cientistas brasileiras que lançaram experimento na Estação Espacial Internacional:poker cena

Luisa Coelho e Livia Luz trabalham no laboratóriopoker cenaSan Diego

Crédito, Arquivo pessoal

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Luisa Coelho e Livia Luz trabalham no laboratóriopoker cenaSan Diego

Os minicérebros são recriações minúsculaspoker cenaredes neurais que simulam o desenvolvimento desse órgãopoker cenahumanos. Após decolarem com o foguete no Kennedy Space Center, base da Nasa, a agência espacial americana, na Flórida, eles foram entregues com quase 3 toneladaspoker cenamateriais a duas astronautas que estão na Estação Espacial Internacional (ISS, na siglapoker cenainglês).

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"A ciência ainda sabe muito pouco dos efeitos da microgravidade nos nossos corpos e mentes", avalia Luisa Coelho,poker cena24 anos. "Se a Nasa quer mesmo enviarpoker cenabreve a primeira viagem tripulada a Marte, isso precisa mudar."

A agência espacial americana tem planospoker cenamandar ao planeta vizinho uma espaçonave com astronautas no anopoker cena2033. A ideia inicial é orbitar Marte e, na volta, fazer o mesmo com Vênus, antes do regresso à Terra. A proposta é ser a abertura do caminho para uma missão espacial que venha a pousar no Planeta Vermelho, programada para 2037.

Mais velhos no espaço

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A duplapoker cenacientistas brasileiras trabalha para o laboratório Muotri, da Universidade da Califórniapoker cenaSan Diego (UCSD). O departamento é liderado por outro brasileiro, o neurocientista paulistano Alysson Muotri,poker cena49 anos.

A equipepoker cenaMuotri tem enviado experimentos para a ISS desde 2019. Para arcar com os custos do primeiro deles, há quatro anos, o cientista chegou a hipotecarpoker cenacasa para levantar o dinheiro necessário ao financiamento da empreitada.

O envolvimento dele com os estudos espaciais começou três anos antes,poker cena2016. Após ler pesquisas da Nasapoker cenaexperimentos realizados na ISS, o brasileiro discordoupoker cenaparte das conclusões.

Para ele, estava provado que nossas células envelhecem mais rápido no espaço. Só que a Nasa achava que era um efeito temporário, enquanto o brasileiro teorizava que, no cérebro, seria permanente.

Na primeira vezpoker cenaque alertou a Nasa da problemática, não lhe deram atenção. Depois dos resultados promissores do experimento financiado por ele próprio, porém, Muotri conseguiu financiamento para os outros. Em 2020, enviou outro para a ISS e, no ano seguinte, mais um.

O trabalho do qual agora participam Livia e Luisa é o quarto do laboratório que é mandado para o espaço,poker cenaparceria com a Nasa. "Foram materiais com variabilidades genéticas bem variadas. A ideia é ver como cada indivíduo pode reagir ao ambientepoker cenamicrogravidade e, quem sabe, assim descobrir organismos mais resistentes e que podem nos levar a tratamentos eficazes para astronautas", diz Alysson Muotri à BBC Brasil.

Os experimentos feitos até agora revelaram que as células neuronais envelhecem mais rápido no espaço. Em um mês, avançam o equivalente a dez anos,poker cenaacordo com o cientista. Na volta para a Terra, chegam a se regenerar um pouco, mas não completamente.

Livia Luz trabalhandopoker cenalaboratório

Crédito, Arquivo pessoal

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A cientista brasileira Livia Luz monta o experimento enviado pela Nasa

Foram testadas algumas formaspoker cenamanipular o material frágil dos minicérebros na ISS. No escritóriopoker cenaMuotripoker cenaSan Diego é exposto um modelopoker cenaum robô desenvolvido pelo laboratório e que é responsável por replicar as experiências que ele e equipe realizam aqui na Terra. Ou melhor, assim era até agora.

"Os organoides cerebrais são muito sensíveis e a máquina não consegue mexer neles com a delicadeza necessária", diz a biomédica Livia Luz. "Desta vez testamos outro método."

A equipepoker cenacientistas calculou formaspoker cenaaproveitar a microgravidade do espaço para instigar as alterações que esperam ver. Assim, desta vez ninguém, nem máquina nem humano, terápoker cenamanipular o material na ISS.

Compreender como envelhece nosso cérebro e, ainda mais, quais são os mecanismos que podem acelerar ou conter esse processo pode levar a diversos achados. Como no campo do combate a doenças ligadas ao processo degenerativopoker cenanossas células, como o autismo e a esquizofrenia, quem sabe levando a novos tratamentos para esses males.

"Tem quem não acredite, mas eu acredito na cura para o autismo", afirma Muotri, paipoker cenaum menino autista.

Além dessas pesquisas, o laboratório que leva seu nome realiza diversos experimentos com os minicérebros. Uma linha pioneirapoker cenaestudos, por exemplo, reproduziu como eram esses órgãospoker cenaneandertais, espécie humana extinta há 40 mil anos, inaugurando um novo campo para a ciência, a neuroarqueologia.

Um 'lab'poker cenabrasileiros

Muotripoker cenalaboratório, olhando para a câmera,poker cenafrente a duas telaspoker cenacomputador com imagenspoker cenapesquisa

Crédito, Arquivo pessoal

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A equipepoker cenaAlysson Muotri tem enviado experimentos para a ISS desde 2019

O Lab Muotri na UCSD tem 39 cientistas, dos quaispoker cenatornopoker cena80% são brasileiros.

"Há uma prevalência maior porque profissionaispoker cenanosso país, ao saberpoker cenamim aqui, acabam por me procurar, por querer trabalhar comigo", afirma Muotri.

Luisa Coelho nasceupoker cenaPetrópolis, no Riopoker cenaJaneiro, e, após se formar no colegial, se mudou para San Diego por incentivopoker cenauma tia que morava na cidade californiana. Lá ingressou na UCSD, onde formou-se bióloga, fez o mestrado e conheceu os trabalhos do colega brasileiro.

"No segundo ano da graduação, minha família me encaminhou uma reportagem sobre o trabalho do Muotri", recorda ela. "Queria estudar questões espaciais e enviei um e-mail a ele. Comecei estagiandopoker cenagraça e, hoje, trabalho como técnica no laboratório e pretendo iniciar meu doutorado aqui."

Já a biomédica Livia Luz começou a colaborar com Muotri durante o cursopoker cenadoutorado na Universidadepoker cenaSão Paulo (USP). Após se formar, sugeriu uma pesquisapoker cenapós-doutorado para a UCSD. Desde o ano passado, ela trabalha no laboratório.

Muotri epoker cenaequipe participarampoker cenaestudos pioneiros. Por exemplo, além da fundação do campo da neuroarqueologia e dos experimentos espaciais, ele integrou o time que descobriu,poker cena2016, a relação do vírus da Zika circulando no Brasil com casospoker cenamicrocefalia.

"Queremos trazer os melhores cérebros do mundo para cá e é importante termos mentes que sejam oriundaspoker cenaexperiências diversas", afirma a epidemiologista Corinne Peek-Asa, vice-reitora da UCSD, e responsável pela áreapoker cenapesquisas científicas da universidade,poker cenaentrevista à BBC Brasil. "Há a questão da 'fugapoker cenacérebros', tantopoker cenapaíses como Brasil quanto dos Estados Unidos, pois temos sofrido com isso nos últimos anos. Não sei qual é a solução, mas acredito que partapoker cenaincentivar parcerias transnacionais."

Sobre o laboratório majoritariamentepoker cenabrasileiros liderado por Muotri, ela diz que vê no neurocientista um "pesquisador clássico,poker cenabuscapoker cenaresolver problemas reais". E acrescenta: "É um time preocupadopoker cenainfluenciar a experiência humana, resolvendo questões urgentespoker cenanossas vidas."

O cientista-astronauta

Mão segura placa com várias bolinhas pequenas dentropoker cenalíquido

Crédito, Divulgação

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Os minicérebros são recriações minúsculaspoker cenaredes neurais que simulam o desenvolvimento desse órgãopoker cenahumanos

Para 2024 está programado um passo ainda mais ambicioso para Muotri. Há alguns procedimentos dos experimentos espaciais que, delicados, seriam melhores feitos por mãos humanas. A solução encontrada: Muotri está treinando para ser astronauta.

O convite para ir para o espaço veio no fimpoker cena2022,poker cenauma reunião com dois astronautas da Nasa. "A ideia inicial era treiná-los para realizar o trabalho na ISS. Mas aí perceberam que seria mais fácil e rápido me preparar para ser astronauta do que ensinar a eles técnicas avançadas que usamos", recorda o brasileiro.

Aí propuseram que Muotri embarcassepoker cenaum foguete para realizar os experimentos neurocientíficos na ISS, o laboratório espacial que orbita a Terra a 400 quilômetrospoker cenaaltitude. Ele topou e o voo está programado para ocorrer até o fimpoker cena2024.

Será o primeiro cientista brasileiro a embarcar para o espaço. Os dois outros conterrâneos que realizaram o feito foram o hoje senador Marcos Pontes, ex-piloto da Força Aérea,poker cena2006, e o engenheiro Victor Hespanha, como turista,poker cena2022.

Está nos planos que Livia Luz, uma das cientistas que enviou os minicérebros para o espaço, seja treinada com ele, comopoker cenasubstituta na missão caso ocorra alguma eventualidade. "Também procuro conseguir mais uma cadeira nesse foguete, quem sabe para ela ir comigo", comenta Muotri.

Além dessa primeira viagem, devem ser realizadas outras depois, para prosseguir com o trabalho.

"Minha ambição é transformar membros do laboratóriopoker cenaastronautas. Luisa é a segunda da lista, depoispoker cenaLivia", afirma ele, citando o nome da outra brasileira envolvida com as pesquisas com os organoides cerebrais.

Por ora, a missão espacial, apesarpoker cenaenvolver brasileiros, é uma iniciativa primariamente dos Estados Unidos. "Provavelmente devemos ter, no fim, financiamento multinacional. Há interessepoker cenapaíses como Canadá e Coreia do Sul", diz o neurocientista. Ele tem se esforçado para que o Brasil também entre na jogada.

Em junho, após conversas com representantes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, chegou a se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo conta, houve promessapoker cenaque o país ingressariapoker cenaalguma forma.

"Há poucas semanas, porém, recebi uma ligação na qual me disseram que o orçamento para esse projeto foi reduzido. Então, não sei dizer ao certo se o Brasil entrará, nem como", diz Muotri.

Cotada para ir também na missão, Livia Luz pontua que preferia fazer a viagem "com a bandeira do Brasil no uniforme". Se não for possível, porém, topará a aventurapoker cenaqualquer forma, "mesmo que representando outro país".