'Instinto materno é uma ilusão', afirma autora americana:apostar na loteria on line

"A ciência não descreve a mulher como alguém naturalmente dotadaapostar na loteria on lineamor maternal que atende todas as necessidades do bebêapostar na loteria on lineforma automática. Na verdade, ao ter um filho, nosso cérebro muda para garantir a sobrevivência do bebê até que nosso coração se conecte a ele", afirma.

Ao refletir sobre o cérebro materno, Chelsea acabou caindo na constataçãoapostar na loteria on lineque nossa sociedade se estruturou num modelo que delega a tarefa do cuidado às mulheres, como se fosse um destino biológico. E, com base na ciência, ela nos faz questionar e repensar esse formato.

A autora desafia a noçãoapostar na loteria on lineinstinto materno inato, enfatizando a adaptabilidade do cérebroapostar na loteria on linequalquer cuidadorapostar na loteria on linebebês - pais, mães adotivas e as mãesapostar na loteria on linecasais do mesmo sexo, que, porventura, não engravidem.

Em uma chamadaapostar na loteria on linevídeo, diretoapostar na loteria on linesua casa no Maine, nos Estados Unidos, Chelsea conversou com a BBC News Brasil sobre maternidade, ciência, feminismo e necessidadeapostar na loteria on lineredesapostar na loteria on lineapoio e políticas públicas para os novos pais.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

apostar na loteria on line BBC News Brasil - O título originalapostar na loteria on lineinglês do seu livro é apostar na loteria on line Mother Brain apostar na loteria on line ("Cérebroapostar na loteria on lineMãe"), mas você destaca que, segundo a ciência, o termo se refere ao cérebroapostar na loteria on linequem cuida, não apenasapostar na loteria on linequem dá à luz - o que pode incluir os pais, mães adotivas, casais não-binários ou do mesmo sexo. Mesmo assim, o peso do "instinto materno" ainda recai nas mulheres,apostar na loteria on lineespecial as que engravidam. Qual a explicação para isso?

apostar na loteria on line Chelsea Conaboy - Muitas das críticas que recebi por escrever este livro vieramapostar na loteria on linepessoas que dizem que eu estou tentando desacreditar o amor materno. E isso não poderia estar mais longe da verdade. Eu amo muito meus filhos. Escrevi um livro inteiro sobre como o cérebro muda para ajudar a cuidar melhor dos nossos filhos.

Mas a ideia com a qual realmente não concordo é aapostar na loteria on lineque o instinto materno é algo inato, automático e exclusivamente feminino.

A ciência conta uma história bem diferente: o instinto materno é uma ilusão.

Passei muito tempo pensando sobre como essa mensagem da ciência foi uma surpresa para mim como uma nova mãe. Por que não era algo sobre o qual já estávamos falando?

As estudiosas feministas já sabiam e vêm discutindo há muito tempo: esse conceito não vem da ciência, masapostar na loteria on lineideias religiosas e morais sobre o que é uma mãe e o que é uma mulher.

Entendo que é algo que nos foi transmitidoapostar na loteria on linegeraçãoapostar na loteria on linegeração e é difícilapostar na loteria on linecombater,apostar na loteria on lineparte porque sentimos o poder da maternidade dentroapostar na loteria on linenós. E esse poder foi chamado por tanto tempoapostar na loteria on lineinstinto materno que é automático repetir. Mas, na verdade, é algo poderoso sim, mas não instintivo.

apostar na loteria on line BBC News Brasil - Para esse conceito ser reproduzido por tantos séculos, alguém está se beneficiando dessa ideia - e não parecem ser as mulheres. Como acha que podemos quebrar esse mito?

apostar na loteria on line Conaboy - Essa é a perguntaapostar na loteria on lineum milhãoapostar na loteria on linedólares, não é?

Acho que uma maneira importanteapostar na loteria on linemudar isso é continuar falando sobre isso, seja qual for o papel que desempenhamos na sociedade. No meu caso, foi como escritora. Mas seja você cientista, político ou líder empresarial, precisamos usar fatos e evidências para mudar essas narrativas.

Aqui nos Estados Unidos atualmente, mulheres como eu - mães que estão escrevendo sobre essa narrativa mais verdadeira da parentalidade (e da maternidade), recebem muitas críticasapostar na loteria on lineconservadores eapostar na loteria on linehomens no poder. E penso que recebemos essas críticas,apostar na loteria on linegrande parte, porque algo está funcionando. Ter essas conversas mais honestas ameaça o poder estrutural do patriarcado.

apostar na loteria on line BBC News Brasil - Os Estados Unidos estão passando por um momento político intenso, com uma eleição presidencialapostar na loteria on lineque os direitos reprodutivos das mulheres são uma das pautas mais quentes. Como você acha que os estudos do seu livro podem ajudar a assegurar o direito das mulheresapostar na loteria on lineescolher serem ou não mães?

apostar na loteria on line Conaboy - Grande parte do que motiva ativistas antiaborto é a ideiaapostar na loteria on lineque as mulheres são destinadas a serem mães, que foram feitas para isso e que, naturalmente, já têm tudo o que precisam para isso. E desconstruir essa crença é uma parte importante.

E é por isso que, por exemplo, aqui nos Estados Unidos, temos essa luta por justiça reprodutiva e acesso ao aborto, mas não temos licença maternidade remunerada ou creche acessível. Porque muitos pensam que nascemos prontas. Não temos muito do que é necessário para criar uma criança, porque existe essa ideiaapostar na loteria on lineque as mulheres já têm tudo.

apostar na loteria on line BBC News Brasil - Como podemos convidar os homens para essa conversa?

apostar na loteria on line Conaboy - Algo que me anima muito é que meu marido é um pai muito mais envolvido do que meu pai era. E essa é uma tendência entre muitos homens.

Não quero desconsiderar o poder particular que a gravidez tem, pois é uma experiência fisiológica distinta. Mas o que a ciência está apontando agora é que os mecanismos são um pouco diferentes nos pais e outros cuidadores não gestacionais, mas se eles também vivenciam essa exposição aos bebês, experimentam mudanças hormonais e cerebrais.

Homens talvez ainda não sejam envolvidos o suficiente, mas, ao cuidar mais, percebem duas coisas: os benefícios dessa interação tanto para a eles quanto paraapostar na loteria on linefamília e também os custos que nós, mães, conhecemos bem.

À medida que eles aprendem isso, se tornam melhores defensoresapostar na loteria on linepolíticas públicas e sistemasapostar na loteria on linesuporte. Passam, por exemplo, a pressionar por mais tempoapostar na loteria on linelicença-paternidade para poderem passar tempoapostar na loteria on linecasa com seus bebês.

apostar na loteria on line BBC News Brasil - Quando se falaapostar na loteria on lineparentalidade, a maioria dos livros hojeapostar na loteria on linedia se concentra na criação dos filhos. No seu, o foco são as mães. Mesmo assim gostariaapostar na loteria on linesaber: como você vê que as informações que temos sobre o cérebro materno afeta o desenvolvimento infantil?

apostar na loteria on line Conaboy - Sim, foquei nas mães. Fiz issoapostar na loteria on linemaneira intencional. Não queria que esse fosse um livro sobre desenvolvimento infantil, porque há muito material escrito nesse tema. Mas há um ponto importante que tem a ver com a saúde mental materna.

Sabemos que, geralmente, as crianças se saem melhor e são mais felizes quando os pais estão bem e felizes. E saber da ciência é uma parte importante para ajudar os pais a se conhecerem melhor e a saberemapostar na loteria on lineque recursos precisam para se prepararem melhor para a gravidez e a paternidade.

Isso também muda os cuidados clínicos. Nos Estados Unidos, por exemplo, não fazemos um bom trabalhoapostar na loteria on lineidentificar nas pessoas grávidas fatoresapostar na loteria on linerisco para depressão e ansiedade. Identificamos esses casos mais tarde, quando estãoapostar na loteria on linecrise, mas não fazemos a triagem antes.

A ciência pode contribuir para, durante a gravidez, fazermos uma avaliação mais completaapostar na loteria on linesua saúde mental, física e recursos sociais, e identificar o que pode ser adicionado para ajudar a mãe a passar por esse períodoapostar na loteria on linegrande mudança no cérebro. Isso beneficiará as crianças se os pais forem melhor apoiados quando são recém-nascidos.

A outra parteapostar na loteria on linecomo isso pode afetar nossas famílias e lares é mais ampla e política. Como podemos criar as melhores políticas públicas para apoiar os pais nessa transição para a nova parentalidade?

apostar na loteria on line BBC News Brasil - Um dos muitos estudiosos citadosapostar na loteria on lineseu livro é a filósofa francesa Elisabeth Badinter. Ela foi uma das primeiras a falar sobre o mito do amor materno, nos anos 80, relacionando a ideia da história natural da maternidade com uma prisão. Como essa ideia evoluiu nos últimos 40 anos?

apostar na loteria on line Conaboy - A instituição da maternidade e seus ideais, aqueles que nos dizem como uma mãe deve se comportar, estão profundamente enraizadosapostar na loteria on linenós, foram mantidos geração após geração. Eles são uma parte importante da estruturaapostar na loteria on lineuma sociedade capitalista, onde o trabalho não remunerado das mulheres é muito importante, mas não valorizado.

O trabalhoapostar na loteria on lineElizabeth Badinter e tantas outras feministas nos anos 60, 70 e 80 foi muito importanteapostar na loteria on linetermosapostar na loteria on lineabrir nossos olhos para o que estava acontecendo.

Agora adicionamos nuances a essas visões, e isso é essencial para nos aproximarmos mais da verdade sobre o que é ser uma mulher, tanto individualmente quantoapostar na loteria on lineforma mais ampla.

Hojeapostar na loteria on linedia, existem mulheresapostar na loteria on lineposiçõesapostar na loteria on lineliderança na ciência e na política que podem levar suas próprias experiênciasapostar na loteria on linevida sobre o que significa ser mãe. Levar para o laboratório ou para as universidades e fazer essas perguntas no contextoapostar na loteria on linesuas próprias vidas.

apostar na loteria on line BBC News Brasil - Quais foram suas descobertas favoritas sobre maternidade e o cérebro materno duranteapostar na loteria on linepesquisa?

apostar na loteria on line Conaboy - É comum aquela noçãoapostar na loteria on lineque quando alguém está comprometido por se tornar mãe ou pai, durante a gravidez e a nova parentalidade, tende a ficar meio desatento ou esquecido. Por isso, gosto das pesquisas que analisam o cérebroapostar na loteria on linepais mais velhos.

Estudos do Reino Unido e da Austrália, que analisam grandes bancosapostar na loteria on lineimagens cerebrais, compararam milharesapostar na loteria on linecérebrosapostar na loteria on linepais e não pais. A conclusão é que os cérebros dos pais parecem mais jovens do que osapostar na loteria on linequem não tem filhos.

Embora ainda haja muito a entender sobre isso, os resultados sugerem que a paternidade oferece um estímulo social e mental intenso, com desafios constantes eapostar na loteria on lineevolução.

apostar na loteria on line BBC News Brasil - É interessante trazer luz para isso: o fatoapostar na loteria on lineque o cérebroapostar na loteria on linealguém que cuidaapostar na loteria on lineum bebê muda para focar nos cuidados necessários que um recém-nascido precisa, masapostar na loteria on lineuma forma adaptativa. Muitas mulheres, porém, são demitidas após a licença maternidade, sob a ideiaapostar na loteria on lineque não trabalharão tão bem quanto antes. Mas os dados mostram que isso está errado, certo?

apostar na loteria on line Conaboy - Exato. Assim como dizemos a aposentados para fazerem palavras cruzadas ou se envolverem na comunidade para manter o cérebro ativo, a paternidade é um engajamento constante, que nos desafia o tempo todo e ajuda a manter nosso cérebro afiado.

Vai contra a ideiaapostar na loteria on lineque nos tornamos menos competentes depoisapostar na loteria on linetermos filhos, quando as demandasapostar na loteria on linenossas famílias são tão altas.

Tem uma mensagem muito importante no livro como um todo: esse não é um processo degenerativo. Na verdade, é um processo profundamente adaptativo. Alguns estudos falam sobre habilidades cognitivas aumentadas, e coisas que sabemos que estão moldando como nos comportamos e percebemos nossas vidas e nossos filhos nesses primeiros anos. E isso pode ter ramificações a longo prazo que ainda nem foram totalmente exploradas.

E acho que isso é muito profundo e lindo, e me faz querer saber mais. Falo bastante sobre minha frustração por não haver mais pesquisas, mas há muito o que ser descoberto na ciência que ainda está por vir.

apostar na loteria on line BBC News Brasil - Como escrever este livro mudou você como mãe?

apostar na loteria on line Conaboy - A grande mudança foi que me permitiu deixar parte da culpaapostar na loteria on linelado e entender que as dificuldades que enfrentei como mãe faziam parte do processo para ser a mãe que meus filhos precisavam. Me trouxe compaixão por mim mesma, sem a narrativaapostar na loteria on lineque estraguei tudo.

Sei que cometo e cometerei erros, mas tudo bem, contanto que eu aprenda e faça melhor na próxima vez.

Criamos expectativas irreais sobre parentalidade, como se qualquer erro comprometesse o vínculo com nossos filhos. Mas o importante é aceitar, refletir e seguir tentando melhorar, ouvindo o que eles precisam. É um processoapostar na loteria on lineaprendizado.

Minha ideia é ter toda a teoria, ouvir os especialistas, mas depois voltar meu foco para os meus filhos. Apesarapostar na loteria on linenão serem mais bebês, eles estão sempre mudando, e como são muito diferentes entre si, procuro sempre observá-los. Leio bastante, absorvo o que faz sentido, mas, no fim, é essencial entender o que meus filhos precisam.

Sei que meu cérebro foi ajustado para me ajudar a cuidar deles da melhor forma possível, mesmo que eu nem sempre acerte.