Vítimas registradas até agora 'são apenas a ponta do iceberg' da tragédia no RS, diz pesquisador da Fiocruz:aposta esportiva telegram

“Toda vez que um grupoaposta esportiva telegrampesquisadores faz investigações sobre algum desastre e recupera os registros anos depois, descobre um númeroaposta esportiva telegramóbitos e internações muito maior [do que o divulgado durante a crise]”, aponta o pesquisador, professor da Escola Nacionalaposta esportiva telegramSaúde Pública Sergio Arouca (Ensp).

Sequênciaaposta esportiva telegramdanos

Os estudos elaborados por Machado e seus colegas levamaposta esportiva telegramconta toda a cadeiaaposta esportiva telegramdanos e sequelas provocados pelos desastres ambientais na saúde e na infraestrutura pública.

Segundo os estudos, entre as doenças e situaçõesaposta esportiva telegramque há aumentoaposta esportiva telegramincidência nas horas e nos anos após grandes inundações estão:

Nas primeiras horas e dias após uma enchente, os óbitos e internações costumam vir das operaçõesaposta esportiva telegramresgate e socorro e consistem principalmenteaposta esportiva telegramtraumas agudos.

Após algumas semanas e meses, durante o período chamado pelos especialistasaposta esportiva telegramrecuperação, doenças transmissíveis começam a ser diagnosticadas com mais frequência.

“Estamos falando das doenças mais tradicionais, como leptospirose, doenças diarreicas e hepatite, mas também daquelas relacionadas ao fatoaposta esportiva telegrammuitas pessoas serem obrigadas a viveraposta esportiva telegramabrigos após um evento como esse”, explica o pesquisador da Fiocruz.

“Há um risco potencializadoaposta esportiva telegramgastroenterite pela forma como os alimentos são armazenados ou manipulados eaposta esportiva telegramdiarreia pelo acesso à água, pois a redeaposta esportiva telegramfornecimento muitas vezes é interrompida ou contaminada.”

Além disso, segundo Machado, os abrigos costumam ser ambientes com aglomeração e pouca ventilação, favorecendo a transmissãoaposta esportiva telegramdoenças infecciosas respiratórias.

“No Rio Grande do Sul,aposta esportiva telegramimediato, eu me preocuparia com as doenças respiratórias e os casosaposta esportiva telegramhipotermia, porque há previsãoaposta esportiva telegramfrio para os próximos dias e suspeito que,aposta esportiva telegramalgumas áreas, muitas pessoas tenham perdido seus agasalhos e cobertores.”

Aindaaposta esportiva telegramacordo com a análiseaposta esportiva telegramdados feita pelo pesquisador, casosaposta esportiva telegramleptospirose podem permaneceraposta esportiva telegramalta por meses após o desastre.

Ao mesmo tempo, há tendênciaaposta esportiva telegramelevação dos casosaposta esportiva telegramdoenças não transmissíveis e problemasaposta esportiva telegramsaúde crônicos devido à desestabilização do sistemaaposta esportiva telegramsaúde e do dia a dia dos pacientes.

Segundo o Ministério da Saúde, até a manhãaposta esportiva telegramsábado (11), ao menos 290 locais como hospitais e UPAs (Unidadesaposta esportiva telegramPronto Atendimento) haviam sido atingidasaposta esportiva telegramalguma forma pelo desastre no Rio Grande do Sul.

Há 18 hospitais totalmente danificados e que não terão condiçõesaposta esportiva telegramvoltar a realizar atendimentos. Outros 75 estão com funcionamento parcial.

Com isso, há a interrupçãoaposta esportiva telegramtratamentosaposta esportiva telegramdoentes crônicos, diz Machado.

Emergências não relacionadas ao desastre também podem deixaraposta esportiva telegramser priorizadas.

“E mesmo aqueles que não dependiam do atendimento das unidades básicasaposta esportiva telegramsaúde muitas vezes saíramaposta esportiva telegramcasa sem levar seus medicamentos para tratamento contínuo”.

Somado à toda a desestruturação da vida dos habitantes da região, esse cenário tende a levar a altasaposta esportiva telegramcasosaposta esportiva telegrampressão alta e AVC, por exemplo.

O pesquisador da Fiocruz computou os registrosaposta esportiva telegraminternações por AVC meses antes e após as inundaçõesaposta esportiva telegramSanta Catarinaaposta esportiva telegramnovembroaposta esportiva telegram2008, que atingiram 1,5 milhãoaposta esportiva telegrampessoas e deixaram cercaaposta esportiva telegram150 mortos durante e imediatamente após a crise.

O levantamento mostrou picos nos casosaposta esportiva telegramAVC nas semanas após a tragédia eaposta esportiva telegramabrilaposta esportiva telegram2009, cinco meses depois. Mas os níveis ficaram mais altos do queaposta esportiva telegramoutros momentos por ainda mais tempo.

“Em Santa Catarina, os AVCs subiram a níveis bem acima da média e só voltaram ao normal cercaaposta esportiva telegramoito meses depois”, relata Carlos Machado.

Períodoaposta esportiva telegramreconstrução

Outro fenômeno registrado pelos pesquisadores, e que pode se repetir no Rio Grande do Sul, tem relação com o períodoaposta esportiva telegramreconstrução das casas e infraestruturas destruídas, alémaposta esportiva telegramfraturas decorrentesaposta esportiva telegramacidentesaposta esportiva telegramtrabalho.

Em 2008, as internações por fraturasaposta esportiva telegramSanta Catarina chegaram a um patamar acima da média por voltaaposta esportiva telegramcinco meses após as inundações.

“Por pior que sejam as condições, as pessoas sempre vão voltar e tentar reconstruir suas casas. Mas infelizmente, nem sempre com as ferramentas e segurança correta”, diz Machado.

Cercaaposta esportiva telegram101 mil casas já foram destruídas ou danificadas pelas fortes chuvas que há dias assolam o Rio Grande do Sul, segundo estimativa da Confederação Nacionalaposta esportiva telegramMunicípios (CNM).

Até o momento, o desastre climático afetou 449 dos 497 municípios gaúchos.

Por contaaposta esportiva telegramtoda a destruição, Machado afirma que uma ondaaposta esportiva telegrammigração interna também não seria surpreendente.

"Algumas áreas vão permanecer comprometidas durante bastante tempo e há um contingente significativoaposta esportiva telegrampessoasaposta esportiva telegramabrigos que precisará ser realocado”, diz.

“A médio e longo prazo, devemos notar uma saída da populaçãoaposta esportiva telegramalguns municípios.”

O risco nesse caso, segundo ele, é sobrecarregar o sistemaaposta esportiva telegramsaúde pública das áreas menos afetadas.

Isso aconteceu após a passagem do furacão Mariaaposta esportiva telegramPorto Ricoaposta esportiva telegram2017, quando muitas pessoas fugiram da capital afetada e se deslocaram para municípios menores, com infraestrutura precária.

As autoridades locais contabilizaram oficialmente 64 mortes relacionadas ao furacão. Mas um estudo posterior realizado pela Escolaaposta esportiva telegramSaúde Pública da Universidadeaposta esportiva telegramHarvard,aposta esportiva telegramcolaboração com as universidades Carlos Albizu e Ponce,aposta esportiva telegramPorto Rico, mostrou que o númeroaposta esportiva telegrammortes resultantes direta e indiretamente do desastre natural foi, na verdade, 72 vezes maior, chegando a 4.600 vítimas.

Os especialistas afirmam que o número aumentou, entre outros motivos, por conta da interrupção dos serviçosaposta esportiva telegramsaúde, dos cortesaposta esportiva telegramenergia elétrica e da devastação generalizada provocada pela tempestade, que deixou US$ 90 bilhõesaposta esportiva telegramdanos.

Doenças mentais, alcoolismo e violência

Estudos sobre desastres ambientaisaposta esportiva telegramdiversas partes do mundo também mostram o efeito dessas tragédias na saúde mental.

Segundo Machado, há aumentoaposta esportiva telegramcasosaposta esportiva telegramestresse pós-traumático, insônia, amnésia, fobias, ansiedade, depressão e outros transtornos. Também não é incomum que famílias atingidas pelas enchentes tenham que lidar com abusoaposta esportiva telegramsubstâncias.

Faz parte também da cadeiaaposta esportiva telegramconsequênciasaposta esportiva telegramrelação à saúde mental a violência familiar e o abuso no consumoaposta esportiva telegramálcool e medicamentos entre adultos, e distúrbiosaposta esportiva telegramcomportamentoaposta esportiva telegramcrianças e jovens.

A violênciaaposta esportiva telegramforma geral também tende a subiraposta esportiva telegramconsequência da instabilidade social e dos prejuízos econômicos. Em alguns casos, meninas e mulheres podem estar mais expostas a assédio mental e sexual nos abrigos temporários.

“O Banco Mundial monitora os impactos econômicos no curto, médio e longo prazo após uma tragédia ambiental e percebemos que os impactos na saúde também podem seguir um ciclo semelhante”, diz o especialista.

A melhor resposta possível

Mas tudo isso pode ser minimizado se a respostaaposta esportiva telegramsaúde pública for adequada, afirma Machado.

As previsões sobre as possíveis ondasaposta esportiva telegramdoenças, contaminações e internações devem ser utilizadas para organizar o atendimento à população afetada quando a água baixar, com focoaposta esportiva telegramretomar tratamentos para doenças crônicas e transtornos mentais, diz.

Segundo o especialista, a resposta dos serviçosaposta esportiva telegramsaúde deve seguir os ciclos das doenças e dos problemas que tendem a aparecer até um ano após as enchentes.

Também é essencial a instalaçãoaposta esportiva telegramhospitaisaposta esportiva telegramcampanha e o envioaposta esportiva telegramprofissionaisaposta esportiva telegramsaúde qualificados para as áreas atingidas.

O Ministério da Saúde ordenou a montagemaposta esportiva telegramcinco unidadesaposta esportiva telegramhospitaisaposta esportiva telegramcampanha no Rio Grande do Sul. O órgão também afirma ter disponibilizado 50 kitsaposta esportiva telegramemergência com medicamentos e insumos, cada um com capacidade para atender 1.500 pessoas durante um mês.

O governador Eduardo Leite também anunciou a liberaçãoaposta esportiva telegramaproximadamente R$ 70 milhõesaposta esportiva telegramrecursos para a saúde, destinados para rede hospitalar,aposta esportiva telegramsaúde mental e atenção primária, alémaposta esportiva telegramR$ 12 milhões para qualificar a infraestrutura dos abrigos.

“A principal dificuldade no momento está na logística do transporte, por conta dos bloqueios por terra e ar”, lamenta o especialista da Fiocruz.

Mas a principal formaaposta esportiva telegramreduzir os riscos, segundo ele, está na prevenção e,aposta esportiva telegramespecial, na adaptação do serviçoaposta esportiva telegramsaúde aos riscos climáticos.

“Não podemos continuar a ter serviçoaposta esportiva telegramsaúde, hospitais ou unidades básicasaposta esportiva telegramáreas vulneráveis. E se tivermos, eles têm que estar adaptados, por exemplo, a inundações frequentes”, diz.

Também é importante, segundo Machado, priorizar trabalhosaposta esportiva telegramorientação e conscientizaçãoaposta esportiva telegrammoradoresaposta esportiva telegramáreas vulneráveis para que, caso não consigam deixar suas casas, pelo menos saibam como agiraposta esportiva telegramcasoaposta esportiva telegramemergência.

O pesquisador da Fiocruz é um dos muitos especialistas envolvidos na elaboração do novo Plano Nacionalaposta esportiva telegramGestãoaposta esportiva telegramRiscos e Resposta a Desastres Naturais, cuja previsãoaposta esportiva telegramentrega é junho deste ano.

O projeto está previsto na Leiaposta esportiva telegramnº 12.608aposta esportiva telegram2012, mas somente agora será implantado.

“Não dá mais para a gente continuar a trabalhar como se cada desastre fosse a primeira vez”, diz o especialista.

“Precisamos avançar no Brasilaposta esportiva telegramum pensamento mais prospectivo e com a certezaaposta esportiva telegramque já estamos atrasados.”