'Seu nome não é seu nome': como jovem descobriu que foi roubada quando era bebê pelos próprios 'pais':jogar xadrez apostado

Claudia Poblete Hlaczik com os paisjogar xadrez apostado1978.

Crédito, FEDERICO BIANCHINI

Legenda da foto,

Claudia Poblete Hlaczik com os pais biológicosjogar xadrez apostado1978.

Em Seu Nome não é seu Nome (sem edição no Brasil), o jornalista e escritor argentino Federico Bianchini conta a históriajogar xadrez apostadoClaudia e o complexo processo que ela viveu desde o momentojogar xadrez apostadoque descobriujogar xadrez apostadoorigem, como lidou com a nova realidade. Conta, também, a longa batalha para finalmente encontrarjogar xadrez apostado família biológica.

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Mas Bianchini faz outra coisa: através da históriajogar xadrez apostadoClaudia, o jornalista lançou luz sobre as milharesjogar xadrez apostadovítimas sequestradas pela ditadura da Argentina, que governou o país entre 1976 e 1983. E sobre as feridas e cicatrizes que permanecem.

O livro está emjogar xadrez apostadosegunda edição e tem sido elogiado não só pelo tema, mas também pela qualidade da narrativa. A BBC News Mundo, serviçojogar xadrez apostadoespanhol da BBC, conversou com o autor.

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Podcast traz áudios com reportagens selecionadas.

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jogar xadrez apostado BBC News Mundo - Queria começar a falar da epígrafe que você colocou no livro, uma frasejogar xadrez apostadoSvetlana Aleksievich, vencedora do Nobeljogar xadrez apostadoLiteratura: ‘A história parece se preocupar apenas com os fatos, as emoções são sempre marginalizadas’. Por que você escolheu essa frase?

jogar xadrez apostado Federico Bianchini - Abordei essa história pela primeira vez pelo que ela representava no plano jurisprudencial, como um fato histórico na Argentina, porque é o caso usado pela Justiça para revogar as chamadas leis da impunidade: a Lei do Ponto Final e da Devida Obediência.

Mas à medida que fui me aprofundando e entrevistando a Claudia, comecei a perceber que havia pontos que não podiam ser contados e que tinham muito valor histórico, pontos que muitas vezes estavam relacionados com emoções.

É por isso que, quando encontrei a frasejogar xadrez apostadoSvetlana, ela me pareceu tão precisa. É que quando se lê os casos históricos, a jurisprudência, o que aconteceu e até os depoimentos nos julgamentos, o que se sabe são os dados, mas muita emoção ficajogar xadrez apostadofora.

E eu queria me aprofundar justamente nisso. Tentando, por um lado, mapear as sensações e emoçõesjogar xadrez apostadouma pessoa que, aos 21 anos, foi informadajogar xadrez apostadoque tudojogar xadrez apostadoque acreditava era mentira.

Por outro lado, utilizei recursos narrativos para tentar transmitir ao leitor toda aquela emoção que pensei que havia na história.

jogar xadrez apostado BBC News Mundo - É uma gamajogar xadrez apostadoemoções muito complexa, não é?

jogar xadrez apostado Bianchini - Quando você pensajogar xadrez apostadouma história como essa, a primeira coisa que você se pergunta é: quando uma pessoa é informada, o que ela faz a seguir com essa verdade, como ela lida com isso? Você pode seguirjogar xadrez apostadofrente comjogar xadrez apostadovida como ela era antes?

Claudia me disse que não se arrependejogar xadrez apostadoter descoberto toda a verdade ejogar xadrez apostadoisso ter mudadojogar xadrez apostadovida.

De certa forma, a verdade tem um efeito calmante, é como retirar um espinho presojogar xadrez apostadoalgum espaço dajogar xadrez apostadomemória.

Mas não é só Claudia. Todas as pessoas com quem conversei me disseram que essa história gerou muitas emoções.

Para o tio Fernando, por exemplo, ter encontrado a sobrinha foi uma vitóriajogar xadrez apostadouma vida com tantas derrotas.

Ou perguntaria àjogar xadrez apostadoprima Florencia: ‘por que vocês ficaram tão mal quando Claudia conversou com seus pais sequestradores? Ela me respondeu: ‘porque para mim eles são os assassinos dos meus tios.’

Federico Bianchini

Crédito, FEDERICO BIANCHINI

Legenda da foto,

Federico Bianchini, autorjogar xadrez apostado'Seu nome não é seu nome'

jogar xadrez apostado BBC News Mundo - Há cenas muito reveladoras, como quando Claudia e o primojogar xadrez apostadoClaudia se conheceram. É um momentojogar xadrez apostadoemoções e quando se aproxima para abraçá-la, ela dá um passo para trás. Ou quando você conta o caso para um amigo psicólogo e ele responde “que bom para a sociedade, para a família, e que complicado para eles”.

jogar xadrez apostado Bianchini - Sim,jogar xadrez apostadocada uma das coisas que cercam o caso existe uma grande carga sentimental. E no centro está uma pessoa que sente, decide e deve administrar tudo isso, que é a Cláudia.

Não foi fácil, ela precisoujogar xadrez apostadoanos e muita terapia para entender tudo isso sem ser atropelada pelo poder da história.

A princípio ela disse que tentou negar, esquecer seus sequestradores, e que a qualquer momento, organizando as panelas emjogar xadrez apostadocasa, por exemplo, percebeu que estava fazendo isso igual ao seu sequestrador. E ela entroujogar xadrez apostadouma grande briga.

Até aceitar que viveu 21 anosjogar xadrez apostadouma forma que não pôde evitar. Foi uma mentira planejadajogar xadrez apostadomaneira metódica, feita por pessoas com poder absoluto, como os pais, neste caso a figura do pai e da mãe.

Porque quando você é criança, se seu pai ejogar xadrez apostadomãe te contam alguma coisa, você não começa a revisar, a verificar. Mas e se o que eles te contam não é realmente o seu mundo?

jogar xadrez apostado BBC News Mundo - Além disso, são pessoas que ela amava, os pais com quem ela cresceu. Aliás, uma das coisas que surpreende no livro é quejogar xadrez apostadoalgum momento ela até volta a morar com os pais que a sequestraram.

jogar xadrez apostado Bianchini - Isso é algo que torna a história muito complexa. Ela diz que se você perguntar se ela teve uma infância feliz, ela tem que dizer que sim, porque ela amava aqueles pais. E eles a amavam àjogar xadrez apostadomaneira. Ela viajou pelo mundo, saiujogar xadrez apostadoférias, tinha amigos.

Uma coisa muito diferente é se alguém tiver que se opor a algo que odeia. Se tivessem batido nela, se a tivessem tratado mal.

Mas não, então no final das contas é romper com a família, porque para ela naquele momento aquela era a família dela, a casa dela, os pais dela.

capa do livro

Crédito, Divulgação

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'Seu nome não é seu nome' foi publicadojogar xadrez apostadooutubrojogar xadrez apostado2023 pela editora Libros del K.O.

jogar xadrez apostado BBC News Mundo - Essa é uma história cheiajogar xadrez apostadoparticularidades mas no livro encontramos frases ou situações arquetípicas, provavelmente ligadas à identidade e à perdajogar xadrez apostadoClaudia... Até o título apela a algo que todos temos: um nome.

jogar xadrez apostado Bianchini - Sim, o título pretende colocar o leitor no momentojogar xadrez apostadoque Claudia recebe a notícia. Por isso uso a segunda pessoa do singular. O que você faria nesse caso, como você resolveria isso?

Então, isso acontece com Claudia, mas também com outras pessoas.

Há algumas semanas, Estelajogar xadrez apostadoCarlotto (presidente das Avós da Plazajogar xadrez apostadoMayo) disse que vai solicitar uma reunião com (o presidente eleito) Javier Milei quando ele assumir o cargo e que vão continuar procurando os netos, independentementejogar xadrez apostadoquem é o presidente, porque eles são ‘desaparecidos com vida.’

Na Argentina ainda há 300 ‘desaparecidos vivos’, pessoas que naquela época eram crianças, e agora têm cercajogar xadrez apostado40, 45 anos, e não sabemjogar xadrez apostadoverdadeira identidade.

E aqui me parece que voltamos à questão da complexidade, certo?

Quanto mais aprendia sobre o casojogar xadrez apostadoClaudia, e cresciajogar xadrez apostadomim a ideiajogar xadrez apostadoescrever um livro, mais percebia a universalidade da história, que independentemente do que acontecesse na Argentina com aquele contexto político.

Há algo que tem a ver com decisões morais, com identidade, com a forma como pensamos e como nos baseamos naquilo que os outros também estão construindo.

jogar xadrez apostado BBC News Mundo - Falandojogar xadrez apostadosaber a verdade, Claudia relata a impossibilidade institucionaljogar xadrez apostadopronunciá-la, quando explica quejogar xadrez apostadoqualquer documento oficial seus pais aparecem como falecidos, e não como desaparecidos...

jogar xadrez apostado Bianchini - Por isso digo que narrar um desaparecimento é como descrever um silêncio.

retratosjogar xadrez apostadodesaparecidos

Crédito, GETTY IMAGES

Legenda da foto,

As Avós da Associação Plazajogar xadrez apostadoMayo na Argentina continuam lutando para encontrar centenasjogar xadrez apostadopessoas que desapareceram entre 1976 e 1983.

Eu conversei com Daniel Rafecas, o juiz federal responsável pelo caso ESMA (investigaçãojogar xadrez apostadouma sériejogar xadrez apostadoprocessos judiciais por crimes contra a humanidade), e perguntei se ele queria saber o que aconteceu com os paisjogar xadrez apostadoClaudia, qual seria a pista, o que poderia ser investigado para tentar descobrir seus paradeiros, se eles foram jogados ao mar, como se supõe, ou enterradosjogar xadrez apostadoalgum lugar.

E ele me disse que não há pistas, não há como saber. Os soldados não testemunharam, não disseram uma palavra. Ele me contou sobre uma rígida cortina probatória: as pessoas que deveriam poder testemunhar estão desaparecidas e os responsáveis ​​por esse desaparecimento não falam.

Há testemunhas que dizem tê-los vistojogar xadrez apostadoalgum lugar, mas são fragmentos, são recortes, e com esses recortes não se consegue montar o quebra-cabeça.

Isso é algo que tortura os familiares dos desaparecidos. O horrorjogar xadrez apostadonão saberjogar xadrez apostadonada foi um tema recorrente nas entrevistas que fiz.

Há uma espéciejogar xadrez apostadoação reflexa, uma necessidadejogar xadrez apostadoverificar,jogar xadrez apostadosilenciar aquela angústia que permanece.

Claudia Poblete com uma foto dela nos braços da mãe.

Crédito, GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Claudia Poblete com uma foto dela nos braços da mãe.

jogar xadrez apostado BBC News Mundo - Outro sentimento que permeia o livro é o medo. Isso se reflete muito bem quando você diz que os vizinhos do centrojogar xadrez apostadodetenção El Olimpo (onde estavam detidos os paisjogar xadrez apostadoClaudia) sabiam que ali aconteciam torturas, mas preferiram permanecer calados. 40 anos após o retorno da democracia, que efeitos você acha que esse silêncio teve na sociedade argentina?

jogar xadrez apostado Bianchini - É interessante. Claudia me disse que para sustentar uma história como a dela, pelo menos,jogar xadrez apostadocálculo aproximado, seria necessário o silênciojogar xadrez apostadocercajogar xadrez apostado100 pessoas, incluindo parentes dos sequestradores, e outros quejogar xadrez apostadorepente vêem que alguém que não teve um filhojogar xadrez apostadorepente aparece com um bebê.

Ela me contou que até mesmo váriosjogar xadrez apostadoseus primos da família militar a contataram e pediram desculpas, dizendo que eles realmente desconfiavam, ou talvez até soubessem, mas seus pais pediram que não dissessem nada para ela.

Quase 40 anos após o regresso da democracia na Argentina, esses silêncios ainda existem. É muitajogar xadrez apostadosilêncio sobre uma verdade. Não sei se é por medo, se é por cumplicidade… A verdade é que existem 300 pessoas que não sabem quem são nem que podem ser uma dessas vítimas.

A própria Claudia não tinha nenhuma indicação sobrejogar xadrez apostadoidentidade, além do fatojogar xadrez apostadoseus pais serem mais velhos,jogar xadrez apostadoque ela pudesse ter sido uma criança roubada.

*Claudia Poblete Hlaczik tem 45 anos, é casada e tem dois filhos. Dedica-se à informática e apoia ativamente o trabalho das Avós da Plazajogar xadrez apostadoMayo, organização da qualjogar xadrez apostadoavó, Buscarita Roa, é vice-presidente.

O ex-tenente-coronel Ceferino Landa foi o primeiro soldado condenado por roubojogar xadrez apostadobebês na Argentina. Em 29jogar xadrez apostadojunhojogar xadrez apostado2001, foi condenado a 9 anos e seis mesesjogar xadrez apostadoprisão. Um mês e meio depois completou 70 anos e pediu prisão domiciliar.

Mercedes Moreira foi condenada à penajogar xadrez apostado5 anos e 6 meses, mas não precisou ir para a prisão: por ter maisjogar xadrez apostado70 anos, pediu prisão domiciliar.