'Brancos estão sendo substituídos por imigrantes': a teoria da conspiração que influencia eleições nos EUA:grêmio e cruzeiro palpite
Personalidades da direita radical americana, como o apresentador da Fox News Tucker Carlson e o candidato a vicegrêmio e cruzeiro palpiteTrump, J.D. Vance, também aludem ao relato.
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Trata-se, porém,grêmio e cruzeiro palpiteuma teoria da conspiração, que, segundo especialistas, está profundamente conectada a outra narrativa igualmente falsa que circula há anos — se não há séculos.
A chamada teoria da "grande substituição" difunde a ideiagrêmio e cruzeiro palpiteque há uma elite que usa a imigraçãogrêmio e cruzeiro palpitemassa para substituir a população originalgrêmio e cruzeiro palpiteum determinado país, geralmentegrêmio e cruzeiro palpitemaioria branca, por imigrantes não brancos.
"A teoria basicamente prega que a mudança nos padrõesgrêmio e cruzeiro palpitepopulação que estamos observando nos últimos anos não aconteceram por acaso, mas estão sendo promovidas por um conjuntogrêmio e cruzeiro palpiteelites políticas", afirma Michael Feola, professor da Lafayette College, nos Estados Unidos, e pesquisador da política racial da direita radical americana.
Quando falamgrêmio e cruzeiro palpiteelites, aqueles que acreditam nesta teoria geralmente se referem a partidosgrêmio e cruzeiro palpiteesquerda ou adeptos da social-democracia, grandes corporações e comunidades judaicas, explicou Cas Mudde, professor da Universidade da Geórgia ao podcast The Real Story da BBC.
Segundo Mudde, a teoria da "grande substituição" vai alémgrêmio e cruzeiro palpiteoutras narrativas racistas que pregam a existênciagrêmio e cruzeiro palpiteuma ondagrêmio e cruzeiro palpitemigração maligna ou uma "islamização da Europa".
De acordo com a teoria, diz o professor, as ditas elites não querem apenas "substituir" a população nativa, mas também obter vantagens políticas com isso.
"A ideia é que eles estão fazendo isso para se manter no poder", explica Mudde.
Uma 'nova' teoria antiga
A origem do termo "grande substituição" é atribuída ao autor francês Renaud Camus,grêmio e cruzeiro palpiteobras publicadas entre 2010 e 2011.
Nelas, Camus argumenta que os "franceses étnicos" e os europeus brancos estariam sendo substituídos física, cultural e politicamente por pessoas não brancas.
Embora os textos não tenham sido traduzidos para o inglês inicialmente,grêmio e cruzeiro palpitetese foi acolhida por grupos supremacistas dos Estados Unidos desdegrêmio e cruzeiro palpitepublicação.
Os pensamentosgrêmio e cruzeiro palpiteCamus também foram apontados como parte da motivaçãogrêmio e cruzeiro palpitealguns ataques racistas nos Estados Unidos e na Nova Zelândia, apesar do francês rechaçar com veemência esses atos e dizer que a "não violência" é um elemento centralgrêmio e cruzeiro palpitesua filosofia.
Na França, as ideias também ganharam força por meio da vozgrêmio e cruzeiro palpiteEric Zemmour, jornalista que entrou para a política e concorreu à Presidência com uma plataformagrêmio e cruzeiro palpitedireita radicalgrêmio e cruzeiro palpite2022.
Mas estudiosos do tema afirmam que as ideias na qual a teoria se baseia circulavam muito antes disso.
Segundo Mudde, a teoria já era bastante popular entre a direita radical desde as décadasgrêmio e cruzeiro palpite1980 e 1990, quando quase todos os partidos dessa vertente na Europa circulavam alguma versão dessa ideia.
"Mas cresceugrêmio e cruzeiro palpiteforma exponencial à medida que a direita radical ganhou espaço", diz o professor.
É ainda possível identificar ideias semelhantesgrêmio e cruzeiro palpitetextos e narrativas anti-imigração que datam desde o século 18 nos Estados Unidos.
Benjamin Franklin expressou desdém pelos imigrantes holandeses que chegaram no país por voltagrêmio e cruzeiro palpite1750, e o advogado eugenista Madison Grant ecoou essas ideiasgrêmio e cruzeiro palpiteobras baseadas no racismo científico no início do século 20.
Na era moderna, especialistas apontam também para o livro O Diáriogrêmio e cruzeiro palpiteTurner, um romancegrêmio e cruzeiro palpite1978 escrito pelo supremacista branco William Luther Pierce sob o pseudônimogrêmio e cruzeiro palpiteAndrew Macdonald.
A obra deu voz a estas noções ao descrever uma revolução violenta nos Estados Unidos com uma guerra racial que leva ao extermíniogrêmio e cruzeiro palpitenão brancos.
"Essas ideiasgrêmio e cruzeiro palpite'poder branco' e as tradições supremacistas brancas estão nos Estados Unidos há gerações", diz Michael Feola, da Lafayette College.
"Antes, eles falavamgrêmio e cruzeiro palpite'extermínio branco' ou 'genocídio branco'grêmio e cruzeiro palpitevezgrêmio e cruzeiro palpitesubstituição."
Racismo, xenofobia e antissemitismo
Ao longo dos anos, a teoria ganhou contornos e alvos distintos, dizem os especialistas.
"O indivíduo que é considerado 'de fora' dependegrêmio e cruzeiro palpitequem é o outrogrêmio e cruzeiro palpitecada contexto particular", diz Jacob Davey, pesquisador do Instituto para Diálogo Estratégico (ISD), com sedegrêmio e cruzeiro palpiteLondres.
"Na Europa, os muçulmanos têm sido considerados esse grupo externo primário e têm sido alvogrêmio e cruzeiro palpiteextremistasgrêmio e cruzeiro palpitedireita repetidas vezes. Mas o componente antissemita surgegrêmio e cruzeiro palpitetemposgrêmio e cruzeiro palpitetempos também."
Nos Estados Unidos, afirma o especialista, a teoria foca na população afro-americana e nos imigrantes da América Latina.
Davey afirma ainda que, atualmente, a narrativa da teoria se manifesta muitas vezes grêmio e cruzeiro palpitetemores sem fundamentogrêmio e cruzeiro palpiteque imigrantes estão "roubando os empregos" da população nativa ou "mudando a personalidade"grêmio e cruzeiro palpiteuma cidade.
"É claro que nem todas as pessoas que acreditam nisso são parte da direita radical", afirmou o pesquisador ao podcast The Real Story da BBC.
"Mas a direita radical reconhece essas ansiedades e realmente busca capitalizá-las."
Ao mesmo tempo, a ideiagrêmio e cruzeiro palpiteque são elites formadas por judeus que orquestram a "grande substituição" também aparece com frequência, segundo Feola.
"Muitas vezes, nos fóruns da direita radical, vemos as elites judaicas sendo apontadasgrêmio e cruzeiro palpiteforma caricatural e realmente grosseira como os responsáveis por projetar dos bastidores essas mudanças populacionaisgrêmio e cruzeiro palpitenação após nação após nação", diz o professor.
"Isso se relacionagrêmio e cruzeiro palpitecerta forma com tópicosgrêmio e cruzeiro palpiteoutras teorias da conspiração antissemitas mais antigas."
Ainda segundo o estudioso, é justamente o fato da teoria apontar membros da elite ou grandes entes poderosos como os responsáveis por um plano maior ajuda a explicar seu apelo.
"A maneira como a teoria usa a estrutura básicagrêmio e cruzeiro palpitemuitas das teorias da conspiração populares atualmente a torna atraente para muitas pessoas", diz.
"Elas basicamente atribuem todas as mudanças pela qual o mundo está passando, sejam mudanças nos padrões populacionais, instabilidade no suprimentogrêmio e cruzeiro palpitealguns alimentos, a pandemia, a um único culpado misterioso."
Além disso, afirma Adolphus Belk Jr., professor na Universidade Winthrop, no Estados Unidos, o racismo e a xenofobia que já fazem partegrêmio e cruzeiro palpitemuitas dessas sociedades facilitam que essas ideias ganhem forçagrêmio e cruzeiro palpitemeio a um cenáriogrêmio e cruzeiro palpiteaumento da imigração e mudança nos padrões populacionais.
"Por que as pessoas acreditam nisso? Há na populaçãogrêmio e cruzeiro palpitegeral atitudes antinegros, antilatinos, antimuçulmanos e antissemitas que fornecem um panogrêmio e cruzeiro palpitefundo para radicalizar as pessoas e levá-las a aderir a estas falsas narrativas", disse o pesquisador à BBC.
Tudo isso, segundo especialistas, é extremamente perigoso e vem estimulando a violência racial.
Acredita-se que os autores dos massacresgrêmio e cruzeiro palpiteChristchurch, na Nova Zelândia,grêmio e cruzeiro palpite2019, egrêmio e cruzeiro palpiteCharleston, na Carolina do Sul,grêmio e cruzeiro palpite2015, acreditavamgrêmio e cruzeiro palpiteideias que fazem parte da teoria da "grande substituição".
No ataque da Nova Zelândia, o supremacista branco Brenton Tarrant atirou contra muçulmanos que rezavamgrêmio e cruzeiro palpiteduas mesquitas, deixando 51 pessoas mortas.
As ideiasgrêmio e cruzeiro palpitesubstituição racial são especialmente populares nos Estados Unidos e na Europa, apontam especialistas.
Na França, alémgrêmio e cruzeiro palpiteEric Zemmour, outras forças políticasgrêmio e cruzeiro palpitepeso da direita radical já deram voz a preocupações semelhantesgrêmio e cruzeiro palpitealgum momento.
Uma pesquisagrêmio e cruzeiro palpite2021, realizada pela Harris Interactivegrêmio e cruzeiro palpiteconjunto com a revista semanalgrêmio e cruzeiro palpitenegócios Challenges, mostrou que 61% dos franceses acreditavam na teoria, enquanto cercagrêmio e cruzeiro palpite67% estavam preocupados que isso pudesse ocorrer no futuro.
Pesquisadores também identificam uma extensa influência das ideiasgrêmio e cruzeiro palpitesubstituição na Hungria, onde o presidente Viktor Orbán profere com certa frequência discursos anti-imigraçãogrêmio e cruzeiro palpitecompasso com ideias da "grande substituição".
Nos Estados Unidos, diversas figurasgrêmio e cruzeiro palpiteprojeção nacional ligadas ao movimento da direita radical têm se mostrado importantes para a difusão da teoria, diz o professor Michael Feola.
Segundo o especialista, enquanto Trump usa uma sériegrêmio e cruzeiro palpiteargumentos característicos da "grande substituição", como a ideiagrêmio e cruzeiro palpiteuma "invasãogrêmio e cruzeiro palpiteimigrantes" ou o uso pelos democratasgrêmio e cruzeiro palpiteimigrantes ilegais nas eleições, ele não costuma nomear diretamente a teoria.
"Mas seus aliados invocam a história e a linguagem mais específicas da substituição. Em grande parte para dizer que o Partido Democrata está importando intencionalmente eleitores da América Latina e do Sul global para ganhar poder eleitoral", afirma Feola.
Um desses aliados é Vivek Ramaswamy, empresário que foi pré-candidato às eleições pelo Partido Republicano.
Em um debate televisionado, ele afirmou que a teoria da "'grande substituição' (...) não é uma grande teoria da conspiraçãogrêmio e cruzeiro palpitedireita, mas parte da plataforma básica do Partido Democrata".
O companheirogrêmio e cruzeiro palpitechapagrêmio e cruzeiro palpiteTrump, J.D. Vance, também já fez menções à ideia, assim como o bilionário Elon Musk.
Essas declarações têm tido um impacto direto no aumento da crença na teoria entre a população americana.
Pesquisadores da Universidadegrêmio e cruzeiro palpiteMiami utilizaram uma pesquisa nacionalgrêmio e cruzeiro palpite2022 para indicar que um terço dos americanos concorda atualmente que lideranças estão substituindo pessoas brancas por pessoas não brancas.
"Essas crenças estão relacionadas a traçosgrêmio e cruzeiro palpitepersonalidade antissocial, várias formasgrêmio e cruzeiro palpitesentimentos nacionalistas e autoritários e sentimentos negativosgrêmio e cruzeiro palpiterelação a imigrantes, minorias, mulheres e o establishment político", dizem os pesquisadoresgrêmio e cruzeiro palpiteum artigo publicado na revista científica Politics, Groups, and Identities.
Ainda segundo os autores, a combinação entre um público com predisposição para essas características e a constante repetição das ideias por figurasgrêmio e cruzeiro palpitedestaque "pode criar uma tempestade perfeita" na qual comportamentosgrêmio e cruzeiro palpiteestilo vigilante e violentos se tornam cada vez mais frequentes.
Imigrantes ilegais nas urnas?
No contexto político americano, o tema também tem crescido a pontogrêmio e cruzeiro palpitese tornar um elemento significativo na corrida eleitoral americana.
O foco é justamente a ideia infundadagrêmio e cruzeiro palpiteque grandes gruposgrêmio e cruzeiro palpiteimigrantes ilegais se preparam para votar e influenciar o pleito a favor dos democratas.
"Certamente é uma tentativagrêmio e cruzeiro palpiteprovocar medo, ansiedade e pânico no eleitorado americano para tentar beneficiar as alas mais à direita do Partido Republicano", afirma Feola.
Uma reportagem recente do jornal The New York Times mostrou como advogados proeminentes, parlamentares, influenciadoresgrêmio e cruzeiro palpitedireita e outros aliadosgrêmio e cruzeiro palpiteTrump têm feito pressão sobre as autoridades eleitorais americanas para barrar o que acreditam ser uma massagrêmio e cruzeiro palpiteimigrantes ilegais que pretendem votar nos democratas.
Segundo a reportagem, essas figuras "têm pedido por expurgosgrêmio e cruzeiro palpitelistasgrêmio e cruzeiro palpiteeleitores, entrado com ações judiciais, se preparado para monitorar locaisgrêmio e cruzeiro palpitevotação e espalhado desinformação online", abrindo as portas para futuros questionamentos sobre a credibilidade do pleito.
Não há, porém, nenhuma evidência para sustentar essa narrativa.
Um estudo do Brennan Center for Justice, uma organização sem fins lucrativos focadagrêmio e cruzeiro palpitequestõesgrêmio e cruzeiro palpitevotação e justiça criminal, analisou 42 jurisdições eleitorais nas eleiçõesgrêmio e cruzeiro palpite2016.
Nestes locais, os votos indevidosgrêmio e cruzeiro palpitenão cidadãos representaram 0,0001% do totalgrêmio e cruzeiro palpitevotos.
Mesmo a conservadora Fundação Heritage, que mantém uma basegrêmio e cruzeiro palpitedados que se dedica a registrar casosgrêmio e cruzeiro palpitefraude eleitoral, encontrou apenas 23 casos documentadosgrêmio e cruzeiro palpitevotaçãogrêmio e cruzeiro palpitenão cidadãosgrêmio e cruzeiro palpitetodo o país entre 2003 e 2023.