A épocajogo de pintar grátisque o amor era considerado sinônimojogo de pintar grátisdoença — e o que era recomendado como cura:jogo de pintar grátis

Este tratado prático e científico descreve normas a serem seguidas nas relações amorosas. A obra define o amor como uma paixão inata, consequente da contemplação da beleza ejogo de pintar grátisum pensamento desmedido da forma da pessoa amada.

Capellanus classifica o amorjogo de pintar grátisdiferentes tipos: o amor verdadeiro, entre pessoas da mesma posição social; o amor vulgar, que seria o carnal; o amor impossível e o amor desonesto. E o autor condena este último tipojogo de pintar grátisamor, contrário aos preceitos morais.

O tratado influenciou toda a literatura, a medicina e a sociedade da Idade Média. E também estabeleceu a ideiajogo de pintar grátisque o amor seria uma doença, baseada na teoria dos quatro humores corporais.

Segundo esta teoria, a saúde seria mantida enquanto esses humores (sangue, catarro, bílis negra e bílis amarela) estivessem equilibrados.

A visão dos médicos

O médico Constantino, o Africano, estabeleceu no século 11, najogo de pintar grátistraduçãojogo de pintar grátisum tratado sobre a melancolia, uma conexão direta entre o excessojogo de pintar grátisbílis negra e o mal do amor.

A causa da doença seria o excessojogo de pintar grátisbílis negra, que explicava a associação entre "amor" e "amaro" (amargo). Segundo ele, a doença afetava o cérebro e poderia causar intensos pensamentos e preocupações no amante.

Nesta mesma linha, a tesejogo de pintar grátisBoissierjogo de pintar grátisSauvages (1706-1767) relacionava a doença do amor à melancolia.

Segundo a obra Lilium Medicinae (1303),jogo de pintar grátisBernardjogo de pintar grátisGordon, a causa da doença era o "amorjogo de pintar grátismulheres" e poderia causar a morte do paciente.

Acreditava-se que o homem ficava obcecado com imagens da mulher amada e as arquivava no cérebro. E, nestas circunstâncias, a temperatura do corpo, o movimento sanguíneo e o desejo sexual aumentavam.

No seu manual, Gordon explica os sintomas, entre os quais se destacava a coloração amarelada da pele, insônia, faltajogo de pintar grátisapetite, tristeza constante devido à ausência da amada etc. Este estado era considerado uma doença, chamadajogo de pintar grátisamor hereos ou aegritudo amoris.

O médico medieval Arnaujogo de pintar grátisVilanova (c.1240-1311) atribuía este transtorno ao julgamento errôneo da "memória cogitativa", localizada no cérebro. O resultado era a elevação da temperatura, provocada pela antecipação do prazer sexualjogo de pintar grátisnível cerebral.

Segundo o Dragmaticon philosophiaejogo de pintar grátisGuilhermejogo de pintar grátisConches (c.1090-c.1154), o cérebro seria divididojogo de pintar grátistrês compartimentos, o que seria corroborado por Gordon.

No primeiro compartimento, situado na parte superior da frente, ficavam as virtudes sensitivas. No segundo, atrás da frente, ficava a consciência sensitiva, onde o paciente julgava as imagens como sendo positivas ou negativas.

O terceiro compartimento, situado sob a parte inferior do pescoço, abrigava a memória sensitiva, que serviajogo de pintar grátisarquivojogo de pintar grátisinformatizaçãojogo de pintar grátisimagens. E o homem, propenso a idealizar a imagem da amada, acabava tendojogo de pintar grátisfunção imaginativa alterada.

A doença do amor na literatura

O amor como doença é uma constante nos textos literários do passado.

Na Roma Antiga, Lucrécio (séc. 1º a.C.) dedica o livro 4º dajogo de pintar grátisobra De Rerum Natura ao tema do amor. Ele o considera uma doença muito perigosa para o equilíbrio mental do ser humano.

Já o poeta espanhol Garcilasojogo de pintar grátisla Vega (c.1503-1536) descreve a doença do amor como uma condição que pode levar à loucura e à morte. No seu soneto 14, De la Vega explica comojogo de pintar grátispaixão amorosa o arrastou para o desespero, sem que pudesse encontrar descanso, nem paz.

A doença do amor é encontradajogo de pintar grátispersonagens conhecidos da literatura espanhola.

No século 14, o Livro do Bom Amorjogo de pintar grátisArciprestejogo de pintar grátisHita evidencia a luta entre o espírito cristão do amorjogo de pintar grátisDeus e o "amor louco" que consome o amante. Na mesma época, El Corbacho ("O chicote"),jogo de pintar grátisArciprestejogo de pintar grátisTalavera, descreve o "louco amor" como a causa direta da alienação mental e até da morte.

Em Cárcerejogo de pintar grátisAmor (Ed. Imprensa Oficial, 2010), do escritor espanhol Diegojogo de pintar grátisSan Pedro (séc. 15), o protagonista Leriano é um exemplo da "doença do amor".

Ele sofre profunda paixão amorosa por Laureola. Por isso, ele perde o sono e o apetite, até chegar à beira da morte.

Em La Celestina,jogo de pintar grátisArciprestejogo de pintar grátisHita, Calisto, doentejogo de pintar grátisamor, manifesta um desejo sexual desmedido que o leva à loucura amorosa.

O próprio Dom Quixote,jogo de pintar grátisMigueljogo de pintar grátisCervantes (1547-1616), busca até o fim quejogo de pintar grátisamada Dulcineia conheça o alcance dajogo de pintar grátispaixão.

No século 15, o personagem Tirant – protagonista do livro Tirant lo Blanc,jogo de pintar grátisJoanot Martorell (Ed. Ateliê Editorial, 2004) – também padecia do "maljogo de pintar grátisamar". Ele sofria por Carmesina e apresentava faltajogo de pintar grátisapetite, insônia, choro e suspiros. E tambémjogo de pintar grátisEspill,jogo de pintar grátisJaume Roig, o sábio Salomão diagnosticava o protagonistajogo de pintar grátissonhos com amor hereos, devido a uma paixão amorosa desmedida.

A doença do amor teria cura?

A cura da doença incluía duas recomendações: dieta e disciplina moral.

A dieta consistiajogo de pintar grátisevitar beber vinho, carne vermelha, leite, ovos, legumes e alimentosjogo de pintar grátiscor vermelha. O motivo da proibição era que estes alimentos incitariam o movimento do sangue e o desejo sexual.

O doentejogo de pintar grátisamor deveria comer carne branca, peixe e beber água ou vinagre. E também era preciso suar e tomar banho antesjogo de pintar grátiscomer.

Além da alimentação, era recomendado dominar os impulsos carnais subjugando-se a vontade: colocar uma chapajogo de pintar grátisferro frio sobre os rins – considerados a morada do desejo –, dormirjogo de pintar grátisuma almofada com urtiga, tomar banhojogo de pintar grátiságua fria etc.

Com todo este programajogo de pintar grátistratamento do amor como doença, a conclusão era que a causa principaljogo de pintar grátistodos os males era se deixar levar pelos instintos carnais. Uma vida virtuosa, distante da paixão desmedida, permitiria atingir a harmonia entre o corpo e a alma.

Afinal, o amor hereos poderia causar a morte física e, o que era ainda pior, a condenação da alma.

*Anna Peirats é diretora do Instituto Isabeljogo de pintar grátisVillenajogo de pintar grátisEstudos Medievais e Renascentistas (IVEMIR) da Universidade Católicajogo de pintar grátisValência, na Espanha.

Este artigo foi publicado originalmente no sitejogo de pintar grátisnotícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão originaljogo de pintar grátisespanhol.