Quem é o agricultor suíço que inspirou protagonista da novela 'Renascer':aami cbet exam dates
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Fim do Matérias recomendadas
Uma pupunheira atrai uma multidãoaami cbet exam datespássaros japus à entradaaami cbet exam datesuma fazendaaami cbet exam datesPiraí do Norte, no sul da Bahia.
Ela foi a primeira da temporada a produzir um dos frutos mais apreciados pelo dono da propriedade, mas mesmo assim ele decidiu deixá-los para os pássaros.
"Não tenho coragemaami cbet exam datestirar", conta o suíço Ernst Götsch,aami cbet exam dates73 anos, os últimos 40 naquele pedaçoaami cbet exam dateschão. "Aqui cada pássaro é meu sócio", completa.
A cena diz algo sobre a filosofia que tornou Götsch uma referência para muitos agricultores brasileiros.
Enquanto várias práticas agropecuárias são apontada como vilãs do clima, ele defende a adoçãoaami cbet exam datessistemas agroflorestais, que combinam a produçãoaami cbet exam datescomida com a regeneraçãoaami cbet exam datesflorestas.
Enquanto secas intensas quebram safras país afora, ele ensina agricultores a "plantar água", recuperando nascentes e fazendo com que suas plantações bombeiem mais água para a atmosfera.
E, no sistema dele, todos os seres — quer sejam humanos, animais silvestres ou microorganismos — têm papéis igualmente importantes.
"Eu plantei essa pupunheira, mas muitas outras na fazenda foram plantadas pelos japus", explica Götsch. "Eles me ajudam, eu os ajudo."
Terra arrasada
Quando o suíço chegou ali, nos anos 1980, o cenário era outro. Quase todos os 510 hectares da propriedade haviam sido desmatados, e os animais silvestres eram raros.
Os donos anteriores passaram anos criando porcos e cultivando mandiocaaami cbet exam datesforma convencional, o que esgotou o solo e assoreou 14 riachos que cruzavam a fazenda.
"Dentroaami cbet exam datespouco menosaami cbet exam datesdois anos, eu tinha reflorestado tudo", conta o suíço, que também viu todos os riachos renascerem no processo.
Hoje a maior parte da propriedade virou uma reserva ambiental privada, e somente 5 hectares — menosaami cbet exam dates1% do terreno — lhe geram receitas.
É nessa área que,aami cbet exam datesmeio a grande variedadeaami cbet exam datesfrutas, legumes e árvores imensas, ele cultiva um cacauaami cbet exam datesalto valor, exportado para Portugal.
Com tamanha ofertaaami cbet exam datesalimentos, a família do suíço quase não precisa ir ao supermercado, e todas as construções da fazenda são feitas com madeira tirada dali.
A transformação que Götsch promoveu na fazenda chamou a atençãoaami cbet exam datesgovernos, agricultores e empresas, que nas últimas décadas passaram a contratá-lo para consultorias.
Ele começou a rodar o Brasil dando cursos, e seus conhecimentos alcançaram entidades tão díspares quanto o Grupo Pãoaami cbet exam datesAçúcar e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) (leia mais abaixo).
A chegada ao Brasil
Faz 40 anos que Götsch começou a reflorestaraami cbet exam datesfazenda na Bahia, mas quem visita a área hoje pode ter a impressãoaami cbet exam datesestar numa mata centenária.
A equipe da BBC News Brasil esteve na propriedade no fimaami cbet exam datesoutubro. Nos 160 quilômetrosaami cbet exam datesestrada que ligam Ilhéus a Piraí do Norte, fazendas abandonadas expõem a decadência da região, golpeada pela crise que atingiu o setor cacaueiro nos anos 1980 e jamais foi plenamente superada.
A paisagem muda quando a rodovia adentra a propriedadeaami cbet exam datesGötsch. As copas das árvores passam a cobrir o céu, o ar fica mais úmido, os cantosaami cbet exam datessapos e aves se tornam onipresentes.
Götsch chegou à região quando buscava terras para avançaraami cbet exam datespesquisas iniciadas na Suíça.
Nascidoaami cbet exam dates1948 num vilarejo nos arredoresaami cbet exam datesZurique, ele diz ter tomado gosto pela agricultura desde seus primeiros anos.
Na adolescência, aprendeu a fazer queijo e cuidouaami cbet exam datesvacas nos Alpes. Aos 23, sem jamais ter se formado na faculdade, passou num concurso para trabalhar com melhoramento genéticoaami cbet exam datesplantas.
O trabalho ajudou a canalizar as energiasaami cbet exam datesum jovem inquieto: Götsch diz ter sido expulso da escola três vezes porque questionava os professores além da conta.
Ele afirma que experimentos no laboratório o levaram à seguinte questão: "Será que não seria mais inteligente se nos dedicássemos a melhorar as condições que damos às plantas,aami cbet exam datesvezaami cbet exam datestentar adequá-las às condições cada vez piores que lhes oferecemos?"
Chegou então à conclusãoaami cbet exam datesque nossos sistemas agrícolas deveriam imitar os ecossistemas originais. Mas ainda faltava pôr a teoria à prova, o que seria difícil na diminuta Suíça.
Após trabalhos na Tanzânia e na Costa Rica, um sócio (este, humano) lhe ofereceu um empréstimo para comprar uma propriedade grande na região cacaueira baiana.
Götsch diz que fez questãoaami cbet exam datesescolher uma terra empobrecida e que fosse considerada imprópria para o cultivoaami cbet exam datescacau pelo órgão federal responsável pelas políticas para o setor, a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac). "Eu tinhaaami cbet exam datesprovar que sabia trabalhar", ele conta.
'Água se planta'
Um dos primeiros desafiosaami cbet exam datesGötsch foi recuperar os riachos assoreados, o que ele fez abrindo valas nos cursos originais e reflorestando o entorno.
As raízes protegeram o solo da erosão e permitiram que a água da chuva voltasse a infiltrar, trazendo os riachosaami cbet exam datesvolta à vida.
Mas mais do que isso: ele afirma que o amadurecimento da floresta aumentouaami cbet exam dates70% a quantidadeaami cbet exam dateschuvas na fazenda.
Isso porque, ao transpirar, as árvores transferem água para a atmosfera, intensificando a formaçãoaami cbet exam datesnuvens. E, quanto mais plantas há num local, mais água é bombeada.
O processo, conhecido por evapotranspiração, está por trás do fenômeno dos "rios voadores", pelo qual a água injetada na atmosfera pelas árvores da Amazônia se transformaaami cbet exam dateschuvaaami cbet exam datesvárias partes da América do Sul.
Segundo Götsch, o reflorestamentoaami cbet exam datessua propriedade fez com que chovesse maisaami cbet exam datesáreas que ficam a até 8 km a oeste da fazenda. A recuperação dos riachos embasou uma das principais máximas que o suíço difundeaami cbet exam datescursos e palestras: aaami cbet exam datesque "água se planta".
Ópera e trabalho intenso
Aos 73 anos, Gotsch exibe uma disposição impressionante. Às 5h, ele sai da casa onde mora com a mulher, Cimara Goulart, e as duas filhas adolescentes, Ilona e Genevieve, para vistoriar a secagem do cacau e da banana nas estufas que construiu.
Depois vai manejar a agrofloresta: cantando óperaaami cbet exam datesalemão, sobeaami cbet exam datesárvores altas para colher frutos, poda galhos e golpeia o capim com um facão.
A rotina se repete há quatro décadas, mas ele diz não enjoar. Delicia-se ao avistar famíliasaami cbet exam datesmacacos que moram na fazenda e observa com atenção como cada espécie interfere no ambiente.
"Sempre que vejo aqui um bicho ou planta pela primeira vez, eu pergunto: 'o que você fazaami cbet exam datesbom?'", diz.
Tirar proveito das relações entre as espécies é outro pilar do modelo do suíço.
Afinal, diz Götsch, cada bioma desenvolveu ao longoaami cbet exam datesbilhõesaami cbet exam datesanos interações para que a vida ali tivesse o máximo êxito. Nada mais natural, portanto, que a agricultura pegasse carona nesses arranjos.
Isso significa, na prática, respeitar as condiçõesaami cbet exam datesque cada planta usufruíaaami cbet exam datesseu estado natural, como a quantidadeaami cbet exam datesluz.
O cafezeiro e o cacaueiro, por exemplo, são oriundosaami cbet exam datesflorestas tropicais, onde conviviam com árvores bem mais altas antesaami cbet exam datesserem cultivados pelos humanos. Em sistemas agroflorestais, portanto, eles sempre estão à sombraaami cbet exam datesoutras espécies — o que faz com que produzam mais e melhor, segundo Götsch.
O mesmo vale para várias outras plantas hoje cultivadas a sol pleno pela maioria dos agricultores, como o abacaxi, a laranja e a banana, mas que Götsch alocaaami cbet exam datesdiferentes "andares"aami cbet exam datessua agrofloresta.
O sistema busca otimizar o espaço:aami cbet exam datesvezaami cbet exam datespreencher um terreno com uma única espécieaami cbet exam datesdeterminada altura, produzem-se alimentosaami cbet exam datesvários estratos, com copasaami cbet exam datesárvores e plantas sobrepostas.
Para ele, ao contrário do que muitos pensam, as relações entre espéciesaami cbet exam datesambientes naturais não se baseiam na concorrência e na competição, mas sim no "amor incondicional e na cooperação".
"Nós não somos a espécie inteligente, nós fazemos parteaami cbet exam datesum macrossistema inteligente", diz. "Eu nunca fui roubado por uma planta, elas não mentem. A ética delas é perfeita, você pode confiar", prossegue.
A noção se aplica até mesmo a insetos, vírus e fungos que muitos agricultores encaram como pragas, mas que Götsch vê como "amigos mensageiros".
Segundo o suíço, a presença delesaami cbet exam datessuas agroflorestas sinaliza que há algum ponto a melhorar, já que eles só agiriam quando as plantas experimentam condições imperfeitas.
Podem ainda indicar que as plantas atacadas já cumpriram seu ciclo — nesse caso, ajudam a reciclar nutrientes para que a vida se renove.
Por isso, ele rejeita radicalmente o usoaami cbet exam datesagrotóxicos. E também dispensa fertilizantes químicos, pois diz que eles deixam os agricultores dependentes dos fabricantes e são desnecessários, já que a grande ofertaaami cbet exam datesmatéria orgânicaaami cbet exam datesseus sistemas supre plenamente as plantas.
Com a chamada Revolução Verde, porém, boa parte dos agricultores mundo afora tomou outro caminho.
A partir dos anos 1930, o usoaami cbet exam datesfertilizantes químicos, agrotóxicos eaami cbet exam datesmáquinas se popularizou nas plantações, aproximando a atividade agrícola da industrial.
Áreas antes ocupadas por ricos ecossistemas passaram a abrigar extensas plantaçõesaami cbet exam datesuma só espécie — caso da soja que hoje avança por vários biomas brasileiros.
Defensores do modelo afirmam que as inovações foram essenciais para atender a uma crescente população global — e que é possível usar produtos químicos nas lavouras com segurança.
Mas Götsch avalia que os métodos são insustentáveis. Para ele, alémaami cbet exam datesempobrecer as paisagens, gerar poluição e ignorar os ambientes naturais, a agricultura industrial moderna tem um grave problema: num mundoaami cbet exam datesrecursos finitos, exige muito para funcionar e devolve pouco.
Nas palavrasaami cbet exam datesGötsch, trata-seaami cbet exam datesum modelo com "balanço energético negativo", na qual a produção dos alimentos consome mais calorias do que gera.
A conta considera a energia gasta com combustíveis por máquinas agrícolas e com atividades industriais eaami cbet exam datesmineração para produzir os fertilizantes e agrotóxicos usados nas plantações.
No livro Agricultura Orgânica,aami cbet exam dates2015, o agrônomo Jacimar Luisaami cbet exam datesSouza diz que,aami cbet exam datesmédia, a agricultura brasileira gasta 2,6 quilocalorias para produzir 1 quilocaloriaaami cbet exam datesalimentos.
"A conta não fecha", diz Götsch.
A busca por um balanço energético positivo explica a expressão "agricultura sintrópica" com que Götsch batizou seu método, inicialmente conhecido como "agrofloresta" ou "agrofloresta sucessional".
O termo "sintropia" dialoga com um conceito da Física, a entropia, que mede a desordem das partículasaami cbet exam datesum sistema eaami cbet exam datescapacidadeaami cbet exam datesdissipar energia.
A sintropia, ao contrário, diz respeito à capacidade do sistemaaami cbet exam datesacumular energia conforme ele se organiza e fica mais complexo.
A agricultura sintrópica, portanto, busca tornar os sistemas agrícolas cada vez mais complexos, com cada vez mais energia acumulada.
Segundo Götsch, hoje os humanos e seus animaisaami cbet exam datescriação são os únicos seres a tirar mais do planeta do que lhe oferecem. Daíaami cbet exam datesdefesaaami cbet exam datesum modelo agrícola que mude o quadro.
"Enquanto não conseguirmos suprir as necessidades diárias do nosso metabolismoaami cbet exam datesum modo que seja benéfico para o ecossistema, como todas as outras espécies fazem, não vamos ter futuro", afirma.
Capim africano e eucalipto
No entanto, como já destruímos muitos biomas e afugentamos os animais silvestres, Götsch defende alguns atalhos para reverter os prejuízos e acelerar a transição para um novo modelo.
Um deles é podar intensamente as plantas — cumprindo um papel que,aami cbet exam datesflorestas saudáveis, dividiríamos com várias outras espécies. Para isso, ele se vale inclusiveaami cbet exam datesmotosserras.
As podas têm três funções principais, segundo Götsch: usar galhos e folhas para melhorar a qualidade do solo, regular a entradaaami cbet exam datesluz e forçar o sistema a se desenvolver mais rapidamente.
O outro atalho, mais polêmico, é não se ater às espécies nativas das regiões onde as agroflorestas são implantadas. Emaami cbet exam datespropriedade na Bahia, por exemplo, ele diz cultivar uma "Amatlântica", pois a maioria das espécies presentes advém da Amazônia ou da Mata Atlântica, o bioma local, embora também haja plantas africanas, europeias e asiáticas.
Ele afirma que "plantas não reconhecem fronteiras" e podem conviver harmoniosamente mesmo que oriundasaami cbet exam datesecossistemas diferentes, desde que ocupem os estratos apropriados e recebam os nutrientes necessários.
Para ele, até mesmo espécies vistas como invasoras, como o eucalipto, a leucena e capins africanos, podem ter papéis importantesaami cbet exam datesagroflorestas brasileiras.
Isso porque essas espécies são pouco exigentes e produzem bastante matéria orgânica. Ao serem podadas com frequência, ficam sob controle e permitem que agroflorestas implantadasaami cbet exam datessolos degradados evoluam mais rapidamente, diz ele.
Hoje seguidoresaami cbet exam datesGötsch aplicam seus métodosaami cbet exam datesvárias partes do Brasil e do mundo.
Ele começou a dar cursosaami cbet exam dates1989 a convite do então Ministério da Reforma Agrária, no governo José Sarney.
Depois trabalhou com outras instituiçõesaami cbet exam datesgoverno, ONGs e cooperativas — como o Centroaami cbet exam datesDesenvolvimento Agroecológico Sabiá, a Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA) e a Cooperafloresta (Cooperativaaami cbet exam datesAgricultores Agroflorestaisaami cbet exam datesBarra do Turvo).
Também lecionouaami cbet exam datesoutros países, como Espanha, Portugal e Alemanha.
Na Bolívia, Götsch compartilhou suas técnicas com uma organização, a Ecotop, que é hoje uma das principais difusorasaami cbet exam datessistemas agroflorestais no mundo, com projetosaami cbet exam datesvários países da Ásia, África e América Latina.
Ele estima que maisaami cbet exam dates10 mil pessoas já tenham passado por suas aulas ou por cursos dados por ex-alunos. Umaami cbet exam datesseus pupilos, o educador Namastê Messerschmidt, é hoje consultor do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), que tem estimulado a implantaçãoaami cbet exam datesagroflorestasaami cbet exam datesassentamentos da reforma agrária.
Outras parceriasaami cbet exam datesGötsch são vistas com reserva por algunsaami cbet exam datesseu universo.
Entre 1993 e 1998, ele foi contratado pela fabricanteaami cbet exam datespneus francesa Michelin para desenvolver sistemas agroflorestais na Bahia focados na seringueira, que produz a borracha.
Em 2013, começou a assessorar a Fazenda Toca, que fornece alimentos orgânicos para o Grupo Pãoaami cbet exam datesAçúcar.
Os trabalhos com grandes empresas deram mais visibilidade ao suíço, mas geraram questionamentos entre quem os considerou uma contradição.
Para alguém que luta contra a corrente, faz sentido se aliar a empresas bilionárias?
Götsch diz que as parcerias foram oportunidades para aplicar seus métodosaami cbet exam datesgrande escala, algo que considera essencial para superar o modelo agrícola dominante. Nessa missão, aliás, tem tentado desenvolver máquinas que facilitem o manejoaami cbet exam datesgrandes agroflorestas, embora se queixe do pouco interesse das fabricantes.
Ele afirma ainda que, paradoxalmente, os trabalhos com os grandes ajudaram a difundir seus métodos entre os pequenos.
"O pequeno, quando vê o vizinho grande fazendo alguma coisa, ele tem confiançaaami cbet exam datesque aquilo funciona", afirma.
"Antes eu era considerado um maluco. A partir daquele momento, começaram a dizer: 'o gringo está fazendo uma coisa interessante'".
A agricultura sintrópicaaami cbet exam datesErnst Götsch integra um movimento global que abarca várias outras escolas e conceitos semelhantes, como a agricultura regenetativa, a agricultura biodinâmica, a agroecologia, a permacultura e os sistemas agroflorestais (SAFs).
Esses sistemas têm sido apontados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) como ferramentas para o combate à crise do clima, pois retiram da atmosfera grande quantidadeaami cbet exam datesgás carbônico, principal gás causador do efeito estufa.
Eles também são classificados como úteis para a adaptação aos efeitos das mudanças do clima. Em seu relatórioaami cbet exam dates2019, o IPCC afirmou que "sistemas agroflorestais podem contribuir com a melhora da produtividadeaami cbet exam datesalimentos ao mesmo tempoaami cbet exam datesque ampliam a conservação da biodiversidade, o equilíbrio ecológico e a restauração sob condições climáticasaami cbet exam datesmutação".
Mas quanto da popularização desses métodos se deve a Götsch?
E não seriam esses sistemas derivaçõesaami cbet exam datespráticasaami cbet exam datespovos indígenas, que há séculos cultivam seus alimentosaami cbet exam datesflorestas biodiversas?
Para Tatiana Sá, uma das mais experientes pesquisadoras da Embrapa (Empresa Brasileiraaami cbet exam datesPesquisa Agropecuária), Götsch "trouxe muitas coisas positivas" e "deu visibilidade sobre o potencialaami cbet exam datessistemas que já vinham sendo tratadosaami cbet exam datesoutras formas, mas sem o jargão sintropia".
Para ela, o suíço veio ao Brasil muito focadoaami cbet exam datestestar seus métodos "e foi aproveitando oportunidades". "Ele começou a ter nichosaami cbet exam datesreconhecimento e recebeu muito espaço midiático", diz Sá.
Afirma ainda que os métodos do suíço têm respaldo científico, ainda que ele não tenha formação acadêmica.
Porém, segundo ela, ao trabalhar com grandes, Götsch pode tê-los ajudado a se "apropriaraami cbet exam datesconceitos como agroecologia e sintropia" enquanto lucram com o modelo agrícola dominante.
E diz que Götsch poderia "dialogar mais com outras formasaami cbet exam datesconhecimento" e se abrir mais a movimentos sociais do campo.
Num meio onde ideaisaami cbet exam datesesquerda predominam, o suíço fala poucoaami cbet exam datespolítica e expõe visões que dificultam enquadrá-loaami cbet exam datesalguma corrente.
Por um lado, critica o PT por ter implantado políticas que, segundo ele, deixaram os agricultores à esperaaami cbet exam datessoluções vindas do governo,aami cbet exam datesvezaami cbet exam datesbuscá-las por conta própria.
Por outro, tampouco se identifica com o atual governo. Questionado sobre o presidente Jair Bolsonaro, responde, aos risos: "Não é uma das pessoas mais inteligentes que eu conheço".
Götsch rejeita ainda a dicotomia entre agronegócio e pequenos agricultores, pois diz que muitas propriedades familiares hoje também adotam práticas nocivas ao meio ambiente, como o usoaami cbet exam datesagrotóxicos.
"Tem muita gente fazendo errado dos dois lados", diz.
Ribeirinhos e indígenas
Para Osvaldo Kato, outro experiente pesquisador da Embrapa, Götsch deu grande contribuição ao compartilhar suas técnicasaami cbet exam datesmaneira didática. Ele afirma que o suíço lecionouaami cbet exam datesvários cursosaami cbet exam datescapacitação da Embrapa entre 2005 e 2015.
"O trabalho dele é muito prático. Ele mostra como fazer, como manejar, e leva isso para as comunidades e os gruposaami cbet exam datesinteresse", diz.
Kato é membroaami cbet exam datesoutra família que se destacou com sistemas agroflorestais no Brasil. Seus antepassados migraram nos anos 1920 do Japão para Tomé-Açu, no Pará.
Lá, depoisaami cbet exam datestentativas frustradasaami cbet exam datescultivar pimenta-do-reinoaami cbet exam datesmonocultura, passaram a observar como indígenas e ribeirinhos da região plantavam vários alimentos para consumo próprioaami cbet exam datesmeio à floresta.
Os japoneses começaram então a replicar e a sistematizar esse modelo, com foco comercial.
Hoje a Cooperativa Agrícola Mistaaami cbet exam datesTomé-Açu (Camta), fundada por membros da comunidade, é uma referência no Brasil na produção agroflorestalaami cbet exam datesfrutas.
Para Kato, há princípios semelhantes entre a agriculturaaami cbet exam datesindígenas e ribeirinhos e a praticada por Götsch e pela colônia japonesaaami cbet exam datesTomé-Açu, como a grande diversidadeaami cbet exam datesespécies e a dispensaaami cbet exam datesinsumos externos.
A diferença principal, diz ele, é a maneira como se renovam as plantações nos sistemas. Na agricultura indígena, as áreas são abandonadas após a colheita para que se regenerem naturalmente, e parte-se para a aberturaaami cbet exam datesnovas roçasaami cbet exam datesoutros locais, normalmente com o auxílio do fogo.
Já nos sistemasaami cbet exam datesGötsch eaami cbet exam datesTomé-Açu, não é necessário esperar a regeneração natural e o fogo jamais é empregado.
Nesses modelos, quando uma agrofloresta chega à maturidade, é possível abrir clareiras no mesmo local para reiniciar o processo, aproveitando a fase inicial para cultivar alimentos que exigem mais luz, como hortaliças, milho e mandioca. Depois, conforme o sistema avança, privilegiam-se frutas e a extraçãoaami cbet exam datesmadeira.
Segundo Kato, o manejo sem fogo é uma grande vantagem das agroflorestas, já que as queimadas geram emissõesaami cbet exam datesgás carbônico, empobrecem o solo e podem fugir do controle. Além disso, ele afirma que a possibilidadeaami cbet exam datescultivar a mesma área repetidas vezes e sem interrupções é valiosa num momentoaami cbet exam datesque a população e a demanda por comida aumentam.
"Quando havia muita terra e menos gente, dava para deixar as áreasaami cbet exam datespousio (repouso) até voltar a cultivar o alimento lá, mas não dá mais tempoaami cbet exam datesfazer isso", afirma
Götsch reconhece que suas filosofias têm semelhanças com asaami cbet exam datesindígenas. "No mundo inteiro, há frações das populações que têm uma relação mais harmoniosa com a natureza", diz.
Ele elogia ainda os povos nativos das Américas por terem nos legado plantas "que achamos que são naturais, mas são cultivadas do México à Bolívia, do Equador ao Amapá", entre as quais o carro-chefeaami cbet exam datessua plantação, o cacau.
Reflorestar o deserto?
Depoisaami cbet exam datesensinar tantos a "plantar água", o que Götsch planeja para o futuro?
"Estou me dedicando a passar aquilo que achei significante para as futuras gerações", conta.
Nos últimos anos, ele construiu alojamentos na fazenda para receber os alunos, a quem chamaaami cbet exam dates"estagiários".
Muitos vêmaami cbet exam datesgrandes cidades e têm pouca ou nenhuma prática com agricultura - fatores que, segundo Götsch, permitem que aceitem mais facilmente seus conceitos.
Mas o suíço tem também planos mais ousados. Ele diz que, ao ajudar a implantar agroflorestas no Semiárido brasileiro sem a necessidadeaami cbet exam datesirrigação, passou a querer reflorestar um deserto.
Ele diz ter iniciado conversas com o governo da Arábia Saudita para ajudar a trazer o verdeaami cbet exam datesvolta a partes do país hoje ocupadas por desertos.
As tratativas avançam lentamente por causa da pandemia, mas ele diz esperar um desfechoaami cbet exam datesbreve.
"Quando você paraaami cbet exam datessonhar, não vive mais", diz Götsch.