O passado escravista escondidoelitebet appum dos pontos turísticos mais famososelitebet appSP:elitebet app

Foto colorida mostra mural com Chaguinhas e dizeres
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No terreno onde ossadas foram encontradas, ativistas fizeram um mural

Quem não tinha o corpo brutalmente mutilado era enterrado no cemitério da Capela dos Aflitos, a poucos metros da praça.

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Hoje, a Capela está no centroelitebet appum movimento que quer destacar a história negra na Liberdade.

Conhecida como “bairro japonês”, a Liberdade foi transformadaelitebet appum dos principais pontos turísticoselitebet appSão Paulo por meio do reforço desta ideiaelitebet appcentro da cultura japonesa.

Mas essa ideia foi usada para esconder o histórico escravagista da cidade, explica o historiador Wesley Vieira, pesquisador na Universidadeelitebet appSão Paulo (USP).

“São Paulo teve um processo sistemáticoelitebet appapagamento das camadas da escravidão com narrativaelitebet appque foi criada pelos bandeirantes e jesuítas e desenvolvida pelos imigrantes”, diz Vieira.

“Foram criados uma sérieelitebet appsímbolos para atestar essa narrativa e negar o passadoelitebet appdesumanização das pessoas escravizadas.”

Outro exemplo dessa valorização da força dos imigrantes, além da Liberdade, é a identificação da região do Bixiga, no bairro da Bela Vista, com a comunidade italiana, aponta o pesquisador.

“Essa força dos imigrantes é importante, claro, mas essa narrativa foi usada para encobrir esses registros da São Paulo escravagista”, afirma Vieira.

capela dos alfitos
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Ativistas lutam pelo restauro da Capela dos Aflitos

‘História que SP quer esconder’

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BBC Lê

Podcast traz áudios com reportagens selecionadas.

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Esse processoelitebet appapagamento deu tão certo, diz Vieira, que é difícil identificar marcos da história dos negros e dos indígenas na cidade que datam dos períodos colonial e escravocrata.

A Capela dos Aflitos — que movimentos sociais lutam para que seja renovada e preservada — é importante por se tratarelitebet appum remanescente desses espaços,elitebet app acordo com Vieria.

Durante quase 20 anos, a igreja foi o pontoelitebet appencontro da Marcha Noturna pela Democracia Racial, iniciadaelitebet app1997 pelo movimento negro, que passava por alguns desses marcos.

Na época do Brasil colônia (e depois durante o Império), a região onde hoje é a Liberdade era o centroelitebet appdiversos equipamentoselitebet appopressão do Estado.

O pelourinho, onde os negros e indígenas escravizados eram torturados, ficava a poucos metros, onde hoje é a praça do Tribunalelitebet appJustiça.

Depois da desativação do cemitério da capela, com o fim da penaelitebet appmorte, a construção foi ficando cada vez mais espremida por prédios construídos conforme a Cúria católica vendeu os loteselitebet appterraelitebet apppropriedade da Igreja.

Com alugueis baratos, explica Vieira, a região foi se tornando localelitebet appmoradia para a população pobre, negra e indígena — e também rotaelitebet appfuga para os quilombos do Jabaquara eelitebet appSaracura, que ficavam onde hoje é o perímetro urbanoelitebet appSão Paulo.

“Então, esse lugar tem uma presença indígena e negra para além dos equipamentoselitebet apptortura do Estado", afirma o historiador.

"Ele também é um lugarelitebet appque se pode deflagrar a resistência dessas populações com o desenvolvimento da cidade.”

A região também se tornou refúgio, mais tarde, para os imigrantes japoneses que chegaram na cidade e buscavam locais onde o preço do aluguel não fosse alto.

A transformação do bairroelitebet appponto turístico aconteceu a partir dos anos 1970, quando ele já recebia na verdade mais imigrantes coreanos e chineses do que japoneses - cuja imigração é mais antiga.

Em 1973, houve um concursoelitebet appdecoração do bairro, e Liberdade passou a contar com uma iluminação imitando as tradicionais lanternas japonesas, que permanecem lá até hoje, conta Vieira.

Em 1974, aponta o historiador, a secretariaelitebet appTurismoelitebet appSão Paulo teve a ideiaelitebet appfazer uma chinatown nos moldeselitebet appNova York.

"Mas, aqui seria a Little Tokyo, e esse processoelitebet apptransformação do bairroelitebet appponto turístico avançou", afirma Vieira.

“Aconteceu nos moldes do turismo mercadológico, não tinha uma base identitáriaelitebet appvalorizar a ancestralidade japonesa. Sempre foi uma imagem fictícia com fins econômicos.”

Movimentoselitebet appdescendenteselitebet appjaponeses têm criticado nos últimos anos não apenas o fato dos chineses e coreanos terem sido ignorados nessa caracterização, mas também a forma como a luta dos imigrantes japoneses foi usada para invisibilizar a história da população negra.

Porelitebet appvez, o movimento negro critica há décados o fatoelitebet appa Liberdade ter sido transformadaelitebet appum bairro turístico sem lembrar dos negros e sem aproveitar o potencial histórico e educativo da Capela dos Aflitos.

Cordaselitebet appforca

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,

Padre Feijó escreveu que a cordaelitebet appenforcamentoelitebet appChaguinhas estourou três vezes

Pedidoselitebet appclemência

Apesarelitebet appreceber pouca manutenção e cada vez mais escondida, a Capela dos Aflitos se mantém há 200 anos como pontoelitebet appperegrinaçãoelitebet appfieis e o localelitebet appum ritual religiosoelitebet apphomenagem a Francisco José das Chagas, o Chaguinhas.

Chagas foi um soldado negro do primeiro Batalhãoelitebet appCaçadoreselitebet appSantos na épocaelitebet appque o Brasil era colônia do Império Português.

Ele liderou, ao ladoelitebet appseu colega José Joaquim Cotindiba, uma revolta cobrando o pagamentoelitebet appsalários que estavam atrasados há cinco anos.

Um grupoelitebet appsoldados libertou prisioneiros, saqueou armas e bombardeou um navio.

“Não podemos entender essa revolta como parte da luta pela independência. Mas, com a visãoelitebet apphoje, podemos talvez inscrever Chaguinhaelitebet appuma luta por direitos, atéelitebet appuma luta por direitos trabalhistas”, diz Vieira.

Cercaelitebet appcem participantes do motim foram condenados a penas variadas, como trabalhados forçados. Dos sete líderes condenados à morte, Chaguinhas e Cotindiba foram trazidos para o enforcamentoelitebet appSão Pauloelitebet app1821.

Um dos poucos registros históricos do acontecimento fala da necessidade compraelitebet appcordas para o enforcamento dos soldados, presos na cela da capela.

De acordo com os registros do Padre Feijó feitos dez anos após o caso, Cotindiba foi executado primeiro.

“No momentoelitebet appChaguinhas, a corda arrebentou por três vezes, sendo que na terceira foi solicitado uma tiraelitebet appcouro para reforço”, conta Vieira.

O acontecimento levou a população a pedir por clemência - que o governo poderia concederelitebet appcasoelitebet appum acontecimento extraordinário.

Mas a clemência não foi dada e, segundo os registroselitebet apppadre Feijó, a execuçãoelitebet appChagas foi brutal: o carrasco o derrubou no chão e terminouelitebet appassassiná-lo a pauladas.

A população passou a acender velas no local, que depois passaram a ser levadas para a sala onde Chaguinhas ficou preso na capela.

Vieria diz que foi provavelmente daí que surgiu a ideia, divulgada pela oralidade,elitebet appque o nome Liberdade teria vindo do fato do povo pedir a liberdadeelitebet appChagas.

"Mas não há registro disso. A população pediu clemência”, diz o pesquisador.

“Uma das hipóteses do nome é que a praça foi o localelitebet appinstalaçãoelitebet appuma fonte, o Chafariz da Liberdade, patrocinado pelos liberais no início do século 20.”

Toldo que diz "Cemitérioelitebet app1775 até 1858"
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O cemitério da capela foi o primeiro cemitério público da cidade

Para não esquecer

Em 2018, uma construçãoelitebet appum terreno ao lado da igreja encontrou nove ossadas humanas, que haviam sido enterradas no cemitério da igreja.

O terreno foi desapropriado, e,elitebet app2023, a Prefeitura criou um edital para a construçãoelitebet appum Memorial dos Aflitos no terreno.

Mas o escritório vencedor do edital desistiu do projeto depois que um vídeoelitebet appuma reunião entre uma arquitera e movimentos sociais viralizou na internet.

Nele, a arquiteta dizia à indígena Rafaela Puri, que havia falado uma frase no idioma puri, que ela deveria “falar português”.

O escritório chegou a fazer um encontroelitebet appretratação com os ativistas, mas acabou se retirando da empreitada após essa conversa e, à epoca, emitiu uma nota dizendo que reconhecia ser necessário "aprofundar o entendimento das questões envolvidas nesse território”.

O projeto do memorial já havia gerado protesto antes disso, conta Eliz Alves, coordenadora da União dos Amigos da Capela dos Aflitos (Unamca).

Isso porque previa a derrubadaelitebet appdois espaços da capela, incluindo a celaelitebet appChagas, e usar a área do cemitério - considerado terreno santo - para construçãoelitebet appuma parede, entre outros pontos disputados.

“Além disso, não previa acomodações adequadas para as ossadas. A gente quer que haja respeito”, diz Alves.

"Sabemos que elas vão ter que ficar acondicionadaselitebet appmodo a serem visitadas pelos arqueólogos. Mas é importante que isso seja feito com muito respeito pela passagem. Algo que respeite a todas as religiões para nós é fundamental."

O projeto chegou a ir para o segundo colocado no edital, mas o movimento quer que o próprio concurso seja alterado para incluir incentivos a arquitetos negros.

"A gente sabe que os negros vão estar na execução do projeto, os pedreiros, os ajudantes. Mas queremos que estejam também na elaboração", diz Alves.

Enquanto isso, a Unamca arrecada verbas para o restauro da Capela, que não está previsto no edital da Prefeitura nem será patrocinado pela Cúria - que é oficialmente a dona da construção tombada pelo Departamentoelitebet appPatrimônio Histórico (DPH) da cidade.

“Nós queremos valorizar a cultura popular. Não podemos deixar que haja o encobrimento dessa história”, diz Alves.

A BBC News Brasil procurou a Secretaria Municipalelitebet appCultura (SMC), que disse que "os projetos foram escolhidos conforme os critérios estabelecidos no próprio edital" e que "ao longoelitebet apptodo o processo, a SMC intermediou o diálogo entre os escritórios vencedores e a sociedade civil".

O novo escritório responsável pela obra teve um encontro com movimentos sociais envolvidos na questão.

A secretaria informou que, na ocasião, foi apresentado o projeto conceitual do futuro Memorial e discutidas sugestões e ponderações, que serão analisadas pelo escritório e apresentadas como propostas ao Departamentoelitebet appPatrimônio Histórico.

A pasta disse também que a Prefeitura abriu uma consulta pública sobre a criaçãoelitebet appcinco novas estátuaselitebet appfiguras históricas negras, como aelitebet appMadrinha Eunice.