Como industrialização pode fortalecer a democracia, segundo professorpix bet265 appPrinceton:pix bet265 app
"[Na indústria] você tem que ser capazpix bet265 apptrabalhar junto com muito mais gente, mesmo com quem você não conhece, e tem que se organizar direitopix bet265 appuma grande ação coletiva. Então essa é uma das razões pelas quais a indústria é particularmente suscetível a gerar capacidadepix bet265 appmobilização. Isso cria essa habilidade", afirma.
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Noort também afirma que regiões dos EUA, como o meio-oeste, sofrem com a desindustrialização acelerada após a entrada da China como grande player industrial, fazendo com que haja um aumento da radicalização política.
"Essas áreas foram expostas ao choque da entradapix bet265 appindústrias chinesas que tinham vantagens competitivas e, quando se observa tendências nesses locais, há uma tendência para a polarização e à radicalização política,pix bet265 appgeral,pix bet265 appcomparação a áreas onde a China não tem vantagens competitivas", diz.
Para o professorpix bet265 appPrinceton, a desindustrialização pela qual o Brasil passa nas últimas décadas também limita o impacto positivo da democracia no país.
"Se você apenas exportar commodities para a China, nunca conseguirá esse efeito positivo do emprego industrial na sociedade, dado que você não precisarápix bet265 apptanta mãopix bet265 appobra remunerada epix bet265 appalta produtividade", conclui.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
pix bet265 app BBC News Brasil - Qual a ligação entre a industrialização e a democracia?
pix bet265 app Sam van Noort - Penso que há muito tempo na economia política há um interesse pela relação entre o desenvolvimento econômico e a democracia, que significaria eleições livres e justas, imprensa livre, liberdadepix bet265 appexpressão, direitos à mobilização, etc. O que a literatura econômica realmente tem feito é olhar para a relação entre rendimento, leia-se PIB per capita, e democracia, com um olhar focado na desigualdade.
O que descobrimos é que, na verdade, estas coisas não estão realmente relacionadaspix bet265 appforma robusta com a democracia. Se olharmos para istopix bet265 appforma sistemática, para dentro dos países ao longo do tempo, não existe uma relação real entre mudanças nos rendimentos e mudanças subsequentes na democracia.
O que estou tentando fazer é mostrar que o desenvolvimento econômico é importante, mas é outra dimensão desse desenvolvimento que importa para a democracia. No meu estudo, vejo uma correlação entre, não apenas a produção industrialpix bet265 appsi, mas, sim, o emprego industrial, que é melhor remunerado e exige um tempo maiorpix bet265 appestudo, e a democracia.
Portanto, a democratização é mais consistente com a ampliação do emprego industrial,pix bet265 appoposição a essas outras variáveis econômicas nas quais temos nos concentrado, como PIB per capita ou renda, por exemplo. Essa é a principal conclusão do estudo.
pix bet265 app BBC News Brasil - Você cita que a capacidadepix bet265 apporganização da indústria se transfere a esses empregados e, mesmo que involuntariamente, isso aumenta a capacidade dos trabalhadores se organizarem politicamente. Como é isso?
pix bet265 app Noort - Sim. Há muitas coisas já escritas sobre a indústriapix bet265 apptransformação e como suas estruturas são bastante diferentespix bet265 appoutros setores da economia. No setorpix bet265 appserviços, na mineração, construção ou agricultura há diversas maneiraspix bet265 appse produzir, mas são diferentes da indústriapix bet265 appsi.
O que eu olho é o que é importante para a mobilização política. Em uma indústria, você divide o processopix bet265 appproduçãopix bet265 appmuitas partes, com uma divisãopix bet265 apptrabalho muito profunda.
Peguemos o exemplopix bet265 appum carro. Na produção, é natural trabalharem quatro ou cinco mil pessoas. Ali, você separa todas as pequenas peças, então uma pessoa coloca os espelhos, outra a roda, etc, e há muitas divisõespix bet265 apptarefas,pix bet265 appuma profunda divisãopix bet265 apptrabalho.
Essa divisão, obviamente, aumenta muito a produtividade. Mas o que estou mostrando é que isso também aumenta a capacidadepix bet265 appmobilização porque você tem que ser capazpix bet265 apptrabalhar junto com muito mais gente, mesmo com quem você não conhece, e você tem que se organizar direitopix bet265 appuma grande ação coletiva. Então essa é uma das razões pelas quais a indústria é particularmente suscetível a gerar capacidadepix bet265 appmobilização. Isso cria essa habilidade.
pix bet265 app BBC News Brasil - Além dessas divisões profundas do trabalho, o senhor destaca como mecanismos da mobilização política das massas industriais a economiapix bet265 appescala e as conexões. O que seriam?
pix bet265 app Noort - Na indústria, como eu disse, muitas pessoas têm que trabalhar juntas no processopix bet265 appprodução, com divisões profundaspix bet265 appsuas tarefas. Mas também há um incentivo muito grande para produzirpix bet265 applarga escala. O custopix bet265 appvocê manter uma fábricapix bet265 appcarros que produza mil ou um milhão não difere tanto.
Portanto, há um enorme incentivo para produzirpix bet265 appgrande escala, para ter indústrias muito grandes ou, pelo menos, grandes redes que trabalhem juntas. Então, novamente, chega ao ponto que você tem muitas pessoas que precisam ser capazespix bet265 apptrabalhar juntaspix bet265 appalguma forma e precisam se organizar.
Um agricultor pode simplesmente cultivar sozinho. Não há uma espéciepix bet265 appincentivo para ele ter uma escala na produção ou organizar as coisaspix bet265 appmassa, certo? No setorpix bet265 appserviços, também, ou mesmo pensepix bet265 appum vendedor. Não há essa característicapix bet265 appum grande grupopix bet265 apppessoas ter que trabalharpix bet265 appconjunto porque não há economiapix bet265 appescala nesse tipopix bet265 appatividade econômica, certo?
Jápix bet265 apprelação às conexões, elas significam grandes coisas no processopix bet265 appprodução. Existem muitas empresas que oferecem e exigem produtos umas das outras, certo? Um carro necessita que a indústria tenha conexões com diversas outras partes da economia, desde o produtorpix bet265 appferro até os vendedores dos carros usados.
Isso significa, basicamente, que os trabalhadores da indústria têm uma influência muito maior para impor custos econômicos à economia e na elitepix bet265 appum país. Imagine se eles parampix bet265 appproduzir, todas essas conexões vão pararpix bet265 appganhar dinheiro.
Os trabalhadores da indústria têm o poderpix bet265 appoferecer um impacto econômico muito maior do que setores com poucas conexões, como o agro, por exemplo, e por isso eles tendem a ser atores sociais e políticos mais fortes.
Portanto, o que importa é basicamente a estrutura das propriedades econômicas dos diferentes setores, que são bastante diferentes entre si. Esse é o ponto principal e a indústria é especial nesse sentido.
pix bet265 app BBC News Brasil - Você cita a Coreia do Sul, que passoupix bet265 appuma ditadura a uma democraciapix bet265 app1988. Como a rápida industrialização pela qual o país passou auxiliou nesse processo? E podemos explicar o processo apenas focando na industrialização?
pix bet265 app Noort - No caso sul-coreano, houve uma coligação entre estudantes, igreja e trabalhadores industriais que pressionou o regime pela democracia.
Por lá, você teve um líder assassinadopix bet265 app1979 e, entre 1980 e 1988, houve uma enorme mobilização, vinda das classes mais baixas, para que o país tivesse eleições livres e justas, que se tornaram um risco para a elite dominante.
Ao contráriopix bet265 appalguns casos latino-americanos, por exemplo, não havia na Coreia do Sul uma elite dividida que se sentiu ameaçada por um processo revolucionário e escolheu a democracia. Por lá, foi realmente pressão vindapix bet265 appbaixo, feita por essa coligaçãopix bet265 apptrabalhadores, estudantes e igrejas, que teve um papel importantepix bet265 apptermospix bet265 applegitimação.
Foi o processopix bet265 appindustrialização, empurrada por uma elite meio fraturada, que mobilizou grupospix bet265 apppessoas nas ruas, que, porpix bet265 appvez, pressionaram para introduzir eleições livrespix bet265 app1988.
Então esse é um dos exemplos clarospix bet265 appque a pressão veiopix bet265 appbaixo. Quando você olha para os grupos que realmente estavam nas ruas, eles tendiam a ser as pessoas que trabalham no setor manufatureiro oupix bet265 appsetores adjacentes da indústria,pix bet265 appoposição a, por exemplo, agricultores que ainda representavam grande parte da população na Coreia do Sul naquela época.
pix bet265 app BBC News Brasil - E como explicar a China, que captou parte das indústrias desses países, mesmo sendo uma ditadura e permanece assim?
pix bet265 app Noort - Bem, essa é uma pergunta muito boa. Acho que a resposta simples seria que, mesmo atualmente, quando você olha para o nívelpix bet265 appemprego industrial na China, ainda é mais baixo do que é na maioria dos países ocidentais ou no Japão.
O Reino Unido,pix bet265 app1928, já tinha cercapix bet265 app32% da forçapix bet265 apptrabalho na indústria. Esse número, hoje, épix bet265 app22% na China.
Poderíamos nos perguntar, então, se a China está no caminho da democratização.
Alguns autores, como Steven Levitsky,pix bet265 appHarvard, afirmam que pela China ter passado por uma guerra civil durante a revolução, há uma homogeneidade na classe dominante, muito mais forte do quepix bet265 appoutros regimes ou países.
Então, pode ser que a China seja diferente ou simplesmente um caso atípico, isso é possível. Mas ainda há a probabilidadepix bet265 appa democratização da China ainda acontecer, ou, talvez, o nível necessáriopix bet265 appemprego industrial ideal ainda não foi e não seja atingido. Então essa é uma questãopix bet265 appaberto.
pix bet265 app BBC News Brasil - O Brasil e regiões dos EUA passam por um processopix bet265 appdesindustrialização há anos. Isso tem alguma ligação com o crescimento da extrema direita nesses dois países e as constantes ameaças à democracia vindas desses grupos?
pix bet265 app Noort - Acho que ainda estamos trabalhando nisso. É preciso distinguir entre diferentes tipospix bet265 appindustrialização. Nos EUA, acho que já há evidências fortespix bet265 appque a desindustrialização auxiliou a polarização. Há estudos que mostram que a entrada da China na OMC (Organização Mundial do Comércio),pix bet265 app2001, fez com que regiões dos EUA perdessem suas indústrias.
Essas áreas foram expostas ao choque da entradapix bet265 appindústrias chinesas que tinham vantagens competitivas e, quando se observa tendências nesses locais, há uma tendência para a polarização e à radicalização política,pix bet265 appgeral,pix bet265 appcomparação a áreas onde a China não tem vantagens competitivas.
Mas, se pensarmos, desde a décadapix bet265 app1970 a produtividade na indústria aumentou muito, enquanto a demanda permaneceu inalterada, então isso significa que você precisará cada vez menospix bet265 appmãopix bet265 appobra para satisfazer a demanda.
De qualquer forma, para mim, a entrada da China como competidora é algo bastante claro nessa derrocada do mercado e da democracia.
Acho que a experiência latino-americanapix bet265 apprelação à industrialização foi um pouco diferente. O Brasil nunca realmente atingiu os níveispix bet265 appemprego industrial como os países ocidentais, ou Coreia do Sul, Taiwan e Japão, por exemplo. Na região, o setor industrial foi muito impulsionado pelo Estado e não foi possível atingir níveis altospix bet265 appindustrialização, o que reflete na formapix bet265 appcomo o regime democrático funciona.
Apesar dessas diferenças, a indústria é única no sentido econômico. Ela pode gerar um grande númeropix bet265 appempregos bem remunerados epix bet265 appalta produtividade.
Na África, por exemplo, se você transfere um agricultorpix bet265 appsubsistência para uma fábrica básica, mesmo que sejapix bet265 appbaixa tecnologia, há aumento na produtividade e isso, no longo prazo, é igual à renda ou é igual ao potencialpix bet265 apprenda.
Então, o potencialpix bet265 apprenda aumenta nas fábricas, onde eles podem se beneficiar da divisão do trabalho e tudo mais, alémpix bet265 appgerar empregos bem remuneradospix bet265 apppesquisa e desenvolvimento, na área judicial, etc.
De qualquer maneira, mesmo nos casospix bet265 appque você tem uma produção relativamente improdutiva, você tem muitos desses outros empregos que vêm com ela. Então você tem um efeito enorme sobre bons empregos, ao contrário da agricultura, por exemplo.
Mas,pix bet265 appmuitos paísespix bet265 appdesenvolvimento, como o Brasil, houve uma enorme urbanização, mas essas pessoas não são advogados ou programadorespix bet265 appcomputador, elas estão apenas prestando serviçospix bet265 appprodutividade muito baixa. Quero dizer, são vendedores ambulantes, motoristaspix bet265 apptáxi, entre outros, e isso é um grande problema no desenvolvimento.
Se você apenas exportar commodities para a China, nunca conseguirá esse efeito positivo do emprego industrial na sociedade, dado que você não precisarápix bet265 apptanta mãopix bet265 appobra remunerada epix bet265 appalta produtividade. Eu não estudo o caso brasileiro tãopix bet265 appperto, mas é isso que penso.
pix bet265 app BBC News Brasil - Colocar barreiras comerciaispix bet265 appsetores industriais estratégicos poderia ser uma saída ao Brasil? Quais seriam as soluções para que o país volte a se industrializar e, assim, se fortalecer democraticamente?
pix bet265 app Noort - Países possuem diferenças muito grandespix bet265 appsuas capacidades tecnológicas e industriais e, por isso, os argumentos também mudampix bet265 apprelação às barreiras.
No caso dos EUA, por exemplo, penso que há muito menos argumentos para que seja necessário subir barreiras comerciais porque há uma paridade tecnológica com qualquer local no mundo.
Por aqui, algumas pessoas perdem seus empregos porque, provavelmente, estãopix bet265 appsetores que não são competitivos e basicamente porque a produção é transferida para algum outro país.
Mas você tem que compensar os perdedores, o que os EUA nunca fizeram, certo? Eles deveriam ter treinado novamente esses trabalhadores, ou subsidiá-los até a aposentadoria, e então eles poderiam ter obtido essas benesses do livre comércio.
Mas por que é diferente entre países muito diferentespix bet265 apptermospix bet265 appníveispix bet265 appcapacidade tecnológica? Acho que é porque quando você abre o comércio, você tem um mercado extremamente competitivo e uma pressão extrema nas margenspix bet265 applucro.
O Japão começou a produzir carros na décadapix bet265 app1950. Dezenaspix bet265 appindústrias produziram carros não tão bons por 20 a 30 anos, até eles chegarem no processo que possuem agora. É um processo longopix bet265 appaprendizado.
Hoje, você sabe que não conseguirá produzir carros tão bons como o Japão ou a Alemanha, mas a diferença está no longo prazo.
Há muitas teorias que abraçam o livre comércio e que,pix bet265 apptese, dizem que não faz sentido para o Brasil se tornar industrial porque vale mais a pena importar carros e exportar commodities para a China.
Mas assim você não vai chegar a lugar nenhum. Quero dizer, pelo menos, não há nenhum país no mundo que tenha alcançado altos níveispix bet265 apprenda apenas vendendo commodities, onde algumas pessoas ficam ricas, mas toda a sociedade é pobre e não há modernidade no sentido do capital humano. Acho que é uma mensagem importante que falta na América Latina.