Arquitetura no Brasil perpetua violência colonial, diz escritora Grada Kilomba:bet 50 reais gratis

Grada Kilomba durante entrevista

Crédito, Vitor Serrano/BBC

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Autorabet 50 reais gratis'Memórias da plantação: episódiosbet 50 reais gratisracismo cotidiano', Grada Kilomba tevebet 50 reais gratis2019 uma mostra individual na Pinacotecabet 50 reais gratisSão Paulo

Também abraçada por muitos militantes negros e feministas, a obra aborda temas que geram debates acalorados no país, como a associação entre linguagem e opressão (leia mais adiante).

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O trabalho artístico da portuguesa também tem tido destaque por aqui. Ela expôs na 32ª Bienal e teve,bet 50 reais gratis2019, uma mostra individual na Pinacotecabet 50 reais gratisSão Paulo, um dos principais museus do país.

"O Brasil é o lugar onde eu mais amo trabalhar", diz Kilomba à BBC News Brasilbet 50 reais gratisentrevista concedida ao ladobet 50 reais gratisuma das instalações da 35ª Bienal — um milharal cultivado pelo artista indígena brasileiro Denilson Baniwa.

"É, assim, uma coisa inexplicável", prossegue Kilomba, ao descrever como é tratada no país.

Sente-se mais aclamada aqui do que na Alemanha, onde vive desde 2008, ou que embet 50 reais gratisterra natal, Portugal?

"Múltiplas vezes mais, mais do quebet 50 reais gratistodo lugar", ela diz.

Kilomba atribui seu sucesso no Brasil a uma sériebet 50 reais gratiscaracterísticas que vêbet 50 reais gratisnovas gerações daqui: uma combinaçãobet 50 reais gratissaberes ancestrais, intelectuais e espirituais, e uma formabet 50 reais gratisencarar o tempo na qual passado, presente e futuro se fundem.

Essas leituras do mundo, segundo ela, derivambet 50 reais gratistradições africanas e indígenas e fazem com que os brasileiros consigam "entrar nas minhas obras e nas obrasbet 50 reais gratistantos artistas".

"Isso não existebet 50 reais gratislugar nenhum. Eu acho que (o Brasil) é uma cozinha do futurismo. Aqui está a acontecer o futuro", afirma.

Grada Kilomba abraça mulher que a abordou na abertura da Bienalbet 50 reais gratisSão Paulo

Crédito, Vitor Serrano/BBC

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Grada Kilomba abraça mulher que a abordou na abertura da Bienalbet 50 reais gratisSão Paulo

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Podcast traz áudios com reportagens selecionadas.

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Kilomba se define como uma "artista multidisciplinar":bet 50 reais gratisváriasbet 50 reais gratissuas obras há elementosbet 50 reais gratisdança, teatro, fotografia, performances e vídeos. Muitas versam sobre o colonialismo e o racismo.

É o caso da instalação O Barco, na qual 140 blocos formam a silhuetabet 50 reais gratisuma nau com 32 metrosbet 50 reais gratiscomprimento. A obra é uma referência aos navios que transportaram milhõesbet 50 reais gratisafricanos escravizados para as Américas e foi expostabet 50 reais gratis2021 nas margens do rio Tejo,bet 50 reais gratisLisboa.

Obras sobre o racismo e o colonialismo também estão presentes na atual edição da Bienalbet 50 reais gratisSão Paulo.

Ela diz que a exposição, intitulada Coreografias do impossível, se contrapõe a “saberes ocidentais e patriarcais” que “já não conseguem dar respostas para o presente” — por exemplo,bet 50 reais gratisrelação à crise climática.

Há muitas obrasbet 50 reais gratisartistas indígenas, negros e LGBTQia+ na mostra — movimento também observadobet 50 reais gratisoutros grandes museus pelo mundo.

Segundo Kilomba, um dos objetivos desta bienal é "questionar o que não sabemos e por que — e como esse não-saber está intimamente ligado ao poder, à violência, ao apagamento, ao silenciamentobet 50 reais gratisidentidades e histórias".

Elevadorbet 50 reais gratisserviço

Apesar dos elogios que faz ao Brasil, Kilomba não tem só visões positivas do país.

Ela conta que,bet 50 reais gratis2016, numa das primeiras vezes que veio expor aqui, se chocou com uma arquitetura que reserva "entradas diferentes para corpos diferentes: a entrada da frente, para os corpos normativos, e uma portabet 50 reais gratisserviço, com um elevadorbet 50 reais gratisserviço, para os corpos periféricos, marginais e secundários".

O espantobet 50 reais gratisKilomba foi ainda maior, diz ela, porque essa "hierarquizaçãobet 50 reais gratishumanos" não vigora sóbet 50 reais gratisprédios antigos, mas tambémbet 50 reais gratismuitos recentes.

"Como é que a arquitetura pode ser desenhada hoje, neste tempobet 50 reais gratisagora, e ainda ter uma informação tão antiga,bet 50 reais gratisséculos atrás, onde corpos diferentes são colocadosbet 50 reais gratisespaços diferentes?", questiona.

Kilomba associa essa arquitetura a visões que, segundo ela, ganharam o mundo com o colonialismo europeu.

A escritora afirma, porém, que esse tipobet 50 reais gratisarquitetura já foi abandonado na Europa.

"Toda gente entra na mesma porta, toda gente sobe no mesmo elevador e senta na mesma cadeira."

Vista aéreabet 50 reais gratisbairro ricobet 50 reais gratisSalvador

Crédito, Getty

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Para Grada Kilomba, arquitetura brasileira continua reproduzindo modelos do passado

Impressões negativas como essa já a levaram a fazer a críticabet 50 reais gratisque o Brasil "é uma históriabet 50 reais gratissucesso colonial".

E um país onde atrasos e avanços convivem.

"O Brasil é como muitos lugares cheiosbet 50 reais gratispolaridade, onde não se sabe muito e sabe-se tanto ao mesmo tempo. Então tem essa negação, mas também tem uma nova geração que sabe muito e está tão pronta para aprender", ela diz à BBC.

Logo no início do livro Memórias da Plantação, Kilomba tratabet 50 reais gratisoutro pontobet 50 reais gratiscontato entre ela e o Brasil. Na seçãobet 50 reais gratisagradecimentos, Kilomba cita, entre várias pessoas, seu babalorixá, o brasileiro Fábio Maia, e os orixás Oxalá, Iemanjá, Oxóssi e Oyá.

As entidades são veneradasbet 50 reais gratisreligiões afro-brasileirasbet 50 reais gratisinfluência iorubá, um povo que habita a atual Nigéria e nações vizinhas.

Kilomba também tem antepassados da África, masbet 50 reais gratisoutras partes do continente onde esses orixás não são tão conhecidos: seus familiares migrarambet 50 reais gratisAngola ebet 50 reais gratisSão Tomé e Príncipe para Portugal, onde ela nasceubet 50 reais gratis1968,bet 50 reais gratisLisboa.

Ela diz quebet 50 reais gratisrelação com os orixásbet 50 reais gratisfato passa pelo Brasil, mas remonta a um laço anterior.

"Eu tenho uma relação aqui (Brasil), e esta relação daqui vembet 50 reais gratislá (África), então há esse triângulo", diz.

"Nós não podemos esquecer que, embora eu viva na Europa, os meus ancestrais vêm da África."

"Esses orixás acompanham-me, esta ancestralidade me acompanha há muito tempo", afirma.

Kilomba diz que não é fortuita a presença das entidades ebet 50 reais gratisseu babalorixá na páginabet 50 reais gratisagradecimentos.

Ela conta que, quando escrevia Memórias da Plantação — frutobet 50 reais gratissua tesebet 50 reais gratisdoutoradobet 50 reais gratisFilosofia na Universidade Livrebet 50 reais gratisBerlim, na Alemanha,bet 50 reais gratis2009 —, muitos a desencorajaram.

Diziam, entre outras coisas, que o trabalho não seguia à risca os métodos científicos e poderia desagradar muita gente.

Kilomba diz que só conseguiu concluir a obra após "tirar muitas pessoas do meu caminho" e recorrer a quem estava "além do meu tempo e sabia mais que eu" — grupo que, segundo ela, incluía “pessoas da espiritualidade” e da psicanálise.

Obrabet 50 reais gratisartebet 50 reais gratismuseu

Crédito, AFP

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Obrabet 50 reais gratisGrada Kilomba exibida na Casa das Culturas do Mundo,bet 50 reais gratisBerlim,bet 50 reais gratis2023

Experiências pessoais

Em Memórias da Plantação, Kilomba compila depoimentosbet 50 reais gratismulheres negras na Alemanha e teoriza sobre o racismo, dialogando com autores como a crítica literária indiana Gayatri Spivak (1942-) e várias teóricas feministas americanas, entre as quais bell hooks (1952-2021), Patricia Hill Collins (1948-) e Audre Lorde (1934-1992).

O texto, no entanto, foge do estilo acadêmico tradicional: Kilomba também conta várias experiências pessoais, o que dá à obra um ar autobiográfico.

Num desses trechos, ela descreve uma visita a um consultório médicobet 50 reais gratisPortugal quando tinha 12 ou 13 anos. A artista conta que, após examiná-la, o médico lhe fez uma proposta: acompanhá-lo numa viagembet 50 reais gratisfériasbet 50 reais gratisfamília para cozinhar e lavar as roupas do grupo.

"Eu realmente não me lembro se fui capazbet 50 reais gratisdizer algo. Acho que não. Mas me lembrobet 50 reais gratissair do consultóriobet 50 reais gratisum estadobet 50 reais gratisvertigem ebet 50 reais gratisvomitar, após ter me distanciadobet 50 reais gratislá algumas ruas, antesbet 50 reais gratischegarbet 50 reais gratiscasa", Kilomba conta no livro.

A obra foi aprovada com summa cum laude (com a maior das honrarias,bet 50 reais gratislatim), premiação que a universidade só havia concedido a outro aluno até então.

Lançado no Brasil só 12 anos depois, o livro foi o mais vendido na Feira Literáriabet 50 reais gratisParaty (Flip)bet 50 reais gratis2019 e entrou na bibliografiabet 50 reais gratisvárias redes públicasbet 50 reais gratisensino, como na do Estadobet 50 reais gratisSão Paulo.

Para a historiadora e psicanalista Mariléabet 50 reais gratisAlmeida, professora do Departamentobet 50 reais gratisHistória da Universidadebet 50 reais gratisBrasília (UnB), o livrobet 50 reais gratisKilomba teve grande impacto no debatebet 50 reais gratisquestões raciais não só no Brasil, masbet 50 reais gratistoda a diáspora africana.

Almeida diz à BBC que Kilomba "reforça e atualiza uma tradiçãobet 50 reais gratispensamentobet 50 reais gratisvários intelectuais negros, negras e 'negres' que apontam que o racismo é um fenômeno complexo" e que está presente não só nas instituições, "mas também nas relações cotidianas e nos afetos".

A historiadora diz que Memórias da Plantação tem paralelos com o clássico Pele negra, máscaras brancas,bet 50 reais gratisque o filósofo martinicano Frantz Fanon (1925-1961) também tratabet 50 reais gratisexperiências pessoais com o racismo. Fanon, por sinal, é um dos autores mais citados no livro da portuguesa.

Djamila Ribeiro

Crédito, AFP

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Escritora brasileira Djamila Ribeiro diz ter sido bastante influenciada por Grada Kilomba

Grada Kilomba também é considerada uma referência por uma das vozes mais influentes no debate racial brasileiro hoje: Djamila Ribeiro, mestrebet 50 reais gratisFilosofia pela Universidade Federalbet 50 reais gratisSão Paulo.

Em artigobet 50 reais gratis2019, Ribeiro diz que os pensamentosbet 50 reais gratisKilomba "inspiraram uma parte fundamental" das reflexões que lhe fariam escrever o best-seller O que é lugarbet 50 reais gratisfala?,bet 50 reais gratis2017.

'Decisões radicais'

Durante a produçãobet 50 reais gratisMemórias da plantação, Kilomba diz que tevebet 50 reais gratistomar "uma sériebet 50 reais gratisdecisões radicais", entre as quais escrever o textobet 50 reais gratisprimeira pessoa ebet 50 reais gratisinglês, línguabet 50 reais gratisque não é nativa.

A opçãobet 50 reais gratisKilomba por redigirbet 50 reais gratisinglês se relaciona combet 50 reais gratisdecisãobet 50 reais gratisdeixar Portugal, onde diz ter vivido vários anos “em grande isolamento” na juventude.

Na edição brasileira do livro, Kilomba conta que era a única estudante negra no cursobet 50 reais gratispsicologiabet 50 reais gratisLisboa e que, ao trabalharbet 50 reais gratishospitais portugueses, era rejeitada por pacientes e confundida com a "senhora da limpeza".

Sairbet 50 reais gratisPortugal para cursar o doutorado na Alemanha, diz no livro, foi um "imenso alívio".

Não que a Alemanha estivesse livrebet 50 reais gratisproblemas: ela diz na obra que "a história colonial alemã e a ditadura imperial fascista deixaram marcas inimagináveis" no país.

Mas afirma que havia uma diferença.

"Enquanto eu vinhabet 50 reais gratisum lugarbet 50 reais gratisnegação, ou até mesmobet 50 reais gratisglorificação da história colonial, estava agora num outro lugar onde a história provocava culpa, ou até mesmo vergonha", conta no livro.

A mudança para a Alemanha, prossegue Kilomba, lhe permitiu ainda aprender "um novo vocabulário, no qual eu pudesse finalmente encontrar-me".

Pinturasbet 50 reais gratisartistas indígenas

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Pinturas do coletivo indígena MAHKU exibidas na 35ª Bienalbet 50 reais gratisSão Paulo

Kilomba diz à BBC que o português e outros idiomas latinos "são línguas muito binárias, que constroem sempre polaridades entre nós e um outro".

Ela afirma que essa dinâmica se aplica, por exemplo, à atribuiçãobet 50 reais gratisgêneros a grande parte das palavras — uma característica que inexistebet 50 reais gratismuitos idiomas.

Outro ponto da língua portuguesa que ela critica é o chamado masculino genérico, pelo qual palavras masculinas nomeiam gruposbet 50 reais gratispessoasbet 50 reais gratisdiferentes gêneros.

"A partir do momentobet 50 reais gratisque nós dois estamos a falar e eu me identifico como mulher e tu como homem, nós passamos a ser 'eles', porque eu deixobet 50 reais gratisexistir", afirma.

Kilomba diz que teria sido um contrassenso escrever um livro crítico ao colonialismo e ao patriarcado usando uma língua que, segundo ela, "não só é extremamente patriarcal,bet 50 reais gratisque tudo que existe pode ser apenas masculino, mas também é extremamente colonial, porque a maior parte das nossas definições está ancorada numa história colonial".

Para contornar essas limitações, Jess Oliveira, tradutora da versão do livrobet 50 reais gratisportuguês, fez vários ajustes. Por exemplo:bet 50 reais gratisvez do masculino genérico, o livro recorre a construções como "colonizada/o" e "negras/os".

Já termos raciaisbet 50 reais gratisportuguês que Kilomba associa ao colonialismo e que teriam, segundo ela, relação com nomenclaturas animais, como "mestiço" e "mulato", são grafados apenas pelas iniciais.

Todas as palavras tidas como problemáticas são listadas num glossário na abertura da versão brasileira do livro, na qual a autora também lamenta a ausênciabet 50 reais gratisportuguêsbet 50 reais gratistermos raciais "que noutras línguas, como a inglesa ou alemã, já foram criticamente desmontados ou mesmo reinventados num novo vocabulário".

Kilomba conta que há muitos anos adotou o inglês comobet 50 reais gratislíngua escrita e o alemão como língua falada. Ao português, diz ela, restou serbet 50 reais gratis"língua sonhada".

"Temos esta fantasia colonialbet 50 reais gratisque a portuguesa é a língua mais bela do mundo", diz Kilomba à BBC. "É muito importante compreender o que a língua oferece, mas também o que a língua não oferece, como a língua prende identidades e categoriza identidades."

Caetano Veloso com violão

Crédito, Getty Images

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Para Caetano Veloso, Brasil tem adotado modelos raciais 'americanizados'

Controle da língua

Visões sobre linguagem e raça como asbet 50 reais gratisKilomba hoje são comuns entre movimentosbet 50 reais gratisnegros, feministas e pessoas LGBTQia+ associados à esquerda, grupos que são chamados por críticosbet 50 reais gratis"identitários".

Mas há na própria esquerda quem veja excessos nessas posições e considere que o Brasil está importando conceitos que não se aplicam à realidade local.

O movimento contrário inclui figurões da literatura e da música, como o cantor Caetano Veloso.

Em entrevista à Folhabet 50 reais gratisSão Paulobet 50 reais gratis2022, Caetano disse que o Brasil estava adotando modelos raciais "americanizados demais".

Em outra entrevista, no programa Roda Viva,bet 50 reais gratis2021, Caetano criticou quem o cobrava a abolir o termo “mulato”bet 50 reais gratisseu vocabulário: "Não vejo qual o problemabet 50 reais gratismulato, meu pai era mulato, a pessoa que eu mais adorava e respeitava".

Questionada sobre pessoas que se sentem envergonhadas ou constrangidas ao opinar sobre questões raciais por não dominarem os termos tidos como corretos pela militância, Grada Kilomba diz ver pontos positivos nessa reação.

"Que bom que as pessoas se sentem constrangidas finalmente", diz Kilomba.

"O que significa quando alguém se sente constrangido quando fala? É perceber-sebet 50 reais gratisque a fala, a linguagem e a terminologia que usa talvez seja habitada por muita violência", afirma. "Isso é um momento fundamentalbet 50 reais gratistransformação".

E quanto ao argumento, ecoadobet 50 reais gratispartes da esquerda,bet 50 reais gratisque o controle sobre a linguagem poderia alienar pessoas dessas causas e alimentar movimentosbet 50 reais gratisextrema direita?

"Temosbet 50 reais gratister cuidado, porque os opressores sempre se trataram como vítimas dos oprimidos", afirma Kilomba.

Ela diz que Adolf Hitler (1889-1945) se valeu da vitimização para convencer o povo alemão a apoiar o nazismo.

"Temosbet 50 reais gratissaber fazer uma leitura críticabet 50 reais gratistodos esses movimentos", afirma.

‘Fora do lugar’

Em Memórias da plantação, Kilomba defende outra prática que acabou sendo incorporada por certos círculosbet 50 reais gratisativistas: a marcaçãobet 50 reais gratiscaracterísticas raciais e sexuaisbet 50 reais gratispessoas pertencentes a grupos tidos como dominantes.

O encadeamentobet 50 reais gratiscategorias como "homem", "hétero", "branco" e "cisgênero" se tornou comumbet 50 reais gratismensagens nas redes sociais. A descrição é muitas vezes usada para questionar comportamentos da pessoa citada e associá-la a supostos privilégios.

Grada Kilombabet 50 reais gratisperfil

Crédito, Vitor Serrano/BBC

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Kilomba diz que tevebet 50 reais gratistomar várias 'decisões radicais' para concluir doutorado

Kilomba aborda o tema das marcações no livro quando narra momentosbet 50 reais gratisque diz ter se sentido "fora do lugar" — como quando cursava a universidade na Alemanha.

Segundo Kilomba, enquanto era sempre cobrada a comprovar que realmente estudava ali, estudantes brancos podiam circular livremente pelo edifício porque não eram "marcados pela negritude" nem vistos como "diferentes".

Ela diz que esses colegas eram vistos "apenas como pessoas", sem adjetivos.

Daí, segundo Kilomba, a necessidadebet 50 reais gratissubverter o sistema, marcando a branquitude e fazendo a seguinte pergunta: "Quem é 'diferente'bet 50 reais gratisquem? É o sujeito negro 'diferente' do sujeito branco ou o contrário, é o branco 'diferente' do negro?"

Mas a marcaçãobet 50 reais gratisidentidades não pode acabar por nos encaixotar, nos amarrar a categorias que não respondem por nossa totalidade? O que Grada Kilomba tem a dizer a quem se sente reduzido por essas classificações?

"Nós vivemos durante muito tempo com a constante ideia normativabet 50 reais gratisuma identidade que é apresentada como universal, como normativa, como norma, como centro", diz Kilomba.

"Isso tem que ser questionado. Por que as pessoas que são vistas como humanas aparecem como pessoas e aquelas que são desviadasbet 50 reais gratishumanas são marcadas com adjetivos?", questiona.