O que são os 'caçadoresblack jack ao vivorisco' e como eles trabalham nos morrosblack jack ao vivoSP:black jack ao vivo

Larissa Mozer Blaudt, Lucas Henrique Sandre e Alessandra Corsi são geólogos do Institutoblack jack ao vivoPesquisas Tecnológicas (IPT)

Crédito, Vitor Serrano/BBC News Brasil

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Larissa Mozer Blaudt, Lucas Henrique Sandre e Alessandra Corsi são geólogos do IPT

Todos os anos, eles visitam ocupaçõesblack jack ao vivomorrosblack jack ao vivotodo o Estadoblack jack ao vivoSão Paulo para encontrar e classificar esses pontosblack jack ao vivoperigo iminente.

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Também produzem relatórios com sugestõesblack jack ao vivoobras públicas e outras ações para diminuir os riscos para a população socialmente vulnerável desses locais.

"Quem chega pela primeira vez, olha para cima, vê as casas e logo pensa: está tudoblack jack ao vivoalto risco. Mas não é bem assim", explica a geóloga Alessandra Corsi,black jack ao vivo52 anos, que trabalha no IPT desde 2004.

"Com o tempo e a experiência, você consegue identificar que há uma escala, riscos maiores e menores."

No verão, com chuva forte e tempestades, áreas como o morro Itaquari costumam aparecer no noticiário por contablack jack ao vivotragédias causadas por deslizamentosblack jack ao vivoterra ou rochas.

Um levantamento do próprio IPT aponta que 4.210 pessoas morreram desde 1988 no Brasil nos chamados "escorregamentos", que costumam ser mais mortais do que alagamentos e transbordamentosblack jack ao vivorios, segundo os geógrafos.

Geólogos subindo a escadaria

Crédito, Vitor Serrano/BBC News Brasil

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Geólogos do IPT classificam o graublack jack ao vivoriscoblack jack ao vivomorros do Estadoblack jack ao vivoSão Paulo

Casas no morro

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O morro do Itaquari está crescendo com novas habitações

Como o riscoblack jack ao vivocada local é calculado

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O instituto classifica quatro grausblack jack ao vivoriscos quando se tratablack jack ao vivopontos com possibilidadeblack jack ao vivoescorregamentos.

R1 e R2 são áreas, ocupadas ou não, onde o perigo é menor e que devem ser monitoradas. Já o grau R3 apresenta "risco alto". E R4, "muito alto".

Segundo Corsi, o que diferencia "alto"black jack ao vivo"muito alto" são “evidênciasblack jack ao vivomovimentação" do solo.

Um estudo do próprio IPT explica que,black jack ao vivoR3, há "significativas evidênciasblack jack ao vivoinstabilidade" do solo, sendo "perfeitamente possível a ocorrênciablack jack ao vivoeventos destrutivos durante episódiosblack jack ao vivochuvas intensas e prolongadas".

Jáblack jack ao vivoR4, "as evidências são expressivas e estão presentesblack jack ao vivogrande número e/ou magnitude. Mantendo essas condições, é muito provável a ocorrênciablack jack ao vivoeventos destrutivos".

Corsi explica que a formablack jack ao vivoocupação do solo aumenta os riscosblack jack ao vivoescorregamentos.

"A gente tem a culturablack jack ao vivoocupar no plano, porque é melhor ter uma casablack jack ao vivouma área plana. Então, as pessoas cortam a terra do morro, fazem um aterro na frente e ocupam no plano", diz.

"Com isso, você induz o risco. Às vezes, o corte tem cinco metrosblack jack ao vivoaltura e a casa, dois. O que fica atrás é a terra que pode cair."

Em seus relatórios, os geólogos do IPT não indicam a remoção imediatablack jack ao vivofamíliasblack jack ao vivoáreasblack jack ao vivoperigo iminente - ou seja, nos graus R3 e R4.

"Apontamos para a Prefeitura quais são as obras e soluçõesblack jack ao vivoengenharia necessárias para reduzir o risco, como alargamentosblack jack ao vivoruas, murosblack jack ao vivocontenção, saneamento básico", diz Corsi.

"Mas a decisãoblack jack ao vivoretirar os moradores cabe ao prefeito. A remoçãoblack jack ao vivouma família tem um custo social grande: às vezes, vão para áreas distantes, as crianças precisam mudarblack jack ao vivoescola, a mãe fica mais longe do trabalho, e se rompem vínculosblack jack ao vivoanos com o território."

Outra solução recomendada pelo IPT é "capacitar e engajar os moradores como parceiros, para que eles saibam identificar os riscos e possam informar a Defesa Civil quando a situação piora, quando começa a chover muito forte na região", explica Corsi.

técnicosblack jack ao vivofrente a moradias

Crédito, Vitor Serrano/BBC

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O morro do Itaquari deve passar por obrasblack jack ao vivourbanização da Prefeiturablack jack ao vivoItapevi

vista do morroblack jack ao vivofrente

Crédito, Vitor Serrano/BBC

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O morro do Itaquari foi ocupadoblack jack ao vivomaior número por voltablack jack ao vivo2011

Os fatoresblack jack ao vivorisco que os 'caçadores' buscam

Na parteblack jack ao vivocima do morro do Itaquari, Corsi mostrou a “fichablack jack ao vivocampo” que ela e outros dois geólogos - Lucas Henrique Sandre e Larissa Mozer Blaudt - tiveramblack jack ao vivopreencher para classificar os pontos da ocupação.

Em um ponto da comunidade, Blaudt identifica um cano que despeja esgoto diretamente na terra.

“Toda essa água vai para a encosta. Isso é um complicador, porque ela se infiltra e deixa o solo mais úmido”, diz a geóloga, fotografando a tubulação.

Os técnicos precisam observar, por exemplo, se no morro há áreas com erosões, fossas, água acumulada, vazamentos nas tubulações, postes inclinados, entre outros itens. Quanto mais dessas marcas, maiores os riscosblack jack ao vivodeslizamento.

Corsi explica como identificar as chamadas “cicatrizes”, que são “rachaduras na terra, escombrosblack jack ao vivocasas, árvores inclinadas, trincas nas moradias, tudo que demonstre evidênciasblack jack ao vivomovimentação da terra.”

De fato, na beirablack jack ao vivoum barranco do Itaquari existem algumas cicatrizes visíveis: um troncoblack jack ao vivoárvores totalmente torto, vegetação morta amontoada embaixo, grandes rachaduras na terra e restosblack jack ao vivocasas derrubadas.

Segundo moradores, um bebêblack jack ao vivotrês meses morreu soterrado quando uma parte do morro desaboublack jack ao vivocima da casa onde ele estava, há dois anos.

Depois, as moradias próximas dessa áreablack jack ao vivorisco “muito alto” foram derrubadas pela Prefeitura a pedido da Justiça.

Outra característica observada pelos geólogos são os chamados “taludes”, uma área inclinada que sustenta o solo - ela pode ser natural ou mesmo construída como um muro.

Segundo os técnicos, o risco é maior se a moradia está próximablack jack ao vivoum talude com perigoblack jack ao vivoceder. A textura da terra também é um indicativo importante, segundo Corsi.

“Se pega a terra na mão e consegue fazer um rolinho, ela está muito úmida e pode se movimentar. Se ela se esfarela quando você aperta, é porque está seca.”

Alessandra mostando rachadura na terra

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Rachadura na terra é um das 'cicatrizes' que apontam para riscoblack jack ao vivodeslizamento

Rotinablack jack ao vivorisco e medoblack jack ao vivomeio a novas ocupações

O IPT, fundadoblack jack ao vivo1899, é uma empresa vinculada ao governoblack jack ao vivoSão Paulo, embora apenas 30%black jack ao vivoseu orçamento saia dos cofres públicos - o restante é arrecadado com a vendablack jack ao vivoserviços e projetos desenvolvidos emblack jack ao vivosede, no campus da Universidadeblack jack ao vivoSão Paulo (USP).

Normalmente, o IPT realiza o trabalhoblack jack ao vivoanáliseblack jack ao vivoriscoblack jack ao vivocidades da região metropolitana e do interiorblack jack ao vivoSão Paulo, porque a prefeitura da capital tem uma equipe própriablack jack ao vivogeólogos.

Neste ano, o instituto foi contratado pela Prefeiturablack jack ao vivoItapevi para mapear o morro do Itaquari.

Segundo a gestão municipal, a ideia é regularizar a área e, depois, fazer obrasblack jack ao vivourbanização e contenção dos riscos.

Itapevi é uma das 39 cidades da Grande São Paulo e faz parteblack jack ao vivouma região conhecida como “marblack jack ao vivomorros”, ao norte e oeste da capital.

Parte dos municípios dali passou por um boom habitacional nas últimas décadas, com milharesblack jack ao vivofamílias pobres indo viverblack jack ao vivoáreasblack jack ao vivorisco.

A populaçãoblack jack ao vivoItapevi cresceu 356% nas últimas quatro décadas, chegando a 248 mil habitantesblack jack ao vivo2023, segundo a Fundação Seade.

Manoela Santana,black jack ao vivo30 anos, seu companheiro, o vendedor Caio Leite

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Manoela Santana e Caio Leite chegaramblack jack ao vivo2021 e estão construindo um sobrado

Morro

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Prefeiturablack jack ao vivoItapevi pretende regularizar área do morro

Uma dessas famílias é formada pela enfermeira Manoela Santana,black jack ao vivo30 anos, seu companheiro, o vendedor Caio Leite, 34, e dois filhos pequenos.

Sem conseguir pagar o aluguel, o casal ficou sabendoblack jack ao vivoum lote vazio no morro do Itaquari,black jack ao vivo2021. Ocupou.

Eles começaram com um pequeno barracoblack jack ao vivomadeira que "mal cabia a cama", segundo Manoela.

Hoje, estão construindo o segundo andarblack jack ao vivoum sobrado no alto do morro, bem ao ladoblack jack ao vivouma áreablack jack ao vivomata ainda preservada. “A gente mora dentro da obra”, diz Caio.

“Sempre tem o risco e o medo, mas a gente sonha e constrói devagarinho. Vai ter até piscina ali na frente”, diz Manoela, que se formou na faculdade recentemente e melhoroublack jack ao vivorenda a pontoblack jack ao vivoconseguir investir na casa.

Para os geólogos do IPT, a área onde está o sobrado do casal precisa ser monitorada: é grau R2.

Poucos metros à frente, uma fileirablack jack ao vivonovos barracosblack jack ao vivomadeira ocupam lotesblack jack ao vivoum ponto desmatado recentemente. As moradias estão bem pertoblack jack ao vivooutro barranco com cicatrizes. Ali, a situação é pior: risco alto, R3.

Eventos climáticos extremos

Os técnicos do IPT também atuam quando a área passou do risco a lugarblack jack ao vivotragédia.

Quando há soterramentosblack jack ao vivocasas e pessoas, a equipeblack jack ao vivogeólogos vai até o local para analisar a situação e indicar - até para as equipesblack jack ao vivoresgate - se há perigoblack jack ao vivonovos deslizamentos e os pontos que precisam ser isolados.

Foi o que aconteceublack jack ao vivofevereiro deste ano, quando pelo menos 65 pessoas morreram no litoral norteblack jack ao vivoSão Paulo durante um temporal que foi classificado como o maior já registrado na história do Brasil.

Em 24 horas daquele 19black jack ao vivofevereiro, choveu 683 milímetrosblack jack ao vivoágua sobre a regiãoblack jack ao vivoBertioga e São Sebastião, segundo o Centro Nacionalblack jack ao vivoMonitoramento e Alertasblack jack ao vivoDesastres Naturais (Cemaden) e o Instituto Nacionalblack jack ao vivoMeteorologia (Inmet).

A geóloga do IPT Larissa Mozer Blaudt,black jack ao vivo26 anos, tem uma história pessoal com tragédias assim.

A casa onde ela vivia foi soterradablack jack ao vivoPetrópolis (RJ),black jack ao vivofevereiroblack jack ao vivo2022, quando 241 pessoas morreramblack jack ao vivodeslizamentos após um volumeblack jack ao vivochuva muito acima do normal.

“Tinha acabadoblack jack ao vivome formar e trabalhava na Defesa Civil do município. Decidi morar na áreablack jack ao vivopesquisa, pagando aluguel. Não estavablack jack ao vivocasa no momento, foi minha sorte", conta Blaudt, que se mudou para São Paulo neste ano.

"Precisei deixar tudo e trabalhar na tragédia, morandoblack jack ao vivohotel. Fiquei seis meses trabalhando direto, foi um aprendizado muito grande, não imaginava que enfrentaria tudo isso no primeiro anoblack jack ao vivocarreira.”

Tempestades como estas estão sendo chamados por ambientalistasblack jack ao vivo“eventos extremos” e são apontados como uma das consequências das mudanças climáticas.

Enquanto descia outra escada do morro, Alessandra Corsi explicou que as análisesblack jack ao vivorisco no Brasil ainda não consideram esses eventos, mas isso deve mudarblack jack ao vivobreve.

“Me perguntam por que já não coloco ‘mudanças climáticas’ no relatório? Se eu fizer isso, vou pintar a cidade todablack jack ao vivovermelho”, diz.

"Primeiro, as prefeituras precisam resolver os problemas das chuvas normais e, depois, incorporar os eventos extremos, que vão precisarblack jack ao vivooutros tiposblack jack ao vivoobras e recursos."

Neste mês, geólogos do Brasil inteiro vão se reunir no Ministério das Cidades para discutir possíveis mudanças nas avaliaçõesblack jack ao vivorisco e tambémblack jack ao vivopolíticas públicas que possam diminuir as consequências desses eventos.

Lucas e Larissa andando no morro

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Lucas e Larissa veem uma missão para os geólogos do IPT: 'salvar vidas'

Larissa, Lucas, e Alessandra

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Os três geólogos se dizem preocupados com a ocorrênciablack jack ao vivo'eventos extremos'

Os geólogos que atuam nos morros, no entanto, já estão preocupados com os próximos meses.

No verão, os profissionais do IPT trabalhamblack jack ao vivoregimeblack jack ao vivoplantão no Plano Preventivoblack jack ao vivoDefesa Civil (PPDC),black jack ao vivoparceria com outros órgãos estatais.

Ou seja,black jack ao vivocasoblack jack ao vivoescorregamentos, os geólogos são chamados e precisam se deslocar para qualquer pontoblack jack ao vivoSão Paulo emergencialmente.

Com 20 anosblack jack ao vivoIPT, Corsi já passou por vários desses plantões, mas diz que a experiência não diminuiblack jack ao vivoansiedade nessa época do ano.

"Não durmo bem, fico mais tensa. A gente lembra até das áreas que visitou no ano. E, com os últimos eventos, a preocupação aumentou muito”, diz.

Esse será o primeiro plantãoblack jack ao vivoLucas Henrique Sandre,black jack ao vivo29 anos, que começou como estagiário do instituto e, hoje, faz parte da equipeblack jack ao vivogeólogos.

“Nesse períodoblack jack ao vivochuvas, a gente já fica ansioso esperando a notíciablack jack ao vivoalgum deslizamento com morte”, diz ele, que alimenta o bancoblack jack ao vivodados do IPT sobre vítimasblack jack ao vivoescorregamentos no Brasil.

Para ele, os geólogos que prestam esse serviço cumprem uma missão: “Entendo nosso papel como parte do processo, não vamos resolver tudo sozinhos, mas,black jack ao vivomaneira prática, muitas vezes nós salvamos a vida das pessoas”.