'Dark offices': os trabalhadores que têm que usar guarda-móveis como escritório:bet355 bet
Grandes empresasbet355 betself storage costumam oferecer estrutura que facilita essas atividades, como wi-fi, acesso por senha ou digital, câmerasbet355 betsegurança, elevadores para carga, empilhadeiras, carrinhos e docas para a colocaçãobet355 betprodutosbet355 betcaminhões.
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Mas alguns especialistasbet355 betdireito do trabalho criticam o uso desses ambientes — que foram feitos para armazenamento — como escritórios (leia mais no final desta reportagem).
Bruna*,bet355 bet28 anos, trabalha há um ano e meiobet355 betum storage na região metropolitanabet355 betSão Paulo. Ela é analistabet355 betalmoxarifadobet355 betuma loja virtual.
Embora ela goste do seu trabalho, não gosta do ambiente dele.
"Na teoria, o self storage é feito apenas para o armazenamentobet355 betcoisas e produtos, e não para se ter pessoas trabalhando dentro do box", diz Bruna, que trabalha com outras pessoas dentrobet355 betum box sem refrigeração.
"Não tem janela, o que já é horroroso. Você não vê a luz do dia. É uma grande tendência, mas trabalharbet355 betstorage é insalubre."
Já Otávio*, 21 anos, surpreendeu-se positivamente quando começou a trabalharbet355 betum storage. Ele, que era atendentebet355 betuma loja física e estava acostumado com o contato diário com clientes, foi comunicado porbet355 betchefia que trabalharia por alguns meses dentrobet355 betum box, no intervalo da mudançabet355 betuma loja física para outra.
Ele já está trabalhando há três mesesbet355 betum box. Em algumas semanas, vaibet355 betsegunda a sexta para lá,bet355 betoutras, dia sim dia não — depende do volume e dos horários que chegam as compras pela internet, ondebet355 betempresa vende produtos cosméticos.
Sua rotina envolve gerar notas das vendas e entregar os pacotes para a transportadora, que coleta os produtos ali mesmo. Ele trabalha todo o expediente no box, e nos intervalos descansa e mexe no celularbet355 betuma áreabet355 betconvivência do storage que tem sofás e tomadas.
"No antigo local, todos os dias tinha uma troca. Você nem precisava conhecer a pessoa, mas sóbet355 betela dar 'bom dia', já é uma troca. Aí você vem para um lugar onde não tem tanto convívio com clientes, com pessoasbet355 betmodo geral, eu estranhei", desabafa o jovem.
"É um pouco estranho, masbet355 betcerta forma é legal também, entendeu? São experiências que a vida nos dá. [O lado legalbet355 bettrabalhar aqui] Seria basicamente ter um tempo para mim mesmo, colocar os pensamentosbet355 betdia. A estrutura é muito boa", diz Otávio, que trabalha sozinhobet355 betum box que tem uma pequena janela e um microondas.
Empresas do setor apoiam uso como escritório
"Escritório no Self Storage? Dá certo sim", diz o títulobet355 betum texto no site da Good Storage, uma das maiores empresasbet355 betself storage do país e que tem maisbet355 bet20 unidades no Estadobet355 betSão Paulo, principalmente na capital paulista.
Segundo o texto, alugar um box é um "excelente custo-benefício para quem deseja ter um local para receber clientes ou, até mesmo, trabalharbet355 betforma privativa e tranquila".
Entre as vantagens deste uso enumeradas pela Good Storage estão o wi-fi gratuito, vagas para visitantes, além da segurança e da localizaçãobet355 bet"excelentes endereços da cidadebet355 betSão Paulo".
Várias unidades da rede têm áreas comuns com mesas para trabalho e cafébet355 betcortesia.
A Good Storage começou também a inaugurar espaços exclusivamente empresariais, com galpões que podem ser usados como locaisbet355 betarmazenamento e centrosbet355 betdistribuição, por exemplo.
O Guarde Aqui, outra grande empresa do setor, com 25 unidadesbet355 betvários Estados, afirmou por meio da assessoriabet355 betimprensa que apoia e permite o usobet355 betseus boxes como ambientebet355 bettrabalho. Para isso, diz oferecer estaçõesbet355 bettrabalho com computadores e acesso à internet, alémbet355 betambiente para refeições.
"Há alguns anos, a grande maioria do nosso público era pessoa física. Hoje, pessoas jurídicas já representam 40% da nossa basebet355 betclientes", afirma Mariane Wiederkehr, CEO (diretora executiva) do Guarde Aqui.
"Um dos principais motivos é o fortalecimento do e-commerce [comércio eletrônico]. Essas empresas, principalmente do varejo digital, buscam no self storage mais que armazenagembet355 betestoque, elas precisambet355 betum centrobet355 betdistribuição próprio que conceituamos como dark stores ["lojas escuras"], espaços onde são realizados os processosbet355 betarmazenagem, separação, embalagem e despacho desses produtos vendidos online."
A Guarde Mais — que, segundo seu CEO, Alberto Neto, é a maior redebet355 betstorage do Brasil, com 90 unidades — também afirmou permitir e apoiar o usobet355 betboxes para trabalho.
"Até uma fábricabet355 betaviamento têxtil temos instalada dentrobet355 betum dos nossos boxes", diz Neto.
Mirando no setor empresarial, a Guarde Mais está construindo um hotel logístico no Riobet355 betJaneiro (RJ) que terá self storage, estúdios para gravaçãobet355 betpodcasts, áreas para armazenagem e estrutura para dark pharmacy ("farmácia escura", para distribuiçãobet355 betitensbet355 betfarmácia vendidos online).
Embora empresasbet355 betstorage estejam inaugurando espaços dedicados a empresas ou ofereçam áreas comuns para os trabalhadores, o que a BBC News Brasil observou é que muitos destes continuam trabalhando, parcial ou totalmente, dentro dos boxes comuns — aquelesbet355 betque uma pessoa física pode guardar móveis ou um empregador decide alocar seus funcionários.
Segundo um relatório da Associação Brasileirabet355 betSelf Storage (Asbrass) relativo ao primeiro trimestre desse ano, o preço médio do m²bet355 betespaçosbet355 betstorages no Brasil ébet355 betR$ 112. Já a locaçãobet355 betum imóvel comercial custa, na média (considerando as 10 cidades brasileiras monitoradas), R$ 41,51,bet355 betacordo com o Índice FipeZAP+bet355 betjulho.
Mas o presidente da Asbrass, Rafael Cohen, aponta que, além do preço do m², é preciso considerar que o aluguelbet355 betum espaço comercial convencional costuma incluir outros custos, como condomínio, segurança, seguro, entre outros, alémbet355 betexigências como fiador e contratos longos.
"Nesse preço do self storage, já está tudo incluídobet355 betum único ticket", diz Cohen, ele mesmo proprietáriobet355 betuma empresabet355 betself storage no Riobet355 betJaneiro (RJ), a Smartbox, que tem duas unidades.
O empresário também destaca que os boxes pequenos puxam o preço médio para cima — e as empresas tendem a precisarbet355 betespaços maiores.
"O preço do box tem relação com o tamanho. Boxes pequenos têm preçosbet355 betmetro quadrado muito alto. À medida que esses boxes vão sendo maiores, os preços vão caindo", aponta.
"Aquele é um preço médio do Brasil, onde existe uma preponderânciabet355 betboxes pequenos."
Rodrigo Melo, proprietário da Thunderbolt, uma marcabet355 betbicicletas e patinetes elétricos, viu-se justamente diante da escolha entre alugar uma loja ou um box ao criarbet355 betempresabet355 bet2019, um pouco antes da pandemiabet355 betcoronavírus.
Hoje, suas vendas são online e ele aluga três boxes em uma unidadebet355 betstorage na capital paulista. Embora ele não tenha funcionários fixos e trabalhebet355 betcasa, que fica próxima ao storage, seu negócio demonstra a convergência entre o setorbet355 betstorage e o ramo das vendas online.
Os compartimentos são usados como estoque e, ocasionalmente, para ele ou um prestadorbet355 betserviço fazer revisões e consertosbet355 betbicicletas e patinetes. Ele também recebe clientes ali e usa corredores para fazer fotosbet355 betseus produtos.
"Eu não tinha essa visãobet355 better um negócio assim, eu ia montar uma loja, ia ser um negóciobet355 betrua. Aí veio a pandemia e ela meio que obrigou a enxugar a estrutura, porque não tinha fundamento ter uma lojabet355 betrua numa época que não tinha gente circulando. Então foi nessa época que eu comecei a estruturar a empresa aqui", conta Melo.
"Aqui no bairro,bet355 betuma loja você vai pagar R$ 8 mil, R$ 10 milbet355 betlocação. Enquanto aqui eu gasto R$ 2 mil, R$ 3 mil."
"O grande diferencial são os equipamentos. Você tem carrinhosbet355 betmão, a doca, então a empresa vem, retira e leva [os produtos]. Leva para o Brasil inteiro. O cliente pode vir aqui para o showroom e depois a gente vai para o coworking e negocia. Ele tem um ambiente seguro para fazer o pagamento, mexer com o banco."
"Não vou mudar mais, agora a minha ideia é expandir. A gente vai começar a ter franqueado, vai ser um box dessebet355 betcada Estado."
Advogados criticam uso como ambientebet355 bettrabalho
Nos quatro prédiosbet355 betstorage que a reportagem visitou na região metropolitanabet355 betSão Paulo — Estado onde o setor é mais forte —, observou-se que o usobet355 betboxes como ambientebet355 bettrabalho não é o que predomina, mas eles estavam sempre ali.
Alguns não têm janelas e,bet355 betalguns casos, nenhuma lâmpada, recorrendo apenas à luz dos corredores do estabelecimento. Outros têm pequenas janelas tipo basculantes.
Alguns box têm tomadas, outros não, dando margem à improvisação, com fios ligados a tomadas nos corredores. Não estava muito calor, mas os locais tampouco estavam frescos.
Por serem ambientes muito monitorados e controlados, a BBC News Brasil decidiu não captar nem reproduzir fotos desses ambientes, mas produziu ilustrações com base no que foi visto.
Rafael Cohen, da Asbrass, avalia que a pandemia impulsionou o uso dos boxes por empresas.
"A atividade [de self storage] inicialmente é muito voltada para pessoa física, e atualmente o público preponderante ainda é a pessoa física. Porém, com a pandemia, a gente teve uma aceleração muito forte no comércio eletrônico, e as empresas começaram a perceber que existem novas formasbet355 bettrabalhar."
Ele afirma que o uso pontual dos boxes para atividadesbet355 betempresas é o esperado, e não o uso permanente — mas,bet355 betúltima instância, cabe ao locatário do box decidir como usá-lo, diz. Cohen destaca que, diferente da interpretação errôneabet355 betmuitas pessoas, o negócio do self storage não é a prestaçãobet355 betserviço, e sim a locaçãobet355 betimóveis.
"Não é para permanência integral, não foi feito para isso, não é esse objetivo. Mas você usa o seu box como você quiser. Se você quiser ficar o dia inteiro dentro do seu box, você pode. Tem condiçõesbet355 betfazer isso", aponta o presidente da associação do setor.
"São lugares arejados. Embora sejam fechados, são saudáveis. Tem controlebet355 betumidade, tem temperatura adequada, porque também não posso guardar coisas num lugar muito quente. Tem controlebet355 betpraga, não vai ter barata, não vai ter rato, são locais salubres."
Mas dois advogados trabalhistas entrevistados pela BBC News Brasil foram enfáticos quanto ao que dizem ser inadequado o usobet355 betboxes como ambientebet355 bettrabalho.
"O guarda móvel, até pelo nome que se intitulou o serviço, é próprio para armazenar coisas, e não um localbet355 bettrabalho para pessoas", afirma o advogado Ricardo Calcini, professor do Insper e sócio do escritório Calcini Advogados.
"Isso leva ao fenômeno que a doutrina trabalhista já apelidoubet355 bet'coisificação do ser humano', permitindo que sindicatos e o próprio Ministério Público do Trabalho ingressem com ações judiciais para impedir a adoçãobet355 bettais práticas, podendo as empresas assumirem condenações milionárias."
"Certamente tais locais estãobet355 betdesacordo com a legislação trabalhista. "
Calcini aponta que a situação pode ser considerada irregular sob a norma regulamentadora nº 15 do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que aborda a inadequação do ambientebet355 bettrabalho. Segundo o advogado, isso traria, na Justiça, consequências como o pagamentobet355 betadicionalbet355 betinsalubridade, alémbet355 betdanos morais.
Especialistabet355 betdireito processual e material do trabalho pela Pontifícia Universidade Católicabet355 betSão Paulo (PUC-SP), o advogado Marcel Zangiácomo aponta também para possíveis violações ao artigo 175 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que exige iluminação natural ou artificial "uniformemente distribuída, geral e difusa, a fimbet355 betevitar ofuscamento, reflexos incômodos, sombras e contrastes excessivos".
Ele aponta também para o artigo 171, segundo o qual os locaisbet355 bettrabalho devem ter no mínimo 3 metrosbet355 betpé-direito, salvo se "atendidas as condiçõesbet355 betiluminação e conforto térmico compatíveis com a natureza do trabalho".
Mas, para Zangiácomo, os problemas não estão apenasbet355 betpontos específicos, como iluminação ou pé direito, mas no que chamabet355 bet"deturpação gigantesca" da finalidade desses espaços.
"Logicamente, é grave. Primeiro porque o fundamento, inclusive o objeto social do negócio dessas empresas [de storage], não é postobet355 bettrabalho, mas sim a guardabet355 betmateriais. Então não é um ambiente propício pro trabalho, com absoluta certeza", afirma o advogado, sócio do escritório Galvão Villani, Navarro, Zangiácomo e Bardella Advogados.
Outra gravidade, segundo o advogado, é a dificuldadebet355 betfiscalização, já que os storages não são locais óbviosbet355 bettrabalho como são, por exemplo, salas comerciais ou espaçosbet355 betcoworking (espaço compartilhadobet355 bettrabalho).
"Parece aquele famoso jeitinho brasileiro: 'Olha, eu já pago o aluguel desses locais, por que não fazer a minha empresa aqui?'", diz, simulando o pensamentobet355 betum empresário ou uma empresária que decide ter funcionários nos box.
Zangiácomo avalia que tanto as empresas que têm funcionários trabalhando nesses espaços alugados quanto as próprias empresasbet355 betstorage que são locatárias podem ser alvobet355 betações trabalhistas na Justiça, eventualmente acusadas pelo MTE, pelo Ministério Público, por empregados ou sindicatos
Sobre as empresasbet355 betstorage, o advogado diz: "A responsabilidade dessas empresa existe. Quando elas agem com culpa — ou seja, atravésbet355 betnegligência, omissão ou imprudência —, elas podem ser responsabilizadas."
Para ele, essas empresas estão sendo "no mínimo imprudentes".
A reportagem pediu posicionamento sobre como empresas do setor que tenham no mínimo 20 unidades lidam com as acusaçõesbet355 betinsalubridade.
Em nota, a Good Storage afirmou que "atua como locadora e gestora das áreas comuns, não interferindo e se responsabilizando pelas atividades dentro dos espaços."
"Trata-sebet355 betuma relaçãobet355 betcunho locatício, seguindo as mesmas regras praticadas pelo mercado imobiliário. O que se encontrabet355 betabsoluta consonância com as regras jurídicas do Direito Brasileiro", afirmou a assessoriabet355 betimprensa.
Já o Guarde Aqui afirmou: "A empresa não incentiva os clientes a trabalharem full time [em tempo integral] dentro dos boxes. Oferecemos fora dos boxes uma estrutura completa para quem quer trabalhar, com salas com ar condicionado, mesas, wifi, banheiros e refeitório para todos os clientes."
Por fim, Alberto Neto, da Guarde Mais, garantiu que todos os compartimentos usados para trabalho são adaptados para isso.
"Eles são preparados com total infraestrutura: elétrica, climatização, detectorbet355 betpresença e fumaça, pallets e qualquer outra demanda que possa ser solicitada pelo cliente."
Setorbet355 betexpansão
O relatório da Asbrass relativo ao primeiro trimestrebet355 bet2023 mostra uma expansão do setorbet355 betself storage,bet355 bettrimestre a trimestre desde o iníciobet355 bet2022, em númerobet355 betboxes, operações (que são unidades, como um prédio cheiobet355 betboxes) e empresas.
Na comparação do primeiro trimestrebet355 bet2022 com o mesmo períodobet355 bet2023, a vacância diminuiu 3,4% (de 17,5% para 16,9%).
Rafael Cohen, presidente da associação, prevê que o setor ainda crescerá muito no Brasil.
"É um mercado que tem um futuro muito grande pela frente. A gente se compara sempre aos Estados Unidos, que é a Meca desse negócio. Eles têm maisbet355 bet60 mil locaisbet355 betself storage, a gente tem 500."
Das operações existentes no país (um totalbet355 bet542), 42% começaram a funcionar até 2015, 36,3% entre 2016 e 2019 e 21,8% depoisbet355 bet2019.
"Os imóveis estão ficando cada vez menores, as cidades estão ficando cada vez mais densas e as pessoas estão cada vez acumulando mais. Tudo isso faz com que o setor seja conhecido lá [nos EUA] como um setor à provabet355 betcrise: quando está tudo bombando, as pessoas compram mais e guardam; e quando está ruim, as empresas se desmobilizam para guardar equipamentos, guardar seus móveis, guardar seus documentos, porque fecham [seus escritórios]", diz Cohen.
O Estadobet355 betSão Paulo lidera no setor, concentrando 28,7% das empresas e 41% das operaçõesbet355 betself storage no país.
Considerando as operações nas regiões brasileiras, 2% estão no Norte, 10% no Centro-Oeste, 18% no Sul, 12% no Nordeste e 57% no Sudeste.
*Alguns nomes foram trocados para proteger a identidade dos entrevistados, cujos locaisbet355 bettrabalho também foram ocultados.