Como a fome pode distorcermega sena2544mente:mega sena2544

Donutsmega sena2544balcão

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Pesquisas estão mostrando que o jejum afeta negativamente nossas emoções e decisões a curto prazo

Na verdade, pesquisas estão começando a mostrar que o jejum pode afetar negativamente tudo, desde as nossas emoções até a nossa cognição e capacidademega sena2544julgamento, pelo menos a curto prazo.

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E, como descrevemos no nosso livro recente sobre os fatores internos e externos que influenciam a forma como pensamos, todas essas coisas afetam,mega sena2544última análise, a forma como refletimos e tomamos decisões.

Esse é um problema muito mais profundo do que fazer dieta. Num mundo onde muitas pessoas lutam para se alimentar, vale a pena lembrar que a fome pode aumentar a desigualdade.

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Um estudo, por exemplo, descobriu que o fornecimentomega sena2544merenda escolarmega sena2544escolas indianas melhorou o desempenho cognitivo dos alunosmega sena254413% a 16%.

Sem nutrientes e calorias suficientes, não émega sena2544se surpreender que o nosso cérebro tenha dificuldades para se desenvolver e funcionar adequadamente. Masmega sena2544que outras formas o que comemos também afeta a forma como pensamos?

As emoções têm uma influência profunda nos nossos pensamentos — especialmente quando não as compreendemos ou reconhecemosmega sena2544verdade. Isso porque é mais fácil regular nossas emoções quando temos consciênciamega sena2544onde elas vêm e como influenciam nossa cabeça e nossa tomadamega sena2544decisões.

O mau humor muitas vezes nos torna mais pessimistas. Por exemplo, se você não está totalmente cientemega sena2544como está preocupado com um exame médico que farámega sena2544breve, as pesquisas mostram que você ficará mais avesso ao risco ao tomar decisões financeiras.

Da mesma forma, se você estiver tentando vender um casaco na internet após assistir a um filme triste, provavelmente o venderá por um preço mais baixo.

Mulher olhando para dentromega sena2544geladeira, cujas prateleiras estão vazias

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Você já deve ter experimentado aquela irritação que vem quando estamos com fome

Mas o que isso tem a ver com a nossa alimentação (ou a falta dela)?

Bem, a fome parece ser um condutor importantemega sena2544emoções negativas e do mau humor.

Em um estudomega sena25442022, a psicóloga Nienke Jonker e colegas da Universidademega sena2544Groningen, na Holanda, fizeram perguntas a 129 mulheres — cercamega sena2544metade das quais fizeram jejum por 14 horas — sobre o seu nívelmega sena2544fome, hábitos alimentares e humor.

A equipe descobriu que as mulheres famintas relatavam mais emoções negativas, incluindo maior tensão, raiva, depressão, fadiga e confusão. Elas também relataram sentir menos emoções positivas, como vigor.

“Não foram efeitos pequenos”, diz Jonker.

Na verdade, as mulheres famintas relataram,mega sena2544média, sentirem duas vezes mais raiva do que aquelas que não estavam com fome.

O mau humor pode mudar radicalmente a forma como interpretamos o mundo, levando a erros na interpretação do que nos rodeia. Tudo pode parecer mais simplista, comomega sena2544preto e branco, afastando as tão importantes nuances.

Quando nos sentimos para baixo, também focamos mais nos detalhes negativos do que nos positivos, aumentando a tendênciamega sena2544nos sentir mal conosco e com os outros.

Em uma outra sériemega sena2544experimentos, Kristen Lindquist, psicóloga e neurocientista da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA, e colegas descobriram que a fome aumenta a tendência das pessoas serem manipuladas por emoções negativas.

Eles mostraram a 218 trabalhadores — alguns dos quais estavam com fome — imagens neutras, positivas e negativas. Depois, mostraram uma imagem mais ambígua, um pictograma chinês, e pediram que os participantes usassemmega sena2544intuição para determinar se esta era positiva ou negativa.

Aqueles a quem foi mostrada primeiro uma imagem negativa eram mais propensos a classificar o pictograma como negativo, mesmo tendo sido instruídos a não serem influenciados pelas imagens anteriores.

E sim, os participantes que disseram estar com fome antesmega sena2544fazer o teste tinham ainda mais propensão a interpretar o pictograma negativamente.

No entanto, a fome não apenas nos faz sentir pessimistas e deprimidos. Ela também pode nos tornar mais impulsivos e punitivos. Um famoso estudomega sena25442011 com juízesmega sena2544Israel parece mostrar o quanto a fome influencia a nossa tomadamega sena2544decisão.

Ele descobriu que os juízes eram mais tolerantes no início do dia e logo após o almoçomega sena2544comparação com antes do almoço ou no final do dia.

Embora o estudo tenha sido criticado — os resultados poderiam ter a ver com outros fatores, como o ordenamento dos casos, e não com a fomemega sena2544si —, há sustentação científica para a afirmaçãomega sena2544que somos mais punitivos quando não comemos.

De acordo com Lindquist, é difícil determinar a causalidademega sena2544estudos realizadosmega sena2544situações do mundo real, como durante audiências e julgamentos.

Há sempre explicações alternativas e possíveis. Mas,mega sena2544alguns estudos, você pode controlar as condiçõesmega sena2544laboratório.

Para testar se as pessoas realmente eram mais duras com as outras quando estavam com fome, Lindquist convidou 236 pessoas para seu laboratório. Cercamega sena2544metade estavamega sena2544jejum por pelo menos cinco horas, enquanto a outra metade havia comido um pouco antes.

Os participantes foram instruídos a fazer uma tarefa entediante com formas geométricasmega sena2544um computador, antes que ele travasse repentinamente — forçando-os a começar tudomega sena2544novo.

Examesmega sena2544imagem do cérebro

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Estudos mostram que a atenção e a flexibilidade cognitiva são particularmente afetadas no jejum

No final dessa tarefa frustrante, os participantes puderam avaliar o cientista que conduziu o experimento — na verdade, uma oportunidademega sena2544deixar um comentário passivo-agressivo.

“As pessoas que estavam com fome, especialmente aquelas que não estavam cientes das suas emoções ou não se concentravam no seu estado interno, eram mais propensas a classificar o cientista como alguém que julga demais [uma avaliação que a equipe considerou punitiva]", conta Lindquist.

As razões exatas pelas quais a fome nos faz sentir e nos comportar assim são complexas. Pode ser devido a uma deficiência no autocontrole que surge quando os níveismega sena2544glicose no sangue são esgotados pelo jejum.

Essa hipótese sugere que todos somos propensos a pensamentos negativos sobre o mundo, mas que podemos regulá-los — até que a fome destrua essa nossa capacidade.

Essa interpretação já recebeu críticas, entretanto, e outras hipóteses estão se tornando mais populares.

Lindquist, por exemplo, acredita que a irritação quando se sente fome é, na verdade, apenas uma interpretação errôneamega sena2544um estado fisiológico, tomado como se fosse um estado emocional.

Isso é apoiado pela descobertamega sena2544Lindquistmega sena2544que pessoas famintas que não estão conscientesmega sena2544suas emoções são mais propensas a interpretá-las mal e, como resultado, acabam mais irritadas e punitivas.

“As sensações geradas no corpo quando você está com fome intensificam o que você está vivenciando naquele contexto”, explica Lindquist.

"Talvez você normalmente não ficaria nem um pouco irritado com um olharmega sena2544desprezomega sena2544seu colegamega sena2544trabalho, mas quando está com fome, você acha que aquilo foi horrível."

Essa interpretação pode ser uma viradamega sena2544jogo para pessoas que fazem dieta.

Se os aspectos mentais negativos da sensaçãomega sena2544fome são causados por uma interpretação erradamega sena2544uma sensação física, talvez pudéssemos aprender a reinterpretar essa sensação física.

Isso poderia funcionarmega sena2544maneira semelhante à terapia cognitivo-comportamental (TCC), ajudando-nos a reformular nossos pensamentos e sentimentos.

Hamburguer

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A psicóloga Kristen Lindquist acredita que a irritação quando se sente fome é, na verdade, apenas uma interpretação errôneamega sena2544um estado fisiológico, tomado como se fosse um estado emocional

O estudomega sena2544Jonker com as mulheres esfomeadas parece apoiar isso. Ela descobriu que mulheres com sintomasmega sena2544distúrbios alimentares tinham sentimentos mais positivos quando estavam com fome do que as mulheres sem tais sintomas.

Embora os transtornos alimentares sejam condições complexas envolvendo a saúde mental, os resultados sugerem que essas mulheres mudaram a associação “normal” da fome como uma experiência negativa.

Embora essa reformulação mental seja altamente contraproducente e perigosa quando você está lutando contra um transtorno alimentar, Jonker está procurando maneirasmega sena2544usá-lamega sena2544maneira mais positiva.

Existem razões evolutivas pelas quais podemos interpretar a fome como algo profundamente desagradável. Afinal, quando estamos com poucos nutrientes, nossos cérebros precisam que ajamos,mega sena2544vezmega sena2544ficarmos sentados, satisfeitos, com os pés para o alto.

“Do pontomega sena2544vista evolutivo, faz sentido que a fome seja acompanhada pelo impulsomega sena2544sair à procuramega sena2544coisas", analisa Lindquist.

Um estudo da Universidademega sena2544Dundee, no Reino Unido, mostrou que as pessoas tornam-se cada vez mais influenciáveismega sena2544relação ao presente quando têm fome.

Os pesquisadores ofereceram aos participantes do experimento uma recompensa imediatamega sena254420 libras (cercamega sena2544R$ 120)mega sena2544dinheiro ou 20 downloadsmega sena2544músicas — ou o dobro desse valor no futuro.

Se os participantes não estivessem com fome, eles estavam dispostos a esperar pacientemente 90 ou 20 dias, respectivamente, por uma recompensa maior. Mas entre os participantes famintos, esses números diminuíram para 40 e 12 dias, respectivamente.

E isso faz sentido considerando a possibilidade da fome ser um estímulo para agirmos agora,mega sena2544vezmega sena2544planejarmos um futuro mais distante.

A restrição alimentar também afeta a cogniçãomega sena2544forma mais direta. Uma revisãomega sena2544pesquisas que investigaram os efeitos do jejum na cognição mostrou que a atenção e a flexibilidade cognitiva (a capacidademega sena2544alternar entre diferentes tarefas) são particularmente afetadas.

A maioriamega sena2544nós sabe como é ter a atenção capturada pelo desejomega sena2544um bolomega sena2544chocolate cremoso oumega sena2544batatas fritas quentes e crocantes quando estamos com fome.

As pesquisas mostram que isso aumenta a nossa atenção aos sinais relacionados à comida — mais uma vez, uma pistamega sena2544que o objetivo da sensação fisiológica da fome é fazer-nos buscar comida.

Mas, para uma boa parte da população mundial, não é difícil obter alimentos. Portanto, ser distraído pela fome nem sempre é tão útil, o que pode trazer mais desvantagens do que vantagens.

Jan Rummel, psicólogo cognitivo da Universidademega sena2544Heidelberg, na Alemanha, e colegas testaram se a fome torna as pessoas mais propensas a divagações mentais intrusivas, como fantasiar sobre comida.

“Normalmente, se uma pessoa está divagando, o desempenho na tarefa que está realizando diminui”, explica ele, acrescentando que esse efeito só se aplica quando a tarefa é suficientemente complexa, como a leitura.

"Se estivermos passando roupa ou algo assim, acho que podemos deixar nossas mentes divagarem e isso não afetará o desempenho da tarefa, porque ela é bastante simples."

Ele se propôs a testar até que ponto as pessoas com fome são afetadas pela divagação mentalmega sena2544uma tarefa complexa – a leituramega sena254427 páginas do romance épico Guerra e Paz, seguidamega sena2544um testemega sena2544compreensão.

Eles foram questionados se suas mentes estavam divagando e,mega sena2544caso afirmativo, no que estavam pensando. No teste, 39 pessoas foram instruídas a comparecer ao laboratório sem comer por cinco horas, enquanto 91 foram orientadas a chegar saciadas. Nesse último grupo, 46 pessoas ouviram a gravaçãomega sena2544uma história erótica para ver se isso aumentava a divagação mental.

Os pesquisadores descobriram que quanto mais a mente das pessoas divagava, pior era seu desempenho na tarefa. E o grupo faminto era o mais propenso a divagar — esses indivíduos fizeram isso 10% mais do que os outros dois grupos, e pensavam principalmentemega sena2544comida.

Estar com fome, o estudo sugere, parece nos afetar ainda mais do que sexo.

Mulhermega sena2544frente a prateleiramega sena2544supermercado

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Por conta dos efeitos da fome no cérebro, é inteligente planejar uma listamega sena2544compras antesmega sena2544ir ao mercado

Mas isso pode não se dever apenas à faltamega sena2544atenção. A fome também parece reduzir a flexibilidade cognitiva, o que é extremamente importante durante qualquer tipomega sena2544tarefa, incluindo a compreensão da leitura.

Essa função executiva, que ajuda no pensamento complexo (mas é distinta do QI, o quocientemega sena2544inteligência), permite-nos mudar facilmentemega sena2544perspectiva e abandonar estratégias que já não funcionam,mega sena2544favormega sena2544outras melhores.

John Parkinson, psicólogo da Universidademega sena2544Bangor, no Reino Unido, demonstrou que pessoas famintas que se distraem pensandomega sena2544comida têm maior probabilidademega sena2544cometer erros numa tarefa que mede a flexibilidade cognitiva.

“O paralelo aqui é com a literatura sobre medo e ansiedade”, explica John Parkinson. “Se eu colocar vocêmega sena2544um estadomega sena2544ansiedade, mostrando uma imagemmega sena2544cobras ou algo assim, você na verdade estreitará seu foco cognitivo. Então, você reduzirámega sena2544flexibilidade cognitiva e realmente se concentrarámega sena2544como se livrar da cobra."

Da mesma forma, nosso pensamento pode ficar significativamente prejudicado quando estamos famintos e tentando nos livrar dessa sensação.

Se você está tentando resolver problemas nesses momentos, “pode escolher soluções mais simples e imediatasmega sena2544vezmega sena2544soluções complexas emega sena2544longo prazo”, diz o psicólogo.

A flexibilidade cognitiva também é necessária para decisões simples, como o que comer. Se estamosmega sena2544dieta, por exemplo, precisamos ser flexíveis para combater a vontade intensamega sena2544comer alimentos gordurosos e carregadosmega sena2544carboidratos.

Mas se formos às compras quando estamos com fome e, portanto, mentalmente rígidos, acrescenta Parkinson, “simplesmente compramos um montemega sena2544porcaria”.

A fome é um sinal poderoso porque,mega sena2544última análise, nos ajuda a sobreviver. Mas, como resultado, pode interferir profundamente no nosso pensamento.

Quando estamos com fome, provavelmente teremos dificuldades com tarefas cognitivas complexas, com nuances e com a concentração — e optaremos por usar nosso pensamentomega sena2544forma mais simples, muitas vezes sendo submetidos a influências e preconceitos.

Ser irritável, impulsivo, punitivo e preso ao presente — especialmente quando não percebemos que esses sentimentos se devem simplesmente à fome — irá confundir ainda mais as nossas mentes.

Mas estar ciente disso pode ser extremamente útil. Na próxima vez que você estiver com raiva ou chateado, por exemplo, pode ser útil perguntar a si mesmo se você pode estar com... fome.

Se você entendermega sena2544onde vêm suas emoções, será menos provável que seja manipulado por elas.

E se você tiver uma tarefa importante pela frente — seja escrever um relatório no trabalho, tomar uma decisãomega sena2544investimento ou discutir o relacionamento —, garanta que esteja com a barriga cheia. Entretanto, é bom evitar comer demais, pois a compulsão alimentar também pode afetar a função cognitiva.

Outra solução simples para aqueles que lutam para fazer boas escolhas alimentares é planejar o que comer, tomando decisões antes que a fome e os seus muitos impactos no nosso pensamento se instalem.

Isso pode ser aplicado, por exemplo, ao escrever uma lista antesmega sena2544ir às compras.

Em última instância, você pode considerar o preço emocional e cognitivo da perdamega sena2544peso ao embarcarmega sena2544uma dieta que restringirá severamente a ingestãomega sena2544calorias – especialmente se você já tiver um peso saudável.

*Miriam Frankel e Matt Warren são jornalistas científicos e autores do livro Are You Thinking Clearly?