'A indústria virou pó': como agro e mineração já superam manufatura no Brasil:50 bet

Máquinas agrícolas50 betplantação50 betsoja e uma imensa pilha50 betminério50 betferro

Crédito, Getty Images/Agência Vale

Legenda da foto,

Brasil se especializa50 betitens primários, num mundo que demanda cada vez mais produtos tecnológicos

Essa distância veio diminuindo ao longo dos anos,50 betmeio à desindustrialização e à demanda crescente da China por bens primários.

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Finalmente50 bet2021, com as commodities50 betalta50 betmeio à pandemia, a soma50 betagro e mineração superou a manufatura no PIB brasileiro pela primeira vez50 betdécadas.

A tendência se manteve50 bet2022 com os efeitos da guerra da Ucrânia e, segundo o economista Paulo Morceiro, pesquisador na Universidade50 betJoanesburgo (África do Sul), representa um retrocesso para o país.

Entenda50 betcinco gráficos como agro e mineração já superam a manufatura no Brasil e por que Morceiro afirma que "a indústria brasileira virou pó".

1. 'Reprimarização' do Brasil

Os países mais pobres costumam ter50 betpauta50 betprodução e exportação concentrada50 betprodutos agrícolas e minerais, os chamados produtos primários, explica Morceiro.

À medida que os países se urbanizam e suas economias avançam, cresce a parcela dos produtos industriais tanto na composição do PIB, como nas exportações.

Os países mais bem sucedidos nesse processo têm parcela significativa50 betsua participação no comércio internacional50 betprodutos industriais50 betalta e média-alta tecnologia – esse é o caso dos principais países ricos do mundo, como Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido, Japão e mais recentemente, Coreia do Sul e China.

"A reprimarização é um retrocesso do ponto50 betvista do desenvolvimento econômico", defende o economista.

Gráfico50 betlinhas mostra a parcela da indústria50 bettransformação e da soma50 betagropecuária e mineração no PIB do Brasil,50 bet2000 a 2022

Morceiro lembra que o Brasil vem sofrendo com a desindustrialização desde os anos 1980, o que segundo ele é fruto do abandono do planejamento econômico50 betlongo prazo, da redução50 betinvestimentos públicos e da perda50 betprotagonismo da indústria como centro da política50 betdesenvolvimento.

"Deixamos50 betpriorizar a indústria, essa é a grande verdade", afirma.

A esse cenário, a partir do ano 2000, se soma a demanda da China por produtos como minério50 betferro, petróleo, carne e soja,50 betmeio ao forte crescimento do país asiático.

Mas o que explica a virada a partir50 bet2021, quando agro e mineração finalmente ultrapassam a manufatura50 bettermos50 betpeso no PIB do Brasil?

Uma combinação50 betalta50 betpreço das commodities, mas também50 betaumento do volume50 betexportação desses produtos, devido a safras recordes, pandemia, guerra da Ucrânia e política50 betestocagem da China50 betmeio à crise sanitária.

2. Avanço do agro e mineração não se reflete no emprego

"Não é problema exportar minério50 betferro, soja, suco50 betlaranja, todos esse produtos. Mas isso só seria suficiente, se o Brasil tivesse uma população pequena. Como o país tem uma população grande,50 bet210 milhões50 betpessoas, é preciso mais", diz Morceiro.

Um exemplo claro disso está na geração50 betempregos.

Mesmo com o avanço da importância dos produtos primários na nossas exportações e no PIB, a participação do agro e das indústrias extrativas no emprego no Brasil vem caindo desde os anos 2000:50 bet21,5% no início do milênio, para 12,9%50 bet2020.

Gráfico50 betlinhas mostra a parcela da indústria50 bettransformação e da soma50 betagropecuária e mineração no emprego do Brasil,50 bet2000 a 2020
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As indústria extrativas (petróleo e gás, minério50 betferro e outras) representam parcela ínfima dessas ocupações – 212 mil50 bet2020.

Então a maior parte dessa queda é explicada pelo agronegócio, que emprega cada vez menos pessoas, devido a uma combinação50 betganhos50 betprodutividade, avanço da mecanização e maior concentração da produção.

Também a baixa remuneração e precariedade do trabalho no campo leva cada vez mais pessoas a deixarem a agricultura50 betbusca50 betempregos nas cidades.

"A indústria extrativa já quase não gera emprego e a agropecuária vai gerar cada vez menos", prevê Morceiro.

"Nos Estados Unidos, por exemplo, que é o maior exportador mundial50 betprodutos agrícolas (o Brasil é o segundo), só 1% do emprego está na agricultura. A França tem 3%, Alemanha tem 1%. Então, se tivermos sorte, vamos conseguir reter 5%50 betempregos na agricultura."

O economista destaca que o agronegócio foi e ainda é bom para o Brasil: gera um saldo comercial muito grande, permite compensar o déficit da indústria50 bettransformação e gerar superávit para a balança50 betpagamentos, o que aumenta nossas reservas internacionais.

"Isso foi muito importante, reduziu a vulnerabilidade externa do país, que sempre sofria com crises cambiais. Então nem tudo é ruim e nem tudo é bom. Mas, do ponto50 betvista50 betgerar empregos e inovação, não são setores que têm um peso significativo", pontua o analista.

Ele observa que agro e extrativa também têm impacto mais localizado sobre o crescimento, impulsionando menos o setor50 betserviços, por exemplo.

3. Perdendo espaço na alta tecnologia

Atualmente, apenas 2% das exportações brasileiras são50 betalta tecnologia – que inclui setores como informática, eletrônicos, farmacêutica e aeronaves. No ano 2000, eram 12%.

Média-alta tecnologia – que inclui, por exemplo, automóveis, máquinas e equipamentos, químicos e instrumentos médicos – também encolheu:50 bet24% das exportações50 bet2000, para 13% no dado mais recente disponível.

Por outro lado, agropecuária e extrativa aumentaram o peso na pauta50 betexportações:50 bet15% para 49%.

Gráfico50 betbarras mostra a composição das exportações brasileiras por nível tecnológico,50 bet2000 a 2021

"O Brasil nunca foi um gigante na alta e média-alta tecnologia, mas tínhamos alguma relevância no passado", observa Morceiro.

"É um país que está entre os dez mais populosos do mundo, entre os dez maiores PIBs do mundo, mas no comércio tecnológico é nanico – já era nanico e ficou menor ainda."

4. Na contramão do mundo

Ao se especializar50 betprodutos primários, o Brasil vai na contramão das tendências do comércio internacional, destaca o pesquisador.

Enquanto no mundo 21% das exportações são50 betprodutos50 betalta tecnologia e 31%50 betmédia-alta, no Brasil essas fatias eram50 bet2% e 13%50 bet2021.

Enquanto isso, a agropecuária representa 20% das exportações do Brasil, mas só 3% do comércio internacional global.

Na indústria extrativa, essas fatias são50 bet29% (Brasil) e 7% (mundo).

Gráfico50 betbarras mostra a composição das exportações mundiais por nível tecnológico,50 bet2000 a 2021

"O comércio mundial é estável e dominado por alta e média-alta tecnologia, que representam entre 50% e 55% do comércio global. São setores50 betque o Brasil não está", diz Morceiro.

"Quem defende a indústria não defende por ter um fetiche pela indústria, mas por que 86% do comércio mundial é indústria50 bettransformação e mais da metade é indústria tecnológica."

O economista acrescenta que, nos países com nível50 betrenda mais avançada – EUA, Coreia, Japão, por exemplo – dois terços da pauta50 betexportação é composta por produtos da indústria50 betalta e média-alta tecnologia.

"Não existe caso50 betpaís grande e populoso que conseguiu sair da renda média sem uma parcela expressiva no comércio mundial50 betprodutos50 bettransformação. O que permitiu que esses países saltassem da renda média foi aumentar expressivamente50 betparticipação no comércio internacional50 betprodutos industriais."

5. Crescendo50 betáreas50 betpouco valor

A parcela do Brasil nas exportações mundiais da agropecuária passou50 bet2,9%50 bet2000 para 8,7% 50 bet2021.

Na indústria extrativa, o salto foi50 betmais50 betcinco vezes,50 bet0,8% para 4,6%.

Gráfico50 betlinhas mostra a participação do Brasil nas exportações mundiais,50 betsetores selecionados,50 bet2000 a 2021

Um avanço impressionante, certo? Mas tudo toma outra perspectiva quando levamos50 betconta o tamanho desses mercados no mundo.

Por exemplo, como o agronegócio representa só 3% do comércio mundial, a fatia50 bet8,7% do Brasil nesse mercado é equivalente a 0,26%50 bettodo o comércio global.

"Se a gente mais do que dobrar nossa participação nas exportações agrícolas, e chegar a 20%50 betparticipação nesse mercado, ainda teremos somente 0,6%50 bettodo o comércio global", exemplifica Morceiro.

Enquanto isso, se o Brasil aumentar50 betapenas 1 ponto percentual50 betparticipação nas exportações mundiais da indústria50 bettransformação, do atual 0,8% para 1,8%, isso representaria 1,5%50 bettodo o comércio mundial.

"É muito melhor a gente ter 2%, 3% do comércio mundial50 betprodutos industriais, porque este é um mercado muito grande, do que ter 10%, 15% do mercado50 betprodutos agrícolas", observa Morceiro.

"Se a gente tivesse metade do comércio mundial50 betprodutos agrícolas – o que não vai acontecer – teríamos 1,5% do comércio mundial. Conseguimos ter esse mesmo efeito aumentando50 betapenas 1 ponto nossa participação50 betprodutos industriais."