Quão capitalista era Adam Smith, o 'pai do capitalismo'? :betspeed app

Adam Smith

Crédito, Getty Images

Mas o que ele realmente quis dizer?

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Perto e longebetspeed app'casa'

Segundo Liu, a explicação do que Smith quis dizer ao usar a expressão "mão invisível" é uma teoriabetspeed appconsequências involuntárias: independentemente das minhas intenções ao realizar uma ação, com ela posso promover o bem-estar comum.

"Por exemplo, quando ele usa a frasebetspeed appA Riqueza das Nações, na verdade está falando sobre por que os investidores optam por investir mais pertobetspeed app'casa'betspeed appvezbetspeed appir para o exterior", diz à BBC News Mundo, serviçobetspeed appespanhol da BBC.

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"E explica que é porque eles têm uma compreensão melhor do ambiente, conhecem as leis, têm uma ideia mais clarabetspeed apponde seus investimentos podem render."

"No fundo, há menos incerteza do que se investissembetspeed apppaíses que não conhecem, com regras e cultura diferentes."

"Não se trata, todavia,betspeed appcapitalismobetspeed applivre mercado", adverte a especialista.

Smith está apenas abordando o tema "investirbetspeed appcasa ou fora" e diz que, ao optar pelo primeiro, você acaba promovendo algo que não era abetspeed appintenção.

"Digamos que eu resolva investirbetspeed appum negóciobetspeed appesquina e mesmo que minha intenção não seja revitalizar o bairro, isso acaba abrindo espaço para a participação popular, abrindo novos empregos, e isso ajuda as pessoas a ganharem mais e a gastarem maisbetspeed appoutros estabelecimentos."

"Esta é uma formabetspeed appilustrar o tipobetspeed apppercepção social que Smith tembetspeed appque, sob certas circunstâncias, as açõesbetspeed appum indivíduo, guiadas puramente pelo interesse próprio, podem ter consequências socialmente benéficas."

"E isso é bonito, é uma ideia poderosa", destaca a professora. "Mas também não significa que todas as ações individuais acabarão promovendo o bem-estar comum."

A desigualdade

De fato, segundo alguns pesquisadores, Smith reconhecia os perigos da sociedade mercantilista e como ela poderia gerar grandes desigualdades.

Nesse sentido, é preciso localizarbetspeed appobra no tempo: A Riqueza das Nações foi publicadobetspeed app1776,betspeed appLondres.

"Os tiposbetspeed appdesigualdades nas que ele pensava eram tanto econômicas quanto políticas", diz Liu.

Ele viu como as empresasbetspeed appsua época eram motivadas pelo interesse próprio para aumentar seus lucros.

"E o caminho para alcançar esses objetivos passava por convencer os legisladores, o Estado, usando o poder da lei e os aparatos do governo para lhes assegurar privilégios monopolistas que lhes permitissem ir para a Índia e outros países do sul da Ásia para explorar uma nação inteirabetspeed appbenefício próprio."

"Smith não está apenas preocupado com o que acontece com as pessoas na Índia que vivem sob o domínio britânico, ele também está preocupado com o fatobetspeed appo poder mercantil ter se tornado poder político na Grã-Bretanha, e com o fatobetspeed appisso criar uma desigualdade política que reforça essa dinâmicabetspeed appque as pessoas que têm mais riqueza têm mais poder político para ganhar mais riqueza."

"Acredito que quando os acadêmicos dizem que Smith estava preocupado com o tipobetspeed appdesigualdade que pode surgir na sociedade mercantilista, eles se referem precisamente a uma tendência a esse ciclo vicioso no qual pessoas ricas podembetspeed appalguma forma reforçar suas próprias posiçõesbetspeed apppoder por meio do Estado."

Capabetspeed applivrobetspeed appSmith sobre a riqueza da nação

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Uma das grandes obrasbetspeed appSmith, considerado o 'pai do capitalismo'

Um 'socialista'?

Eamonn Butler, diretor do Instituto Adam Smithbetspeed appLondres, também tem uma leitura sobre o que preocupava Smith.

"Ele pensou que uma das maiores causas da grande desigualdade que existia embetspeed appépoca eram os controles que se impunham sobre os processos dos mercados."

"Notou que os ricos e os que estavambetspeed appposiçõesbetspeed apppoder, que as grandes empresas e corporações e os políticos, se uniram para fazer regulamentações e leis que os beneficiavam e que não favoreciam outras pessoas, principalmente os mais pobres", completa.

Sua avaliação erabetspeed appque, se "removidos os obstáculos do caminho" para que todos pudessem negociar como quisessem, essas pessoas prejudicadas pelo sistema "estariam muito melhor", observa o pesquisador.

"Adam Smith é um personagem complexo, e acho que alguns poderiam dizer que 'ele realmente era um socialista', à medidabetspeed appque falava com frequência sobre os trabalhadores pobres e sobre como o sistema os tratava mal. Estava preocupado com eles."

"Mas, ao mesmo tempo, ele acreditava que a melhor maneirabetspeed appajudá-los,betspeed appmelhorar suas condições, era por meio do livre mercado."

"Smith não deveria ser visto como alguém que acreditava no livre mercado porque ajudava os ricos, ele acreditava no livre mercado porque ajudava os pobres."

As implicações

A "mão invisível"betspeed appSmith foi usada para disseminar a ideiabetspeed appque os mercados funcionariam melhor sem intervenções.

Era isso que ele pensavam quando escreveu a expressão?

"Sim", responde Butler. "Ele falou sobre o sistemabetspeed appjustiça natural, o que significa que, ao permitir que as pessoas façam suas próprias atividades, você ajudaria a construir um mercado que é benéfico para todos."

"Ninguém sabe, ninguém planeja que o mercado vai surgir, ele só aparece", resume.

Smith deu como exemplo um casacobetspeed applã e quantas pessoas trabalharam para chegar ao produto final: desde aquele que cuidava das ovelhas até aquele que vendia a peça.

"Todo mundo faz partebetspeed appum sistema que funciona, que trabalhabetspeed appconjunto e produz bens a baixo custo ebetspeed appabundância."

Mas nem todos estão convencidosbetspeed appque, com a "mão invisível", Smith sugeriu que os mercados fossem milagrosamente operados por conta própria.

Essa ideia foi justamente o motor que levou Liu a escrever seu livro: Adam Smith's America: How a Scottish Philosopher Became an Icon of American Capitalism ("Os Estados Unidosbetspeed appAdam Smith: como um filósofo escocês se tornou um ícone do capitalismo americano",betspeed apptradução literal).

"Por que Smith se importa com o tipobetspeed appdesigualdade que se enraíza no Estado e nas sociedades empresariais, com essa dinâmica entre riqueza e poder?"

"Smith não costuma ser associado a isso, as pessoas o associam à magia do livre mercado, a uma espéciebetspeed apphostilidade a qualquer tipobetspeed appintervenção do governo na economia."

"Essa, sem dúvida, é a ideia mais popular sobre Adam Smith. Mas como chegamos a ela?"

Fora da Europa

Adam Smith

Crédito, HULTON ARCHIVE/GETTY IMAGES

Legenda da foto, Adam Smith observou o nascimento do capitalismo industrial

Uma parte da explicação deve ser buscada longe do local onde o filósofo nasceu e desenvolveu grande partebetspeed appsua vida acadêmica, a Escócia.

É necessário cruzar o Atlântico, defende Liu, que investigou "como geraçõesbetspeed appamericanos leram, reinterpretaram e transformarambetspeed apparma as ideiasbetspeed appSmith, revelando comobetspeed appimagem popular como defensor do capitalismobetspeed appestilo americano e dos mercados livres é uma invenção histórica".

A Escolabetspeed appEconomiabetspeed appChicago, que nasceubetspeed appmeados do século 20 na Universidadebetspeed appChicago, é uma escolabetspeed apppensamento que defende o livre mercado, a desregulamentação e a privatização.

"A razão pela qual a versão delesbetspeed appSmith se tornou tão poderosa se deve à reinterpretação que fizeram da ideiabetspeed appinteresse próprio e da 'mão invisível' dentro da estrutura metodológica da teoria dos preços", explica Liu.

"Assim, Milton Friedman ou George Stigler, ambos ganhadores do Prêmio Nobel e, portanto, altamente reconhecidos como nomesbetspeed appdestaque no campo econômico, pegam os trabalhosbetspeed appSmith e dizem: 'Smith viu como o mecanismobetspeed apppreços poderia coordenar a atividadebetspeed appmilhõesbetspeed apppessoas sem a necessidadebetspeed appcentral direção ou intervenção."

"E eles o usam não apenas como um tipobetspeed appdescrição científica objetivabetspeed appcomo os mercados funcionam, mas também para defenderbetspeed appposição política: não precisamosbetspeed appintervenção do governo. Na verdade, muitas vezes isso faz mais mal do que bem."

As liberdades

Outro aspecto que Liu destaca é como, nessa releiturabetspeed appSmith, a liberdade econômica é percebida.

"É vista como um pré-requisito para a liberdade política, e quando o governo tenta interferir na economia, está interferindo nabetspeed appliberdade."

Há muita distância entre essa interpretação e o que preocupava Smith, afirma a professora.

"Smith certamente acreditava que a liberdade individual era uma coisa boa, (...) mas ele não escreveu A Riqueza das Nações para defender a todo custo a liberdade econômica do indivíduo."

"Ele estava realmente preocupado com a forma como os grupos privados poderiam dominar e oprimir outros grupos, inibindo assim o crescimento econômico e novamente criando uma disparidadebetspeed appriqueza e poder na economia mais ampla."

O carismático Friedman

Iustraçãobetspeed appmão invisível

Crédito, Getty Images

Uma "mão invisível" é sem dúvida uma imagem poderosa.

"Uma mão agarra, guia, mas esta não podemos ver", diz Liu. "Ninguém vê um mercado livre, mas sabemos quais são seus resultados."

E o impacto que essa frase teve ao longo dos anos se devebetspeed appgrande parte a Friedman, "um mestre da retórica".

"Ele não é a única pessoa que faz isso, mas acho que ele deixa claro que a 'mão invisível' é a ideia-chave”.

Para Friedman, essa frase mostrava que Smith, embetspeed appgenialidade, entendeu no início da ciência da economia "como funcionam os preços, os mercados livres" - uma importância transcendental atribuída a uma única ideia.

"Foi necessário alguém como Friedman não apenas para dar essa interpretação, mas também para defendê-la publicamentebetspeed appmaneira tão contundente."

Para Butler, a Escolabetspeed appChicago é apenas uma das muitas instituições que podem ser associadas a Smith.

Ele cita o prêmio Nobel austríaco Friedrich Hayek, o grande pensador do livre mercado que discutiu com John Maynard Keynes na décadabetspeed app1930 sobre a intervenção do governo na economia.

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"Sua metáfora da 'mão invisível' foi citada ad nauseam para apoiar a ortodoxia que hoje afirma que os mercados, deixados sozinhos, podem levar a um resultado socialmente ótimo;betspeed appfato, isso seria mais benéfico do que se o Estado interviesse.

Na realidade, o livrobetspeed appSmith é uma coleçãobetspeed appreceitas para políticos e legisladores. Longebetspeed appdeixar tudo nas mãos do mercado, o autor pensou estar oferecendo um guia aos 'estadistas' sobre como se comportar para 'enriquecer o povo e o soberano ao mesmo tempo', ou seja, sobre como aumentar a riqueza das nações”.

Mariana Mazzucatobetspeed appO Valor das Coisas

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Milton Friedman

Crédito, GEORGE ROSE/GETTY IMAGES

Legenda da foto, Milton Friedman, um dos economistas mais influentes do século 20,betspeed appuma fotobetspeed app1986 na Califórnia

Deixar fazer

Smith também está associado à expressão francesa laissez faire: deixar fazer, da filosofia do capitalismobetspeed applivre mercado.

No entanto, esclarece Liu, ele não a usou, mas, ainda assim, no século 19 laissez faire e o livre comércio se tornaram as lentes pelas quais Smith foi interpretado.

O economista canadense Jacob Viner, que foi um dos professoresbetspeed appFriedman e Stigler na Universidadebetspeed appChicago, escreveubetspeed app1927 o famoso artigo Adam Smith e Laissez Faire, no qual deixou claro que Smith não era um defensor doutrinário do laissez faire.

"Viner tenta enterrar essa ideia", diz Liu, mas, como ficou evidente mais tarde, o sucessobetspeed appsua missão foi parcial.

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"Adam Smith opinava que os mercados devem se conformar. Ao contrário da interpretação modernabetspeed appseu trabalho como laissez faire (deixar o mercado por conta própria), ele acreditava que a liberdade adequada não consiste na ausênciabetspeed apppolíticas governamentais, mas na ausênciabetspeed appextraçãobetspeed apprendas."

Mariana Mazzucatobetspeed appO Valor das Coisas

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Camisas com os rostosbetspeed appFriedrich Hayek e Milton Friedman

Crédito, CHIP SOMODEVILLA/GETTY IMAGES

Legenda da foto, Camisas com os rostosbetspeed appFriedrich Hayek e Milton Friedman foram colocadas à vendabetspeed appuma reunião da Conferênciabetspeed appAção Política Conservadora dos EUAbetspeed app2018

Depoisbetspeed appescrever A Riqueza das Nações, Smith revisou várias vezes o seu livro A Teoria dos Sentimentos Morais,betspeed app1759.

"Embetspeed appúltima edição, publicada pouco antesbetspeed appsua mortebetspeed app1790, ele acrescentou, entre várias ideias, um capítulo impressionante sobre o que chamoubetspeed appcorrupçãobetspeed appnossos sentimentos morais", observa Liu.

"Ele diz que nossa tendência psicológicabetspeed appadmirar a riqueza e negligenciar os pobres é a maior e mais universal causa da corrupçãobetspeed appnossos sentimentos morais."

"Para quem pensabetspeed appSmith como laissez faire, livre mercado, um apologista do crescimento, não importa o que aconteça, neste capítulo se encontrará com alguém completamente diferente."

"É quase inevitável que não se perceba o quanto ele estava preocupado com a desigualdade", conclui Liu.

Em suas próprias palavras

Estas são as três ocasiõesbetspeed appque Smith se referiu à "mão invisível":

"O fogo queima e a água refresca; os corpos pesados ​​descem e as substâncias mais leves se elevam necessariamente porbetspeed appprópria natureza; nunca se pensoubetspeed appempregar a mão invisívelbetspeed appJúpiter para esses assuntos. Mas o trovão e o relâmpago, as tempestades e a luz do sol, esses eventos mais irregulares, foram atribuídos ao seu favor ou àbetspeed appira."

Adam Smithbetspeed appHistória da Astronomia.

"Os ricos escolhem da pilha apenas o mais precioso e agradável. Eles consomem pouco mais do que os pobres e, apesarbetspeed appseu egoísmo e ganância natural (...) dividem com o pobre o produtobetspeed apptodos os seus progressos. São conduzidos por uma mão que faz com que as necessidades da vida sejam distribuídas quase da mesma maneira que seriam distribuídas se a terra tivesse sido dividida igualmente entre todos os seus habitantes; e, assim, sem pretender, inadvertidamente, promover o interessebetspeed appsociedade e fornecer meios para a multiplicação da espécie."

Em A Teoria dos Sentimentos Morais.

"Quando (cada indivíduo) prefere a atividade econômicabetspeed appseu país à estrangeira, ele só pensa embetspeed appsegurança, e quando dirige a primeirabetspeed appforma que seu produto represente o maior valor possível, ele só pensabetspeed appseu próprio lucro; mas neste, comobetspeed appmuitos outros casos, ele é conduzido por uma mão invisível a promover um fim que não fazia partebetspeed appsuas intenções."

Em A Riqueza das Nações.