Direita, esquerda: como conflito Hamas-Israel afeta a polarização no Brasil?:b1 bet online

Manifestante enrolada na bandeirab1 bet onlineIsrael segura uma bandeira do Brasilb1 bet onlinefrente ao prédio do STF

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Manifestante enrolada na bandeirab1 bet onlineIsrael segura uma bandeira do Brasilb1 bet onlinefrente ao prédio do STF

O ex-juiz da Operação Lava Jato e senador Sergio Moro (União Brasil-PR) seguiu a mesma linha e criticou uma nota divulgada pelo governo federal que condenou os ataques do grupo militante, mas não citou o nome do Hamas.

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Em suas redes sociais, porém, Lula disse, no sábado, ter lamentado as mortes e classificou os ataques feitos pelo Hamas como "terroristas".

"Fiquei chocado com os ataques terroristas realizados hoje contra civisb1 bet onlineIsrael, que causaram numerosas vítimas. Ao expressar minhas condolências aos familiares das vítimas, reafirmo meu repúdio ao terrorismob1 bet onlinequalquerb1 bet onlinesuas formas."

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Apesar disso, ainda na esquerda, influenciadores digitais e políticos como o ministro das Comunicações, Paulo Pimenta, deram declarações vistas por oposicionistas como demonstraçõesb1 bet onlineapoio ao Hamas.

"A ocupação prolongada dos territórios Palestinos e a incapacidade das fóruns internacionaisb1 bet onlinefazer cumprir as resoluções da ONU são o panob1 bet onlinefundo para compreendermos esse novo capítulob1 bet onlineum processob1 bet onlineviolências e privações que jamais poderiam ter sido toleradas", disse o ministrob1 bet onlinesuas redes sociais.

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que, nos últimos anos, houve,b1 bet onlinelinhas gerais, uma associação entre a esquerda brasileira e a causa palestinab1 bet onlineum lado e entre a direita brasileira e a causa judaico-israelenseb1 bet onlineoutro.

Eles explicam que essa vinculação no Brasil tem nuances e não é absoluta, mas reflete,b1 bet onlinealgum grau, uma tendência internacional. Eles dizem, porém, que essa ligação também tem raízes históricas ligadas tanto à trajetória do conflito israelo-palestino quanto à história recente do Brasil.

Homem levanta bandeirab1 bet onlineIsrael

Crédito, Reuters

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Homem levanta bandeirab1 bet onlineIsrael durante posseb1 bet onlineJair Bolsonarob1 bet onlineBrasília,b1 bet online2019; o agora ex-presidente prometeu, durante campanha, transferênciab1 bet onlineembaixada para Jerusalém. Promessa não foi cumprida

História não tão óbvia

Se hoje a direita brasileira é próxima a Israel, a história mostra que isso nem sempre foi assim. É o que sustenta o professorb1 bet onlineSociologia da Universidade Federal do Riob1 bet onlineJaneiro (UFRJ) e pesquisador do Centrob1 bet onlineEstudos do Antissemitismo da Universidadeb1 bet onlineJerusalém, Michel Gherman.

"Nem sempre essa ligação entre judaísmo e direita existiu no Brasil e no mundo. No final do século 19 e nas primeiras décadas do século 20, o que era muito comum era uma forte ligação entre a comunidade judaica e o socialismo. O primeiro partido internacionalistab1 bet onlineesquerda foi fundado por judeus da Polônia, Letônia, Estônia e Lituânia. Havia uma visãob1 bet onlineque a pauta judaicab1 bet onlineemancipação e liberdade também era uma causa cara ao socialismo", conta Gherman à BBC News Brasil.

"Os principais pensadores socialistas tratavam o antissemitismo como uma pauta reacionária e contrarrevolucionária. Karl Marx falava sobre o antissemitismo, da mesma maneira que (Leon) Trotsky e Lênin", complementa Gherman.

O professor disse ainda que essa vinculação era tão grande que o Estadob1 bet onlineIsrael começa, na décadab1 bet online1940, sob forte influência socialista.

"Não podemos deixarb1 bet onlinelembrar que Israel nasceu e implementou experiências socialistas como as moradias coletivas dos kibutz e também recebeu armamentos da hoje extinta União Soviética para se defender dos países árabes contrários à criação do Estadob1 bet onlineIsrael", disse Gherman.

No Brasil, a relação entre a comunidade judaica e a esquerda também foi relevante, afirmam historiadores.

"A esquerda no Brasil teve militantes históricos dentro da comunidade judaica. Um exemplo dessa ligação é o fatob1 bet onlineque um dos maiores símbolos da luta contra a ditadura foi a morte, exatamente,b1 bet onlineum judeu: Vladimir Herzog", diz a historiadora Monique Sochaczewski, do IDP.

Tanque na Guerra dos Seis Dias

Crédito, Getty Images

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Segundo especialistas, mudança na ligação entre esquerda e causa judaica começa com a Guerra dos Seis Dias,b1 bet online1967

A virada

O Estadob1 bet onlineIsrael foi criadob1 bet online1948 pela Organização das Nações Unidas, três anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Durante o conflito, pelo menos seis milhõesb1 bet onlinejudeus foram mortos pelo regime nazista.

O drama vivido pelo povo judeu ajudou a viabilizar o apoio necessário para a criaçãob1 bet onlineIsrael. Por outro lado, populações árabes que viviam na região conhecida como Palestina onde foi criado o Estadob1 bet onlineIsrael ficaram insatisfeitas com a medida, o que resultoub1 bet onlineuma sérieb1 bet onlineconflitos nas décadas que se seguiram.

Um delesb1 bet onlineparticular é apontado pelos especialistas como o momentob1 bet online"virada" na forma como a esquerda passa a ver a questão judaica: a Guerra dos Seis Dias.

Entre os dias 5 e 10b1 bet onlinejunho, Israel lançou um ataque surpresa contra Egito, Síria e Jordânia e aumentou seu território. Do Egito foi incorporada a Península do Sinai. Da Síria, as Colinasb1 bet onlineGolã. Da Jordânia, foi incorporada a Cisjordânia. Estimativas apontam que meio milhãob1 bet onlinepalestinos que viviam nessas áreas viraram refugiados.

"A partirb1 bet online1967, com a tomadab1 bet onlineterritórios ocupados por palestinos, a esquerda passa a ver o conflitob1 bet onlineoutra forma. A partir dali, a questão palestina passa a ser vista com uma causa entre um opressor, Israel, e um oprimido, o povo palestino. O conflito entre opressor e oprimido está no cerne da linhab1 bet onlineraciocínio", diz o cientista político e professor da Universidade Federalb1 bet onlineMinas Gerais (UFMG), Guilherme Casarões.

"É nesse momento que a esquerda começa a ver aqueles judeus vítimas do racismo e da discriminação na Europa atuando como colonizadores dos territórios palestinos ocupados. Isso acaba gerando uma aproximação maior entre os movimentosb1 bet onlineesquerda e a causa palestina ao mesmo tempob1 bet onlineque há o afastamento da esquerda com a causa judaica ou com o sionismo, que é o movimento pela criação e manutenção do Estadob1 bet onlineIsrael", diz Michel Gherman.

Casarões explica ainda que, na décadab1 bet online1960, Israel já estava mais alinhada com os Estados Unidos enquanto os países árabes rivais eram militarmente equipados e financeiramente auxiliados pela então União Soviética. "Estavam reproduzindo ali o tabuleirob1 bet onlineinteresses da Guerra Fria", disse o professor.

Desde então, as condiçõesb1 bet onlinevida da população palestina vivendo nos territórios ocupados foram denunciadas por organizações que atuam na defesa dos direitos humanos. Em 2022, por exemplo, um relatório produzido por uma comissão do Conselhob1 bet onlineDireitos Humanos da ONU disse que a ocupação das áreas habitadas por palestinos seria a causa dos conflitos na região. Israel rebateu o documento classificando-o como "parcial e tendencioso" e baseadob1 bet online"informações parciais e segmentadas".

Esse distanciamentob1 bet onlineparte da esquerda mundialb1 bet onlinerelação à causa judaica e a aproximação com a causa palestina também se refletiu no Brasil, dizem os especialistas.

"O Brasil acabou reproduzindo aqui, mesmo com suas particularidades, a divisão ideológica que havia fora do país. Isso acabou levando a uma aproximaçãob1 bet onlineorganizações e partidosb1 bet onlineesquerda com a causa palestina", disse Michel Gherman.

Guilherme Casarões diz que essa identificação da esquerda brasileira com a causa palestina continuou ao longo dos anos e influenciou partidos como o PT, que há décadas mantém uma posturab1 bet onlineapoio ao povo palestino.

Casarões diz, no entanto, que esse apoio não implicab1 bet onlineaceitaçãob1 bet onlineatos como os cometidos pelo Hamas nos últimos dias.

"Em que pese a simpatia da esquerda com o povo palestino, as manifestações dos governos do PT sobre o conflito sempre foram equilibradas. O governo brasileiro, tanto sob Dilma (Rousseff) ou Lula, sempre defenderam a chamada soluçãob1 bet onlinedois Estados,b1 bet onlineque Israel e Palestina possam coexistir pacificamente", diz o professor.

Visitab1 bet onlineBolsonaro

Crédito, Alan Santos/Presidência da República

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Bolsonaro e o bispo Edir Macedo durante visita do ex-presidente ao Templob1 bet onlineSalomão, da Igreja Universal do Reinob1 bet onlineDeus,b1 bet onlineSão Paulo,b1 bet online2019

Direita brasileira e Israel

E enquanto, segundo os especialistas, a aproximação da esquerda com a defesab1 bet onlineum Estado palestino começou há pelo menos cinco décadas, a identificação da direita brasileira com o Estadob1 bet onlineIsrael e o sionismo seria um fenômeno relativamente mais recente, com pouco maisb1 bet online30 anos e liderado,b1 bet onlinegrande medida, pelos eleitores evangélicos.

"A partir dos anos 1980 e 1990, começa a haver uma instrumentalizaçãob1 bet onlinealguns símbolos judeus por grupos evangélicos brasileiros. A gente vê isso, por exemplo,b1 bet onlinepastores como Silas Malafaia (da Igreja Assembleiab1 bet onlineDeusb1 bet onlineMadureira) ou Edir Macedo (da Igreja Universal do Reinob1 bet onlineDeus). No segundo caso, ele passa até a usar indumentárias semelhantes àb1 bet onlinealguns rabinos", disse Michel Gherman.

"A viab1 bet onlineentrada dessa conexão entre judeus e a direita brasileira é uma leitura da Bíblia feita por alguns grupos evangélicos segundo a qual Israel precisa ser protegido para a segunda vindab1 bet onlineJesus à terra. É uma reproduçãob1 bet onlineum movimento que começou nos Estados Unidos nos anos 1960 e 1970 e chegou aqui pelas conexões entre essas denominações neopentecostais desses dois países", complementa Guilherme Casarões.

Os especialistas afirmam que, à medidab1 bet onlineque o eleitorado evangélico foi ganhando peso no jogo político brasileiro e foi se alinhando à direita, teria havido uma espécieb1 bet online"acoplamento" da direita com a defesa do Estadob1 bet onlineIsrael por um lado. Por outro, haveria uma antipatia desse eleitorado com a causa palestina, identificada com a esquerda no Brasil.

Essa associação ganhou contornos mais intensos nos últimos anos. Nas eleições presidenciaisb1 bet online2018 e 2022, Jair Bolsonaro era visto, frequentemente,b1 bet onlinecultos evangélicos decorados com bandeirasb1 bet onlineIsrael e símbolos judaicos. Já no governo, ele prometeu, embora não tenha cumprido, transferir a sede da Embaixada do Brasilb1 bet onlineIsraelb1 bet onlineTel Aviv para Jerusalém. A promessa foi um aceno ao eleitorado evangélico que votoub1 bet onlinepeso emb1 bet onlinecandidatura.

"Há a construção dessa ideiab1 bet onlineum judeu imaginário. E esse judeu é branco, heterossexual, armamentista eb1 bet onlinedireita. Essa imagem vai ser muito usada pela direita brasileira", disse Gherman.

Choqueb1 bet onlinepontosb1 bet onlinevista

Casarões avalia que essa aparente divisão entre esquerda e causa palestinab1 bet onlineum lado, direita e defesa do Estadob1 bet onlineIsraelb1 bet onlineoutro, não seria uma mera "instrumentalização" do conflito no Oriente Médio pelos atores políticos brasileiros.

"Ela reflete duas visõesb1 bet onlinemundo distintas. De um lado, temos o eleitorado evangélico que enxergab1 bet onlineIsrael um atorb1 bet onlineuma suposta luta do bem contra o mal. Do outro nós temos a esquerda que vê na causa palestina como uma disputa entre um opressor, Israel, e um oprimido, o povo palestino", explica.

Para Monique Sochaczewski, essa polarização entre esquerda e direita no Brasil dificulta a compreensão sobre um dos conflitos mais complexos da história recente.

"Acho que falta um poucob1 bet onlineconhecimento sobre a realidade local. Quando a direita se alinha a Israel, ela parece ignorar, por exemplo, que lá o aborto é permitido, algo impensável para a direita evangélica brasileira", avalia.

Michel Gherman também avalia que a polarização no Brasil atrapalha a análise.

"Pela esquerda, a gente vê um movimento fundamentalista islâmico como o Hamas, que produziu a matança que produziu, sendo visto apenas como uma força anticolonial e, portanto, respeitada por parte da esquerda", avalia.