Os jovens infratores que se tornaram campeõesbonus esportivo betfairxadrez: 'É como a vida. Você pensa agora e o resultado vem depois':bonus esportivo betfair

Jovem jogando xadrezbonus esportivo betfaircomputador da Fundação Casa

Crédito, Eliel Nascimento/Fundação Casa

Legenda da foto, Maisbonus esportivo betfair1,7 mil jovens jogam xadrez todos os dias na Fundação Casabonus esportivo betfairSão Paulo

Pedro chegou na sexta colocação, e hoje joga xadrez por duas horas diárias. Mas seu começo no tabuleiro não foi fácil, conta. "Não ganhei nenhum jogo, perdia todos. Mas me interessei bastante, e resolvi continuar tentando".

Ele saiubonus esportivo betfairsua primeira internação sem vencer uma partida sequer. Voltou para seu bairro e para a mesma vidabonus esportivo betfairantes. Chegou a competir com um tio, e, ainda assim, não foi bem.

Pedro conta que a mãe, diarista, nunca deixou faltar o essencialbonus esportivo betfaircasa, mas as condições da família não permitiam que os desejos dos filhos fossem satisfeitos. Pedro queria mais, como muitos adolescentes dabonus esportivo betfairidade. E decidiu entrar para o tráfico.

"Eu traficava porque queria comprar várias coisas que eu não tinha, e minha mãe não podia pagar: tênis, roupas, boné, maconha.", conta ele, que abandonou a escola no 6º ano do ensino fundamental.

Pedro vendeu drogas na rua, mas logo foi alçado a gerente do ponto. "Cheguei a ganhar R$ 2 mil por dia, mais do que minha mãe recebia no mês inteiro. Às vezes eu gastava tudo no mesmo dia, comprando roupas,bonus esportivo betfairfestas, pagando bebida para meus amigos", diz.

Interno da Fundação Casa jogando xadrezbonus esportivo betfaircomputador

Crédito, Eliel Nascimento/Fundação Casa

Legenda da foto, Neste ano, o campeonato estadualbonus esportivo betfairxadrez da Fundação Casa ocorreu pela internet por causa da pandemiabonus esportivo betfaircovid-19

Tudo isso acabou quando ele foi novamente preso. De volta à Fundação Casa, reencontrou-se com o tabuleiro. Foi quando venceubonus esportivo betfairprimeira partida. "Fiquei observando os moleques jogarem, e vi o que eu precisava fazer. Quando ganhei, foi bem conquistado. Fiquei muito feliz. Hoje sou bom, um dos melhores da casa. Até ensino quando um moleque novo quer aprender a jogar", diz.

Quando sair, Pedro pensabonus esportivo betfairtrabalhar no comércio, como o pai. Depois, quer terminar o ensino médio e cursar engenharia civil. "O xadrez me deu isso, aprendi a raciocinar melhor, a analisar minha situação. Hoje quero sair desse mundão, pararbonus esportivo betfairfazer coisa errada, quero constituir família, ser uma pessoa normal", diz.

Adolescentesbonus esportivo betfairunidade da Fundação Casa
Legenda da foto, Internos da Fundação Casa frequentam a escola nas unidades

Xadrez levado a sério

O campeão deste ano foi Thiago*,bonus esportivo betfair16 anos, que, entre idas e vindas, já passou dois anos dabonus esportivo betfairvida na Fundação Casa. "Comecei a furtar no mercado", conta o menino, cuja família vivebonus esportivo betfairuma favelabonus esportivo betfairSão Paulo.

De pequenos furtosbonus esportivo betfaircomida, o jovem passou a roubar bensbonus esportivo betfairmaior valor. "Você conhece umas pessoas, que te chamam pra fazer uma coisa errada, e você vai indo no embalo, sem pensar direito. Eu roubava mesmo era para conseguir coisas imediatas, principalmente roupas. Uma vez eu queria um (tênis) Mizuno que custava R$ 800, e eu não tinha esse dinheiro."

Para Thiago, o xadrez apareceu antesbonus esportivo betfairser preso — aprendeu a jogarbonus esportivo betfairuma ONG que atua com crianças pobres embonus esportivo betfaircomunidade. "Mas eu só sabia mesmo movimentar as peças. Não tinha estratégia, não sabia me defender no jogo. Isso aprendi aqui, jogando com outros moleques. Hoje, já começo a partida com uma ideia: 'vou iniciar com o peão na frente do rei, depois mexo o cavalo pra dar uma proteção maior, e assim vai..."

No campeonato, ele venceu 10 adversários até chegar à final. "Fiquei muito nervoso, sob pressão. Eu queria muito ganhar. Mas perdi a rainha, perdi um montebonus esportivo betfairpeças, achei que iria perder. Mas então consegui a rainha do outro moleque, e dei xeque-mate. Nem sei dizer o que passou pela cabeça. Só fiquei muito feliz", conta.

Mesmo campeão no tabuleiro, Thiago pensabonus esportivo betfairseguir carreirabonus esportivo betfairoutro campo: quer ser jogadorbonus esportivo betfairfutebol profissional. "O xadrez foi muito bom para mim, porque aprendi a levar a sério algo que eu gosto. Nunca levei o futebol muito a sério. Quando eu sair daqui, vou correr atrásbonus esportivo betfairrealizar meu sonho."

'Eles sabem que podem ser presos'

Além da escola formal, atividades extracurriculares fazem parte da vidabonus esportivo betfairtodo adolescente no sistema socioeducativo, como o da Fundação Casabonus esportivo betfairSão Paulo.

Um dos internos da Casa Rio Tâmisa que se classificou para a segunda fase da Olimpíadabonus esportivo betfairMatemática

Crédito, Diego Padgurschi/BBC

Legenda da foto, Além do xadrez, jovens da Fundação Casa praticam futebol, vôlei, basquete e outros esportes

"Todos os adolescentes praticam semanalmente três atividades esportivas", explica Carlos Alberto Robles, gerentebonus esportivo betfaireducação física da Fundação Casa. "O xadrez surgiubonus esportivo betfairuma parceria que fizemos com a federação paulistabonus esportivo betfairxadrez, anos atrás. Muitos adolescentes gostambonus esportivo betfairjogar, porque é uma atividadebonus esportivo betfairraciocínio, complexa."

Menoresbonus esportivo betfair18 anos podem ficar internados no máximo três anos. O tempo exato é determinado pela gravidade do ato infracional, a partirbonus esportivo betfairuma análise feita por agentes, psicólogos, promotores e juízes.

Das 5 mil pessoas cumprindo medidas socioeducativas no Estadobonus esportivo betfairSão Paulo, 49% cometeram infrações relacionadas ao tráficobonus esportivo betfairdrogas — roubos representam 37%; furtos 3% e homicídios, 2,6%. Do total, 69% dos adolescentes são negros (pardos + pretos) e 30%, brancos.

Para Fernando Henriquebonus esportivo betfairFreitas Simões, promotorbonus esportivo betfairJustiça da Infância e Juventudebonus esportivo betfairSão Paulo, pobreza e a vulnerabilidade explicambonus esportivo betfairparte a ligação entre os adolescentes e o crime. "Nossa experiência mostra que a grande maioria dos jovens é bastante pobre,bonus esportivo betfairbairros periféricos. Dentro das próprias comunidades, que já são vulneráveis, eles são pessoas ainda mais vulneráveis que a média", diz.

"Em geral, eles vivembonus esportivo betfairfamílias monoparentais, enfrentam situaçõesbonus esportivo betfairviolência doméstica, às vezes com vários irmãos. Muitos abandonaram a escola ou estão atrasados, pouco sabem ler e escrever. Costumo dizer que, quando esses problemas não são tratados até os 15 anos, esses jovens aparecem na Fundação Casa", explica.

Segundo o promotor, roubos e o tráficobonus esportivo betfairdrogas surgem como alternativa para os adolescentes conseguirem dinheiro mais facilmente.

"Algumas pessoas não concordam, mas eu acho que a decisãobonus esportivo betfairentrar no crime é uma decisão racional para esses jovens, não é algo que acontece do nada. Eles ganham dinheiro, mais que os próprios pais, mas sabem que há vários riscos envolvidos: violência, confrontos com a polícia, e prisão. Eles sabem disso, sabem que podem ser presos. Em casosbonus esportivo betfairreincidência, há adolescentes que passam três anos internados", diz.

'O xadrez é como a vida'

Com duas passagens pela Fundação Casa, Rodrigo*,bonus esportivo betfair17 anos, vai completar três internado. Na primeira, ficou maisbonus esportivo betfairdois anos depoisbonus esportivo betfairse envolverbonus esportivo betfairum assalto.

No campeonatobonus esportivo betfairxadrez deste ano, ele terminou na terceira colocação.

"Eu gostavabonus esportivo betfairjogar dama, e aprendi xadrez com um funcionário da unidade. No campeonato, me desesperei várias vezes porque cometi muitos erros. Mas fui avançando. Nunca imaginei onde chegaria", conta.

Rodrigo foi criado apenas pela mãe.

Adolescente caminhabonus esportivo betfairunidade da Fundação Casa

Crédito, Divulgação/Fundação Casa

Legenda da foto, Segundo a Fundação Casa, tráficobonus esportivo betfairdrogas ilegais e roubos são maioria entre atos infracionais cometidos por adolescentes internados

Quando o jovem tinha 14 anos, foi preso cometendo um roubo junto com um parente maiorbonus esportivo betfairidade.

Depois do primeiro períodobonus esportivo betfairinternação, Rodrigo voltou para casa e para o crime, dessa vez como traficantebonus esportivo betfairdrogas. Aceitou a tarefabonus esportivo betfairser gerentebonus esportivo betfairum pontobonus esportivo betfairvendabonus esportivo betfairuma comunidade. Conta que ganhava R$ 3 mil por semana, mas isso durou só 15 dias, pois logo foi preso.

"Comecei a namorar uma menina, e a gente foi morar junto. Eu precisava comprar coisas para casa. Então, comecei no tráfico e fui progredindo, mas, se você for ver, foi uma regressão. Fiz muita coisa errada sem pensar direito, no impulso", conta.

Hoje, Rodrigo diz que não se enxerga mais no crime: sonhabonus esportivo betfairterminar o ensino médio (está no 1º ano) e quer estudar medicina.

Ele explica que jogar xadrez — o movimento calculado das peças — o ajudou a refletir sobre suas ações até aqui. "O xadrez é como a vida: você pensa sobre o que vai fazer agora para ter um bom resultado depois. Aprendi a pensar antesbonus esportivo betfairagir."

*O Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe a divulgaçãobonus esportivo betfairdados pessoais que possam identificar menores infratores. Por isso, os nomes dos jovens citados nesta reportagem são fictícios.

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