Eleições 2022: fake news sobre perseguição a evangélicos chegam a milhões via filhos e aliadosa roletaBolsonaro:a roleta

  • Julia Braun
  • Da BBC News Brasila roletaSão Paulo
Fiel durante festivala roletamúsica organizado por uma rádio evangélica no Rioa roletaJaneiro

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,

'Percebemos oportunismoa roletamuitos políticos ligados ao bolsonarismo para usar os ambientesa roletatrocaa roletainformação dos evangélicos para ganhar confiança, disseminar desinformação e angariar votos', diz pesquisadora

a roleta Filhos e aliados próximos do presidente Jair Bolsonaro foram peça-chave no compartilhamento a milhõesa roletabrasileirosa roletadesinformação sobre perseguição a cristãos durante a campanha eleitoral.

As mensagens — compartilhadas não apenas por políticos influentes como também por usuários comuns — associam candidatosa roletaesquerda, principalmente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a falsos projetos para proibir pregaçãoa roletapastores, criminalizar a fé evangélica e até retirar o nomea roletaJesus da Bíblia.

Outras fazem referência a casos reaisa roletaviolência contra comunidades religiosasa roletapaíses da América Latina, Ásia e África e alardeiam que isso pode ocorrer no Brasil.

"No cenário eleitoral e político brasileiro atual, isso se traduza roletauma representaçãoa roletaLula como um anticristão, enquanto que o Jair Bolsonaro é representado como um grande Messias", afirma Débora Salles, professora da Escolaa roletaComunicação da UFRJ e uma das pesquisadoras do NetLab responsável pelo relatório 'Evangélicos nas redes'.

O relatório monitorou perfisa roletainfluenciadores com grande alcance no segmento evangélico entre janeiro e agostoa roleta2022 e identificou os macro-influenciadores e perfis mais relevantes no terreno da desinformaçãoa roletafundo religioso.

Entre eles, personalidades com ampla basea roletaseguidores nas redes como o senador Flávio Bolsonaro (PL), o deputado Eduardo Bolsonaro (PL) e o vereador Carlos Bolsonaro (PL); os deputados Marco Feliciano (PL) e Carla Zambelli (PL); e o pastor Silas Malafaia, líder da Assembleiaa roletaDeus Vitóriaa roletaCristo.

A BBC News Brasil analisou as redes sociais dessas seis figuras expoentes entre 6a roletaagosto e 6a roletasetembro e encontrou pelo menos 85 mensagens que usavam o temora roletaperseguição para "demonizar" adversários como Lula e Ciro Gomes.

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Foram identificadas 14 postagens nas páginas do senador Flávio Bolsonaro, 11 nas do deputado Eduardo Bolsonaro, 2 na do vereador Carlos Bolsonaro, 8 nasa roletaCarla Zambelli e 3 na do pastor Silas Malafaia no período. O campeãoa roletapostagens, porém, foi Marco Feliciano, com um totala roleta47a roletaapenas um mês.

Desse total, três mensagens chegaram a ser proibidas pelo TSE por "deturpar e descontextualizar" notícias a fima roletagerar a "falsa conclusão no eleitor".

"Percebemos oportunismoa roletamuitos políticos ligados ao bolsonarismo para usar os ambientesa roletatrocaa roletainformação dos evangélicos para ganhar confiança, disseminar desinformação e angariar votos", diz a professora Rose Marie Santini, fundadora do NetLab, laboratório vinculado à Escolaa roletaComunicação da UFRJ dedicado a estudosa roletainternet e redes sociais.

"As pessoas estão mais informadasa roletarelação ao perigo das fake news do que estavama roleta2018, quando muitos foram pegosa roletasurpresa. Mas certamente esse tipoa roletadesinformação com fundo religioso terá grande impacto no resultado", diz Magali Cunha, doutoraa roletaCiências da Comunicação, pesquisadora do Institutoa roletaEstudos da Religião (Iser) e editora-geral do Coletivo Bereia, especializadoa roletachecagema roletanotícias falsas com teor religioso.

Presidente Jair Bolsonaro

Crédito, Getty Images

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Segundo pesquisadora, responsáveis pela produção e disseminaçãoa roletadesinformação com fundo religioso se aproveitam do crescimento da população evangélica para angariar votos

'Banir a religião cristã'

Uma das fake news compartilhadas nos perfis monitorados pela BBC News Brasil afirma que Lula editou um decreto para "banir a religião cristã"a roleta2010.

Trata-sea roletaum vídeo que combina reportagens da Band e da TV Globo sobre o decreto conhecido pela sigla PNDH-3 (Programa Nacionala roletaDireitos Humanos),a roleta2009.

Fotoa roletapostagem no Instagram do senador Flávio Bolsonaro

Crédito, Reprodução / Instagram

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Vídeo afirma falsamente que decreto assinado por ex-presidente Lula visava a "banir a religião cristã"

Antes do vídeo, uma narração faz a seguinte pergunta: "Você sabia quea roleta2010 o presidente Lula assinou o decreto PNDH-3 para censurar a imprensa e banir a religião cristã e dar direitoa roletaposse da terra a invasores? Mas o projeto foi barrado pelo Congresso. Acha que se ganhar a eleição, ele não vai tentar novamente?".

A alegação é falsa. O documento assinado por Lula não cita qualquer tipoa roletabanimento da religião cristã. O decreto, que ainda estáa roletavigor, propõe justamente o inverso: incentivar a liberdade religiosa e combater a discriminação.

O documento também não prevê censura à imprensa ou dar o direitoa roletapossea roletaterra a invasores. O vídeo foi compartilhadoa roletadiversas redes sociais. No TikTok, uma das postagens tem quase 100 mil visualizações.

Ele também foi compartilhado pelo senador Flávio Bolsonaroa roletasuas páginas no Facebook e Instagram no dia 19a roletaagosto e retuitado pelo deputado Eduardo Bolsonaro a partira roletaoutro perfil no Twittera roleta25a roletaagosto.

A BBC News Brasil entroua roletacontato com os dois filhos do presidente, mas eles não responderam aos pedidosa roletacomentário até a publicação desta reportagem.

Nas postagens do senador Flavio Bolsonaro, entre comentáriosa roleta'Lula nunca mais' e '#bolsonaro2022', uma usuária escreveu: "Isso precisa ser divulgadoa roletatodas redes sociais". Uma outra versão da mesma notícia falsa foi postada pelo deputado Marco Feliciano no Facebook e Instagrama roleta20a roletaagosto.

Em 19a roletaagosto, Eduardo publicou no Twitter, Facebook e Instagram uma montagem afirmando que "Lula e PT apoiam invasõesa roletaigrejas e perseguiçãoa roletacristãos". Na mesma imagem, há recortesa roletanotícias sobre a perseguiçãoa roletareligiosos na Nicarágua ea roletadeclarações do PT ea roletaLula sobre o presidente Daniel Ortega.

Após um pedido da campanha do petista, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) determinou no inícioa roletasetembro a remoção das publicações, que não estão mais no ar, por "deturpar e descontextualizar quatro notícias a fima roletagerar a falsa conclusão, no eleitor,a roletaque o ex-presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores apoiam invasãoa roletaigrejas e a perseguiçãoa roletacristãos".

A reportagem entroua roletacontato com a campanhaa roletaLula, mas não obteve resposta.

Postagensa roletaEduardo e Flávio Bolsonaro no Twitter trazem discurso falsoa roletaque há ameaça aos cristãos no Brasil

Crédito, Reprodução / Twitter

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Postagensa roletaEduardo e Flávio Bolsonaro no Twitter trazem discurso falsoa roletaque há ameaça aos cristãos no Brasil

Eduardo Bolsonaro já tinha recebido ordens do TSE para tirar do ar um vídeo que, segundo o tribunal, apresentavaa roletaforma descontextualizada e editada um material cujo objetivo era dizer que Ciro Gomes, candidato à presidência do PDT, prega a desarmonia entre as religiões.

A postagem afirma, entre outras coisas, que Ciro "comparou igrejas com o narcotráficoa roleta2018". "Os recortes são manipulados com o objetivoa roletaprejudicar a imagem do candidato, emprestando o sentidoa roletaque ele seria contrário à fé católica e odioso aos cristãos", escreveu o ministro Raul Araújo, do TSE, na decisão.

'Discursoa roletaódio para destruir as igrejas evangélicas'

As mensagens que fazem referência a uma ameaçaa roletaperseguição aos cristãos não estão apenas no Facebook, Instagram e Twitter. São compartilhadas também por usuários desconhecidosa roletaaplicativosa roletamensagem como WhatsApp e Telegram, com muito menos controle das autoridades.

Segundo levantamento feito pelo Monitora roletaWhatsApp da UFMG a pedido da BBC News Brasil, a mensagem mais compartilhada nos maisa roletamil grupos públicos acompanhados na rede social desde o começo do ano e que contém expressões como 'cristofobia', 'destruir as igrejas' e 'intolerância religiosa' é tambéma roletaataque ao ex-presidente Lula.

A postagem diz, entre outras coisas, que o candidato "não tem apreço por pastores e militares, faz um verdadeiro discursoa roletaódio para destruir as igrejas evangélicas" e foi enviada um totala roleta19 vezes por 6 usuários distintosa roleta15 dos grupos monitorados pelos pesquisadores.

A segunda mais repostada, porém, também contém distorções, mas contra o presidente Jair Bolsonaro.

"O povoa roletaDeus abandonou Bolsonaro e suas mentiras, ele é o enviado da morte, fome, desgraça e desemprego, que veio para destruir as igrejas evangélicas com política, e jogar irmão contra irmão", diz o texto, enviado 18 vezes por 3 usuários distintosa roleta10 grupos.

Fake news difundida no WhatsApp se refere a lei que proibiria a pregação religiosa

Crédito, Coletivo Bereia

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Fake news difundida no WhatsApp se refere a lei que proibiria a pregação religiosa

Entre as mensagens detectadas pela UFMG há ainda uma que se refere a uma suposta "leia roletaproteção doméstica"a roletadebate no Senado Federal que proibiria a pregação religiosa. Ela foi enviada um totala roleta68 vezes por 49 usuários distintos e apareceua roleta63 grupos.

A mensagem cita uma iniciativa debatida no Senado que teria como objetivo, entre outras coisas, determinar a prisão religiosa por pregaçõesa roletahorários impróprios e a sançãoa roletacongregações e fiéis. Segundo o coletivo Bereia, trata-sea roletauma notícia falsa, e não existe Projetoa roletaLeia roletadiscussão denominado "Proteção Doméstica".

O textoa roletatramitação mais próximo ao citado é o PL 524/2015, que está parado no Senado Federal e prevê estabelecer limites para emissão sonora nas atividadesa roletatemplos religiosos, sem menção à prisão religiosa, proibiçãoa roletapregações ou limitação da liberdade religiosa.

'Um alerta à igreja'

Mas nem todos os posts identificados pela reportagem são imediatamente reconhecidos como fake news. Enquanto alguns usam notícias ou declarações tirados do contexto com o objetivoa roletadesinformar, outros simplesmente reproduzem o discurso que explora o temora roletarestrição à liberdade religiosa.

Um vídeoa roletaque o ex-presidente Lula aparece falando justamente do crescimento das fake news religiosas e acusa algumas pessoasa roleta"fazer da Igreja um palanque político" foi compartilhado com frequência no finala roletasemanaa roleta20 e 21a roletaagosto e associado a um ataque a pastores e igrejas.

"Tem muita fake news religiosa correndo por esse mundo. Tem demônio sendo chamadoa roletaDeus e gente honesta sendo chamadaa roletademônio", diz o petista na gravação feita durante um comício. Em seguida, ele afirma que,a roletaum eventual novo governo seu, o Estado será laico. "Eu, Luiz Inácio Lula da Silva, defendo Estado laico, o Estado não tem que ter religião, todas as religiões têm que ser defendidas pelo Estado", diz

"Igreja não deve ter partido político, tem que cuidar da fé, nãoa roletafariseus e falsos profetas que estão enganando o povoa roletaDeus. Falo isso com a tranquilidadea roletaum homem que crêa roletaDeus."

"Mais uma vez Lula zomba da fé cristã", escreveu a deputada Carla Zambellia roletapost compartilhado no Twitter

Crédito, Reprodução

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"Mais uma vez Lula zomba da fé cristã", escreveu a deputada Carla Zambellia roletapost compartilhado no Twitter

Ao ser compartilhado nas redes sociais, porém, o vídeo foi descrito como uma demonstraçãoa roletaódio ou zombaria. "Mais uma vez Lula zomba da fé cristã. Desta vez, atacando o sacerdócio e a honraa roletapadres e pastores. INACEITÁVEL!", escreveu a deputada Carla Zambelli.

A BBC News Brasil procurou Zambelli, que afirmoua roletanota que "existe, sim, uma ameaça à liberdade do Cristianismo no Brasil, e não podemos ignorar isso tão somente argumentando que vivemosa roletaum país majoritariamente cristão".

"Os ataques ocorrem não apenas a templos e igrejas, mas a valores cristãos. A censura à manifestação religiosa é uma tática antigaa roletaideologiasa roletaesquerda, como no regime soviético, que taxou igrejas, proibiu a venda e circulação da Bíblia Sagrada e praticou diversas campanhas antirreligiosas", disse ainda a deputada, que é autoraa roletaum projetoa roletalei para ampliar a legislação sobre crimes contra a liberdade religiosa.

O vídeo também foi repostado por Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro e pelo deputado Marco Feliciano.

Carlos Bolsonaro não respondeu ao pedidoa roletacomentário feito pela reportagem. Em nota, Feliciano afirmou que suas postagens não se tratama roletafake news e que partea roleta"premissas incontestes" quando faz alertas sobre a ameaça à liberdade religiosa dos cristãos.

"Desavisados, manipuladores e as esquerdas atribuem às ideias conservadoras como fake news. Numa narrativa rasa dos assuntos que não lhes convém! Quando eu publico um alerta ao povo que me elegeu, cristãos evangélicos e conservadores, eu partoa roletapremissas incontestes!", disse Marco Felicianoa roletanota enviada à BBC News Brasil.

"Em todos os paísesa roletaque a esquerda socialista-comunista tomou o poder à força ou pela urnas, quando não conseguiu uma Igreja subserviente, partiu para a mais atroz perseguição, como estamos assistindo na Nicarágua, que persegue a Igreja Católica expulsando freiras e fechando as emissorasa roletarádio cristãs, regime que tem muitos amigos por aqui (Brasil). Completo: não se trataa roletafalso temor, mas da sabedoria popular: 'o seguro morreua roletavelho'".

Postagem na página no Instagram do deputado e pastor Marco Feliciano

Crédito, Reprodução / Instagram

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Postagem na página no Instagram do deputado e pastor Marco Feliciano

Mas a professora Marie Santini, da UFRJ, afirma que mensagens como as postadas pelos filhos e aliadosa roletaBolsonaro geram desinformação e alardeiam pânico sem apresentar evidências que justifiquem esse temor.

"Entendemos fake news como algo que parece jornalismo, mas na verdade é só propaganda. A desinformação é algo mais amplo, inclui teorias da conspiração, distorçãoa roletafatos, discursosa roletaódio e que citam a intolerância e o ódio, por exemplo", diz Santini.

Em alguns dos vídeos compartilhados pelo pastor Silas Malafaia, a reportagem também identificou o discurso classificado como desinformativo pelos especialistas e que trata, por vezesa roletaforma implícita, da ameaçaa roletaperseguição aos cristãos.

Postagem do pastor Silas Malafaia no Instagram

Crédito, Reprodução / Instagram

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"Ficamos chocados, estão queimando Bíblia, estão fechando igreja. Mas estamos votandoa roletagente que apoia governos que fecham igrejas e que queimam Bíblias", diz Malafaiaa roletavídeo.

Em um vídeo postadoa roletaseu canal no YouTubea roleta4a roletasetembro e compartilhado tambéma roletasuas páginas no Facebook, Instagram e Twitter, o pastor faz um "alerta" àa roletaigreja e fala sobre um avanço "com toda força" contra os evangélicos.

"Ficamos chocados quando comunistas e ímpios rasgam a Bíblia e tacam fogo nela. E quando os crentes rasgam a Bíblia do seu coração apoiando gente que nos odeia e odeia nossos fundamentos e princípios?", diz Malafaia, no vídeoa roletacercaa roleta11 minutos.

"Eu estou dando um alerta, depois não chora. Porque meu irmão, vão vira roletacima da igreja com toda força (...), porque nós somos o último guardião contra aquilo que eles creem e acreditam."

O vídeo tem maisa roleta150 mil visualizações no YouTube. Um trecho compartilhado no perfila roletaMalafaia no Instagram tem 84 mil curtidas.

A reportagem procurou o pastor Silas Malafaia, que afirmou que suas postagens não são fake news e que suas manifestações fazem partea roletaseu direitoa roletaexpressão. "A minha fala não tem relação com perseguição. O que estou dizendo é que não podemos apoiar um candidato que é contra nossas crenças, valores e fundamentos", disse.

Como exemplosa roletamedidas que corroborama roletavisão, Malafaia citou a PLC 122/2006, que criminaliza a homofobia, como um projeto cujo objetivo era "botar padre e pastor na cadeia que impedisse que gays dessem beijo no pátio da igreja" e que foi apoiado pelo PT.

Ema roletaredação final aprovada na Câmara dos Deputados, antesa roletaser enviado ao Senado, a proposta citada pelo pastor não mencionava padres ou pastores. Um dos artigos previa penaa roletareclusãoa roletadois a cinco anos para quem impedisse ou restringisse a expressão e a manifestaçãoa roletaafetividadea roletalocais públicos ou privados abertos ao público por discriminação ou preconceitoa roletagênero, sexo, orientação sexual e identidadea roletagênero. O projeto, porém, foi arquivado.

Malafaia disse ainda que, durante seu governo, a ex-presidente Dilma Rousseff "promoveu através do secretário Rachid da Receita Federal perseguição às igrejas". "Eu sou um que sofreu perseguição e multas violentas,a roletapura maldade", disse à BBC News Brasil.

'Cristofobia'

O uso do tema da perseguição a cristãos pela esquerda, porém, não é novo. O discurso remonta às eleiçõesa roleta1989, quando o PT lançou Lula candidato pela primeira vez e apoiadoresa roletaFernando Collora roletaMello usaram o imaginário da ameaça comunista relacionada ao PT e o discursoa roletaque ele fecharia as igrejas para apoiara roletacampanha.

A narrativa foi retomada com mais força mais recentemente, nas eleições municipaisa roleta2020, sob o rótulo do termo "cristofobia". Dentro das esferas evangélicas, o termo tem sido usado para se referir a perseguições sofridas por adeptos do cristianismoa roletadiversos países, principalmentea roletalocais onde eles são minoria. Bolsonaro usou a expressãoa roletadiscurso na ONU naquele ano.

"Há alguns anos, eram mais comuns as postagens que identificavam casosa roletaperseguição a cristãos no Oriente Médio, na China ea roletapaíses ligados ao comunismo. As mensagens criavam um certo pânicoa roletatorno disso e chamavam os cristãos brasileiros para que tivessem solidariedade", afirma Magali Cunha.

"Masa roleta2020 para cá, temos observado que se está trazendo para a realidade do Brasil esse tipoa roletaabordagem."

Postagem do vereador Carlos Bolsonaroa roletaseu canal no Telegram

Crédito, Reprodução / Telegram

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Postagem do vereador Carlos Bolsonaroa roletaseu canal no Telegram

O antropólogo Flávio Conrado é assessora roletacampanhas do grupoa roletapesquisa Casa Galileia e coordena um projetoa roletamonitoramentoa roletaperfis cristãos nas redes sociais.

Segundo ele, a narrativaa roletaperseguição religiosa tem objetivoa roletaatingir especialmente os grupos evangélicos, masa roletamuitos momentos também acaba por chamar a atençãoa roletacatólicos mais conservadores.

"Algumas das vozes por trás das postagens usam uma estratégiaa roletase associar aos católicos e passam a falara roletanome dos cristãos como um todo", diz. Para Conrado, o objetivo por trás da campanhaa roletadesinformação é usar o temora roletaum ambientea roletaperseguição para atrair votos.

De acordo com Débora Salles, o discursoa roletaameaça à liberdade religiosa dos cristãos também se misturaa roletaforma intensa com uma outra narrativa que vem sendo difundida com frequência nas redes sociais — aa roletaque existe uma "guerra"a roletavalores morais entre evangélicos e a esquerda.

"Essas narrativas se baseiama roletauma lógica populistaa roletaque tenta se criar a ideiaa roletaque há uma guerra político culturala roletaque os evangélicos deveriam se juntar pela defesa dos seus valores, que estão ameaçados por uma esquerda associada a instituições democráticas, à mídia tradicional e a figuras importantes do cenário cultural", explica a pesquisadora

Em algunsa roletaseus vídeos para as redes sociais, o vereador mineiro Nikolas Ferreira (PL-BH) dá voz a esse discurso.

"Esse vídeo é um alerta para abrir os nossos olhos para a guerra silenciosa que estamos vivendo", diz elea roletaum vídeoa roletamarço,a roletaque fala sobre uma "doutrinação" nas escolas e universidades e cita a criaçãoa roletaum exército pelo que define como "o inimigo" dos cristãos.

Em outra postagem, associa a campanha do ex-presidente Lula à ditadura da Nicarágua e à invasãoa roletaigrejas. "Essa galerinhaa roletaesquerda gostaa roletainvadir uma igreja né? Imagina quantas igrejas não serão invadidas se o Lula estiver no poder?", diz no vídeo, que tem maisa roleta500 mil curtidas.

O vereadora roleta26 anos tem uma grande comunidadea roletafãs nas redes, com 3,1 milhõesa roletaseguidores no Instagram e 1,4 milhão no TikTok.

Nikolas Ferreira, enviou a seguinte nota à reportagem: "Eu não me baseeia roletaachismo ou levantei meras suposições, mas expus fatos que evidenciam igrejas sendo invadidas, imagens sendo quebradas e profanadas nos países da América Latina. A perseguição já existe. Inclusive, o amigo do Lula, Daniel Ortega, está fechando rádios católicas e perseguindo fiéis na Nicarágua. Desinformar é dizer o contrário."

Segundo o antropólogo Flávio Conrado, também são comuns os conteúdos desinformativos que, por exemplo, associam o PLC 122/2006, projetoa roletalei chamado informalmentea roleta"projeto anti-homofobia", apresentadoa roleta2001 para punir criminalmente discriminaçãoa roletagênero ea roletaorientação sexual, com a perseguição a pastores e o fechamentoa roletaigrejas.

A proposta foi arquivada no finala roleta2014, masa roletajunhoa roleta2019 o STF decidiu pela criminalização da homofobia e da transfobia, com a aplicação da Lei do Racismo (7.716/1989).

Em um vídeo compartilhado no inícioa roletaagosto, o deputado Marco Feliciano afirma que pastoresa roletatodo o Brasil estão sendo perseguidos e processados por se recusarem a celebrar casamentos entre pessoas do mesmo. "A liberdadea roletaconsciência e crença estáa roletajogo. A Igreja precisa resistir!!!", escreveu na legenda.

Mas há ou não perseguição a cristãos no Brasil?

Todos os anos, a ONG internacional Portas Abertas, que auxilia cristãos que sofrem opressão por contaa roletasua religião, produz um ranking dos 50 países onde seguidores do cristianismo são mais perseguidos por causaa roletasua fé.

O estudo é feito a partira roletarelatosa roletaincidentesa roletaviolência. Na ediçãoa roleta2022 do ranking, os únicos países da América Latina citados como localidades onde há perseguição severa são Colômbia (30ª posição), Cuba (37ª) e México (43ª).

Há ainda uma listaa roletapaísesa roletaobservação, que engloba outras 26 nações — entre elas estão Nicarágua (61°), Venezuela (65°), Honduras (68°) e El Salvador (70°). O ranking é elaborado anualmente e a edição atual foi feita entre setembroa roleta2020 e outubroa roleta2021, o que significa que a classificaçãoa roletaalguns países pode mudar na próxima publicação.

O governo da Nicarágua, citadoa roletamuitos dos conteúdos desinformativos identificados pela reportagem, tem sido,a roletafato, denunciado por repressão à Igreja Católica no país. A tensão entre o Executivo do presidente Daniel Ortega e a instituição cresceu desde que o clero forneceu abrigo a estudantes envolvidos nos protestosa roleta2018.

Mas desde que a lista do Portas Abertas começou a ser feita, há quase 30 anos, o Brasil não aparece no ranking e é classificado como livrea roletaperseguição.

Segundo o sociólogo Clemir Fernandes, pesquisador do Institutoa roletaEstudos da Religião (Iser) e pastor da Igreja Batista, o discursoa roletatorno da cristofobia sequer faz sentidoa roletaum país como o Brasil, onde 86,8% da população se identifica como cristã, entre católicos e evangélicos, segundo dados do censoa roleta2010 do IBGE (Instituto Brasileiroa roletaGeografia e Estatística).

"Não é possível falara roletaperseguição a um grupo que não só é majoritário numericamente, como também tem grande representação nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e na cultura brasileira", diz.

Aindaa roletaacordo com o pesquisador, o ambientea roletaconfiança criadoa roletatorno das igrejas evangélicas e os laços formados entre os fiéis facilita a difusão dos conteúdos falsos nesse ambiente.

"Muitas pessoas podem julgar as informações passadas nos grupos evangélicos como verdadeiras porque não verificam aa roletaveracidade, mas também porque elas foram repassadas por irmãosa roletafé", diz Clemir Fernandes.

Pastor Silas Malafaia e outras lideranças evangélicas rezam ao redor do presidente Jair Bolsonaro e da primeira-dama Michelle Bolsonaro na Marcha para Jesus no Rioa roletaJaneiro

Crédito, Getty Images

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Pastor Silas Malafaia e outras lideranças evangélicas rezam ao redor do presidente Jair Bolsonaro e da primeira-dama Michelle Bolsonaro na Marcha para Jesus no Rioa roletaJaneiro

Mas há preconceito?

Embora não haja evidênciasa roletaperseguição concreta a cristãos no Brasil, pesquisadores afirmam que há "arrogância" e "preconceito", especialmente por parte da elitea roletaesquerda, ao falar sobre evangélicos.

No segundo turno da eleiçãoa roleta2018, o então candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, chamou o pastor Edir Macedo, fundador da Igreja Universal,a roleta"representante do fundamentalismo charlatão".

Para o historiador e antropólogo Juliano Spyer, isso custou votos a Haddad e deu munição a segmentos evangélicos que defendiam um apoio formala roletasuas igrejas a Bolsonaro.

"As camadas médias e altas do Brasil têm uma visão foraa roletafoco do Brasil popular e ignoram esse fenômeno [evangélico]. Isso é problemático, porque generaliza a imagema roletaum grupoa roletabrasileiros com imensa importância cultural, econômica e política", diz Spyer, que é autor do livro O Povoa roletaDeus: Quem são os evangélicos e por que eles importam.

"Ao tratar os evangélicosa roletaforma desrespeitosa, arrogante, desinformada e com uma sériea roletacríticas por serem religiosos, estamos abrindo mão do diálogo com as pessoas que têm valores conservadores".

'Realmente acho que pode acontecer aqui no Brasil'

Luciana Casa Grande,a roleta40 anos, frequenta uma Igreja Batistaa roletaSão José dos Campos, São Paulo. Assim como muitos outros evangélicos no país, ela vem sendo exposta nas redes sociais a conteúdos que alardeiam uma ameaça à liberdade religiosa dos cristãos.

"Leio com frequência postagens e notícias nas redes sociais que falam sobre invasões, incêndios e atentadosa roletaigrejas ou assassinatosa roletacristãos na África ea roletaoutros lugares", afirmou a arquiteta à BBC News Brasil. "Pela intolerância que vejo, principalmente dos partidosa roletaesquerda ou daqueles que se autodenominam socialistas ou comunistas, realmente acho que pode acontecer aqui no Brasil."

Luciana afirma acompanhar com frequência o perfila roletaalguns dos aliadosa roletaJair Bolsonaro citados pela reportagem, como Nikolas Ferreira e a vereadora Sonaira Fernandes (PL-SP), outra aliadaa roletaJair Bolsonaro que dá voz ao discurso desinformativoa roletaperseguição religiosa.

Em um post na página do Instagrama roletaFernandes,a roletaque a vereadora que se autodenomina cristã fala sobre a possibilidadea roletaataques ao cristianismo no Brasil a partira roletaum vídeoa roletauma homiliaa roletaum bispo católico, Luciana expressoua roletaapreensão: "Deus é maior! É hora dos cristãos se posicionarem e se colocarem à disposiçãoa roletaNosso Senhor Jesus Cristo!", escreveu a paulista nos comentários.

Em nota enviada à reportagem, a vereadora Sonaira Fernandes disse que é cristã "antesa roletaser qualquer outra coisa, e tenho todo direitoa roletaexpressar minhas convicções religiosas, conforme prevê a Constituição".

"Diz o filósofo Luiz Felipe Pondé que o único preconceito ainda socialmente aceito no Brasil é contra evangélicos e católicos. Isso fica evidente quando uma declaração minha, que reflete minha cosmovisão cristã, é demonizada e criminalizada", afirma.

Postagem da vereadora Sonaira Fernandes no Instagram

Crédito, Reprodução / Instagram

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'Precisamos estar vigilantes e defender a fé cristã contra seus inimigos', escreveu a vereadora na legenda do vídeo

Luciana já tem seu candidato à presidência definido: "Vou votar no Bolsonaro, principalmente porque ele defende as coisasa roletaque eu acredito", diz.

"Gosto da defesa que ele faz pelo fim da sexualização das crianças. A questão do aborto também, eu sou contra o aborto".

Algumas informações que circulam nas redes sociais sobre o ex-presidente Lula também influenciaram Luciana no momentoa roletaescolher seu candidato. "Temos ouvido falar que o Lula vai colocar os padres e os pastoresa roletaseu devido lugar. Sempre faz um ataque nesse sentido", diz a arquiteta.

"Vi na internet ea roletacortesa roletavídeos, mas não me lembro onde exatamente. Leio muita coisa, não fico catalogando."

- Este texto foi publicadoa roletahttp://www.mi-rob.com/brasil-62985337

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