'Emagreci 20 quilos durante a gravidez e os médicos não entendiam por quê':surebet com
- Vinícius Lemos
- De Cuiabá para BBC News Brasil
surebet com Um dos maiores sonhos da professora Michelle Munhoz,surebet com32 anos, era osurebet comse tornar mãe. Quando descobriu que estava grávida, ficou imensamente feliz. Os mesessurebet comgestação, porém, foram difíceis esurebet comintenso sofrimento.
Sentia constantes dores pelo corpo, faltasurebet comar e dificuldades para andar. Passava os dias deitada e sem ânimo. Ela relata ter perdido 20 quilos ao longo da gestação. A professora, que morasurebet comArapongas (PR), procurou diversos médicos para descobrir a origem dos problemassurebet comsaúde. "Eles afirmavam que tudo isso tinha a ver com a gravidez", diz ela à BBC News Brasil.
Os especialistas que atenderam a professora diziam que os problemas enfrentados por ela durante a gestação eram consequênciassurebet comuma depressão esurebet comenjoos frequentes. "Eu pensei algumas vezes que fosse algo mais grave, mas acabava acreditando no que os médicos diziam."
O habitual é que as mulheres ganhem peso durante a gravidez, principalmente após os três primeiros meses. O cálculo para definir se uma gestante ganhou peso adequado é feito com base no Índicesurebet comMassa Corporal (IMC) — equação que levasurebet comconta o peso e a altura da pessoa.
"O ganho é diferente para cada gestante. Se uma está com o IMC adequado (IMC 18 a 25), ela pode ganharsurebet com11,5 a 16 quilos. Se ela estiver com baixo peso (IMC menor que 18) poderá ganhar até 18 quilos. Entretanto, as gestantes com sobrepeso ou obesas terão que seguir orientação alimentar, pois o ganhosurebet compeso é bem menor", explica Silvana Quintana, professora do Departamentosurebet comGinecologia e Obstetrícia da Universidadesurebet comSão Paulosurebet comRibeirão Preto.
Durante o primeiro trimestre da gestação, pode haver casossurebet comque as gestantes percam peso, pois é uma fasesurebet comque estão com frequentes náuseas e vômitos, características relacionadas aos elevados níveis hormonais próprios da gravidez. Em geral, a perdasurebet compeso — que costuma corresponder, nos níveis mais extremos, a 10% do peso pré-gravidez — cessa ao fim dos primeiros três meses.
"A assistência pré-natal é fundamental para o cuidado da saúde materna e fetal. A cada consulta, a gestante é pesada e é avaliado se o ganhosurebet compeso está adequado ou não. No casosurebet comperdasurebet compeso, o médico analisa se há motivo para essa diminuição, como vômitos, diarreia, usosurebet commedicamentos que levam a intolerância gástrica etc.", diz Quintana.
Michelle conta que fez o pré-natal adequado e recebia acompanhamento médico. "Todos os problemas que eu tive foram associados pelos médicos à gravidez."
O filho da professora nasceu prematuro. Michelle estava completamente fraca e não conseguia segurar o recém-nascido.
Maissurebet comum mês depois, foi a um novo médico, que finalmente a diagnosticou com linfomasurebet comHodgkin, câncer no sistema linfático,surebet comestágio avançado. "Ele me disse que era um milagre eu e meu filho estarmos vivos."
A gravidez
Desde meadossurebet com2016, Michelle e o marido, o autônomo Jônatas Biacio,surebet com39 anos, tentavam ter um filho. As chances para que a professora conseguisse engravidar eram pequenas,surebet comrazãosurebet comduas doenças que ela possui no útero: endometriose profunda e adenomiose.
A endometriose é uma doença na qual o tecido que reveste o útero, conhecido como endométrio, crescesurebet comoutros locais do organismo, como ovários, bexiga ou intestino. Michelle foi diagnosticada com o nível mais grave da doença. Já a adenomiose ocorre quando o endométrio cresce nas fibras musculares da parede uterina.
A professora passou por duas cirurgias para cuidar da endometriose e fez tratamento com hormônio para induzir a ovulação. "Fiz esse tratamento por quatro meses. Muitos resultados deram negativo. Penseisurebet comdesistir. Massurebet comoutubrosurebet com2017, soube que estava grávida", relata Michelle. "Não há sensação mais incrível. Não há palavras que consigam expressar o sentimentosurebet comalegria quando descobri a gestação."
A gravidezsurebet comMichelle foi consideradasurebet comrisco, por causa dos problemas no útero. "Desde o início, tive enjoo constante, que não passava. O médico disse que isso seria normal até o quarto mês. Além disso, eu não conseguia comer nada. Até o terceiro mês, emagreci normalmente, mas a partir do quarto passei a emagrecer muito", relata.
Perdasurebet compeso e problemassurebet comsaúde
A frequente perdasurebet compeso preocupou Michelle. Os problemassurebet comsaúde se intensificaram. Ela passou a ter dificuldades para caminhar, respirar e precisou se afastar das salassurebet comaula — ela é professorasurebet comsociologia, história e ciências sociais, na rede estadual do Paraná.
Para os médicos que a acompanhavam, poderia ser um casosurebet comdepressão profunda. "Me encaminharam a cardiologista, endocrinologista, nutricionista e hematologista. Eu fazia acompanhamento semanal. Os médicos me pediam examessurebet comsangue e, quando chegavam os resultados, falavam que algo não estava normal, mas diziam que era por causa da gravidez."
"Eu estava completamente fraca. Passava meus dias deitada, junto com um terço e pedindo forças a Deus", conta a professora, que é católica.
As dificuldadessurebet comMichelle para se alimentar preocuparam o marido dela. "Eu achava que ela não comia por frescura. Os médicos diziam que ela não tinha nada. Então, ficávamos tentando empurrar comida para ela, pois acreditávamos que fossem enjoos normais da gravidez", diz Jônatas.
A rotina alimentarsurebet comMichelle se resumia a consumir líquidos. Mesmo com a situaçãosurebet comMichelle cada vez pior, os médicos associavam os problemas à depressão e aos enjoos. "Não era normal alguém perder tanto peso assim durante a gestação. Mas ainda assim não tentavam descobrir o que eu tinha. Para eles, era tudo culpa da gestação."
"Desde o início, me preocupeisurebet comir atrás dos melhores especialistas da região. Mas nada foi descoberto", explica Michelle. "Em nenhum momento me pediram exames mais aprofundados, que poderiam, ao menos, indicar que havia algo errado comigo."
Silvana Quintana, da USP, ressalta que não é normal que uma gestante perca 20 quilos durante a gravidez. "Mesmosurebet compacientes obesas, essa perda é significativa e indica que há alguma inadequação", diz.
'Não tinha forças para segurar meu filho'
Um dos episódios mais difíceis para Michelle durante a gestação foi o chásurebet combebê do filho. Na comemoração, que reuniu amigos e familiares, ela conseguiu ficarsurebet compé poucas vezes. "As pessoas estranhavam a minha aparência, porque eu estava muito mal. Não tinha forças", relembra.
Cercasurebet comduas semanas depois, Michelle passou malsurebet comcasa e sentiu dores intensas na barriga. No hospital, descobriu que deveria passar por uma cesárea às pressas, no sétimo mêssurebet comgestação. "O médico me disse que meu filho estavasurebet comsofrimento, porque eu estava perdendo muito líquido amniótico."
O pequeno Samuel nasceu saudável,surebet com7surebet commaiosurebet com2018. Por ser prematuro, foi encaminhado para uma incubadora, na UTI neonatal. Michelle diz que o parto do filho não foi um momento mágico, como ela esperava.
"Eu estava muito inquieta e nervosa, porque sabia que meu filho estava sofrendo e seria um parto complicado. Além disso, eu não conseguia respirar direito", diz. Ela descobriria, posteriormente, que a dificuldade para respirar era causada por líquido que haviasurebet comseu pulmão, uma das consequências do linfoma.
A fraquezasurebet comMichelle a impediusurebet comsegurar o próprio filho depois do parto. "Não tinha forças. As pessoas achavam que era depressão pós-parto, ou que eu era um monstro, mas era porque eu realmente não aguentava ele. Foi muito difícil lidar com essa situação", detalha.
Ela passou sete dias internada após a cesárea. Nesse período, viu o filho poucas vezes. "Passava o dia dormindo. Quando via o meu filho na UTI, não conseguia segurá-lo", relata a professora. Por conta dos problemassurebet comsaúde, ela não conseguiu amamentar o recém-nascido.
Samuel passou 15 dias internado, mas não teve nenhum problemasurebet comsaúde. "Ele não precisou,surebet comnenhum momento,surebet comrespirador. A médica falou que o meu filho foi um guerreiro", diz Michelle.
'Quase não havia sangue no meu corpo'
Já Michelle continuava com dores pelo corpo e sem forças, mesmo 40 dias após dar à luz. A aparência dela causava estranheza entre os familiares, que decidiram levá-la com urgência a um novo médico. "Ela continuava muito fraca e a pele estava sem cor", relata o marido da professora.
O novo médico que a atendeu, um clínico-geral, estranhou a história da paciente que perdeu 20 quilos durante a gravidez. "Ele sabia que havia algo errado comigo e me disse que só sossegaria quando descobrisse o que eu realmente tinha", relata. O médico notou diversos linfonodos (caroços) no corpo da paciente e pediu exames mais aprofundados.
Debilitada, Michelle tevesurebet comreceber transfusão. "Quase não havia sangue no meu corpo", conta.
Dias depois, os exames apontaram que ela estava com linfomasurebet comHodgkin, um tiposurebet comcâncer que surge nos gânglios do sistema linfático — área composta por órgãos e tecidos que produzem as células responsáveis pela imunidade.
Quando o linfoma foi descoberto, já havia atingido membranas ao redor do pulmão e do coraçãosurebet comMichelle e a área da axila e da virilha dela. "Eu estava cheiasurebet comnódulos. Também havia muito líquido na região do coração e do pulmão, o que dificultava a minha respiração."
De acordo com o Instituto Nacionalsurebet comCâncer (Inca), no ano passado foram diagnosticados 2.530 casossurebet comlinfomasurebet comHodgkin no Brasil, sendo 1.480 registradossurebet comhomens e 1.050surebet commulheres. Conforme o Datasus,surebet com2015, dado mais recente, 562 pessoas morreramsurebet comdecorrência desse tiposurebet comcâncer no país.
Michelle foi diagnosticada com o câncersurebet comestágio quatro, o mais grave. "Não é possível afirmar quando surgiu exatamente. Mas a demora do diagnóstico fez com que ele fosse descobertosurebet comum estágio avançado", conta. "Na sala do médico, quando ele me contou, eu só conseguia chorar com a cabeça baixa. Parecia uma sentençasurebet commorte."
"Eu sabia que o câncer tinha cura, mas ela estava muito debilitada e como estavasurebet comuma fase muito avançada da doença, não sabia se ela ia aguentar o tratamento", diz o marido.
Em meados do ano passado, quase duas semanas depois da descoberta da doença, ela deu início ao tratamento contra o linfoma.
A hematologista Suelen Rodrigues Stallbaum, responsável pelo tratamento dela contra o câncer, relata que a paciente chegou ao consultório dela completamente abalada. "Ela estava com muito medo e um pouco desacreditada, porque durante toda a gestação falaram que aqueles sintomas dela não eram nada."
A médica comenta que poderia haver dificuldades para que os médicos identificassem o linfoma durante a gravidez.
O pequeno Samuel não foi afetado pela doença da mãe. "Como é um câncer no sistema linfático, não costuma passar para a criança. O máximo seria a restriçãosurebet comenviosurebet comnutrientes para o bebê, o que não aconteceu no caso da Michelle", diz a hematologista.
Por seis meses, Michelle fez 20 sessõessurebet comquimioterapia. Ela passou diferentes períodos internada. "A primeira quimioterapia foi a mais difícil. Eu estava muito fraca e sofri muito", relembra. A partir do segundo mês, o cabelo começou a cair. Mas, durante o terceiro mêssurebet comquimioterapia, Michelle viveu seu momento "mais especial" até então; ela conseguiu segurar o filho no colo pela primeira vez, sem precisarsurebet comajuda. "Foi uma sensação única."
Em fevereiro, ela concluiu as sessõessurebet comquimioterapia, e o tratamento foi considerado um sucesso. Pelos próximos cinco anos, a professora fará acompanhamento constante para avaliar possível recidiva da doença. "Somente podemos dizer que ela estará curada após esse período."
Para Michelle, tudo o que viveu desde a gestação pode servirsurebet comalerta para outras pessoas. "Descobri que é fundamental buscar respostas quando o organismo não está agindosurebet comforma correta. As pessoas precisam ir atrássurebet comprofissionais que realmente cuidem delas e que elas sintam que queiram ajudá-las."
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