O que significa ser fascista?:plinko da blaze

Ilustraçãoplinko da blazefascista

Crédito, Daniel Arce Lopez/BBC

Para isso, é importante entender primeiro as origens desta ideologia e se ela se enquadra à esquerda ou à direita do espectro político. Depois, vamos discutir por que alguns pesquisadores identificam elementos do fascismoplinko da blazemovimentos atuaisplinko da blazeextrema direita - e por que alguns consideram que a ideologia ficou no passado.

Por fim, entenderemos como o uso desses termos se transformou num insulto tão usado na briga política do Brasil eplinko da blazeoutros países.

As origens do fascismo

A Primeira Guerra Mundial deixou cercaplinko da blaze20 milhõesplinko da blazemortos, outros 20 milhõesplinko da blazeferidos e a Europa destruída.

Mas o sangrento conflito, que durou entre 1914 e 1918, também deixouplinko da blazeruínas as instituições políticas do mundo, com alternativas ao modo dominante do capitalismo da época surgindo das cinzas da guerra: enquanto na Rússia os bolcheviques implantavam a primeira experiência comunista a partir da revoluçãoplinko da blaze1917, na Itália, Benito Mussolini, ex-jornalista, ex-socialista e ex-combatente, criava o movimento que ficaria conhecido como fascismo.

O início oficial do fascismo é normalmente situadoplinko da blaze23plinko da blazemarçoplinko da blaze1919, quando Mussolini fundouplinko da blazeMilão o grupo Fasci Italiani di Combattimento, que reunia veteranos da guerra, sindicalistas e jovens intelectuais.

ilustração do feixeplinko da blazemadeira que deu origem ao nome fascismo

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Ilustração do feixeplinko da blazemadeira que deu origem ao nome fascismo

O objetivo principal dos integrantes era combater o socialismo, considerado por eles o oposto do nacionalismo defendido pelos fascistas. O programaplinko da blazepropostas do grupo, no entanto, era repletoplinko da blazelacunas, contradições e apropriações.

A começar pelo nome, que não era exatamente uma novidade política. Ele se baseava na palavraplinko da blazeorigem latina fasces, uma espécieplinko da blazemachado com gravetos amarrados usado na Roma antiga como símboloplinko da blazeautoridade e unidade do Estado — umplinko da blazeseus significados sugeria que pode ser fácil quebrar um graveto, mas é muito mais difícil quebrar um feixe deles.

Mas o símbolo das fasces já era usado por outros grupos antesplinko da blazeser adotado por Mussolini, inclusive como emblemaplinko da blazesolidariedade entre os militantesplinko da blazemovimentosplinko da blazeesquerda e revolucionários na Europa, por exemplo.

De qualquer forma, Mussolini e seus aliados passaram a atuar como um partido na política italiana, mesmo que suas propostas não fossem muito claras e que, por vezes, não passassemplinko da blazeprovocações e atosplinko da blazeviolência praticados pelos "camisas-negras", nome pelo qual ficaram conhecidos os apoiadores fascismo pela cor das vestimentas que usavam.

Benito Mussolini

Crédito, Getty Images

Para se ter uma ideia, Mussolini foi questionado certa vez pelo jornal italiano Il Mondo sobre quais seriam suas principais propostas políticas. Em resposta, o líder fascista disse: "Nosso programa é quebrar os ossos dos democratas do Il Mondo, e quanto antes, melhor".

Em um dos primeiros atos do movimento fascista, aliás, amigosplinko da blazeMussolini invadiram o jornal socialistaplinko da blazeque o líder trabalhou, deixando quatro mortos, 39 feridos e equipamentos destruídos.

Com poder crescente, o Partido Fascista é convidado a integrar a coalizão do governo italiano.plinko da blaze1921. No ano seguinte,plinko da blazemeio ao caos político na Itália, os camisas-negras marcham sobre Roma e Mussolini se apresenta como o único homem capazplinko da blazerestaurar a ordem. A ofensiva foi bem-sucedida.

Mussolini chega ao poder com apoio da monarquia,plinko da blazegrandes empresários e do Vaticano. E aos poucos desmonta todas as instituições democráticas. Em 1925, ele se torna ditador e assume o controleplinko da blazetodos os poderes do Estado. O regime parlamentar e democrático italiano daria lugar a um Estado totalitário regido pela faltaplinko da blazeliberdades individuais, políticas e organizacionais.

O movimento fascista italiano não estava sozinho emplinko da blazeascensão. Em 1933, seria a vez do líder nazi-fascista Adolf Hitler chegar ao poder na Alemanha. Ex-estudanteplinko da blazeartes e ex-combatente, ele aderiuplinko da blaze1919 a um partido extremista alemão, no qual ganhou cada vez mais influência com discursosplinko da blazetorno do ressentimentoplinko da blazeum país derrotado e humilhado na Primeira Guerra.

Hitler propunha remédios extremistas para os problemas do pós-guerra e culpava abertamente comunistas, judeus, ciganos e minorias religiosas por essas mazelas. Em 1920, ele funda o movimento nazista com bandeiras nacionalistas, antissemitas, anticomunistas e anticapitalistas. Três anos depois, ele tenta um golpeplinko da blazeEstado, mas acaba levado à prisão, onde escreve a obra Minha Luta, na qual destrinchaplinko da blazeideologia política, bastante inspirada no fascismo italiano.

Em 1932,plinko da blazemeio a um caos político e econômico na Alemanha, os nazistas se tornam o maior partido do Parlamento. No ano seguinte, Hitler se torna chanceler da coalizãoplinko da blazegoverno e, como Mussolini, desmonta as instituições democráticas e se torna ditador. Em 1939, os fascistas italianos e os nazistas alemães assinam um pacto militar, e a Alemanha invade a Polônia, dando início à Segunda Guerra Mundial.

Mas o que define o fascismo?

A ascensãoplinko da blazeMussolini e Hitler fez com que analistas no mundo todo passassem a tentar entender melhor a ideologia responsável pelo genocídioplinko da blazemilhõesplinko da blazepessoas e por uma guerra que abalaria as estruturas do mundo todo.

Benito Mussolini e Adolf Hitler

Crédito, Getty Images

Ao longoplinko da blazedécadas, estudiosos conseguiram identificar alguns ingredientes típicos do caldeirão fascista: o líder forte, o contextoplinko da blazecrise socioeconômica, a participação das elites capitalistas, o militarismo, o racismo, o pragmatismo, o antiintelectualismo, o controle da sociedade, as paixões mobilizadoras, a propaganda, a mentira, o medo generalizado, a violência, a religião, o anticomunismo, o nacionalismo, a composição social, o imperialismo e a sociedadeplinko da blazemassa.

Há dezenasplinko da blazemilharesplinko da blazelivros e artigosplinko da blazetorno do tema, mas "no final das contas, nenhuma interpretação do fascismo parece ter conseguido satisfazer a todosplinko da blazeforma conclusiva", resume o cientista político e historiador americano Robert Paxton no livro Anatomia do Fascismo.

Ele próprio, inclusive, ofereceplinko da blazedefinição. Mas antes ele faz a ressalvaplinko da blazeque uma definição descreve tão bem (ou tão mal) um objetoplinko da blazeestudo quanto uma fotografia descreve uma pessoa.

Para Paxton, o fascismo pode ser definido como um comportamento político marcado por uma preocupação obsessiva com a decadência e a humilhaçãoplinko da blazeum grupo social, tido como vítima; um partidoplinko da blazebase popular formada por militantes nacionalistas; uma cooperação ambígua com elites tradicionais; um repúdio às liberdades democráticas; limpeza étnica (havia perseguição a judeus e a membros da etnia roma — conhecidos popularmente como ciganos— tanto no nazismo quanto no fascismo, por exemplo); expansão internacional violenta; e desrespeito às leis e à ética.

Adolf Hitler passaplinko da blazerevista à tropa nazista

Crédito, Getty Images

Mas mesmo assim há uma sérieplinko da blazeelementos que dificultam a definição do fascismo, como as diferenças entre as experiências consideradas fascistas, o pragmatismo do movimento — que o levou a se adaptar enquanto se consolidava no poder (ou seja, a facilidade com que o fascismo adotava e abandonava ideias a depender das circunstâncias) — e as semelhanças com outras formasplinko da blazepoder totalitárias, ditatoriais, populistas, autoritárias e tirânicas.

Assim como Paxton, diversos estudiosos buscaram identificar semelhançasplinko da blazemaior ou menor grau entre esses movimentos e regimes para chegar a uma definiçãoplinko da blazefascismo. O númeroplinko da blazecaracterísticas varia bastante, e chega a passarplinko da blaze20plinko da blazealgumas listas.

Um verbete assinado pela socióloga italiana Edda Saccomani no Dicionárioplinko da blazePolítica, organizado pelo filósofo Norberto Bobbio, aponta diversas características presentesplinko da blazetodos esses movimentos fascistas.

Entre eles, a monopolização da representação política por parteplinko da blazeum partido únicoplinko da blazemassa e hierarquicamente organizado, ideologia fundada no culto ao chefe, na exaltação da coletividade nacional, no desprezo pelos valores do individualismo liberal e também pelo ideal da colaboração entre diversas classes sociais,plinko da blazeoposição frontal ao socialismo e ao comunismo (que pregam a lutaplinko da blazeclasses), aniquilamento das oposições mediante o uso da violência e do terror e propaganda baseada no controle das informações e dos meiosplinko da blazecomunicaçãoplinko da blazemassa.

Fascismo éplinko da blazedireita ouplinko da blazeesquerda?

No mundo acadêmico e político — inclusive na Itália e na Alemanha —, há praticamente um consensoplinko da blazeque o fascismo e o nazismo estão no campo da extrema direita do espectro das doutrinas políticas. Ou seja, no lado completamente oposto do comunismo nessa espécieplinko da blazeescala ideológica.

Além disso, o próprio Museu do Holocaustoplinko da blazeIsrael, fundadoplinko da blazehomenagem aos maisplinko da blaze6 milhõesplinko da blazejudeus mortos pelo regime liderado por Hitler, classifica o nazismo comoplinko da blazedireita. Segundo a instituição, havia um climaplinko da blazefrustração após a Primeira Guerra Mundial que, "junto à intransigente resistência e alertas sobre a crescente ameaça do comunismo, criou solo fértil para o crescimentoplinko da blazegrupos radicaisplinko da blazedireita na Alemanha, gerando entidades como o Partido Nazista".

O Dicionário Concisoplinko da blazePolíticaplinko da blazeOxford, porplinko da blazevez, classifica o fascismo como "movimento ou ideologia nacionalistaplinko da blazedireita com estrutura hierárquica e totalitária que se opõe fundamentalmente à democracia e ao liberalismo".

Já para Kevin Passmore, autorplinko da blazeFascismo: Uma Breve Introdução, o fascismo é um movimentoplinko da blazeextrema direita justamente porque se opõe com hostilidade extrema ao socialismo e ao feminismo, afirmando que, entre outros motivos, eles priorizam "classes ou gênerosplinko da blazevez da nação".

Judeus enfileradosplinko da blazemãos ao alto são observados por nazista

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Maisplinko da blaze6 milhõesplinko da blazejudeus foram mortos no Holocausto pelos nazistas

Essa oposição aproximaria os fascistasplinko da blazeparte dos conservadores no campo da direita, por serem contrários a mudanças econômicas, sociais, políticas, morais ou culturais. No entanto, os fascistas estão dispostos a ir bem além e atropelar os interesses conservadores (família, propriedade, religião…) se isso for necessário para garantir o que veem como os interesses da nação.

Segundo Passmore, o fascismo é considerado também um movimento radical porque a derrota do socialismo e do feminismo e a construção da nação dependem da chegada ao poderplinko da blazeuma "nova elite agindoplinko da blazenome do povo, comandada por um líder carismático, e personificadaplinko da blazeum partidoplinko da blazemassas militarizado".

Só que, por outro lado, um grupo bem pequenoplinko da blazeespecialistas elenca semelhanças entre o fascismo e o comunismo. E parte desses especialistas (e alguns políticos) se baseia nisso para situar ambos no campo da esquerda.

Eles apontam semelhanças como a forte contestação ao capitalismo liberal e o totalitarismo, termo usado para descrever uma formaplinko da blazegoverno ditatorial que controla praticamente todos os aspectos da atuação do Estado e da vida privada.

Esse tema ("nazismo éplinko da blazeesquerda?") ganhou força no Brasilplinko da blaze2017 no acirramento da polarização política no país e costuma reverberar entre membros do alto escalão do governoplinko da blazeJair Bolsonaro.

O "socialista" no nome do partido liderado por Hitler, Partido Nacional-Socialista, é um dos principais argumentos usados nos debatesplinko da blazeinternet que falam no nazismo como um movimentoplinko da blazeesquerda.

Para especialistas entrevistados pela BBC News Brasil à época, a confusãoplinko da blazeconceitos alimenta um debate repletoplinko da blazeequívocos e ignorância.

"O que é fundamental aí é o termo 'nacional', não o termo 'socialista'. Essa é a linhaplinko da blazeforça fundamental do nazismo — a defesa daquilo que é nacional e 'próprio dos alemães'. Aí entra a chamada teoria do arianismo", afirmou o linguista brasileiro Izidoro Blikstein, professorplinko da blazeLinguística e Semiótica da USP e especialistaplinko da blazeanálise do discurso nazista e totalitário.

"Dizer apenas que Hitler era um políticoplinko da blazedireita é apequenar o nazismo. Foi mais do que direita ou esquerda. Foi uma doutrina arquitetada para defender uma raça, embora esse conceito seja discutível e pouco científico."

Já Denise Rollemberg, historiadora brasileira e professoraplinko da blazeHistória Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF), diz que é bastante complicado classificar o nazi-fascismo no espectro político atual.

Integrantesplinko da blazegrupo neonazista

"O nazismo nasce no meioplinko da blazeuma criseplinko da blazereferências muito grande após a Primeira Guerra. Muitos passaramplinko da blazeum lado para outro. Os valores muitas vezes vão se embaralhar, e esses conceitosplinko da blazedireita e esquerda atuais não resolvem bem o problema. (...) Eles rejeitavam o que era a direita tradicional da época e também a esquerda que estava se estabelecendo. Eles procuravam se mostrar como um terceiro caminho."

Fascismo deve ou não ser usado para descrever extremistasplinko da blazehoje?

Outra grande questão que divide os especialistas é se é possível classificar um movimento extremista atual como fascista ou se o termo deve ser usado apenas para se referir às experiências históricas do início do século 20.

Para o historiador Emilio Gentile, considerado o maior especialista vivoplinko da blazefascismo na Itália, os termos fascismo ou fascista só devem ser adotados para descrever os movimentosplinko da blazemassa organizados militarmente que tomaram o poder entre as Primeira e a Segunda Guerra, negaram a soberania popular e transformaram completamente a sociedade com objetivos imperialistas (ou seja, dominação política, econômica e culturalplinko da blazeoutros países e territórios).

Seria um equívoco, na visãoplinko da blazeGentile, usar essas palavras para falarplinko da blazemovimentos violentosplinko da blazeextrema direitaplinko da blazehoje.

"É um grande erro porque não nos permite compreender a verdadeira novidade destes fenômenos e o perigo que eles representam. E o perigo é que a democracia possa se tornar uma formaplinko da blazerepressão com o consentimento popular. A democraciaplinko da blazesi não é necessariamente boa. Só é boa se realiza seu ideal democrático, isto é, a criaçãoplinko da blazeuma sociedade onde não há discriminação e na qual todos podem desenvolverplinko da blazepersonalidade livremente, algo que o fascismo nega completamente", disse Gentile à BBC News Mundo (serviçoplinko da blazeespanhol da BBC)plinko da blazemarçoplinko da blaze2019, quando se completou 100 anos da origem formal do fascismo italiano.

"Então, o problema hoje não é o retorno do fascismo, mas quais são os perigos que a democracia pode gerar por si só, quando a maioria da população — ao menos, a maioria dos que votam — elege democraticamente líderes nacionalistas, racistas ou antissemitas."

Mas, por outro lado, o especialistaplinko da blazeradicalismo e populismo e historiador argentino Federico Finchelstein (New School) apontaplinko da blazesuas obras diversos paralelos entre o fascismo histórico do início do século 20 e líderes que ele classifica como populistas no século 21.

Em geral, o populismo é descrito como uma tradição políticaplinko da blazemassa do século 20plinko da blazeque líderes carismáticos (tantoplinko da blazeesquerda quantoplinko da blazedireita) mobilizam setores mais pobres e marginalizados da sociedade contra instituições e grupos no poder. Esses líderes, classificados como populistasplinko da blazeforma pejorativa por especialistas ou adversários, costumam adotar uma fórmulaplinko da blazese apresentar como solução messiânica dos problemas nacionais e como representante autêntico da vontade do povo.

Nos livros Do Fascismo ao Populismo na História e Uma Breve História das Mentiras Fascistas, Finchelstein argumenta que o populismo é uma forma autoritáriaplinko da blazedemocracia que reformulou o fascismo depois do fim da Segunda Guerra,plinko da blaze1945, ao rejeitar o racismo, a ordem totalitária e a violência física e institucional contra adversários políticos.

"No populismo, os inimigos do povo podem existir e perder eleições, mas não têm qualquer legitimidade. Eles são apenas tolerados, mas não totalmente perseguidos ou banidos." O principal exemplo desse "populismo clássico" é o peronismo na Argentina.

Mas nas últimas décadas, afirma Finchelstein, o populismo entrouplinko da blazeuma nova era marcada por intolerância, xenofobia, autoritarismo, uso político da mentira e desmonteplinko da blazeinstituições democráticas. Ou seja, retomando elementos fascistas que havia rejeitado no pós-guerra, principalmente o racismo. "O povo é definidoplinko da blazetermos étnicos e o antipovo geralmenteplinko da blazetermos antirreligiosos ou racistas."

Ele cita como exemplos desse "novo populismo" o trumpismo e o bolsonarismo.

Nessa mesma linhaplinko da blazeencontrar elos entre movimentos antigos e atuais, alguns pesquisadores buscam no integralismo, movimento fascista do Brasil nos anos 1930, as raízesplinko da blazemovimentosplinko da blazeextrema direita no país hoje.

Fascismo, neofascismo e pós-fascismo no Brasil

O Brasil também teve uma experiência com o chamado fascismo histórico: o integralismo.

Inspiradoplinko da blazeMussolini, o primeiro surgiuplinko da blaze1932 com o nomeplinko da blazeAção Integralista Brasileira (AIB) e um discurso marcado por anticomunismo, nacionalismo, antiliberalismo, cristianismo, conservadorismo, corporativismo, antissemitismo e culto ao seu líder e fundador, o escritor Plínio Salgado. Para ele, o liberalismo político-econômico e o comunismo eram faces da mesma moeda.

Marchaplinko da blazeintegralistas, ligados ao fascismo

Crédito, Acervo AIB/PRP-Delfos/PUC-RS

Todas as sedes do movimento integralista, que chegou a reunir quase 200 mil filiados (conhecidos como camisas-verdes, inspirados nos camisas-negras do fascismo italiano), eram decoradas com fotosplinko da blazeSalgado, relógiosplinko da blazeparede com a frase "Nossa hora chegará!" e cartazes com os dizeres: "O integralista é o soldadoplinko da blazeDeus e da pátria, homem novo do Brasil que vai construir uma grande nação".

Para Robert Paxton, a AIB "foi a coisa mais próxima a um partidoplinko da blazemassas fascista nativo da América Latina". O grupo e outros partidos acabariam extintos por Getúlio Vargas no início da ditadura do Estado Novo (1937-45). Salgado, que tentou derrubar Vargas e depois se exilouplinko da blazePortugal, voltaria ao cenário político brasileiro na década seguinte, mas ficariaplinko da blazeúltimo lugar na eleição presidencial. O integralismo, no entanto, não acabou ali nem complinko da blazemorte,plinko da blaze1975.

Com maisplinko da blaze20 anosplinko da blazeestudos sobre integralismo, o historiador brasileiro Leandro Pereira Gonçalves, professor da Universidade Federalplinko da blazeJuizplinko da blazeFora e autorplinko da blazelivros e artigos sobre o integralismo, incluindo a biografiaplinko da blazePlínio Salgado, explica que o movimento se pulverizou desde meados dos anos 1970.

"Com a morteplinko da blazePlínio surge o que conhecemos como neointegralismo, uma fragmentaçãoplinko da blazediversos pequenos grupos neofascistas, que trazem novas características ao integralismo tradicional dos anos 1930, mas se mantêm ligados pela simbologia original", disse à BBC News Brasilplinko da blazedezembroplinko da blaze2019, quando um grupo identificado com o integralismo reivindicou autoriaplinko da blazeum ataque a bomba contra a sede do grupo Porta dos Fundos, no Rioplinko da blazeJaneiro.

Além disso, o lema do integralismo, "Deus, Pátria, Família", voltou à tona como mote do lançamento da Aliança Pelo Brasil, partido que o presidente Jair Bolsonaro tentou criar sem sucesso.

O bolsonarismo, porplinko da blazevez, é caracterizado por alguns pesquisadores como um movimento neofascista ou pós-fascista.

"No Brasil, uma ideologia com propagandas golpistas, muito próxima do fascismo, tem se intercalado com o nacionalismo e o messianismo (crençaplinko da blazeum líder que chegará para salvar a todos e tornar a vida melhor) mais extremo a fimplinko da blazeignorar a pandemia e o bem-estar da população", escreve o historiador argentino Federico Finchelstein.

Para ele, durante a pandemia Bolsonaro fabricou realidades alternativas e associou posições contra quarentenas à necessidadeplinko da blazefechar o Congresso.

A associação do bolsonarismo com o fascismo, no entanto, é veementemente negada pelos apoiadores do presidente.

"Qualquer um que se oponha ao PT será chamadoplinko da blazenazista, fascista. Não se trataplinko da blazeum conceito, mas sim uma tentativaplinko da blazecaluniar o oponente. Tática do vale-tudo!", escreveu o filho do presidente e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP)plinko da blazeseu perfil no Twitter. "Os rótulos (fascista, negacionista etc) não fazem qualquer sentido, não têm conexão com a realidade, apenas servem para controlar a narrativa."

Segundo Wilson Gomes, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e autor do livro Crônicaplinko da blazeuma Tragédia Anunciada: Como a Extrema Direita Chegou ao Poder, a estratégia políticaplinko da blazechamar adversáriosplinko da blazefascistas, genocidas ou comunistas busca o pânico moral.

"A função política é a satanização do outro. Você transforma o adversário,plinko da blazetermos discursivos,plinko da blazeuma posição inaceitávelplinko da blazeum pontoplinko da blazevista moral. A disputa aqui é basicamente moral. (…) Você vai no extremo da posição que você quer satanizar, não importa se corresponde ou não à realidade, mas é aquilo que produz o pânico moral. Supremacista, racista, fascista, genocida... O importante é produzir um pânico moral e produzir uma união das pessoas como reação a isso."

Fascista e nazista 'banalizados'?

O historiador americano Stanley Payne, um dos maiores estudiosos do movimento fascista, diz que o fascismo "continua sendo o mais indefinido dos termos políticos mais importantes". Isso nunca impediu, no entanto, que o termo fosse usadoplinko da blazeforma ampla e até exacerbada no debate público.

Aliás, essa indefinição é ideal para impulsionar seu uso indiscriminado, algo comum a outros termos políticosplinko da blazedifícil definição, como liberal, conservador e comunista.

Payne explica que o termo passou a ser adotadoplinko da blazeforma pejorativa e genérica a partirplinko da blaze1921 pela Internacional Comunista, organização que agregava partidos comunistas ao redor do mundo. Assim surgiram pechas como "liberais fascistas" e "conservadores fascistas".

Daliplinko da blazediante, o termo fascista ganhou força como insulto também contra grupos radicaisplinko da blazedireita e movimentos autoritáriosplinko da blazecunho nacionalista que carregavam traços do fascismo italiano ou alemão. O passo seguinte, segundo Payne, foi o uso do termo fascista contra gruposplinko da blazedireita, conservadores e "qualquer coisa que se refira, ainda que vagamente, ao nacionalismo ou a uma autoridade mais tradicional".

Em ensaio sobre o uso indiscriminado do termo, o escritor britânico George Orwell afirmouplinko da blaze1944 queplinko da blazetodas as questões não respondidasplinko da blazenosso tempo, talvez a mais importante seja "o que é fascismo"? Ao longo da análise, Orwell lista exemplos da aplicação do termo fascista contra as mais diversas parcelas e práticas da sociedade, como conservadores, comunistas, nacionalistas, católicos, agricultores, defensores da guerra, escoteiros, opositores da guerra, comerciantes, tourada, astrologia e caçaplinko da blazeraposas.

Para Orwell,plinko da blazegeral, quem chama algoplinko da blazefascista está se referindo, grosso modo, a algo troglodita, "cruel, inescrupuloso, arrogante, obscurantista, antiliberal e anticlasse trabalhadora".

O autor cita uma sérieplinko da blazeexemplosplinko da blazeuso indiscriminado do termo. "Toda a esquerda tende a equiparar militarismo com fascismo"; "a Igreja Católica é quase universalmente considerada pró-fascista, tantoplinko da blazetermos objetivos como subjetivos" e "alguns nacionalistas indianos consideram os sindicatos britânicos como organizações fascistas".

Por fim, Orwell recomenda uma certa moderação com o uso do termo. "Tudo que se pode fazer no momento é usar a palavra com certa medidaplinko da blazecircunspecção e não, como usualmente se faz, degradá-la ao nívelplinko da blazeum palavrão."

Em seu livro Antifascismo, o jornalista e escritor conservador americano Paul Gottfried argumenta que termos como fascista e nazista são usados atualmente pela esquerda como instrumentoplinko da blazepropagação do medo para manutençãoplinko da blazeinteresses dos poderosos, como políticos, jornalistas e acadêmicos que pretendem intimidar e isolar adversários políticos.

"Essa tática acaba com conversas indesejadas, quando 'A' chama 'B', que discordaplinko da blaze'A',plinko da blazeracista, sexista ou homofóbico, 'A' não está só desaprovando ou censurando 'B'. Está assumindo um papelplinko da blazevítima que pertence a vítimas do passado, e isso permite a ele ou ela, como disse o teórico marxista alemão Peter Furth, 'exercer poder sobre nós'."

Mas como é complexo definir o que realmente é fascismo, afirma Gottfried, a mídia dos EUA eplinko da blazepotências europeias acaba enquadrando como expressão do fascismo tudo que ela própria considera racismo, antissemitismo, islamofobia, sexismo ou homofobia.

Mas a acusaçãoplinko da blazefascista não se restringe a políticos ou personalidadesplinko da blazedireita. Até mesmo Lula já foi chamadoplinko da blazefascista por adversários da direita ou mesmo da esquerda. A exemploplinko da blazeCiro Gomes, candidato à Presidência pelo PDT. "O que o Lula está fazendo com a senadora Simone Tebet [MDB] é puro fascismo. Aliciar uma bandaplinko da blazeladrões do MDB, corruptos, velhos sócios dele, Lula, na roubalheira. (…) Prática fascistaplinko da blazeinvadir o partido dos outros e tirar o direito dos outros participarem das eleições", disse ele a jornalistasplinko da blazejulhoplinko da blaze2022.

O que muitos enxergam como banalização da palavra fascista e das comparações com o nazismo levou à criaçãoplinko da blazedois princípios famosos: Reductio ad Hitlerum e Leiplinko da blazeGodwin.

O primeiro, cunhado pelo filósofo alemão Leo Straussplinko da blaze1951, parteplinko da blazeuma expressão lógicaplinko da blazelatim (reductio ad absurdum ou redução ao absurdo,plinko da blazeportuguês) para contestar a faláciaplinko da blazeapontar semelhanças entre um argumento e algo que Hitler ou nazistas fizeram ou pensavam, numa espécieplinko da blazeculpabilização por semelhança.

O segundo surgiu nos anos 1990, quando a internet estava começando a se tornar popular. O advogado americano Mike Godwin percebeu que os debatesplinko da blazefóruns online sempre recorriam ao recursoplinko da blazechamar o outro ladoplinko da blazenazista.

"Eu fiz um experimento: construir um 'meme ao avesso' voltado para fazer os participantesplinko da blazeuma discussão perceberem como eles estavam agindo como vetoresplinko da blazeum meme particularmente bobo e ofensivo. E talvez com isso diminuir as comparações vazias com nazismo", escreveu Godwin na revista Wired.

"Então disseminei essa ideiaplinko da blazequalquer lugar onde eu visse uma referência gratuita ao nazismo. Em pouco tempo, para minha surpresa, as pessoas começaram a citá-lo, e o 'meme ao avesso' começou a se reproduzir sozinho."

Foi então que nasceu a "Leiplinko da blazeGodwin", ou a "Regra das Analogias Nazistasplinko da blazeGodwin", que se tornou uma das "regras da internet" e afirma que, se uma discussão online for longe demais,plinko da blazealgum momento alguém vai recorrer à comparação com Hitler.

Mas se as referências ao fascismo ou ao nazismo são amplamente reconhecidas como exageradas, academicamente imprecisas, falaciosas e ridicularizadas na internet, elas ainda devem ter alguma força no debate para se manterplinko da blazeuso por tanto tempo, certo?

Não muito, segundo a English Speak Union, ONG britânica que promove a comunicação e o pensamento criativo.

"Adotar acusaçõesplinko da blazefascismo como insulto não ajuda a se aproximar do público nem favorece seu argumento. Em vez disso, você aumenta o nívelplinko da blazeagressividade do debate, forçando uma polarização entre 'bom' e 'mau' numa discussão que, por outro lado, poderia ter posições mais razoáveis dos dois lados", conclui Amanda Moorghen, pesquisadora britânica da entidade.

Para ela, "é melhor guardar palavras mais fortes para o argumentoplinko da blazesi,plinko da blazevezplinko da blazeatacar as pessoas com quem você está debatendo".

Línea

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