Como começou o patriarcado – e como a evolução pode mudá-lo:estrelabet aposta

Ao contrário da crença popular, pesquisas indicam que o patriarcado não é uma espécieestrelabet aposta"ordem natural das coisas". Ele nem sempre foi preponderante e pode,estrelabet apostafato, desaparecer algum dia.

As comunidadesestrelabet apostacoletores e caçadores podem ter sido relativamente igualitárias, pelo menosestrelabet apostacomparação com alguns dos regimes que se seguiram. E sempre existiram mulheres líderes e sociedades matriarcais.

A riqueza dos homens

A reprodução é a moeda da evolução. Mas não só os nossos corpos e cérebros evoluem. Nossos comportamentos e culturas também são produtos da seleção natural.

Para maximizar o seu próprio sucesso reprodutivo, por exemplo, os homens muitas vezes tentaram controlar as mulheres eestrelabet apostasexualidade.

Nas sociedades nômades onde há pouca ou nenhuma riqueza material, como costuma ser o caso entre os coletores e caçadores, a mulher não pode ser facilmente forçada a permanecerestrelabet apostaum relacionamento. Ela e seu parceiro podem viver juntos com os parentes dela, com os parentes dele ou com outras pessoas. E, se estiver infeliz, ela pode simplesmente ir embora.

Isso pode ser difícil se ela tiver filhos, pois os cuidados dos pais ajudam no desenvolvimento e até na sobrevivência das crianças, mas ela pode ir viver com parentesestrelabet apostaoutro lugar ou encontrar um novo parceiro - sem necessariamente ficarestrelabet apostauma situação pior.

Mas o advento da agricultura, que ocorreu até 12 mil anos atrásestrelabet apostaalgumas regiões, virou o jogo.

Mesmo as hortas relativamente simples exigiam que a produção fosse defendida e, portanto, que as pessoas permanecessem no mesmo local. E os assentamentos aumentaram os conflitos entre os grupos e até dentroestrelabet apostaum mesmo grupo.

Os cultivadoresestrelabet apostahortas yanomami da Venezuela, por exemplo, viviamestrelabet apostaresidências coletivas altamente fortificadas, com ataques violentos contra grupos vizinhos e a frequente "capturaestrelabet apostanoivas".

Nos locais onde evoluiu a criaçãoestrelabet apostagado, a população local precisava defender seus animais contra roubos, gerando combates e militarização. Como as mulheres não tinham tanto sucesso nos combates quanto os homens, por serem fisicamente mais fracas, seu papel caiuestrelabet apostarelação a eles. Esse declínio ajudou os homens a ganhar poder, deixando-os encarregados dos recursos que estavam defendendo.

À medida que a população crescia e se assentava, surgiam problemasestrelabet apostacoordenação. Desigualdade social florescia às vezes quando líderes (normalmente, homens) se estabeleciam após proverem benefícios à população, talvez na formaestrelabet apostabom desempenhoestrelabet apostabatalhas ou atendendo ao bem públicoestrelabet apostaoutra forma.

A populaçãoestrelabet apostageral, homens e mulheres, muitas vezes tolerava elitesestrelabet apostatrocaestrelabet apostaauxílio para proteger as suas posses.

À medida que a agricultura e a pecuária ficaram mais intensivas, a riqueza material, agora controlada principalmente pelos homens, tornou-se ainda mais importante. As regrasestrelabet apostaparentesco e descendência foram mais formalizadas para evitar conflitos sobre riqueza dentro das famílias e os casamentos ficaram mais contratuais. A transmissão da terra ou dos animais ao longo das gerações permitiu que algumas famílias acumulassem riquezas substanciais.

Monogamia x poligamia

A riqueza gerada pela agropecuária permitiu a prática da poliginia (um homem com diversas esposas). Já a poliandria (uma mulher com vários maridos) era rara.

Na maioria dos sistemas, as mulheres jovens eram o recurso mais procurado, poisestrelabet apostajanela para ter filhos era mais curta e elas normalmente cuidavam mais da prole.

Os homens usavamestrelabet apostariqueza para atrair mulheres jovens para os recursos que eles tinham a oferecer. Os homens concorriam pagando o "preço da noiva" para a família dela. Com isso, os homens ricos podiam ter várias esposas, enquanto alguns pobres acabavam solteiros.

Os homens então precisavam da riqueza para competir pelas noivas, enquanto as mulheres adquiriam os recursos necessários para a reprodução por meio do seu marido. Desta forma, se os pais quisessem maximizar o númeroestrelabet apostanetos, fazia sentido para eles darestrelabet apostariqueza para seus filhos e não para as filhas.

Isso fez com que a riqueza e as propriedades fossem transmitidas formalmente para a linhagem masculina. E também fez com que as mulheres, muitas vezes, acabassem vivendo longeestrelabet apostacasa, com a família do marido, após o casamento.

As mulheres começaram a perder o controle das suas ações. Se as terras, os animais e os filhos fossem propriedade dos homens, o divórcio era quase impossível para as mulheres.

Uma filha que retornasse para a casa dos pais não seria bem-vinda e o preço da noiva precisaria ser devolvido. O patriarcado estava se estabelecendo com firmeza.

Quando as mulheres saem da casa dos pais para viver com a família do seu novo marido, elas não têm, naestrelabet apostanova residência, o mesmo poderestrelabet apostabarganha que teriam se ficassem naestrelabet apostacasaestrelabet apostaorigem. Modelos matemáticos indicam que a dispersão das mulheres, aliada ao históricoestrelabet apostaguerras, fez com que os homens fossem mais bem tratados que as mulheres.

Os homens tinham a oportunidadeestrelabet apostacompetir por recursos com outros homens por meio das guerras, enquanto as mulheres só competiam com outras mulheres dentroestrelabet apostacasa. Por esses dois motivos, tanto homens como mulheres colhiam maiores benefícios evolutivos sendo mais altruístas com relação a homens do que com mulheres, gerando o surgimento dos "clubesestrelabet apostameninos".

Essencialmente, as mulheres entraram no jogo do viésestrelabet apostagênero contra elas próprias.

Em alguns sistemas agrícolas, as mulheres podem ter tido mais autonomia. Em locais onde a disponibilidadeestrelabet apostaterra para o plantio era limitada, pode ter havido limites para a poliginia, pois os homens não conseguiam sustentar diversas famílias.

Quando a agricultura era difícil e a produtividade era determinada mais pela dedicação ao trabalho que pela quantidadeestrelabet apostaterra, a mãoestrelabet apostaobra feminina era uma necessidade básica e os casais trabalhavam juntosestrelabet apostauniões monogâmicas.

Com a monogamia, se uma mulher se casasse com um homem rico, toda a riqueza iria para os seus filhos. Por isso, as mulheres competiam entre si pelos melhores maridos.

Mas, com a poliginia, é diferente. A riqueza da família é dividida entre os filhosestrelabet apostadiversas outras esposas,estrelabet apostaforma que as vantagens para as mulheresestrelabet apostase casar com um homem rico são menores.

Por isso, o pagamento pelo casamento monogâmico caminha na direção oposta da poliginia, assumindo a formaestrelabet aposta"dote". Os pais da noiva dão dinheiro aos pais do noivo ou ao próprio casal.

O dote, que ainda é importante hojeestrelabet apostadiaestrelabet apostagrande parte da Ásia, é a forma que os pais têmestrelabet apostaajudar suas filhas a competir com outras mulheres no mercadoestrelabet apostacasamentos. O dote, às vezes, pode oferecer às mulheres maior controle ao menos sobre parte da riqueza daestrelabet apostafamília.

Mas existe um fator complicador. A necessidade do dote pode fazer com que as meninas representem um custo mais alto para os pais, às vezes com terríveis consequências - como no casoestrelabet apostafamílias que já têm filhas e que matam ou rejeitam novas bebês (ou, atualmente, o aborto seletivo das meninas).

A monogamia também trouxe outras consequências. Como a riqueza ainda era transmitida pela linhagem masculina para os filhosestrelabet apostauma única esposa, os homens faziam todo o possível para garantir que aqueles filhos fossem deles.

Eles não queriam investir inadvertidamenteestrelabet apostariqueza nos filhosestrelabet apostaoutro homem. Por isso, a sexualidade das mulheres passou a ser fortemente vigiada.

Manter as mulheres afastadas dos homens ("purdah", entre os muçulmanos), colocá-lasestrelabet aposta"claustros" como monastérios (clausura) na Índia, ou a práticaestrelabet apostaenfaixar os pés das mulheres para que eles ficassem pequenos, adotada por 2 mil anos na China, podem ser algumas consequências.

E, no contexto atual, a proibição do aborto torna as relações sexuais potencialmente caras, retendo as pessoasestrelabet apostacasamentos e prejudicando as perspectivasestrelabet apostacarreira das mulheres.

Sociedades matriarcais

É relativamente raro que a riqueza seja passada para a linhagem feminina, mas existem sociedades que adotam essa prática. Os sistemas matriarcais tendem a ser adotadosestrelabet apostaambientes marginais, onde existe pouca riqueza a ser disputada.

Existem regiões na África, por exemplo, conhecidas como o "cinturão da linhagem matriarcal", onde a mosca tsé-tsé tornou a criaçãoestrelabet apostagado impossível.

Em alguns desses sistemasestrelabet apostalinhagem matriarcal africanos, os homens continuam sendo uma força poderosa nas residências, mas são os irmãos mais velhos e tios que tentam controlar as mulheres,estrelabet apostavez dos pais e dos maridos. Mesmo assim,estrelabet apostageral, o poder das mulheres realmente é maior.

Já sociedades onde os homens se ausentam por grande parte do tempo, devido a longas distânciasestrelabet apostaviagem ou alto riscoestrelabet apostamortalidade - causado pelos perigos da pesca oceânica na Polinésia ou pelas guerrasestrelabet apostacertas comunidades nativas americanas, por exemplo -, também adotaram a linhagem matriarcal.

As mulheres no sistema matriarcal muitas vezes dependem do apoioestrelabet apostasuas mães e irmãs, não dos seus maridos, para ajudar a criar os filhos. Essa "criação comunitária" pelas mulheres, observada, por exemplo,estrelabet apostaalguns gruposestrelabet apostalinhagem matriarcal na China, faz com que os homens se interessassem menos (no sentido evolutivo)estrelabet apostainvestir na residência, que abrigam não apenas os filhos daestrelabet apostaesposa, mas tambémestrelabet apostamuitas outras mulheres com quem eles não têm relação familiar.

Isso enfraquece os laços conjugais e facilita a transmissão da riqueza entre as mulheres da mesma família. As mulheres também são menos controladas sexualmente nessas sociedades, pois a paternidade certamente é uma preocupação menor quando as mulheres controlam a riqueza e a transmitem para suas filhas.

E, nas sociedades com linhagem matriarcal, homens e mulheres podem praticar a poligamia. O povo himba do sul da África é uma sociedade com linhagem matriarcal e tem algumas das mais altas taxasestrelabet apostabebês gerados desta forma.

Mesmo nos ambientes urbanos atuais, a alta taxaestrelabet apostadesemprego dos homens gera estilosestrelabet apostavida mais centralizados nas mulheres, com as mães ajudando as filhas a criar seus filhos e netos, muitas vezesestrelabet apostarelativa pobreza.

Mas a introduçãoestrelabet apostariqueza material, que pode ser controlada pelos homens, forçouestrelabet apostamuitos casos a mudança dos sistemasestrelabet apostalinhagem matriarcal, para que se tornassem patriarcais.

O papel da religião

A visãoestrelabet apostapatriarcado descrita acima pode fazer parecer que o papel da religião é minimizado.

As religiões frequentemente estabelecem instruções sobre o sexo e a família. A poliginia, por exemplo, é aceita no islã, mas não no cristianismo. Mas as origens dos diversos sistemas culturais pelo mundo não podem ser simplesmente explicadas pela religião.

O islamismo surgiu no ano 610estrelabet apostauma parte do mundo (a península arábica) então habitada por gruposestrelabet apostapastores nômades, onde a poligamia era comum. Já o cristianismo surgiu no império romano, onde o casamento monogâmico já era a norma.

Por isso, as instituições religiosas certamente ajudam a impor as regras, mas é difícil defender que elas tenham sido a causa original.

Por fim, a herança cultural das normas religiosas, ouestrelabet apostaquaisquer outras regras, pode preservar preconceitos sociais hostis muito depois que a causa original já desapareceu.

O patriarcado está acabando?

O que está claro é que as normas, as atitudes e a cultura trazem enormes consequências para o comportamento das pessoas. Essas normas podem mudar e,estrelabet apostafato, mudam ao longo do tempo, principalmenteestrelabet apostacasoestrelabet apostaalterações da ecologia ou da economia vigentes. Mas algumas normas ficam arraigadas ao longo do tempo e, por isso,estrelabet apostamudança é lenta.

Ainda nos anos 1970, filhosestrelabet apostamães solteiras no Reino Unido foram retirados das suas mães e embarcados para a Austrália, onde foram colocadosestrelabet apostainstituições religiosas e oferecidos para adoção. E pesquisas recentes também demonstram como o desrespeito pela autoridade das mulheres ainda é generalizado nas sociedades europeias e americanas, que se orgulham daestrelabet apostaigualdadeestrelabet apostagênero.

Isto posto, fica claro que as normasestrelabet apostagênero estão ficando muito mais flexíveis e o patriarcado é impopular junto a muitos homens e mulheresestrelabet apostagrande parte do mundo. Muitos estão questionando a própria instituição do casamento.

O controle da natalidade e os direitos reprodutivos das mulheres oferecem mais liberdade, tanto para as mulheres quanto para os homens. Embora o casamento poligâmico agora seja raro, o acasalamento poligâmico é bastante comum e é visto como uma ameaça, tanto por incels - celibatários que odeiam mulheres - quanto por conservadores.

Além disso, os homens querem participar cada vez mais da vida dos seus filhos e apreciam não precisar ser os principais responsáveis pelo sustento das famílias. Por isso, muitos homens estão dividindo ou até assumindo todo o peso do trabalhoestrelabet apostacasa e da criação dos filhos.

Ao mesmo tempo, estamos vendo as mulheres mais confiantes, ganhando cargosestrelabet apostapoder no mundo do trabalho.

Enquanto homens e mulheres geram cada vez maisestrelabet apostaprópria riqueza, o velho patriarcado está achando mais difícil controlar as mulheres. A lógica do investimento dos pais orientado aos filhos homens fica muito prejudicada se as meninas tiverem o mesmo benefício da educação formal e as oportunidadesestrelabet apostaemprego forem abertas para todos.

É difícil prever o futuro. A história e a antropologia não progridemestrelabet apostaforma linear e previsível. Guerras, fomes, epidemias ou inovações estão sempre surgindo, com consequências previsíveis e imprevisíveis para as nossas vidas.

O patriarcado não é inevitável. Precisamosestrelabet apostainstituições que nos ajudem a resolver os problemas do mundo. Mas, se as pessoas erradas chegarem ao poder, o patriarcado pode se fortalecer.

* Ruth Mace é professoraestrelabet apostaantropologia do University Collegeestrelabet apostaLondres.

Este artigo foi publicado originalmente no siteestrelabet apostanotícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão originalestrelabet apostainglês.

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