O anobetesporte entrarque a violênciabetesporte entrarMiami deixou tantos mortos que a cidade guardou corposbetesporte entrarcaminhão do Burger King:betesporte entrar
"Um policial comparou [a situação] com empurrar areia contra a maré", segundo o escritor, explicando que a disseminação da violência causada pelo narcotráficobetesporte entrarMiami, gerenciado principalmente por colombianos, intimidava as testemunhas e os familiares das vítimas.
"Ninguém queria comparecer para dar testemunho e os corpos não identificados seguiam se acumulando", recorda ele. "Até que, discretamente, o escritório do legista pediu para [a redebetesporte entrarlanchonetes] Burger King um caminhão congelador, para literalmente descarregá-los."
O congelador custou à cidade US$ 800 (cercabetesporte entrarR$ 4,4 mil) por mês. Ele já havia sido alugado no ano anterior (1980) para abrigar corpos, quando Miami já registrava a assustadora marcabetesporte entrar573 homicídios.
O equipamento foi utilizado até 1988, pois a ondabetesporte entrarviolênciabetesporte entrarMiami - então chamadabetesporte entrar"capital norte-americana do assassinato" - não durou apenas um verão, nem alguns meses. Ela foi partebetesporte entrarum ciclo que começou a tomar formabetesporte entrar1979, explodiubetesporte entrar1980 e chegou ao ápicebetesporte entrar1981.
Tiroteiobetesporte entrarplena luz do dia
"Muitas coisas se passaram antes [de 1981]. A primeira manifestaçãobetesporte entrarviolência se deu no verãobetesporte entrar1979, com o tiroteio no centro comercialbetesporte entrarDadeland", segundo Farzad.
Esse tiroteio ocorreubetesporte entrar11betesporte entrarjulhobetesporte entrar1979,betesporte entrarplena luz do dia, entre supostos traficantes colombianos, conhecidos como os "caubóis da cocaína" - expressão criada por um agentebetesporte entrarpolícia que esteve na cena do crime naquele dia, segundo relata uma reportagem do jornal Miami Herald.
"Um tiroteio tão audacioso no maior centro comercial do sul da Flórida, entre uma [pizzaria] Cazzoli's e uma lojabetesporte entrarbebidas cheiabetesporte entrarpessoas foi o alerta máximo", acrescenta Farzad, que estudou a fundo a históriabetesporte entrarMiami.
Mas a violência no sul da Flórida não se multiplicou apenas devido ao tráficobetesporte entrardrogas. Diversos acontecimentos intensificaram as tensões e frustrações entre os diferentes grupos étnicos, acrescentando pólvora à bomba-relógio.
Os distúrbios raciaisbetesporte entrar1980
Em dezembrobetesporte entrar1979, o vendedorbetesporte entrarseguros e ex-fuzileiro naval negro Arthur McDuffie foi atacado por cercabetesporte entrardez policiais brancos depoisbetesporte entrarcruzar um sinal vermelho combetesporte entrarmotocicleta. O ataque foi tão brutal que McDuffie entroubetesporte entrarcoma e morreu poucos dias depois.
Embora a investigação tenha causado diversas prisões, cinco meses depois,betesporte entrarmaiobetesporte entrar1980, alguns dos agentes, acusadosbetesporte entrarresponsabilidade pelo ataque, foram absolvidos por um júri totalmente branco, mesmo com evidências que demonstravam que eles haviam encoberto o crime.
Essa frustração ocasionou distúrbios raciaisbetesporte entrarMiami, que causaram a mortebetesporte entrarpelo menos 18 pessoas, maisbetesporte entrar600 prisões e prejuízosbetesporte entrarmaisbetesporte entrarUS$ 100 milhões (R$ 550 milhões)betesporte entrarpropriedades destruídas, principalmente nos bairrosbetesporte entrarmaioria afro-americana Liberty City e Overtown.
"As pessoas eram simplesmente arrancadasbetesporte entrarseus carros e atacadas", conta Farzad.
Já Lisandro Pérez, professor do Departamentobetesporte entrarEstudos Latino-Americanos e Latinxs do John Jay College, da Universidade da Cidadebetesporte entrarNova York (CUNY, na siglabetesporte entraringlês) explica que fatores como a emigração da classe média negrabetesporte entrarMiami causaram impacto sobre a possibilidadebetesporte entrarexpressão legítimabetesporte entrarsuas frustrações pela comunidade no sul da Flórida.
"A comunidade afro-americanabetesporte entrarMiami não havia passado por distúrbios como os verificadosbetesporte entraroutras cidades norte-americanas na décadabetesporte entrar1960 no norte [do país]", ressalta ele.
"Miami não contou com a presençabetesporte entrarpersonagens como Martin Luther King, por exemplo, que fossem da classe média,betesporte entraronde geralmente provêm as lideranças afro-americanas", segundo Pérez.
De fato, até a décadabetesporte entrar1960, Overtown - um bairro no nortebetesporte entrarMiami - era uma próspera comunidade afro-americana, com vida cultural muito ativa. Mas um planobetesporte entrarrenovação urbana que originou a construçãobetesporte entrardiversas autoestradas que se cruzavam literalmente sobre o bairro devastou a região, tornando a comunidade inviável.
Moradoresbetesporte entrarclasse médiabetesporte entrarOvertown emigraram para outras cidades, enquanto os moradores negros com baixos recursos mudaram-se para Liberty City, o que causou a mudança das famíliasbetesporte entrarclasse média daquele bairro. Liberty City tornou-se uma zona mais pobre, abandonada pelo Estado ebetesporte entrarcontínua segregação estrutural.
O êxodobetesporte entrarMariel
"Some-se a tudo isso que, naquele mesmo mês, chegaram os primeiros barcosbetesporte entrarMariel", afirma Pérez,betesporte entrarreferência ao êxodobetesporte entrarmassa do portobetesporte entrarMariel,betesporte entrarCuba, que fez com que chegassem ao sul da Flórida cercabetesporte entrar125 mil cubanosbetesporte entrarum períodobetesporte entrarseis meses, entre abril e outubrobetesporte entrar1980.
Depois que milharesbetesporte entrarcubanos ocuparam a embaixada do Peru na capital Havana,betesporte entrarabrilbetesporte entrar1980, o então presidente Fidel Castro permitiu a saída dos cidadãos que desejassem deixar a ilha. Milharesbetesporte entrarbarcos saíram entãobetesporte entrarCayo Hueso, na Flórida - a 170 kmbetesporte entrarHavana -betesporte entrardireção a Cuba, regressando aos Estados Unidos carregadosbetesporte entrarnovos migrantes.
"O Êxodobetesporte entrarMariel representava uma enorme ameaça, sobretudo para a comunidade negra, mas também para a comunidade brancabetesporte entrarMiami", segundo Pérez, que é o produtor executivo do documentário Más allá del mar ("Para além do mar",betesporte entrartradução livre), sobre o Êxodobetesporte entrarMariel.
"Até então, a emigração cubana havia sido ordenada", afirma Pérez. "Em muitos casos, o estabelecimento dos cubanos foi programado, eles foram relocados para outras partes dos Estados Unidos e essas migrações não representavam grandes ameaças."
"Mas, quando começou [o Êxodo de] Mariel, a migração cubana assume outro rosto. [Era] uma migração cubana que os Estados Unidos não estavam dispostos a aceitar. Era desordenada e a impressão era que os Estados Unidos não tinham controle sobre suas fronteiras", acrescenta o professor cubano.
"Além disso, tratava-sebetesporte entrarsetores da sociedade cubana que nunca haviam sido vistos antesbetesporte entrartal quantidade nos Estados Unidos, especialmente a população negra, miscigenada e dos níveis socioeconômicos mais baixosbetesporte entrarCuba", descreve Pérez.
Cercabetesporte entrar2 mil cubanos que chegaram aos Estados Unidos durante o Êxodobetesporte entrarMariel foram considerados "não admissíveis" pela autoridade migratória norte-americana, segundo Pérez. O professor esclarece que existem especulações sobre uma quantidade desconhecida, ainda maior,betesporte entrarmigrantes cubanos com algum tipobetesporte entrarregistro criminal.
"Em um ambiente marcado pelo tráficobetesporte entrardrogas e pela situação da população afro-americana, a chegada dos cubanosbetesporte entrarMariel foi como lançar gasolina ao fogo", compara Pérez.
Os cubanos já estabelecidos na Flórida tentaram distanciar-se dessa migração e tratarambetesporte entrarmanter uma imagembetesporte entrarexilados bem sucedidos, "que contribuíam com a vida nos Estados Unidos", explica o professor.
Por outro lado, o ressentimento da comunidade branca norte-americana do condadobetesporte entrarMiami-Dade ficou evidente com a iniciativa vencedorabetesporte entrarum referendo revogando o status bilíngue do condado.
Colombianos atacadistas, cubanos distribuidores
O negócio da cocaína e seus derivados incentivava a violênciabetesporte entrarMiami.
Registros da Agênciabetesporte entrarCombate às Drogas dos Estados Unidos (DEA, na siglabetesporte entraringlês), publicados pelo jornal The New York Timesbetesporte entrar1981, indicam que 1980 agentes federais apreenderam na Flórida 2.217 kgbetesporte entrarcocaína, 384.525 kgbetesporte entrarmaconha e 15 milhõesbetesporte entrardosesbetesporte entrarQuaaludes (metaqualona). Foram também confiscados US$ 42 milhões (R$ 232 milhões)betesporte entrardinheiro, carros, barcos, aviões e outras propriedades.
Já a revista Time, no artigo mencionado anteriormente, afirmava: "O dinheiro da droga corrompeu o setor bancário, o mercado imobiliário, as forçasbetesporte entrarsegurança e até a indústria pesqueira, com os pescadores abandonando a garoupa e o pargobetesporte entrartroca do transportebetesporte entrarcargasbetesporte entrarmaconha [...] dos navios cargueirosbetesporte entraralto mar até o continente. Cercabetesporte entrarum terço dos homicídios da região tem relação com as drogas."
Segundo as pesquisasbetesporte entrarRoben Farzad, os colombianos mantinham o negócio da cocaína, mas usavam os cubanos para movimentar a droga e distribuí-la pelo Caribe e pelo litoral da Flórida. Eles também atuavam como distribuidores locais.
"Os colombianos eram os atacadistas, que menos apareciam. Eles saíambetesporte entrarcasabetesporte entrarhorário normal pela manhã, viviambetesporte entrarfamília e iam à igreja. Mas dependiam maciçamente dos cubanos", explica ele.
"Muitos [cubanos] haviam sido treinados pela CIA (a Agência Centralbetesporte entrarInteligência dos Estados Unidos) na Baía dos Porcos,betesporte entrarCuba, conheciam o litoral da Flórida e sabiam fazer evasão marítima", segundo Farzad.
"Nessa época, [o narcotraficante colombiano] Pablo Escobar gastava US$ 1 mil (R$ 5,5 mil)betesporte entrarelásticos para maçosbetesporte entrarnotas", segundo Farzad. "Para quem tem tanto dinheirobetesporte entrarespécie, todo mundo está à venda."
"Quando falamosbetesporte entrarUS$ 50 mil (R$ 276 mil) por quilo ou no superávitbetesporte entrarUS$ 5 bilhões (R$ 28 bilhões)betesporte entrardinheiro da sucursal da Reserva Federalbetesporte entrarMiami para 1980 e analisamos quanto ganhava cada agentebetesporte entrarpolícia - US$ 21 mil (R$ 116 mil) por ano -, podemos entender que esse policial poderia receber um quilo [de droga] e duplicar o seu salário", explica Farzad.
"Miami era,betesporte entrarfato, ingovernável, totalmente fora da lei. Parecia o Faroeste, mas com muito mais mortes, muito mais dinheiro, onde todos estavam à venda e as instituições não funcionavam", conclui ele.
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