'Estou apenas sangrando': como suecas tentam acabar com estigma da menstruação:app crash blaze
- Maddy Savage
- BBC News, Estocolmo
app crash blaze Cinco anos atrás, imagens simples com tinta preta e um poucoapp crash blazeaquarela vermelha sobre papel branco surpreenderam os passageiros do metrôapp crash blazeEstocolmo, na Suécia.
O tunnelbana — nome do metrô da capital sueca — é frequentemente descrito como a galeriaapp crash blazearte mais longa do mundo, com exposiçõesapp crash blaze90 das suas 100 estações ao longo do seu sistemaapp crash blaze109 kmapp crash blazetúneis. As obras permanentes que estão lá há décadas abordam temas que vãoapp crash blazedireitos das mulheres a inclusão e desmatamento.
Mas a exibição que surgiuapp crash blazeoutubroapp crash blaze2017 na estaçãoapp crash blazeSlussen, no centroapp crash blazeEstocolmo, deixou usuários boquiabertos e causou polêmica. Selecionadas por funcionários municipais, as obras da quadrinista sueca Liv Strömquist acabaram se tornando um marco na história do feminismo.
"As três imagens diferentesapp crash blazepatinadoras sobre gelo com manchasapp crash blazemenstruação na região entre as pernas geraram um grande debate", recorda a artista. As imagens já haviam aparecidoapp crash blazeum dos livros mais vendidosapp crash blazeStrömquist.
"Para mim, pessoalmente, a menstruação sempre havia sido algo muito doloroso e vergonhoso. Não podia falar com ninguém a respeito", segundo a artista. "Achei que seria interessante explorar a menstruação como algo que estáapp crash blazetoda a sociedade: como um sentimentoapp crash blazevergonha por uma experiência tão natural vivida pela metade da humanidade,app crash blazevezapp crash blazeinterpretá-laapp crash blazealguma forma psicológica pessoal."
A ideia era que as patinadorasapp crash blazeStrömquist enfatizassem a ideiaapp crash blazeuma sociedadeapp crash blazeque a menstruação não fosse razão para um estigma.
O impacto
As imagens causaram forte debate na imprensa local e global, bem como nas redes sociais.
"É um pouco chocante ter essas imagensapp crash blazeum espaço público como o metrô. Acho que éapp crash blazemau gosto", declarou na época à BBC uma mulher no tunnelbana. Um homem disse: "talvez você me chameapp crash blazeconservador ou intolerante, mas para mim é uma aberração".
Houve quem se manifestasse atirando tinta sobre as obras. Políticos da oposiçãoapp crash blazedireita argumentaram que expor essas obrasapp crash blazepúblico seria uso inapropriadoapp crash blazedinheiro público.
Já outras pessoas ficaram encantadas. "Acho genial. E também meio divertido", opinou outro homem no metrô. "Para mim, são intrigantes. É algo muito natural. É genial, deveria haver mais obras assim!", declarou uma mulher.
Por que esconder o absorvente?
A Suécia normalmente é considerada um dos países mais feministas do mundo, com licenças-maternidade generosas, cuidado infantil acessível e um históricoapp crash blazemulheres na política. As controvérsias sobre a arte no metrô foram um sinalapp crash blazeque, até na Suécia, os tabus milenares sobre a menstruação continuam presentes. Mas também foram um sinalapp crash blazeque as coisas estão mudando.
"O atoapp crash blazeexpor essas obrasapp crash blazearte significava que havia iniciativas vindasapp crash blazecima indicando que não havia problemasapp crash blazeexibir a menstruaçãoapp crash blazeum local público para que as pessoas a vissem todos os dias", ressalta Louise Klinter, da Universidadeapp crash blazeLund, na Suécia, que investigou o estigma criado sobre a menstruação.
A exposição no metrô chamou atenção da mídia internacional. Strömquist já havia abordado o tema dois anos antesapp crash blazeum programaapp crash blazerádio, que também foi um catalisador importante. Ela comentou como achava estranho não poder falar abertamente sobre menstruação e coisas tão presentes no cotidianoapp crash blazemulheres como o hábitoapp crash blazetrocar absorventes.
"Foi um podcast muito popular, também ouvido por pessoas mais idosas, que não necessariamente recebem esse tipoapp crash blazemensagem sobre a desestigmatização da menstruação", relembra ela.
Na segunda metade da décadaapp crash blaze2010, o tema estava "quente" no país, sendo abordadoapp crash blazeexposições artísticas e atéapp crash blazemusicais no Teatro Nacional.
"[A menstruação] começou a aparecer por toda parte, houve uma forte mudança na formaapp crash blazeanúncio dos produtos e a linguagem foi completamente renovada, visual e verbalmente", afirma Strömquist.
De azul para vermelho
Em 2017, uma ousada campanha publicitáriaapp crash blazeabsorventes higiênicos utilizou líquido vermelho para retratar o sangue menstrual —app crash blazevezapp crash blazeum líquido azul que vinha sendo usado até então.
A campanha foi criada pela agênciaapp crash blazepublicidade AMV BBDO para a multinacional sueca Essity. A agência indicou que uma pesquisa havia concluído que 74% das pessoas queriam ver uma representação mais honesta nos anúncios.
O comercial também mostrava uma mulher no chuveiro com sangue correndo pelas pernas e um homem comprando absorventes higiênicos.
Na Suécia, falar dos períodos menstruais era cada vez mais comum, mesmo nos ambientes dominados pelos homens.
A primeira empresa sueca certificada como "localapp crash blazetrabalho amigo da menstruação" foi uma start-upapp crash blazeaplicativos esportivosapp crash blazeGotemburgo chamada Forza Football. Para obter o certificado, a empresa foi avaliada pela organização sem fins lucrativos Mensen, criada durante a ondaapp crash blazeativismo contra a estigmatização da menstruação.
Entre as medidas introduzidas pela start-up estava o fornecimentoapp crash blazeabsorventes higiênicos internos e externos gratuitos e capacitação dos funcionários sobre como a menstruação pode afetar mais algumas pessoas do que outras.
"Um dos gruposapp crash blazetrabalho da nossa empresa ajustou seu trabalhoapp crash blazefunção do ciclo menstrualapp crash blazeuma das participantes, ao perceber que, desta forma, eles seriam mais eficazes", segundo o CEO (diretor-executivo) da Forza Football, Patrik Arnesson. "Acredito que este seja um exemplo perfeitoapp crash blazecomo o conhecimento dos ciclosapp crash blazeuma pessoa pode tornar o localapp crash blazetrabalho mais produtivo."
Da mesma forma que os desenhosapp crash blazeStrömquist, o projeto dividiu os suecos. "Não acredito, sinceramente, que meu período menstrual seja assunto do meu chefe", disse Linda Nordlund, comentarista política do jornal sueco Expressen, à BBC.
"Acho que a ideiaapp crash blazeque os corpos das mulheres são frágeis e emocionalmente instáveis é exatamente o mesmo argumento apresentado 100 anos atrás pelos homens que não queriam não dar às mulheres o direito ao voto. As mulheres devem ser vistas como profissionais no localapp crash blazetrabalho, sem que sejam reduzidas a um corpo feminino e seu funcionamento", afirma Nordlund.
A Mensen insiste que as pessoas nunca devem sentir-se obrigadas a falar sobre seus ciclos menstruais. A decisão deve ser pessoal.
À medida que controvérsia inicial foi perdendo impacto, cada vez mais empresas começaram a anunciar iniciativas similares. Diversas start-ups introduziram sistemasapp crash blazeassinaturaapp crash blazeabsorventes higiênicos internos e externos para empresas. Em 2021, o próprio Exército sueco começou a distribuir absorventes entre as soldadas. E, neste mesmo ano, a Mensen foi chamada para assessorar cinco sindicatos importantes na Suécia.
"Mas ainda há muito a fazer", destaca Klinter. Uma áreaapp crash blazeque os ativistas querem concentrar-se é a educação das crianças.
Quando começar?
A Suécia tem um longo históricoapp crash blazeeducação sexual obrigatória. Desde a décadaapp crash blaze1950, os alunos geralmente aprendem sobre a menstruação com cercaapp crash blaze10 anos,app crash blazeclassesapp crash blazegêneros mistos.
Mas menos da metade das mulheres com 16 a 21 anosapp crash blazeidade consultadasapp crash blazeuma pesquisa recente da Mensen respondeu que tinha conhecimento suficiente sobre a menstruação antes do seu primeiro período.
Algumas pessoas acham que as lições deveriam começar na pré-escola. Uma delas é a escritora Anna Samuelsson, que acabaapp crash blazeescrever o primeiro livro da Suécia sobre menstruação para criançasapp crash blaze3 a 6 anos. "As crianças pequenas são muito observadoras", afirma ela.
E, a julgar pelo que declarou à BBC uma das mães após ler o livroapp crash blazeum centro cultural, Samuelsson tem razão. "Minha filha está muito interessada na menstruação e vinha fazendo uma porçãoapp crash blazeperguntas que eu realmente não sabia como responder." Jáapp crash blazefilha Mila,app crash blaze5 anos, achou que "o livro é muito interessante porque fala sobre o corpo".
A personagem principal chama-se Liv devido a livmoder, a palavra sueca para útero. "No livro, também conhecemos todos os amigos do útero: a vagina, o cérebro e o hormônio. Eles brincam dentro do corpo. E,app crash blazerepente, um dia o útero sente que algo está acontecendo e temapp crash blazeprimeira menstruação."
O livro já vendeu milharesapp crash blazecópias desde que foi publicadoapp crash blaze2019 e acabaapp crash blazeser relançado. A reação dos principais meiosapp crash blazecomunicação foi positiva, ao contrárioapp crash blazealguns fóruns online.
Para a estudiosaapp crash blazedesestigmatização Louise Clint, nunca é cedo demais para começar a falar do tema. "Em muitos lugares do mundo, as meninas começam a menstruar com 9 anosapp crash blazeidade. Muitas vezes, elas não têm ideia do que está acontecendo e pensam que estão morrendo. É horrível! Quanto mais pudermos normalizar a menstruação, mais poderemos eliminar todos os outros estigmas relacionados (a ela)."
Ecos do passado
O custo dos produtos é outra prioridade para os ativistas. Embora a Suécia seja um país rico onde a maioria das pessoas pode pagar pelos absorventes internos e externos, os ativistas afirmam que torná-los mais baratos garante que a sociedade os veja como produtos essenciais.
Mas, embora outros países como França, Índia, Irlanda e Inglaterra estejam reduzindo ou eliminando impostos e a Escócia os ofereça gratuitamente, a Suécia não seguiu a mesma tendência: os produtos menstruais são taxados com 25%app crash blazeimpostos.
E, falandoapp crash blazeimpostos, você se lembra dos debates sobre o usoapp crash blazedinheiro público para projetos culturais devido às obrasapp crash blazeLiv Strömquist no metrô?
Em 2019, uma coalizão liderada pelos nacionalistas Democratas da Suécia, que governam a cidade costeiraapp crash blazeSölversborg, anunciou que deixariaapp crash blazecomprar o que chamouapp crash blaze"arte contemporânea desafiadora".
A ceramista Linnea Håkansson havia sido convidada a participarapp crash blazeuma exposição municipal. Mas, quando disse aos funcionários municipais que planejava mostrar fluxos menstruais, ouviui o argumentoapp crash blazeque a exposição "não poderiam ser tão política".
Os organizadores recusaram o pedidoapp crash blazeentrevista apresentado pela BBC, mas um porta-voz dos Democratas da Suécia enviou uma nota afirmando que as obrasapp crash blazeHåkansson eram um exemplo do tipoapp crash blazearte que eles não acreditam contar com apoio dos contribuintes.
"Não entendo por que esse sangue é tão difícilapp crash blazeaceitar na arte", afirma a artista. "Existem muitos exemplos, como Jesus na cruz e as batalhas sangrentas. Mas não conseguimos aceitar o sangue menstrual. Por algum motivo, as pessoas pensam que ele é repulsivo."
'Arte menstrual'
Assim como as imagensapp crash blazeStrömquist no metrô, a polêmicaapp crash blazeSölversborg alimentou os debates sobre a menstruação na Suécia.
Anualmente, um grupo dos principais linguistas do país, denominado Conselho do Idioma Sueco, publica uma listaapp crash blazepalavras que se tornaram parte da conversação diária. Em 2019, uma dessas palavras foi menskonst, traduzida literalmente como "arte menstrual" — embora ela tenha começado a ser utilizada para denominar aquilo que os críticos consideram feminista demais ou radical.
Em breve, caberá a outro município, Halmstad, exibir a obraapp crash blazeHåkanssonapp crash blazeuma exposição pública sobre a arte da menstruação.
"Visualizar as coisas é muito importante para desestigmatizar. Quando conseguimos nos ver na cultura eapp crash blazeoutras coisas, nós normalizamos as coisas e podemos começar a lidar com esse estigma internalizado com o qual fomos criadas", afirma Klinter.
Apesar dos progressos já alcançados, a Suécia continua muito longe da utopiaapp crash blazeLiv Strömquist. Para muitos, ainda é muito incômodo falar sobre a menstruação.
*Esta reportagem da BBC News Mundo (o serviçoapp crash blazeespanhol da BBC) é uma adaptação do documentário do Serviço Mundial da BBC "Only bleeding: how Swedes opened up about periods" ("Apenas sangrando: como os suecos se abriram para a menstruação",app crash blazetradução livre). Ouça aqui o documentário (em inglês) na formaapp crash blazepodcast no site BBC Sounds.
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